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fernando caldasFernando Caldas | marimbeta@hotmail.com

 

Que Davidson e Roberto dialoguem (nos moldes propostos por Habermas), cientes de que o bem maior é Itabuna, sua história, seu futuro e seu povo, cuja antropologia tem uma longa jornada de dor e miséria.

 

Infelizmente, a política nacional realça as diferenças em detrimento aos pontos convergentes. O que resulta em fragmentação e, por empréstimo, quem sofre os resultados é o povo. Outra vez estamos à beira das eleições municipais. Sem uma definição clara de quem são os candidatos, embora haja vários pré-candidatos. Toda movimentação já está por aí.

Já não sonho com perfeições, mas com pequenos passos capazes de resultar num avanço para Itabuna. Em 2016, há nomes interessantes se apresentando. Ao meu ver, uma parte almeja contribuir com o desenvolvimento da cidade, cada uma numa perspectiva. Ocorre que há imensos vícios culturais na orbe política. Dessa forma, guetos se formam, quase sempre raivosos e caluniosos, repletos de adeptos fanáticos, capazes de ir às vias de fato se necessário.

Acho bom que Mangabeira coloque seu nome à prova. Trata-se de um médico que possui outras graduações e que já está engajado na ação política há alguns anos. Conheci Mangabeira quando eu era presidente do Grupo Grama e ele um militante ambiental. Época em que já discutíamos sobre dengue, Sucam e rio Cachoeira. Acho que seria um ótimo prefeito para Itabuna, sobretudo porque pretende um governo fora dos vícios políticos vigentes.

Também gosto de Carlos Lee ser candidato. Conheço Carlinhos desde AFI e sempre foi uma pessoa preocupada com o próximo, além de filho de John Leahy, médico que faz parte da história de Itabuna. Um homem do bem.

Não sei se Fernando Gomes será ou não candidato, mas também gosto da possibilidade dele voltar a ser prefeito. Fernando é indiscutivelmente o maior político da história de Itabuna. Acabei de escrever sua biografia, o que resultou em arrancar de mim preconceitos estereotipados que eu tinha em relação a ele. Fernando é muito preparado para o cargo, além de uma pessoa muito inteligente e generosa.

Acho Leninha e Zé Roberto pessoas especiais e bem intencionadas. Pedro Eliodório é também um homem sério e corajoso. Pena que as regras da política brasileira atem as mãos dos candidatos sem recursos financeiros.

Em 2016, não obstante, parece-me que o mais ousado para Itabuna será uma chapa que reúna Davidson Magalhães e Roberto José, como candidatos a prefeito e vice-prefeito. Essa ideia talvez cause espanto em alguns militantes dos dois lados. Contudo, raciocinando em profusão, creio ser essa a combinação capaz de garantir a evolução política de Itabuna, rumo à consolidação de uma etapa que não foi cumprida ainda com o governo Vane.

Davidson e Roberto se complementam em vários aspectos. O Deputado do PCdoB possui uma história belíssima de luta pelo Brasil e por Itabuna, em particular. Conheço-o desde meninos, jogamos muito futebol juntos e fiz parte de uma reunião (eu tinha 14 anos) em que Luiz Nova veio à Itabuna buscar jovens para ingressar na clandestinidade da luta por liberdade. Eu não me interessei, porque desde já eu era muito mais espiritualista que outra coisa. Não cria em luta armada ou em saída através do viés revolucionário (sempre fui e sou evolucionário). Mas, admirei muito a coragem de Davidson que transferiu sua missão na Igreja Presbiteriana para a causa socialista. Sofreu ameaças, foi preso, correu risco de vida. Votei nele para vereador, para deputado e para prefeito, em 1996. Davidson, tecnicamente falando é o candidato mais preparado.

Roberto José é a grande novidade da política itabunense. Em apenas 3 anos ele conseguiu fazer parte de um universo que muitos levam décadas para atingir. Graças, sem dúvida, a sua competência administrativa. Tanto frente à FICC quanto à Settran, ele conseguiu demonstrar como é possível ações objetivas e ótimas no confronto com problemas históricos. Aprendi a gostar de Roberto e a perceber boas intenções em suas ambições. Sua junção numa chapa ao lado de Davidson será perfeita por várias razões. Primeiro porque ambos são humanistas.

