Panorâmica de Ilhéus com a Catedral de São Sebastião em destaque || Foto José Nazal
Tempo de leitura: 3 minutos

 

 

Os clubes que brotaram, até agora, do território-marca de 1534 buscam nos seus nomes de batismo prestígios copiados extraterritorialmente, como Colo-colo, Flamengo, River, Vitória, e agora, um Barcelona menor

 

 

Sérgio Barbosa || serbarsil@gmail.com

A capitania dos Ilhéus foi reconhecida desde 1534 como promissor território capaz de gerar riquezas, uma vez povoado e explorado economicamente. Primeiramente com a cana de açúcar posteriormente com o cacau atravessou quatro séculos e ainda, hoje, agrega possibilidades com a indústria e os serviços da cultura e do turismo. O perfil de atividade econômica, daquele local, foi se ampliando na medida que o processo cultural da civilização foi compreendendo, em etapas ou eras, novas formas de ocupar e explorar o território nas suas potencialidades.

Sem dúvidas que foi a era da agri(cultura) cacaueira que, até agora, mais se expressou como perfil da cultura do território posto que se enraizou, também, na literatura e deu contornos saborosos ao locus com o imaginário da sensualidade e do amor de dois migrantes que se fundiram como uma explosão de sexo, pleno de liberdades e libertinagens num tempo de profunda rigidez social. Uma trama, do diabo que os deuses do cacau – theobroma – abençoaram.

O forjador dessa fundição, um grapiúna de raiz, deu sabores picantes ao território capaz de chamar a atenção do mundo por mais de século para essa terra de felicidade sem fim, cheia de histórias de amor, experiências, picardia e esperanças…

Jorge Amado, Gabriela e Nacib formaram um triângulo, longevo, rico de nuances que poderá impulsionar por mais outros séculos quem queira navegar nesta fórmula capaz de estimular curiosos amantes e consumidores a se interessar pela produção dessas terras de possibilidades, tal qual a cidade turística de Verona na Itália, que perdura no imaginário dos visitantes na sombra dos amantes Romeu e Julieta.

Assim percebeu, no seu tempo, um outro “imigrante suíço” – Hans Schaeppi – que, nos anos 1970/80, se consagrou ilheense, dentre outros feitos, ao batizar sua fábrica de chocolates com a marca raiz ILHEUS e “linkar” sua produção picante de marcas “Cacau do Nacib” e “Flor da Gabriela”.

Um marketing positivo para o território, invocando um registro de 1534 e abrindo vetores futuros de exploração de outras marcas como átomos dinâmicos de bom comércio e bons frutos. Hans Schaeppi estava bem posicionado no seu tempo e com ampla visão de um mentor de desenvolvimento para o território, mas parece não ter conquistado, ainda, bons seguidores no seu exemplo.

Assim dito, a cultura futebolística ilheense parecer ter inspiração inversa ao “suíço-Ilheense”, pois os clubes que brotaram, até agora, do território-marca de 1534 buscam nos seus nomes de batismo prestígios copiados extraterritorialmente como Colo-colo, Flamengo, River, Vitória, e agora, um Barcelona menor, cuja única identidade com a Catalunha, penso, é nenhuma e se apoia tão somente de momento do clube catalão ou talvez no desenho das bandeiras das cidades. E só.

Lastimável exemplo de demarketing territorial, e ausência de pertencimento, pois, uma vez crescendo o futebol desse clube, seus êxitos serão sempre remetidos a lembranças da cidade catalã que nem patrocina, sequer, nosso suor atrás da bola. Colherão, eles, os frutos sem plantá-los nem os regar.

Parece não ser razoável nem inteligente que a cultura das instituições ilheenses, de quatro centrão, se acomode com esses desperdícios de exposição que a mídia futebolística oferece, e, que o Itabuna, o Ceará, o Fortaleza e o Bahia desfrutam, muito bem, capitalizando suas marcas-territórios ao seu locus de berço.

Assim procedeu a indústria vinícola europeia, no século passado, a criar regras restritivas chamadas de “denominação de origem” vinculando as marcas dos seus “terroirs” com suas vinícolas. Cartão vermelho para qualquer um mortal que se atreva, doravante, a produzir um espumante de vinho com o rotulo de Champanhe exclusividade daquela região francesa que os deuses do comercio passaram a chancelar. É a mesma bebida que as corridas automobilísticas faz-nos beber como sinônimo de êxito e por elas pagar.

