Tempo de leitura: 4 minutos

Walmir Rosário 3Walmir Rosário | wallaw2008@outlook.com

 

É uma pena que uma estrada tão anunciada e cancelada como essa continue com com os defeitos congênitos, que poderiam ter sido corrigidos antes do começo da obra.

 

A Bahia reedita mais uma campanha política acirrada com a luta travada entre as candidaturas do governador Rui Costa (PT) à reeleição, e a do atual prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM) ao Palácio de Ondina. Uma das mais recentes disputas é a duplicação da BR-415, no trecho entre Ilhéus e Itabuna, anunciado pelo Governo do Estado como se fosse sua, embora os recursos tenham origem no Governo Federal.

A eleição ainda será no próximo ano, mas já pega fogo em todo o Brasil e na Bahia não poderia ser diferente, pelo contrário, aqui começa mais cedo, haja vista a dualidade das candidaturas. E faz tempo que é assim, com os eleitores e simpatizantes de Antônio Carlos Magalhães e um seu adversário, seja lá de que corrente política for, mas unidas (ou coligadas) para tentar derrotar os adversários de sempre.

E não é de hoje que o palanque é armado em Itabuna em 1985, a exemplo do que lançou Waldir Pires (PMDB) ao Governo da Bahia, que no ano seguinte ganhou para Josaphat Marinho (PFL) por uma avalanche de votos: perto de 1,5 milhão. Se antes o palanque foi montado na praça Adami, agora foi deslocado para a avenida Juracy Magalhães, na saída para a Ilhéus, cidade vizinha amada ou odiada, de acordo com os interesses.

E o motivo da discórdia é a chamada duplicação da BR-415, trecho que será construído pela margem direita do rio Cachoeira, mas sem o fôlego suficiente para segui-lo até sua foz. O projeto é antigo, elaborado pelo Derba, revisto pelo DNIT, e, de certa forma, é um grande vetor de desenvolvimento regional, por desbravar uma área que produz cacau, café, gado (leite e corte) e produtos de subsistência.

Sim, mas onde está o motivo da refrega entre os possíveis candidatos ao Governo Estado da Bahia? No anúncio do “pai da criança”. Pela primeira vez todos os candidatos que se apresentar como tal, mesmo sem o certificado do DNA. Ou melhor, a genética financeira aponta que o Governo Federal é o pai e mãe da criança, pois gerou e vai custear todas as despesas de criação até que se dê por independente.

E não é de hoje que a fecundação da criança é insistentemente anunciada, mas sem resultados positivos. Pelos meus cálculos, está já é a quarta vez que os coitados dos jornalistas anunciam a data do nascimento, mas a mãe União cismava em não dar a luz ao rebento. De tanto anunciarem, os governadores baianos petistas se acostumaram e se consideraram (em verdade, se consideram) o verdadeiro pai da criança.

Nessa renhida disputa, o governador do Estado considera o rebento como seu, por ter sido a duplicação anunciada durante os governo de Lula e Dilma, embora nunca executada. Assim como a BR-415, outras obras com recursos do Governo Federal são executadas pelo Governo do Estado e Municípios, como se fossem de recursos próprios e não oriundos de transferências, seja a que título forem.

E os petistas – que não são graça e sabem utilizar a mídia no formato os fins justificam os meios – massacraram o presidente da República, “golpista” no entender deles, como se não quisessem executar a obra. E os arroubos não foram poucos, com afirmações falaciosas do tipo: “Se o governo golpista não fizer, nós faremos”, embora grande parte dos recursos federais já esteja disponível na conta.

Mais uma vez, a turma do Temer “apanha como mala velha pra tirar a poeira”, sem ter qualquer culpa registrada em cartório, e não soube ou sabe contra-atacar e promover sua defesa. De forma atabalhoada, cancelou a vinda do ministro dos Transportes a Itabuna e se apresentar no palanque como o verdadeiro pai da criança. Nos comunicados petistas, a culpa teria sido de ACM Neto, que agiria nos mesmos moldes do avô, embora nem cabeça branca ainda tenha.

