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eduardo salles2Eduardo Salles | eduardosalles.seagri@gmail.com

A Bahia e o Brasil são grandes celeiros de produção de alimentos e precisam de um pacto pela agropecuária, para que tanto o campo como as cidades vivam em paz.

O que tem acontecido nos últimos dias representa a maturidade democrática do País. Importante, autêntica e apartidária, a mobilização nacional que tem levado centenas de milhares de jovens às ruas das principais cidades brasileiras clamando contra a corrupção, exigindo saúde, educação de qualidade, melhoria nas questões de mobilidade urbana, segurança pública e, enfim, condições dignas e qualidade de vida, demonstra que a população está atenta e quer os impostos pagos retornando ao povo na forma de serviços públicos de qualidade.

Nos últimos anos, em função das facilidades para viajar para o exterior, a classe média brasileira, formadora de opinião e uma das bases dessa mobilização, tem podido observar que em diversos países os impostos pagos retornam eficientemente à sociedade. E questionam: por que no Brasil é diferente?

Somado a isto, através das redes sociais, meus filhos, assim como milhares de jovens, falam com “amigos” de toda parte do mundo, e se sintonizam com o que está acontecendo, emitem opiniões, recebem respostas e se mobilizam para questionar as ações dos legisladores e governantes. Em minha opinião, tudo isso foi o estopim do movimento.

As questões levantadas pelo movimento são relevantes, mas quero chamar a atenção para o fato de que elas são os sintomas de uma grave doença que assola o País há muitas décadas.

Este movimento tem uma característica clara e marcante: é urbano, com base nas grandes cidades. Daí, como tenho uma vida inteira dedicada ao setor agropecuário, neste momento tento colocar na mesa o que considero uma das origens desta doença.

As famílias que migram do interior para as cidades grandes, por não ter condições de permanecer no campo, por falta de oportunidades ou devido a intempéries climáticas como a seca que assola o Nordeste brasileiro nestes últimos anos, ou ainda pela ilusão de que encontrará melhores condições de vida para seus filhos, quando chegam aos centros urbanos geralmente vão morar na periferia, e passam por um período inicial de desemprego e adaptação à nova vida.

Essas famílias sofrem então fortes impactos sociais. Seus filhos, que tinham liberdade na zona rural, acabam entrando em contato com pessoas envolvidas com a marginalidade, o que pode levá-los a caminhos tortuosos como o das drogas, da prostituição infantil e da delinquência.

Este processo migratório incha as grandes cidades, aumenta a demanda por serviços públicos e gera a favelização. Por isso considero que esta é uma das origens desta doença. A questão não é nova. Não é culpa dos atuais governos municipais, estaduais e federal. São problemas crônicos, que tem atravessado décadas.

Se as pessoas que migram fossem atendidas no interior por serviços básicos eficientes; se déssemos o apoio devido ao homem do campo, valorizando-o como responsável pela produção do alimento que chega às nossas mesas, e se as questões de convivência com a seca fossem efetivas e definitivas, será que o inchaço urbano aconteceria?

As pautas colocadas pelo movimento são importantes, mas um pacto pela agropecuária também é, porque iria trabalhar a origem do que está ocorrendo hoje, fruto de algo que há décadas acontece no campo: o êxodo rural.

É hora de efetivarmos um pacto pela agropecuária do País, para termos a garantia do fornecimento do alimento, mas, acima de tudo, a garantia da permanência do homem no campo com dignidade e sustentabilidade.

Nestes três anos à frente da Secretaria Estadual da Agricultura, tenho certeza que eu e a minha equipe temos nos esforçado enormemente, com apoio incondicional do governador, mas tudo isto sempre será pouco, pois os recursos são escassos e a estruturação definitiva do setor demanda uma força tarefa com recursos oriundos do pré-sal ou de outras fontes constantes e definitivas, que permitam nas próximas décadas investimentos decisivos que realmente cumpram o papel de fixação do homem no campo e contribua para a melhor qualificação social do País.

A Bahia e o Brasil são grandes celeiros de produção de alimentos e precisam de um pacto pela agropecuária, para que tanto o campo como as cidades vivam em paz.

Eduardo Salles é engenheiro agrônomo, secretário de Agricultura da Bahia e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Agricultura (Conseagri).

