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Como não terá mesmo o emprego a dar ao companheiro de lutas, o prefeito vai se levantando e se despede argumentando que a política é uma atividade onde grassam as traições, por isso entende a decepção do amigo, mas que vai fazer de tudo para conseguir uma colocação.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Os políticos possuem artimanhas que “até Deus duvida”, costumam dizer os analistas e pessoas experientes dos bastidores da área política. E todas esses artifícios são utilizados para sair de situações embaraçosas, como justificativas pelo não atendimento das promessas largamente cumpridas durante as sucessivas campanhas eleitorais.

Para conseguir o voto, além do trabalho dos cabos eleitorais, os candidatos e os dirigentes de partidos fazem de tudo, desde a simples promessa de promover o bem-estar da população com os serviços públicos até a garantia de empregos. Como uma parte do eleitorado não está trabalhando, a promessa é a tábua da salvação; para a outra parte, o que interessa mesmo é estar mamando nas tetas da viúva, e com todas as forças.

Mesmo sendo conhecedores das falsas promessas dos políticos irresponsáveis (a grande e consagradora maioria), o eleitor faz vistas grossas, pois também tem suas treitas artes e manhas para enganá-los. Uma delas é se comprometer com todos os candidatos, garantindo milhares de votos para cada um deles, embora tenha consciência de que nem mesmo o seu será consagrado nas urnas.

E eles – os políticos – são os que mais utilizam esse expediente para conseguir votos: Enquanto alguns prometem governar com o povo, de gabinete aberto para atender os eleitores de antes, hoje simples munícipes, outros juram – de pés juntos – que darão empregos para toda a população, além de um pacote infindável de benesses impossíveis de cumprir. E todos conseguem enganar a população. E a população a eles.

O que vale mesmo é o modus operandi utilizado por todos, beirando ao escárnio e à zombaria, para não dizer vulgar e ridículo, seguido à risca por toda a assessoria dos candidatos, treinados à exaustão. Melhor não fariam os consagrados atores para enganar os incautos (às vezes, nem tanto) eleitores que buscam os candidatos para solucionarem seus problemas, antes da eleição, é claro.

Já devidamente eleito e empossado, é chegada a hora de se ver com o eleitorado, pagar as promessas feitas durante a campanha, até mesmo para quem não reconhece mais, embora saiba que será procurado. Mas não importa, se usou de artimanhas antes do pleito, não será agora, vencida a eleição, que não saberá despachá-los com novas promessas para os velhos pedidos.

Assim que o eleitor consegue adentrar o gabinete do prefeito – guarnecido por guarda-costas que mais parecem guarda-roupas –, o que considerado um ato de sorte, após os cumprimentos e elogios de praxe, começa a relatar suas dificuldades de sobreviver sem emprego. Conversa vai, conversa vem, até que lembra a velha promessa de um emprego público assim que o sus excelência tomasse posse. E ele estava à disposição para começar logo.

Sem perder a calma, de forma dissimulada, o prefeito eleito reclama que envidou muitos esforços para tentar atender à promessa feita ao distinto correligionário, mas explica ter sido ele o culpado, pois teria prometido entrar no gabinete junto com os amigos, inclusive ele, que não deu as caras. Após mais algumas reclamações pelo abandono do eleitor, afirma que todos os cargos já estão lotados pelos eleitores que não o abandonaram.

Mas se o eleitor for da quota de outro partido coligado, ai a desculpa – mais esfarrapada, ainda – é outra:

– Olhe, companheiro, pensei muito em você, que lutou com muita garra em minha campanha, mas sabe como é, pelo acordo feito, quem indica os companheiros é o partido, que me manda uma lista com todos os nomes. Infelizmente, seu nome não consta dela, o que estranhei. Houve algum desentendimento com os dirigentes? – pergunta fingindo compaixão.

Como não terá mesmo o emprego a dar ao companheiro de lutas, o prefeito vai se levantando e se despede argumentando que a política é uma atividade onde grassam as traições, por isso entende a decepção do amigo, mas que vai fazer de tudo para conseguir uma colocação. Diz que precisa só de um pouco de tempo para arrumar a casa, pois herdou uma herança maldita, tudo desarrumado.

– Assim que tiver tudo nos trinques, mando lhe buscar em casa.

E assim, nosso experiente político consegue despachar mais um eleitor desiludido.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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