Oxalá os orixás nos ajudem a não permitir que os deuses do futebol não se motivem da mesma maneira das vinícolas e venham a exigir royalties pelo batismo-indevido ao nosso clube ilheense quando este se sagrar campeão.

Quem sabe se nossos orixás se unirem e lançarem fagulhas de criatividade e incendiarem, de espíritos “Schaeppianos” misturando à larva “Amadiana”, as novas lideranças dos traders Ilheensi de modo que doravante estejam vigilantes criando talvez um Ilheus-Theobroma F.C., uma SAF de uso múltiplo e arrendado a novos investidores na nossa Capitania. Uma ideia, bem-humorada, picante de desdobramentos e cheiro de século XXI.

Sérgio Barbosa é ilheense de coração nascido em Salvador.

Tempo de leitura: 3 minutos

Por achar que não conseguimos.
Porque achamos que não somos bons o suficiente.
Porque as pessoas não acreditam na gente.
Porque é difícil.
Porque crescemos ouvindo que isso era Ímpossível.
Porque não nos sentimos merecedores.
Por que desistimos?
São tantos os porquês…

Rava Midlej Duque || ravaduque@gmail.com

Certa vez, quando havia desenvolvido a depressão e fui clinicamente diagnosticada, falei para a terapeuta que estava sentindo muita raiva da vida e assustada com as pessoas e com o mundo. Essa sensação me causava o questionamento: PARA QUE E POR QUE ESTOU VIVA?

Era uma sensação que desencadeava várias outras, e eu fugia das pessoas. Além de reclamar delas, reclamava da vida, reclamava do governo, da sociedade, dos vizinhos, da família…

“A última pessoa que imaginei que passasse por isso seria você, Rava”, falou mainha, olhando para mim. Era mesmo difícil acreditar, principalmente porque sempre me senti alegre, para cima, com vontade de vida! Mas a depressão chegou à minha vida. E eu estava ali, derretendo em um buraco sem fundo. Eu realmente estava desistindo de mim, não no sentido de tirar minha própria vida, mas desistindo da vida em vida, tornando-me apática, fria, sem brilho nos olhos. Mas, aos poucos, com tempo, paciência e, sobretudo, com decisão e dedicação, felizmente fui resgatada pela minha família e pela espiritualidade.

Não que hoje eu esteja isenta dos problemas e dificuldades da vida, ou que eu não me sinta confusa em algumas situações ou que nunca desanime diante das demandas e responsabilidades. Sim, faço, sinto! Sou humana! Mas hoje me conheço melhor e tenho ferramentas para encontrar de solução para tudo. Sim, eu disse, tudo! Para tudo há caminhos de solução, basta que a pessoa queira e comprometa-se com o seu processo. Não é fácil. Mas é possível e vale a vida!

Cura é jornada! Autoconhecimento é processo! Não desista. Não desista de você. Resgate quem você é e vá retirando todas as máscaras que te levaram a esquecer.

Respeite a sua história e tudo que te trouxe até aqui.

E lembre-se: quando você começa a questionar o sentindo da sua vida, é porque sua jornada no autoconhecimento iniciou. Por isso busque apoio, busque profissionais que te ajudem nesse processo. Não é fácil seguir sozinha.

Muita coisa está acontecendo ao mesmo tempo. A energia está intensa e tensa no mundo. Estamos em um momento em que, se a pessoa não tem um apoio emocional, alguém para auxiliar, escutar, receber ferramentas, caminhos de soluções, a pessoa não consegue sozinha.

Quando você recebe o auxílio, a mão de alguém para ajudar você nos seus processos, você recebe uma força de vida que te resgata, te impulsiona, te eleva para o seu melhor. E quando você se alinha no seu lugar de força vital, começa a se relacionar com a intensidade do mundo de forma diferente: mais confiança, menos controle.

Eu não me tornei terapeuta sistêmica só lendo livros ou assistindo 500 horas de aula, eu sirvo aquilo que eu conheço. Ou seja, eu já estive do outro lado. Eu passei meses olhando para o fundo do poço. Eu sei como é estar perdida diante à vida, sem sentido, sem bússola, sem noção do que fazer e qual caminho seguir.