E essa confusão toda tem todo o motivo para tanto. A obra, embora não seja uma duplicação de verdade, é importante para o desenvolvimento econômico e social, não só de Itabuna e Ilhéus, mas da região cacaueira como um todo. A atual BR-415 se tornou uma avenida comercial, industrial e serviços, além de ser nosso caminho do nosso pequeno mas atuante aeroporto e poderá nos oferecer novos rumos.

Só que, no meu modesto entendimento, a duplicação de verdade começaria em Itabuna, no bairro da Conceição, e se estenderia até a cidade de Ilhéus e não terminaria no meio da estrada. A nova estrada terá 17,98 quilômetros de extensão, embora a distância entre as duas cidades meçam quase 30 quilômetros. Uma perna nasce menor do que a outra e antes do bairro ilheense do Banco da Vitória o tráfego se congestionará de novo. Deveria ter sido feito um enxerto ou uma prótese para corrigir a deficiência.

É uma pena que uma estrada tão anunciada e cancelada como essa continue com com os defeitos congênitos, que poderiam ter sido corrigidos antes do começo da obra. Até porque o fluxo do tráfego não é apenas das duas cidades e sim de toda uma região, que sempre teve a vocação para produzir e ser grande, mesmo que seu povo abdique da política, entregando-a de bandeja aos povos de outras regiões, contentando-se apenas com a economia.

Eu, como sou um otimista incorrigível, acredito que a obra seja concluída, porém muitos ainda são como São Tomé: têm que ver para crer.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado

6 respostas

  1. Eu também, quando assistir por duas vezes apresentações do projeto notei defeitos técnicos, tanto do ponto de vista ambiental, social e estratégica logística pra futura mobilidade para o lado norte da cidade de ilhéus ligando essa Br 415 a Ba 001 e até mesmo a ausência de interesses na discussão destas questões e ate da sua viabilidade na ampliação da via já existente. Infelizmente o autor da matéria só só anunciou estas questões de distorções técnicas do projeto somente como chamada da manchete, deixando de explicita-la mais detalhadamente e se atendo somente as questão políticas partidárias…E essas questões continuam sem o devido debate.

  2. Eu também, quando assistir por duas vezes apresentações do projeto notei defeitos técnicos, tanto do ponto de vista ambiental, econômico, social e estratégica logística pra futura mobilidade para o lado norte da cidade de ilhéus ligando essa Br 415 a Ba 001 e até mesmo a ausência de interesses na discussão destas questões e ate da sua viabilidade na ampliação da via já existente. Infelizmente o autor da matéria só só anunciou estas questões de distorções técnicas do projeto somente como chamada da manchete, deixando de explicita-la mais detalhadamente e se atendo somente as questão políticas partidárias…E essas questões continuam sem o devido debate.

  3. Walmir concordo plenamente contigo. Mesmo que fosse totalmente duplicada ainda defendo sentido duplos nas duas vias. Ora, se Ilhéus,tem sua distribuição populacional equilibrada entre a zona norte e sul. Evitaria que milhares de veículos b circulassem pela zonal central da cidade. E para complementar faria dias anéis viários ligando o sobrinho…

  4. Quem viu o vídeo explicativo, percebe claramente que a duplicação faz parte de um conjunto de intervenções viárias entre as duas cidades-pólo da região. Além dela, haverá uma rodovia de contorno de Itabuna, do Los Pampas até a BR 101, ao sul da cidade; uma via expressa até a região do Porto Sul; outra de contorno de Ilhéus, do Banco da Vitória até a BA 001, na altura das Praias do Sul da cidade; e outra ligando pelo norte, também à região do Porto Sul.
    Parece que quem critica está ignorando a perspectiva de segurança na rodovia, mais importante do que o gargalo do Banco da Vitória, dada pela duplicação. Poderia ser feita na mesma margem do rio? Sim, mas o custo social e de desapropriações seria maior. Pela outra margem, apesar de parecer um maior custo ambiental, as demonstrações durante as audiências públicas (que houveram, apesar de ter gente que dá opinião sem ter comparecido) são de que a maior parte do trecho da construção já ser antropizado.

  5. O grande problema são as citadas “próteses” que não resolverão as deficiências do portador. Acredito que os projetistas desconhecem a região, seus fluxos e suas vertentes.

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *