Para Carlos Pereira, ACM Neto passa longe do poder ostentado pelo avô
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ACM Neto não tem nem de longe o poder do avô. Evidentemente, vem de uma escola familiar, é de direita, oportunista, inteligente e habilidoso. É apenas uma pequena parte do antigo poder do carlismo, mas em situação histórica totalmente diversa.

Carlos Pereira Neto Siuffo

ACM foi um político que predominou na política baiana por quase trinta anos. Começou na UDN com Juracy Magalhães, antes do golpe de 1964. Depois rompeu, e posteriormente alternou o poder disputando com outras correntes das classes dirigentes (o juracisismo, o vianismo e, meio outsider, com Roberto Santos).

ACM era dirigente da direita tradicional, conhecia muito das virtudes e fraquezas humanas e sabia manipular os instrumentos de poder como poucos. Eram conhecidos os slogans divulgados por seus seguidores: “quatros anos de pau sem pão”; “aos amigos os favores da lei, aos inimigos os rigores da lei”; ” a bolsa ou chicote”. Sabia corromper e bater, tinha arte em extorquir empresários e, também, agradar intelectuais e jornalistas.

Carlos Castelo Branco conta que ele mandava buscar jornalistas do sul para almoços na Bahia. E muitos intelectuais outrora de esquerda eram seus amigos (dentre eles, Jorge Amado). Comandava a Bahia com dengo e chicote. Era um populista de direita e patrocinava a cultura popular. Fazia da Bahia um sincretismo. Católico tradicional, afagava o candomblé.

Praticamente dizia a “Bahia sou eu”, a ponto de incorporar os símbolos e as cores do Estado em suas propagandas partidárias.

Comandava as instituições do Estado com mão de ferro (todas). As polícias eram milícias suas. Também era dono do judiciário. Era famosa a sabadada dos desembargadores no beija-mão.

Agradava e socorria amigos (desde que não o comprometesse) e era impiedoso com os adversários. Tinha espírito de moleque de rua e tanto telefonava quanto mandava fac-símile expressando xingamentos horríveis para jornalistas.

ACM foi o modernizador por cima da economia baiana. Uniu as oligarquias rurais com o capitalismo moderno e se cercava de tecnocratas competentes. Desde que não fizesse política contra ele internamente, não se importava com pessoas de esquerda nos órgãos do Estado. De quando em quando, cooptava algumas – era conhecida a esquerda baiana na Seplantec. Boa parte de suas bancadas estadual e federal eram compostas de seus tecnocratas, forçava os oligarcas regionais a votar neles.

Rompendo com a ditadura em seus estertores, manteve um grande poder no governo Sarney. Com isso, sufocou o governo estadual de Waldir Pires e o de Lídice em Salvador. Alertando que ele continuava com grande força nas instituições estaduais.

A coligação PSDB e PFL manteve forte o carlismo. Mesmo após o rompimento com FHC, ACM continuou forte e cooptando políticos antes adversários, como fez com parte do PSDB, cujas lideranças comandam o PP da Bahia.

O principal cálculo de poder de ACM era fazer Luís Eduardo Magalhães presidente do Brasil. A morte do filho começa a fazer desandar o carlismo, por falta de um sucessor natural.

O carlismo era formado no mando ditatorial e nos interesses econômicos e fisiológicos dos seus “fiéis seguidores”. Internamente, era um ninho de cobras, cada qual querendo picar a outra.

A morte de ACM dispersa o carlismo. A maioria dos seus então seguidores hoje apoia o governo petista. As instituições também não são mais as mesmas. O carlismo morreu e não existe mais. Seu poder era alicerçado nos muitos interesses econômicos e fisiológicos das classes dirigentes e nas características pessoais de um líder de direita, inclusive muito bem articulado nacionalmente.

ACM Neto não tem nem de longe o poder do avô. Evidentemente, vem de uma escola familiar, é de direita, oportunista, inteligente e habilidoso. É apenas uma pequena parte do antigo poder do carlismo, mas em situação histórica totalmente diversa.

O carlismo foi um fenômeno histórico. Os antigos seguidores do carlismo hoje estão no governo de Rui Costa e também na oposição. O fenômeno carlista deixou de existir.

Não esquecer que Oto Alencar chegou a ser governador pelo antigo carlismo. Não esquecer!

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

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