Então lhe digo, sente que precisa de ajuda? Busque! Agarre com unha e dentes e faça disso sua prioridade. Não se deixe para depois. Não há tempo a perder! É preciso trazer para o consciente aquilo que está inconsciente, e por isso, sem entendimento. Identifique e trabalhe nisso. Trabalhe nisso para que se torne uma FORÇA e não uma FUGA!

Nunca é tarde para se perguntar ” Estou pronta(o) para mudar a minha vida, estou pronta(o) para fazer diferente a partir de agora?

Eu passei por um processo que eu precisava para encontrar o meu propósito, uma vida que fizesse sentido ao meu coração e a minha alma. Sigo encontrando todo dia. E você também pode encontrar esse lugar. Não desista!

Rava Midlej Duque é comunicadora, mestra, terapeuta sistêmica e consteladora familiar especialista em Psicologia do Nascimento.

Jipe caracterizado na estrada e na porta de uma oficina || Fotomontagem
Tempo de leitura: 3 minutos

 

 

O diagnóstico dos médicos declarou falência dos órgãos, mas em qualquer oficina mecânica em que buscasse uma reforma mais robusta, por certo diriam que bateu o motor, encavalou a caixa de marcha, estourou o diferencial e sofreu um curto circuito na instalação elétrica: deu PT, a famosa perda total.

 

Walmir Rosário

Em todas as cidades, não importa o tamanho, existem figuras de destaque na sociedade. É verdade que algumas delas são vista de forma jocosa, em função de alguma deficiência física ou mental. Mesmo hoje, com o império do politicamente correto, essas pessoas ainda são motivos de risos, gozações, muitas das vezes respondendo com palavrões os chistes a eles dirigidos, muitas das vezes atirando pedras, paus, o que tiver às mãos.

No meu tempo de menino – e já vão muitos anos – Itabuna convivia com seus personagens, muitos deles tinham as ruas como residência e em locais fixos, em baixo de marquises seguras ou local melhor para mendigarem. Outros, vinham diariamente de cidades próximas, e outro grupo residiam com seus familiares, mas ganhavam as ruas e também eram motivos de gozações.

Um deles era o Jipe, com certidão de nascimento e batizado com o nome de Afrânio Batista Queiroz, que se caracterizava de Jeep Willys. Sim, isso mesmo, e com o que tinha de melhor entre os acessórios para equipar esses veículos, que eram os mais vendidos por ter estrutura para enfrentar as piores estradas. E revestido intelectualmente por dentro, e acessoriamente por fora de jeep, percorria ruas e estradas de Itabuna e região.

Na cidade em que estivesse Jipe visitava os pontos de táxis, geralmente aqueles carrões americanos das marcas Hudson, Ford, Chevrolet, Desoto, Oldmosbile, Rurais e Jeeps, estes em grande maioria. Conversava pouco e ouvia muito. Era observador por natureza, por ser circunspeto, calado, até. Ninguém sabia o que ele realmente pensava e qual a comparação que faria entre um verdadeiro jeep e o que pensava ser, pois não externava. Um simples sonho ou uma incorporada realidade…

Pelo que sempre contavam, ainda adolescente Afrânio teria pedido ao pai – um alfaiate – um jeep de presente, promessa nunca cumprida, o que teria mexido com sua cabeça, o deixando abilolado, como diziam. E como um jeep de verdade, o Jipe itabunense portava uma lanterna representando os faróis dianteiros, uma antena bem alta para que seu imaginário rádio não falhasse na viagem, um caixote pouco acima de suas nádegas, exatamente como o porta-malas de um jeep e uma lanterna traseira com lente vermelha e que acendia quando “freava”.

Com as mãos empunhava um espelho retrovisor, a antena, um pequeno equipamento pisca-pisca para sinalizar a mudança de direção, além de uma flanela na qual limpava o suor do rosto e os equipamentos. E o conhecido Jipe obedecida cegamente a legislação do trânsito, parando nos sinais quando vermelho e dava partida assim que a luz verde era acesa. Jamais infringia o Código de Trânsito, mesmo sem ter estudado.

