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Quando Haroldo Lima foi convidado a fazer uso da palavra parece ter feito uma viagem de volta ao passado, lembrando de que, quando estava na clandestinidade, perseguido pela força policial da Ditadura Militar, atuou como trabalhador rural nos municípios de Buerarema, São José da Vitória e Arataca…

Wenceslau Júnior

Hoje recebi um telefonema do amigo Lucas Costa, ex-secretário de Agricultura e Meio Ambiente do Município de Arataca.

Ele fez questão de manifestar o seu pesar pelo falecimento do nosso querido Haroldo Lima.

Logo hoje, 26 de março, Dia do Cacau, dois dias após o falecimento de Haroldo e um dia após o aniversário do Glorioso Partido Comunista do Brasil.

Uma história curiosa me chamou a atenção e jamais poderia guardá-la comigo.

Lucas lembrou de uma reunião ocorrida na campanha eleitoral do ano de 1998, ocasião na qual Haroldo Lima foi candidato a deputado federal e Davidson Magalhães a deputado estadual.

O cenário: umas dezenas de pessoas na porta do estabelecimento de um outro “cabo eleitoral” conhecido como “Zé do Caixão”, já falecido. Todos em pé no meio da rua. Uma caixa de som e um microfone improvisados. Lucas e Zé do Caixão apresentavam seus candidatos a Deputados.

Quando Haroldo Lima foi convidado a fazer uso da palavra parece ter feito uma viagem de volta ao passado, lembrando de que quando estava na clandestinidade, perseguido pela força policial da Ditadura Militar, atuou como trabalhador rural nos municípios de Buerarema, São José da Vitória e Arataca, período no qual se dedicou a “recrutar” e formar militantes rurais para resistirem à Ditadura.

Mirando uma mata que podia ser vista por todos, Haroldo Lima apontou para ela e disse: “Baixinhos, eu já quebrei muito cacau no pé de pau nestas matas de Arataca”.

Alguns permaneceram em silencio, outros cochicharam nos ouvidos daqueles que estavam ao lado. Um ar de desconfiança pairava no ar.

Evento encerrado, Haroldo e Davidson seguiram viagem com a comitiva e a turma permaneceu no bar de Zé do Caixão para bebericar e jogar sinuca.

Aí foi aquele alvoroço: “o que ele quis dizer com isso? Quebrar cacau no pé do pau?”

Muitos duvidando da história de Haroldo Lima trabalhador rural. Outros querendo entender a expressão, outros rindo da cara de Haroldo.

Quando Lucas explicou que nessa época costumava chover muito na região, o que dificultava a colheita e transporte do fruto na “cabruca” (cacau plantado sob a mata). Por tal razão os trabalhadores colhiam o fruto, colocavam nas raízes das árvores frondosas umas folhas de bananeira para servir de anteparo e não sujar a poupa e ali mesmo quebravam o cacau, dispensando a casca e coletando apenas o caroço. Tal pratica facilitava o transporte para as barcaças, pois reduzia o peso e o volume.

Lucas finalmente disse: “vocês estavam duvidando do homem e o homem mostrou que conhece mais de cacau de que vocês todos”.

Haroldo Lima e Davidson angariaram alguns votos e nossa amizade com Lucas que até hoje permanece sólida.

Wenceslau Júnior é ex-vereador de Itabuna e professor da Uesc.

Uma resposta

  1. Saudoso Aroldo Lima estará sempre presente na memória de quem pôde ouvi-lo:
    E eu me lembro desta fala de Aroldo Lima aqui em Itabuna, falava da fazenda que fica no Sururú de Buerarema, dos herdeiros da família Falcão, Fazenda Cajazeira. Os primeiros donos foram quem abrigaram alguns comunistas, e colaboraram para um país que hoje é democrático!
    O atual contraponto Falcão, não apaga a solidariedade humana que salvaram muitas vidas! Seu legado é sua vida, a revolução diálogada, pode sensibilizar proprietários e donos, na acumulação de forças por uma sociedade inclusiva e justa, revolucionária e transformadora!
    Por uma sociedade emancipada na igualdade de direitos de todas as pessoas!
    #HaroldoLimaPresente

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