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everaldo anunciacaoENTREVISTA / Everaldo Anunciação

O sindicalista Everaldo Anunciação é o candidato com maior leque de apoios, entre os cinco que disputam o diretório do PT baiano. Natural de Ilhéus, com carreira de servidor público federal na Ceplac, Everaldo, de 53 anos, foi vereador em Itabuna (1997-2000), presidente da Associação dos Técnicos Agrícolas do Cacau (Stac), diretor do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Sintsef) na Bahia e presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT)/ Regional Cacaueira, entre outros cargos. Atualmente, é secretário de Organização do PT.

Nesta entrevista ao PIMENTA, o petista fala sobre a disputa, contesta o caminho das prévias para escolher o candidato à sucessão de Jaques Wagner e rebate a crítica feita pelo jornalista Ernesto Marques, também postulante ao comando do diretório, sobre o excesso de comissões provisórias do PT nos municípios.  Segundo Everaldo, as comissões são escolhidas pelos filiados e não indicadas por “caciques”. Ele diz que a crítica tem a ver com “ falta de conhecimento da vida partidária”.

PIMENTA – Neste ano em que o PT completa uma década no comando do país e Wagner se aproxima do último ano de seu segundo mandato na Bahia, o PED tem um significado especial?

Everaldo Anunciação – Sim, vamos realizar eleição num momento em que a sociedade brasileira e baiana sinaliza reconhecimento do PT como o partido de maior confiabilidade do eleitorado. Acredito que é resultado de um projeto implementado a partir dos governos Lula, Dilma e Wagner, diversas administrações municipais e ações parlamentares que na prática transformaram para melhor a vida de milhões de mulheres e homens que necessitam da política pública para realizar seus sonhos, seu direito de ser felizes.

PIMENTA – Mas o que o PED representa na prática?

EA – É muito gratificante destacar que esse PED introduz na prática alterações significativas para o fortalecimento da vida partidária, que é a instituição da paridade, com a presença de 50% de homens e 50% mulheres em todas as instâncias de direção, as cotas para negros, jovens e índios… Elegerá também delegadas e delegados ao nosso congresso de dezembro, que vai o permitir um bom balanço dos 33 anos de fundação, dez anos de Governo Federal e sete de Governo Estadual. Com certeza, vamos ajustar rumos e ações estratégicas para o partido e para a continuidade e avanços dos  nossos projetos. Temos uma grande participação de filiados e filiadas, cerca de 900 mil no Brasil e 42 mil na Bahia aptos a votar.

PIMENTA – Quais foram os acertos e os erros do PT no poder?

EA – Sem sombra de dúvida, temos um saldo bastante positivo. O principal acerto foi manter a coerência de ter feito políticas e ações para os mais necessitados e esquecidos pelos governos anteriores. Por exemplo, o governo Wagner, em parceria com o Governo Federal do presidente Lula e agora com a presidenta Dilma, se destaca nos programas PAC, Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, Prouni, ensino técnico, crescimento do Polo Petroquímico, expansão da mineração, gasoduto, Fiol, adutoras no São Francisco, recuperação total da malha rodoviária federal, polo de energia eólica, ampliação de uma para cinco universidades federais, 16 Ifet (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia), entre outras ações. Um detalhe muito importante: na área da educação, FHC não criou uma universidade sequer, Lula criou 14 e Dilma está instalando mais quatro. O orçamento do MEC em 2002 era de R$33,1 bilhões. Em 2012 saltou para R$86,2 bilhões. Em dez anos, foram construídas 259 escolas técnicas, quantidade maior que em toda a história do país.

PIMENTA – E os erros?

EA – Do ponto de vista do que poderia ser melhorado, ainda que não dependesse exclusivamente do nosso partido, as reformas política e tributária precisam ser melhor discutidas e articuladas com a sociedade civil organizada para que a democracia e a distribuição de renda possam ser consolidadas num país com riqueza extraordinária.

PIMENTA – Há vozes no próprio PT que acham que o partido se burocratizou e cartorizou. Você concorda com essa avaliação?

EA – Essas vozes existem e eu as respeito, mesmo sendo minoritárias dentro do partido. Mas não concordo. Um partido que está organizado em todos os municípios, que tem relação com todos os movimentos sociais de expressão no Brasil na Bahia, que nasceu e participa das grandes lutas do povo brasileiro na prática, demonstra a sua relação direta com o cotidiano do povo. Óbvio que o partido cresceu na ocupação de espaços executivos e legislativos, as demandas aumentaram e cabe a nós agora um novo olhar para melhorar a sua comunicação, organização, formação nos espaços em que atua sem perder seus princípios, mas adequando-o à nova realidade tecnológica e principalmente de demandas oriundas do pensar daqueles que querem mais democracia, políticas públicas e têm compromisso com a sociedade justa igual e fraterna, uma sociedade socialista. Para isso, precisamos cada vez mais aperfeiçoar e aumentar a eficiência da máquina partidária como instrumento necessário para a execução dos nossos planejamentos.

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Temos uma grande participação de filiados e filiadas, cerca de 900 mil no Brasil e 42 mil na Bahia aptos a votar.