Por onde passava chamava a atenção, tanto por sua indumentária e acessórios, quanto pela seriedade que se comportava. Se era cumprimentado respondia ao cumprimento com uma buzinada e seguia em frente. Pouco se importava quando a criançada – e até alguns adultos gaiatos – gozavam com sua cara. Caso continuassem com os chistes, aí sim, partia pra cima com vigor, apesar de sua pequena estatura.

Sempre me encontrava com Jipe pelas ruas, ou na grande concessionária da Willys Overland do Brasil em Itabuna, a empresa J. S. Pinheiro e Irmãos. Ali ele se sentia à vontade no meio dos veículos expostos à venda e na oficina, onde conversava com os mecânicos, todos seus amigos. Frequentemente se sentava à frente de um dos sócios, Tote Pinheiro, ouvia atentamente a conversa com os compradores, embora jamais se intrometesse. Apenas observava atentamente.

A cada semana Jipe visitava uma das cidades circunvizinhas de Itabuna, a exemplo de Buerarema e Itajuípe (20 km) e Ilhéus (30 km). Nessas viagens contava com a colaboração dos donos de bares e restaurantes, que lhe forneciam alimentação gratuita (água para o radiador, gasolina e troca de óleo, dizia). Dizem que já foi até Jequié para viajar na Rio-Bahia (BR-116). Nas estradas asfaltadas circulava pelo acostamento, sem descuidar do retrovisor e da sinalização com o pisca-pisca. O certo é que nunca sofreu ou causou um acidente.

Nascido em 1918, aos 65 anos de idade, após muitos problemas de saúde, passou a morar no Abrigo São Francisco, onde ficou até 31 de março de 2010, quando foi a óbito aos 92 anos de vida. O diagnóstico dos médicos declarou falência dos órgãos, mas em qualquer oficina mecânica em que buscasse uma reforma mais robusta, por certo diriam que bateu o motor, encavalou a caixa de marcha, estourou o diferencial e sofreu um curto circuito na instalação elétrica: deu PT, a famosa perda total.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Tempo de leitura: 3 minutos

Uma incógnita a ser resolvida é o abrigo político de Bento, especialmente após ruídos no PSD, liderado pelo senador Otto Alencar na Bahia.

 

Jerberson Josué

Com o desenvolvimento da pré-campanha, três nomes foram destaques nessa segunda semana de janela partidária.

Adélia Pinheiro (PT) ganhou espaço, marcando presença em reuniões e encontros com diversos segmentos sociais. Também recebeu visibilidade, ao lado do governador Jerônimo Rodrigues, nas entregas das grandes obras da Secretaria da Educação da Bahia, ainda sob o comando da médica e professora aposentada da Uesc, onde ela exerceu dois mandatos de reitora. Sem falar na foto de mãos dadas com o presidente Lula, que dispensa comentários sobre seu significado político.

O vereador Augustão também balançou o coreto. Sua chegada no PDT, recebendo o suporte de dois pesos pesados da política baiana, o deputado federal Felix Mendonça Jr (presidente do partido na Bahia) e o vice-presidente estadual da sigla, José Carlos Araújo. Em entrevista a este PIMENTA, ele avisou que tem autonomia para decidir sobre as eleições em Ilhéus e não descartou caminhar sozinho, se não houver acordo com outros partidos.

O empresário Valderico Reis Júnior (UB) fecha a trinca da hora em Ilhéus. Pontuando bem nas pesquisas disponíveis até dezembro de 2023, o pré-candidato acertou em cheio com o lançamento do programa Papo de Gestão, que vai ao ar aos sábados, a partir das 8h, na Gabriela FM. Depois de superar um momento difícil na vida pessoal, retomou as andanças pela cidade e ganha corpo nas ruas.

ATUALIZAÇÃO DO TABULEIRO

No campo governista, pré-candidaturas disputam a preferência dos governos federal e estadual. O vice-prefeito Bebeto Galvão, forjado na luta sindical e articulador político do PSB no sul da Bahia, quer as bênçãos governistas. Para isso, tem o apoio da deputada federal Lídice da Mata.

O vereador Jerbson Moraes (PSD), ex-presidente da Câmara de Ilhéus, tem o apoio incondicional do deputado federal e um dos líderes do PSD na Bahia, Paulo Magalhães, que reafirmou a garantia da legenda ao edil ilheense.

