Tempo de leitura: 3 minutos

Domingos Matos2Domingos Matos | Chocolate com Política

O verdadeiro sindicalismo precisa frear a ação dos oportunistas. Tenho uma amiga, a professora aposentada Neusa Perlira, que sempre comete uma máxima interessantíssima: “pobre vive de oportunidade”.

Itabuna viveu um dia de apreensão. A notícia de que o transporte coletivo entraria em greve a partir da zero hora dessa sexta-feira ganhou contornos ainda mais dramáticos a partir do que a população via na TV: caos na grandes cidades do país, devido à onda de greve dos rodoviários. Mas, agora à noite, foi noticiada suspensão do movimento paredista, o que nos garantirá um fim de semana mais tranquilo.
O fato concreto é que, por aqui, o Sindicato dos Rodoviários e os patrões negociaram e chegou-se a um acordo, segundo a notícia do Pimenta. Tudo muito bom, tudo como sempre foi: de um lado, uma categoria, do outro, o patrão. Às vezes, um negociador isento, no meio. Era assim que resolviam-se os impasses.
Era. Porque essa imagem, em tempos de concentração para a #Copa das Copas, de repente se alterou: eis que agora aparece a figura do “sindicato dissidente”, entidade fantasma que adora bagunçar o baba. Funciona assim: os sindicatos legítimos negociam a pauta, aprovam – ou não – as propostas e contrapropostas em assembleias, homologam os acordos. Tudo como manda a lei natural das coisas e a própria legislação vigente. Tudo isso acompanhado por técnicos, pelo Ministério Público do Trabalho e baseado em planilhas aceitas como corretas.
Mas tudo vai por água abaixo quando entram os dissidentes. Que nada mais são do que oportunistas travestidos de lideranças, que lançam ao vento um percentual de reajuste salarial muito além da realidade e enfeitiçam as categorias com a promessa de um “aumento de verdade”, em contraposição ao negociado pela categoria, através de seus representantes sindicais.
Puro engodo: querem tumultuar o ambiente, servem – geralmente – aos que alegam, por intenções variadas, que a #Copa das Copas não será boa para o Brasil. Daí, se sobrar um aumentinho, ainda se fortalecem para a próxima eleição sindical.
São movimentos oportunistas, cujas intenções podem representar a mais simples e objetiva apropriação da “Lei de Gérson” até interesses maiores, visando as eleições de outubro. Vi em em rede nacional, em pelo menos um noticiário da Globo: enquanto um “líder dissidente” dizia que a greve era por causa da Copa, para aproveitar o momento, um motorista dizia que sequer sabia porque estava parando de trabalhar…
Tudo isso deveria provocar reações do sindicalismo sério desse país. Aquele que ajudou a sermos o que somos hoje, um país que busca garantir os direitos do trabalhador, do mais simples peão que exige um equipamento adequado para cortar cana até um embaixador que negcia na OIT para ampliar os direitos de quem trabalha e constrói nações inteiras.
Só que esse não é o primeiro sinal de alerta para o sindicalismo. A própria difusão de milhares de sindicatos genéricos pelo país afora já indicava, há coisa de 10 anos, que seria necessária uma resposta à altura, dada pela verdadeira representação dos trabalhadores. O que, infelizmente, não ocorreu.

Porque o Brasil mudou, e hoje já não se fala em reajustes e correções salariais astronômicos, mas sim de ganho real acima de uma inflação que vem se mantendo baixa. Se fala em valorização de outros itens, como participação em lucros e resultados, em combate ao assédio moral, em redução da carga horária…
O verdadeiro sindicalismo precisa frear a ação dos oportunistas. Tenho uma amiga, a professora aposentada Neusa Perlira, que sempre comete uma máxima interessantíssima: “pobre vive de oportunidade”. Num país que reduziu a pobreza, promoveu a maior mobilidade social do mundo moderno em tempo recorde e assiste aos (cada vez menos) miseráveis com dignidade, essa afirmativa da professora Neusa até poderia ser considerada ultrapassada.
Mas, observando os objetivos, os motivos a partir dos quais se manifestam, baseados nas intenções que se baseiam, concordamos com ela ainda adendamos: “pobre (de espírito) vive de oportunidade”. E a Copa foi a maior oportunidade que as forças do atraso poderiam ter, por mais contraditório que isso possa parecer, para tentar voltar ao poder (veja aqui como eles ‘avançam’ para trás…).
Em tempo: a professora Neusa Perlira é esposa do comerciante Alencar Pereira da Silveira, o Caboco Alencar, do ABC da Noite. Isso explica fartamente a tirada.
Domingos Matos é jornalista e blogueiro

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *