Tempo de leitura: 2 minutosRicardo Ribeiro | ricardo.ribeiro10@gmail.com
Tivesse havido prevenção e investimento em um modelo de uso racional da água, a situação seria outra. Mas se optou pela facilidade e a ilusão da fartura infinita.
A natureza dá sinais muito evidentes de que está chegando ao seu limite, mas a humanidade segue adiante com suas mesmas prioridades, modos de agir e uma imutável inconsequência. A elevação das temperaturas quebra recordes sucessivamente, não apenas por fatores naturais, principalmente o El Niño, mas também pela emissão de poluentes na atmosfera. Ademais, seguimos despejando esgotos nos rios, enquanto falta-nos água potável nas torneiras, o que é esdrúxulo.
Não é difícil imaginar aonde isso vai parar? No sul da Bahia, antes uma região com fartura de água, nem dá mais para fazer tal pergunta, pois o colapso antevisto já se materializa no presente. Noticia-se que, depois de mais de nove meses de estiagem, a região perdeu mais de 80% do volume de água que possuía. É terrível, mas era previsível que isso um dia poderia acontecer. Falta chuva, é certo, mas a ausência de bom senso, responsabilidade e compromisso com as futuras gerações contribuíram para tingir o cenário com cores mais dramáticas.
Há quantos anos se sabe que Itabuna, maior cidade da região, desperdiça mais de 50% da água tratada, antes que ela chegue aos domicílios? E esta não é uma insanidade exclusiva deste município, pois em todo o país, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, o uso inconsequente da água é a regra. Apesar dos avisos inequívocos, em muitos lugares utiliza-se o recurso como se inesgotável fosse. Ledo engano, cujos resultados serão catastróficos, como já são por aqui.
As consequências da miopia são sentidas e, como de praxe, é só neste momento crítico e desesperador que se pensa em buscar “soluções”. Tivesse havido prevenção e investimento em um modelo de uso racional da água, a situação seria outra. Mas se optou pela facilidade e a ilusão da fartura infinita.
Por falar nas tais “soluções”, no que toca ao poder público, nota-se que infelizmente elas seguem uma rota obscura, permeada por rumores preocupantes e em um delicado momento de transição política, quando coisas estranhas costumam acontecer.
É momento de a sociedade civil estar vigilante e participante dessa busca de alternativas. Não se trata apenas de tirar o sal da água, mas de remover toda e qualquer impureza das negociações que possam eventualmente se valer da crise para concretizar velhos e conhecidos intentos, não exatamente vinculados ao interesse público.