A advogada Wanessa Gedeon, do Novo, segue afinando o discurso e amolando as canelas, pois sabe que tem muito o que rodar na cidade. Seu trabalho na OAB, com importante repercussão na defesa dos direitos das mulheres, é um ativo político a ser colocado na vitrine da pré-campanha. A ver.

Edson Silva, do PRTB, nas suas rodas de conversa com os amigos e companheiros, tenta atrair os formadores de opinião e lideranças comunitárias para a sua pré-campanha. Já o Coronel Resende, que apareceu em foto com Bolsonaro, tenta colar sua imagem à do ex-presidente.

Dos quadros mais preparados que já passaram pela Câmara de Ilhéus, o ex-vereador Makrisi e seu novo partido, o PSOL, têm o desafio de construir uma pré-candidatura competitiva.

O ex prefeito Jabes Ribeiro (PP), decano nas disputas eleitorais de Ilhéus, tem rodado Brasília em construção de suportes e articulações para sua pré-campanha. O experiente político segue suas táticas à risca. Afinal, é doutor em vitórias eleitorais desde 1983. Isso não significa dizer que venceu todas, mas, até perdendo, meio que “escolheu” para quem perder.

E, por fim, o prefeito Mário Alexandre, mesmo sem anúncio oficial, já roda a cidade em companhia do secretário Bento Lima, seu pré-candidato não declarado. Ainda que de forma tímida, o grupo do Governo Municipal já segue Marão no apoio a Bento, o que é natural.

Uma incógnita a ser resolvida com o fim da janela partidária é o abrigo político de Bento, o virtual pré-candidato governista, especialmente após ruídos no PSD de Marão, liderado pelo senador Otto Alencar na Bahia.

Sigamos atentos aos próximos capítulos no desenrolar das eleições 2024.

Jerberson Josué é ativista social.

A alegria de retornar à elite do futebol baiano durou pouco para o Azulino || Foto Divulgação
Tempo de leitura: 4 minutos

 

 

 

E o pior de tudo foi ter que aturar a gozação dos ilheenses, com um torcedor do Barcelona exibindo um cartaz em que dizia: “Eu já sabia, time da roça descendo com as baronesas” (do rio Cachoeira).

 

Walmir Rosário

Tinha prometido a mim mesmo que não mais escreveria sobre o futebol da atualidade. Motivos não faltam: não acompanhar o dia a dia dos times, especialmente o Itabuna Esporte Clube, em campo e extracampo; as ações da diretoria; o apoio recebido de instituições públicas e privadas; a convivência com sua apaixonada torcida. Por si só essas alegações bastariam e poderia cometer pecados pelo simples desconhecimento.

O certo é que a má fase fez com que o “time lascasse em bandas”, como se diz, e voltasse à Série B do Campeonato Baiano. Já sua ascensão à Copa do Brasil e à Série D do Campeonato Brasileiro, foi e deverá ser efêmera, respectivamente. E o que é pior: todo o planejamento é desmontado e um novo deverá ser elaborado, para que possa cair nas boas graças para os investimentos da iniciativa privada, que sabe uma SAF.

O itabunense é um apaixonado por futebol, e esse centenário amor passa de geração em geração, mesmo quando a cidade não tem uma equipe para tornar feliz os torcedores. E Itabuna já colocou duas equipes profissionais no Campeonato Baiano, para atender às predileções e preferência dos esportistas. Mas por pouco tempo. O Estádio Luiz Viana Filho, que hoje atende por Fernando Gomes, se transformou num elefante branco.

É triste para a apaixonada torcida itabunense passar o fim de semana sem futebol no Itabunão. E essa privação, carência, emudece parte da cidade, deixando caladas as equipes esportivas das emissoras de rádio, TV, jornais e as chamadas mídias sociais. Quando mudas, sem voz, deixam cabisbaixa a torcida, sem as discussões nos bares, nas praças, nos locais de trabalho. Tristeza absoluta na sociedade.

