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Valéria Ettinger
 

Será que é tão difícil entender que somos uma grande rede de conexões e que enquanto um de nós estiver no sofrimento essa dor pode ser nossa também? Será que é difícil entender que não sobrevivo nesse mundo sozinho e o estar junto é olhar para além do nosso campo de visão?

Estou assistindo a um documentário com o ator Morgan Freeman que fala da existência de Deus a partir da perspectiva de algumas religiões. Em um dos episódios, ele trata da questão do mal, o que nos remete a fazer diversos questionamentos: como o mal é atraído ou instaurado no ser humano? Será que o mal é inerente a natureza humana? Será que o bem pode vencer o mal? Por que preferimos nos apegar as maldades do que as bondades? Será que nos associamos para o bem ou para o mal? Porque temos surtos de bondade e união em situações de catástrofes e não o fazemos isso no dia a dia?
São tantos questionamentos que não sei se terei repertório ou respostas para essas perguntas, mas o que mais me chama atenção nessas situações todas é como não conseguimos nos manter unidos ou direcionados a prática do bem quando somos mobilizados, em massa, em situações extremas como essas dos meninos da Tailândia.
Vivemos o momento do medo do não resgate, a esperança do resgate, a alegria pela união de forças e agora estamos na catarse do desfecho positivo, mas, infelizmente, esse momento de conexão será tão frívolo e rápido como um cometa passando pelo céu.
As nações se voltarão aos seus interesses econômicos e os homens se voltarão as suas demandas pessoais e suas futilidades cotidianas e o pensamento uníssono de amor, união, fé e solidariedade se dissipará no vento. Como num piscar de olhos nós esqueceremos de tantas outras crianças perdidas no mundo, pela fome, pela miséria, pelas violências, pelas separações decorrentes das guerras insanas e do nosso próprio egoísmo. Enquanto nós sobreviventes continuaremos por ai…, com nossas “selfies” e produzindo nossos “histories” ou bisbilhotando o dos outros.
Como é difícil mobilizar as pessoas para causas humanitárias e não digo causas grandiosas, digo causas pequenas como uma doação de alimentos, de roupas, de tempo para acolher e cuidar de quem precisa… Quantas vezes deixamos de estar com quem amamos por causa do dinheiro, do trabalho ou de sei lá o que.
Será que nossa natureza do mal é tão superior à nossa essência do bem? Será que é tão difícil entender que somos uma grande rede de conexões e que enquanto um de nós estiver no sofrimento essa dor pode ser nossa também? Será que é difícil entender que não sobrevivo nesse mundo sozinho e o estar junto é olhar para além do nosso campo de visão?
Professor Milton Santos em resumo a uma de suas obras fala que o grande passo humanitário que podemos dar é pensar o mundo a partir de uma rede de conexões planetárias. Ou seja, somente uma união global de solidariedade será capaz de mudar a dor do mundo e só assim poderemos nos fazer humanos no sentido literal da palavra e das ações.
Ainda não terminei o episódio do mal, mas não sei se ao fim chegarei a alguma resposta acerca da natureza humana, mas, pelo menos, posso refletir se estou no caminho do bem ou quais passos devo continuar dando para não sair dele…
Valéria Ettinger, uma eterna aprendiz.

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