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marivalguedesMarival Guedes | marivalguedes@yahoo.com.br

O ex-governador falou mais alguns minutos e encerrou com  palavras de estímulo: “Continuem esta luta por uma sociedade livre e justa”. Novamente aplaudido de pé.

Na audiência pública realizada pela Câmara, atendendo solicitação do Movimento Passe Livre (MPL) Salvador, mais de 300 entusiasmados jovens lotavam o Centro de Cultura.  Foram 50 oradores, cada um com direito a três minutos, tempo controlado rigidamente pelo presidente do legislativo, Paulo Câmara.

Havia integrantes de vários partidos, outros que se autodenominam independentes e os antipartidários. Vários deste último grupo, bastante raivosos, os mais barulhentos. Muitas vezes as vaias impediam o pronunciamento, sendo necessária a intervenção do coordenador.

Mas quando um orador iniciou seu discurso, o silêncio foi total. Lembrando o que escreveu o compositor maior, naquele momento ouviríamos o barulho de “uma lágrima a cair no chão”. O vereador Waldir Pires (PT) começou elogiando os jovens e lembrou que começou aos 16 anos na luta contra o nazismo, de posição racista.

Waldir Pires hoje é vereador na capital baiana (Foto Paulo Macedo/BocãoN).
Waldir Pires hoje é vereador na capital baiana (Foto Paulo Macedo/BocãoN).

Falou da interrupção da democracia, com o golpe militar, quando muitos foram vítimas do exílio, torturas e assassinatos. Disse que continua na política (ele está com 86 anos), porque é a única forma de civilização humana de se transformar toda a sociedade.

Comemorando este novo momento, disse: “De repente vocês explodem e  me deixam muito feliz”. Quando o coordenador da mesa avisou que o tempo estava se esgotando, a plateia de jovens do MPL se levantou e pediu para deixá-lo continuar. O ex-governador falou mais alguns minutos e encerrou com  palavras de estímulo: “Continuem esta luta por uma sociedade livre e justa”. Novamente aplaudido de pé.

A RENÚNCIA

Conheço pessoas que não perdoam Waldir Pires por ter renunciado ao governo do estado em 1989, dois anos após a posse, para ser candidato a vice-presidente da República na chapa de Ulisses Guimarães, passando o cargo para o vice, Nilo Coelho. Certa vez, numa visita que ele fez à TV Cabrália  perguntei, ao lado do então superintendente Ramiro Aquino, sobre a renúncia e expus os comentários dos bastidores.

“Professor são três as hipóteses que circulam sobre a renúncia: 1º) Que já havia este acordo com Nilo Coelho. 2º)  que o senhor recebeu dinheiro. 3º) Que teve medo de morrer”.

(À época circulou uma informação sobre um atentado à vida dele. Foi encontrado um mapa geográfico no tanque de combustível do avião do estado, momentos antes do seu embarque.)

Waldir respondeu com a serenidade que o caracteriza: “Meu filho, não havia acordo, quem quer dinheiro fica no poder e quem tem medo não enfrenta uma ditadura. Renunciei por que acreditava que o doutor Ulisses ganharia a eleição, pois tínhamos 22 governadores do PMDB.”

CIRCUNSTÂNCIAS

Waldir  não tomou decisão de última hora. A escolha para ser o candidato do partido era através do voto em dois turnos. Na convenção Nacional do PMDB, além do então governador da Bahia, havia na disputa Ulisses Guimarães Iris Resende e Álvaro Dias. Ulisses e Waldir foram os dois mais votados, com Ulisses na frente. Para evitar o segundo turno, que poderia gerar uma divisão, o partido entrou em consenso e Waldir Pires ficou na vice, prevalecendo a lógica do mais votado. Talvez hoje Waldir argumente, “ eu sou eu e minhas circunstâncias”.

Marival Guedes é jornalista.