 

 

PIMENTA – O que é preciso mudar na condução do partido?

EA – Pretendemos criar condições para que dirigentes e militantes participem de cursos presenciais e a distância, com o objetivo de melhor entendimento da luta do partido e do nosso projeto. Outros objetivos são estreitar as relações com os diretórios e militantes e fortalecer a organização das instâncias municipais. Deveremos criar conselhos territoriais para debater temas de interesse coletivo e, naturalmente, fortalecer a unidade no partido para reeleger Dilma e o candidato do PT que vai suceder o governador Wagner, por meio de um consenso progressivo, em sintonia com a sociedade.

PIMENTA –  O jornalista Ernesto Marques, que também disputa a presidência do diretório, critica a existência de um grande número de comissões provisórias na Bahia, o que comprometeria a democracia interna do partido. Como você vê essa crítica?

EA – O PT está organizado nos 417 municípios do Estado. Isso é resultado de uma ação desenvolvida com mais intensidade a partir da direção eleita, através dos votos dos militantes, encabeçada pelo atual deputado federal Josias Gomes e hoje consolidada pela atual direção composta por ampla aliança de correntes internas coordenadas pelo presidente Jonas Paulo. Somos 349 diretórios e 68 comissões provisórias. As regras para este PED, aprovadas no último congresso, exigiram maior comprometimento das instâncias estaduais e municipais do ponto de vista político-administrativo-financeiro, cujo objetivo político é fortalecer a fidelidade orgânica e compromisso de sustentação através de seus filiados e filiadas, pois quem é contra financiamento privado tem que criar condições concretas de autossustentação. Isso vai criar, ao final do PED, um quadro real de organização e compromisso nas instâncias de base.

PIMENTA – O excesso de comissões provisórias não é danoso?

EA – Vale salientar que, diferentemente dos demais partidos, as comissões provisórias no PT não são criadas por indicação ou escolha dos dirigentes estaduais, parlamentares e prefeitos, mas sim pela escolha direta das filiadas e dos filiados em cada município. O PT não tem dono. Talvez esta crítica seja oriunda da falta de conhecimento da vida partidária.

PIMENTA – Há quatro nomes do PT disputando a indicação para concorrer ao Governo do Estado em 2014. Existe a possibilidade de prévias?

EA – A prévia é um instrumento democrático estatutário instituído pelo PT. Temos experiências positivas, portanto de acertos, com a utilização deste instrumento. Exemplo (ambos nas eleições de 2002): Lula e Suplicy para a Presidência da República. Mas também de experiências negativas, a exemplo da escolha para o candidato do Rio Grande do Sul. O PT internamente escolheu um candidato, derrotando um outro que tinha um amplo apoio de partidos aliados, movimentos sociais e maioria da sociedade e perdemos as eleições. Portanto, aprendemos ao longo do tempo que a busca do consenso progressivo é uma forma eficiente, não só eleitoralmente, mas também, quando alcançado, nos fortalece para as disputas com nossos reais adversários.

PIMENTA – Esse consenso será viável em 2014 na Bahia?

EA – Aqui na Bahia temos unidade, construída na direção entre os quatro pré-candidatos, de que o consenso para indicação de um nome petista via um processo de auscultar as lideranças partidárias, a sua militância, o líder político governador Jaques Wagner, as lideranças nacionais Lula e Dilma, é a melhor forma para uma decisão capaz de atender a ampla maioria no partido e ter a possibilidade de sensibilizar os partidos da base aliada, os movimentos sociais e a sociedade como um todo para garantir a continuidade do projeto que mudou a Bahia e o Brasil. Acredito que depois do PED, mas antes do final do ano, teremos alcançado esse estágio de decisão, sem traumas, sem rachas e sem divisões. Mas com muita alegria e disposição para vencer as eleições.

PIMENTA – Você foi vereador em Itabuna, mas há muitos anos está mais focado na política estadual. Ainda assim, é natural que continue observando o município. Como você vê o quadro político em Itabuna?

EA – Há uma presença forte dos partidos da base aliada de Dilma e Wagner. Os voto obtidos pelas duas chapas, Vane e Juçara, mostram  uma redução da oposição. Acredito que, a partir da demonstração da sociedade itabunense, cabe a nós fazermos as leituras e encontrarmos estratégias para que esta força possa cada vez mais hegemonizar a política local. Afinal, Itabuna irradia para a política da região, um dos principais territórios da Bahia.

PIMENTA – Qual a sua avaliação sobre o papel exercido pelo PT e as opções que o partido fez nas últimas eleições municipais em Itabuna?

EA – O PT tem um papel de protagonismo na política itabunense, legitimado por sua passagem nos poderes executivo e legislativo e nas suas relações com os movimentos sociais. Na última eleição, legitimamente, como fez em outros grandes municípios da Bahia, lançou candidatura própria. Em alguns fomos vitoriosos, em outros não. Mas as sementes plantadas pelo PT através das suas ações concretas desenvolvidas nos espaços de poder, com certeza, contribuíram para a consolidação da hegemonia da base a aliada.

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