Celina Santos | celinasantos2@gmail.com
É igualmente triste que haja incontáveis espectadores para a transformação da barbárie em espetáculo; é pavoroso, afinal, não saber até que ponto chegará o abismo a engolir o que se convencionou chamar de civilização.
O Brasil testemunha a explosão do antigo barril instalado em cada presídio. Atrás de muros sustentados pela sociedade, o crime organizado mantém seus tentáculos a impor uma guerra civil da qual todos nós somos vítimas em potencial. E a “era do espetáculo”, fomentada pelas redes sociais, registra a barbárie que rege as rebeliões de facções rivais na disputa pelo milionário território do tráfico.
Como num grande reality show (Big Brother, para usar um termo anual e insistentemente familiar), os detentos fotografam, filmam e lançam ao mundo, via internet, as cenas de horror que incluem a decapitação dos ditos inimigos deles. Esses vídeos viram DVDs, daqueles “piratas” vendidos livremente. Em Itabuna, pode-se encontrar o filme real do terror brasileiro por meros R$ 5,00.
O mais grave é que as cópias são exaustivamente procuradas, tal como os maiores sucessos do cinema; igualmente em alta velocidade, circulam pelas redes sociais, através dos “automáticos” compartilhamentos. Algo também (infelizmente) corriqueiro ocorre nos assassinatos até sob a luz do sol. Dezenas de pessoas (incluindo crianças!) se reúnem em volta do cadáver descoberto, sem que aparentemente haja qualquer tipo de choque.
Ao mesmo tempo em que a violência se espalha e o número de homicídios toma proporção inimaginável (era assim até num passado recente em Itabuna), é lamentável a forma como a brutalidade é naturalizada. Nós encontramos formas simplórias para justificar os crimes e acreditar que exista quem mereça viver e quem mereça morrer de forma brutal.
Muitas vezes, passamos a desconhecer a engrenagem que move o tráfico e, consequentemente, a série de crimes por ele impostos. Deixamos de admitir que ficam impunes (talvez, porque ocultos) aqueles que “bancam” a entrada de drogas pelas fronteiras, como se fossem docinho de coco. Do alto da nossa conveniência, ignoramos que os entorpecentes só dão tanto lucro, porque há quem os consuma – inclusive, nos bairros nobres, nas festas chiques, onde jamais vai ocorrer um “baculejo” em nome do combate ao tráfico.
Sob a ótica do comportamento humano, é sério – e triste – deixarmos de nos indignar com a perda do respeito ao próximo, com a ineficiência do poder público diante das organizações criminosas. É igualmente triste que haja incontáveis espectadores para a transformação da barbárie em espetáculo; é pavoroso, afinal, não saber até que ponto chegará o abismo a engolir o que se convencionou chamar de civilização.
Celina Santos é pós-graduada em Jornalismo e Mídia e Chefe de Redação do Diário Bahia.
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COMUNGO COM SEU PENSAMENTO CARA CELINA!E FAÇO MINHAS, SUAS PALAVRAS.
PARABÉNS PELA SUA REFLEXÃO,A SOCIEDADE BRASILEIRA PRECISA ACORDAR E REAPRENDER A INDIGNAR-SE COM ESSE TIPO DE “ESPETÁCULO RIDÍCULO” DOS BANDIDOS,PATROCINADO PELAS REDES SOCIAIS E A MÍDIA,E BANCADO PELO ESTADO,COM O DINHEIRO PÚBLICO…
É triste constatar como a barbárie está banalizada e se tornou comum em nossa sociedade.
Parabéns à articulista com seu texto ” … R$ 5,00 …..”. Faço uma ressalva no parágrafo em que se diz sobre aqueles que consomem; onde se diz “… até em bairros nobres, em festas chiques ….” poderíamos sem sombra de dúvida ser substituído o “até” por “principalmente”.
É impossível tapar o sol com a peneira. Lamentável.
Num certo dia procurei Eduardo da Anunciação pra me fazer uma pesquisar nos seus albos de fotografias,nós combinamos de nos encontrar no escritório de Joaquim do Guicho,que era próxima a redação do Jornal Diário do Sul.
Este comentarista,Joaquim do Guicho e Eduardo da Anunciação,após papo pra lá e papo pra cá, nós despedimos de Joaquim e fomos pra a Redação do Jornal,ao entrar
nos deparamos com uma mocinha linda,o Soldado Raso,do Jornalismo da Região Cacueira,apresentou-me esta menina e disse me,”esta menina linda vai ser uma grande jornalista de Itabuna”.
Diante deste artigo em tela,que visão perfeita da realidade brasileira,diante de
tão bem articulada as arguições que insere a segurança e criminalidade em nosso
País,que o mesmo se transformou numa terra de selvagens.
Não quero acrescentar nenhum argumento,porém,o caos que o Brasil chegou,nós somos culpados por não ser um povo civilizado,sem nenhuma educação e miserável o
que se torna preza fácil de ser corrompido.
Os 13 anos de governos no Brasil,o que fizeram do simbolo maior de uma nação,ao
invés de ser exemplo de honestidade e retidão de tratar as instituições e o patrimônio público com transparência e zelo,fizeram o inverso.
É o reflexo puro e real que tão bem o artigo faz suas arguições da realidade vivida no País,o que é sinônimo de selvageria,o que poderia ser evitada,uma vez que,os recursos do Brasil fosse investido na qualidade de vida e nunca ser saqueado,o que nestes últimos 13 anos de governos de saqueadores.
No sepultamento do Soldado Raso do Jornalismo,até a chuva veio contemplar,diante
de tantas homenagens,o Blog. do Gusmão,pediu desculpa das divergências que tinha
com Eduardo da Anunciação e acrescentou”Você Eduardo,sempre se refere como um Soldado Raso do jornalismo da Região Cacaueira,você é um General do jornalismo da Região Cacaueira” e o SGT-Vitorino da Polícia Rodoviária Estadual, com seu tambor prestando homenagem ao fundador do bloco Casados I…Responsáveis.
O que este comentarista pensa que; “de óculos ou de binóculos”o General do jornalismo da Região Cacaueira,tá feliz ao ler este artigo e diante do mesmo,
faço das suas palavras e acrescento que,realmente a previsão sua é realidade
hoje,uma grande jornalista da Região Cacaueira e também linda.
Obrigada pelos comentários, gente! “Filho de Mutuns”, seu comentário me levou às lágrimas (o que não é nada difícil – risos). Duda (Eduardo Anunciação) será sempre uma saudade para todos nós. Um abraço.