14 respostas

  1. Numa reunião na década de 90 na casa de Capinam, no Bairro do Rio Vermelho,Salvador-Ba. O Dr. Waldir Pires,falou que o objetivo de sua renuncia de governador da Bahia “era única,isolar de uma vez a influência do Sr.Antonio Carlos Magalhães,no governo federal” e que o mesmo tinha certeza que aquela eleição seria vitoriosa,o PMDB tinha 22 governadores e seria moleza a vitória.
    Esta reunião era composta à mesa: o anfitrião José Carlos Capinam,Maria Augusta,João Henrique e o Dr.Waldir Pires,a plateia composta por 20 pessoas.
    Somente os tolos acreditam na transparência daquela eleição ao senado em 94,que o Sr.Waldeck Ornélas,saiu vitorioso,na disputa
    com o Dr.Waldir Pires.
    A mesma situação vivera os venezuelanos nesta eleição que saiu
    vitoriosa o Motorista de ônibus,somente os tolos acreditam na transparência da eleição.
    Neste discurso do Dr.Waldir Pires,é uma contradição,o mesmo lutou contra a ditadura militar,contra o nazismo e fascismo e se encontra lado a lado do Partido de viés fascista e salteadores e bandoleiros de estradas que é o partido de Ladrão
    o partido dos trabalhadores.
    Seria coerente o discurso se o Dr.Waldir Pires travasse um bom combate contra o governo do PT.

  2. Excelente, brilhante reportagem, são essas coisas, essas inteligências que alimentam minha alma…bateu saudade de um tempo que eu era um feliz estudante de direito na UESC, e sempre encontrava este rapaz nos corredores da Universidade…

  3. ‘Filho de Mutuns’, o relato do seu texto até quase o final, é bacana de ler e entender a política baiana e brasileira daquela época. Ao final, parece que você perde o bom senso da análise política e começa a falar ‘linguas’ dissonantes da atual política brasileira. Só de você falar de Waldir Pires já é de grande virtude. Tudo que o você ouviu do Waldir, inclusive neste dias, está ligado à nossa realidade democrática atual, também construída por ele. Sobre outras questões que você aborda, o mundo livre do voto direto está ai para depurar.

  4. “Tinha” muita esperança que Waldir viesse ganhar aquela eleição. Tinha entre aspas porque na verdade, votei em Mário Covas no 1º turno, isso, por influência de meus pais e de um tio que mora em SP. Então, com o passar do tempo e passando a conhecer quem era ACM, PSDB, COLLOR, SARNEY e tantas outras aves de rapinas, entendi que, naquele momento a eleição dos dois velhinhos poderia representar um avanço significativo nas mudanças fresquinhas de nossa constituinte. Dr. Ulisses, Waldir, não ganharam. Lembro-me que o papel de limpar bun.. a “revista” VEJA escreveu uma matéria de aproximadamente umas seis folhas, metendo bronca no Dr. Ulisses, inclusive dizendo que ele era inapto, que tomava remédios controlados e que por vezes fazia xixi no centro da sala. Foi uma matéria bombástica. Trucidou o Dr. Ulisses e de quebra o Waldir. Não entendia direito o que representava esse pano de chão ou papel de limpar aquilo. Acabei acreditando nas linhas daquela que é a maior subserviente dos grandes grupos de empresários e latifundiários de nosso país, a tal da VEJA e acabei mudando meu voto para o tal do Covas, que parece-me que era do tal do PSDB. Se já era, vou guardar essa nódoa em meu título pro resto da vida: votei uma vez no PSDB.
    Penso também que, naquele momento, não adiantava nada inverterem as posições: Waldir, presidente e Dr. Ulisses, vice. ACM e seus asseclas os detonariam de qualquer maneira, assim como detonou Waldir aqui na Bahia em seus dois anos de mandato.
    O plano de Waldir era ótimo, mas ele se esqueceu que o cabeça branca tinha parte com tudo que não presta e essa “brincadeira” nos fez perder anos e anos com uma política que produziu a pior geração de nosso povo: os anos 90 e início dos anos 2000.

  5. Parabéns Marival, é um texto provocativo e muito bom para um debate, eu lembro muito bem daquela época, baseado em vários fatores, acho que o ex-governador Waldir Pires pisou feio na bolasim, vamos retornar a 1986 onde tudo começou.

    EM 1986 O PMDB ELEGEU 22 GOVERNADORES Waldir FOI UM DELES.

    Sarney ERA O PRESIDENTE JÁ FILIADO AO PMDB. NESSE PERÍODO O GOVERNO Sarney ENFRENTOU UMA DAS PIORES CRISE ECONÔMICA DE TODOS OS TEMPOS, AÍ VIERAM OS FRACASSOS DOS PLANOS ECONÔMICOS E A MORATÓRIA, EM 2008 NINGUÉM NO PMDB SE ENTENDIA, ERA UMA VERDADEIRA BAGUNÇA, TODO MUNDO ABANDONOU O Sarney, E PASSARAM A BATER NO CARA COMO SE ELE FOSSE O CULPADO SOZINHO. IGUALZINHO O QUE ACONTECEU EM 2002 COM Serra E FHC.