4 respostas

  1. A questão acima abordada tem relevância quando se leva em conta as condições sub-humanas às quais muitas famílias brasileiras estão submetidas nos grandes centros urbanos. No entanto,como o autor mesmo coloca, essa questão não é nova, ela,o êxodo rural, é resultado da falta de políticas governamentais que assegurem ao cidadão rural condições dignas de existência, onde o mesmo possa contar, na zona rural, com atendimento médico eficiente, educação de qualidade, jornada de trabalho e salários, condizente com a realidade. No tocante a “liberdade” que os filhos encontravam na zona rural, a mesma é folclórica, o que mais se via e ouvia dizer era que nas grandes famílias dez trabalhavam e um só recebia,sem falar nas condições de trabalho impostas pelos grandes produtores de cacau, como exemplo, que em nada contribuirão para a resolução dessa problemática. Atrair essas famílias para o campo seria, sim, fundamental, devido a escassez de produção agrícola que presenciamos hoje; seria também uma forma de amenizar a favelização, como o autor coloca. Contudo, estamos vivendo a era da tecnologia, da televisão, e com certeza, cidadão nenhum quer se embrenhar num mato sem energia,sem água encanada, sem uma habitação digna, sem um acesso bem cuidado que facilite o escoar da produção, sem um meio de comunicação descente. Essas são coisas básicas que se não houver interesse dos governantes no sentido de promover as mesmas, não haverá inversão dessa situação caótica no centros urbanos.
    Quando ao aspecto do “inchaço urbano”, direcionar a população marginalizada para o campo como forma de diminuir o “inchaço”, soa um tanto discriminatório, claro que, sei que não foi essa a intenção do autor.
    A solução a curto prazo, ao meu ver, é oferecer condições propicias ao trabalho rural, incentivos concretos, que possibilitem verdadeiras melhorias nas condições de produção, transporte e comercialização.

    J Emílio é graduando em ciências econômicas ( UESC )

  2. pois & nobre secretario.
    Se ao inves de optar por politicas publicas que deem condicoes ao homem do campo permanecer aonde tira o seu sustento, e nao der segurança juridica, estradas em condicoes de ir e vir,escolas decentes, hospitais decentes, assistencia tecnica decente, como querer que ele permaneça no campo?

    Para de ficar querendo culpar os outros pela inércia do Estado e seus cooptados, achando que o homem do campo é besta e que propaganda funciona.

    Aproveitando, qual a providencia que o Sr esta tomando quanto ao elefante branco aonde foi investido RS10milhoes e esta la para todos verem?

    Todos os envolvidos sabiam que aquele nao era o local apropriado, é so ler os blogs com as informacoes quando o edital estava para ser lancado.

    O que se comenta é que os recursos foram administrados pelo PP,quem foi a empresa beneficiada nesta obra, é so seguir o dinheiro que uma bomba deve explodir com tanta gente envolvida.

    Sds

  3. Olha Eduardo, seu texto tem alguns pontos óbvios, mas, no geral é um pouco utópico, vamos começar pelo despertar dos jovens da classe média e suas viagens ao exterior, não concordo de jeito nenhum, mesmo porque nos dias atuais não precisamos sair do país para saber o que acontece em qualquer parte do planeta, nos anos 40 tudo bem, quando dizem que Getúlio Vargas, pressionado pelos soldados que voltaram da guerra foi obrigado a implementar uma série de mudanças benéficas na vida dos brasileiros, nesse caso já se passaram 70 anos e muita água rolou por baixo da ponte.

    Êxodo rural, é um fenômeno que vem acontecendo desde a revolução industrial no século XVIII, houve uma ligeira pausa quando a mão de obra braçal foi trocada pelas máquinas mas logo depois voltou a todo vapor. Quanto ao resto, o J Emílio Jr disse tudo.

  4. Lemos com atenção o comentário equivocado, de J.Emilio Jr, economista graduado pela UESC uma Universidade que foi possível graças aos recursos dos produtores, e que ele se beneficiou ganhando uma “canudo de papel” sem pagar nada, bem como as escolas agrícolas tipo a de URUÇUCA que beneficiaram muitos filhos de trabalhadores rurais, tudo ás espensas dos recursos dos produtores, bem como Hospitais, Postos médicos, pontes, estradas e e o “escambal a quatro” para os habitantes da região. As melhores moradias para os trablhadores eram ofercidas pelos produtores de cacau.
    Achei um comentário preconceituoso, aliás esses comentários proliferam na região. Gicolaram os recursos dos produtores de cacau à exautão e agora todo mundo fica na região deitando falação e fazendo comentários depreciativos. Lamentável tal tipo de comportamento

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