O discurso muitas vezes agressivo de Davidson (graças, e claro, aos tantos anos de confronto com forças nefastas) pode ser arrefecido por Roberto, que vem de uma tradição miltoniana e entende a realidade social numa perspectiva da geografia humana, isto é, compreendendo com grande amplitude os problemas contemporâneos e suas perspectivas. Por outro lado, certo pragmatismo de Roberto (graças a sua história na vida militar) será ampliada pela ótica civil de Davidson. Os dois são extremamente republicanos.

Quem atrapalha a junção de Davidson e Roberto são assessores de ambos os lados, que foram construindo uma suposta inimizade, forjada por interesses escusos de tais assessores e sem quaisquer bases objetivas. Mas, ainda é tempo de uma reversão de atitude. Ainda é possível tal arquitetura, contando inclusive com os apoios de Vane, Rui Costa e Otto Alencar.

Esse “terceiro” caminho para Itabuna representa a senda mais avançada. Tentamos em Vane atingir a solidez de tais objetivos, mas não foi possível (graças a uma série de vícios antigos e da má fé de alguns de dentro do próprio governo). Mas, na média, avançamos.

Creio que Roberto e Davidson possam construir uma síntese entre os ideais de Bauman e Mészáros, ou seja, os dois juntos possuem uma compreensão clara e distinta do nosso tempo e têm ambos competência para tornar Itabuna uma cidade melhor em todos os âmbitos. Entendendo a sociedade humana de hoje na sua liquidez para além do capital.

Espero que minha proposta seja considerada, que a voz débil e odienta de alguns assessores seja percebida por ambos como um discurso menor e de extensão breve. Que Davidson e Roberto dialoguem (nos moldes propostos por Habermas), cientes de que o bem maior é Itabuna, sua história, seu futuro e seu povo, cuja antropologia tem uma longa jornada de dor e miséria.

0 resposta

  1. Biografia de Fernando Gomes? Acho que o único livro que ele conheceu na vida, foi o livro caixa da Prefeitura de Itabuna quando por lá passou.

  2. Conhecemos Davidson, mantemos um bom e respeitoso relacionamento, nada pessoal, só questionamos a situação politica dele em ser aliado dos que liquidaram e massacraram os verdadeiros agricultores, a população de um modo geral e a todos os que produzem, ação inadmissível que liquidou uma outrora pujante economia, que causou danos irreparáveis ao meio ambiente (sintam o problema e o drama da falta D’Água como consequência) o desemprego brutal, o êxodo rural e a violência inaceitável e crescente. Os governos que ele apoia são os maiores responsáveis por essa tragédia que se abateu sobre e nossa região. Eles são os nossos verdadeiros algozes! Nunca cumpriram com o que prometem!. Não dá para esquecer tais fatos, situações e mal tratos seguidos! A região por sua ampla maioria deveria repudiar esses governos e não vemos melhor oportunidade para um justo protesto que, através do voto democrático, dizendo NÃO, aos candidatos apoiados pelos governos atuais.A região precisa parar para pensar sobre a nossa situação, situação que não nos dar o direito inclusive, de ter futuro. Precisamos dar o troco! Melhor oportunidade não há! Não a desperdicemos!

  3. Excelente texto. Nao me surpreendo vindo de Fernando Caldas pois ele tem suas impressões a flor da pele tão quanto a sua arte nao seria diferente.

  4. Fernando, mantenha-se no campo das artes.
    Essa defesa do seu emprego é no minimo melancolica.
    Ate biografo de Cuma???
    Me faça uma garapa…

  5. Parabéns Fernando Calas, alguns pontos que foram elencados. FG realmente o mais PREPARADO indiscutivelmente. A junção de Davidson e Roberto José acho improvável, bem como, também tenho dúvidas de relação a votos. Carlos Leahy e Mangabeira são candidaturas natimortas. Finalizando se repetir a chapa de 2004 CUMA/AZEVEDO se torna imbatível

  6. Texto bem explicativo do Caldas, mas envolver o PCdoB no processo seria dar continuidade ao descaso nacional. Quanto ao Roberto FICC, seria um bom vereador.

  7. Filósofos são visionários, nutrem-se de ideais. Não enxergam detalhes e torcem o nariz para realidades concretas. Quando se sentem impelidos a entrar na seara política e emitem opinião é de uma candura e inocência comoventes. Eleição, poeta, é voto. E Roberto José não tem.

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