    A ESSAS ALTURA O PMDB JÁ TINHA MAIS DE 10 CANDIDATOS, INCLUSIVE O PRÓPRIO Waldir ERA UM DELES, NESSE PERÍODO ELE PASSAVA MAIS TEMPO EM BRASÍLIA E OUTROS CANTOS DO QUE NA BAHIA NÃO É VERDADE QUE TUDO DAVA O GRANDE Ulisses COMO VENCEDOR, NAQUELA ÉPOCA EM TODOS OS RECANTOS DO PAÍS O POVO VIA EM Color, O GRANDE SALVADOR DA PÁTRIA, É PURA INVENCIONICE TAMBÉM ESSA COISA DE QUE A Rede Globo BANCAVA O Color, CONVERSA MOLE INVENTADA PELO PT, A Rede Globo ESTAVA DO LADO DE Sarney, E APOSTANDO NA CANDIDATURA QUE ELE APOIASSE, SÓ APÓS O Silvio Santos ENTRAR NO PÁREO, VENDO O SUCESSO DE Color O FRACASSO DE Sarney E A BAGUNÇA NO PMDB É QUE COMEÇOU A INVESTIR EM Color COM MEDO DE UMA POSSÍVEL ALIANÇA DO DONO DO sbt COM UM DOS CANDIDATOS MAIS FORTES, A ESSAS ALTURAS TODA MÍDIA TAVA POLARIZADA O SBT É CLARO COM SEU DONO E O RESTO CADA UM PROCUROU O SEU COMO SEMPRE ACONTECE.

    OUTRA LENDA RIDÍCULA, É DE QUE HOUVE FRAUDE NA ELEIÇÃO DE 1994, A ESSA ALTURA, Waldir Pires DESGASTADO NO PMDB PULOU PARA O PSDB E SE CANDIDATOU AO SENADO, COM ACM JÁ REVIGORADO E ESPALHANDO PRA TODOS OS CANTOS QUE ELE LARGOU A BAHIA NAS MÃO DE Nilo Boi ATÉ QUE ELE FOI BEM VOTADO, BASTA VER OS VOTOS QUE ACM TEVE PARA GOVERNADOR E VERIFICAR QUE ESSE NEGÓCIO DE FRAUDE É COISA DE PERDEDOR.

    -ACM ELEITO GOVERNADOR QUASE 2.000.000 DE VOTOS.
    Waldeck Ornelas É ELEITO COM 1.291.000 DE VOTOS.
    Waldir Pires É REPROVADO COM 1.288.000 DE VOTOS.

    NAS ELEIÇÕES DE 2012 Waldir Pires NO PT SAI COMO VEREADOR.
    PARA QUEM FOI GOVERNADOR E ELEGE COMO VEREADOR EM EM 7º LUGAR É OU NÃO AINDA UM REFLEXO DE QUEM NÃO TERMINOU O MANDATO DE GOVERNADOR. O RESTO É CONVERSA MOLE PRA BOI DORMIR.

  6. Deus do céu…Waldir Pires deu sinal de vida. Só q o tempo dele já passou. Não conseguiu agregar valor continuado, renovado.Agora talvez seja hora de contar a história do país e dar lugar a outros que poderão dar prosseguimento ao que começamos a algum tempo atras. E Marival Guedes, que prazer tê-lo por perto, continue vivo, gosto de suas reflexões.

  7. Um texto muito bom do Marival. Waldir Pires tem o respeito de muitos brasileiros pela sua história de lutas contra o totalitarismo que volta e meia sempre teima em aparecer no nosso país, porém, como Marival mesmo citou em seu texto, eu também conheço pessoas até hoje, principalmente dentro da Esquerda baiana,que tem verdadeiro ódio do Waldir por ele ser, segundo percepção delas, o responsável direto pela ressurreição política do ”cabeça branca” e ter entregue a Bahia nas mãos de Nilo Coelho que a transformou numa extenção de seus empreendimentos no campo. Assim como o goleiro Barbosa morreu estigmatizado como o culpado pela derrota do Brasil em 50, Waldir também morrerá estigmatizado como responsável por ter aberto as portas da Bahia ao domínio do Carlismo nos anos posteriores.

  8. Discordo! A Bahia e o Brasil, são mais ricos de humanismo, inteligência e democracia, por ter o Waldir como seu filho político. Ilustre ser humano; sou grato por ser baiano e brasileiro, como ele.

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