Essa escrita não irá, jamais, explicar os motivos que levaram e levam, costumeiramente, o entra e sai das nossas equipes dos campeonatos, com longos intervalos, como se fossem propositais para que os itabunenses entrassem num período letárgico, resultando no desinteresse pelo futebol. Podem os especialistas apontarem as causas que quiserem, mas, essa apatia afastará nosso torcedor do futebol. Isto está provado.

Nos mostra a história mais antiga que o futebol de Itabuna era mantido por abnegados, que dedicavam parte do seu tempo e seus recursos financeiros na manutenção da equipe amadora, como se profissional fosse. Não sei se o que falta é altruísmo, dinheiro nos cofres, bons projetos, desinteresse de uma parte da sociedade bem aquinhoada com o velho esporte bretão, que continua encantando de crianças aos anciãos.

Nessa conta também cabe colocar a parcela que cabe ao poder público, a exemplo do incentivo ao esporte nas dezenas de bairros de Itabuna, formando craques que poderiam abastecer as equipes locais. Faltam projetos abrangentes em execução na formação da meninada, iniciando na escola com os esportes coletivos como prática nas aulas ministradas na disciplina educação física. E essa ausência torna mais difícil e cara a formação de um time profissional.

Se não temos, ainda, a capacidade de formar os atletas, também nos falta um estádio em perfeitas condições para sediar jogos da equipe profissional. Entra ano e sai ano, somos informados que nossa praça esportiva será reformada e voltará a rivalizar com o “Gigante do Itabunão”, que chamava a atenção dos cronistas esportivos das grandes emissoras do Brasil pelo gramado suspenso e uma drenagem eficiente. As chuvas não tiravam o controle da bola do bom jogador para as poças de água.

Mas voltando à “vaca fria”, não podemos esquecer o esforço da direção do Itabuna Esporte Clube para voltar a brilhar nos campos de futebol da Bahia e do Brasil. Não conheço o projeto empreendido, bem como os apoios recebidos, especialmente na área financeira. O certo é que voltamos à Série B do Campeonato Baiano, nos sagramos campeão e entramos na Série A pela porta da frente.

E o que pensa a torcida, o que ela viu desse trabalho de preparação, dos jogos vencedores? Nada, ou quase nada, pois o Itabuna Esporte Clube, o “Meu Time de Fé”, o Dragão do Sul”, simplesmente não se apresentava à sua torcida. Seus jogadores não ouviam a animação da charanga (saudades de Moncorvo), os gritos de incentivo nos ataques, as festas nos gols marcados. Futebol sem estádio lotado não é futebol.

É que, por falta de um estádio pronto e aceito pela Federação Bahiana de Futebol, o Itabuna passou à condição de “caixeiro viajante”, se apresentando em outras praças, treinando em outras cidades. Parabéns às cidades que abrigaram o Itabuna, embora o torcedor tenha sofrido mais decepções com sua ausência. Não fossem os esforços das emissoras de rádio e TV, sequer teríamos notícias instantâneas dos resultados dos jogos.

Faltam-me informações sobre os próximos passos que serão tomados pelo Itabuna. Por certo a diretoria apresentará, muito em breve um novo planejamento. Esperamos que consigam bons contratos de apoio, como o Itabuna merece. Por outro lado, o torcedor quer ver o Itabuna Esporte Clube jogando no “Gigante do Itabunão”, e não em Camacan, Ilhéus ou outras cidades que gentilmente nos receberam.

E o pior de tudo foi ter que aturar a gozação dos ilheenses, com um torcedor do Barcelona exibindo um cartaz em que dizia: “Eu já sabia, time da roça descendo com as baronesas” (do rio Cachoeira). Mas o itabunense não se zanga com isso, afinal, a rivalidade entre Itabuna e Ilhéus tem mais de 100 anos e os ilheenses não perdoam o itabunense pelas acachapantes vitórias nos jogos ao longo desse tempo. É a mágica do futebol.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor d´Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Jerberson Josué analisa cenário eleitoral em Ilhéus || Foto Divulgação
Tempo de leitura: 3 minutos

 

O prefeito deve apresentar Bento Lima aos caciques dos mais de dez partidos do seu arco de aliança e espera resposta positiva do PSD, que também tem em sua disputa pela indicação do seu candidato majoritário o ex-presidente da Câmara de Ilhéus o vereador Jerbson Morais

 

Jerberson Josué

Como era de se esperar, o prefeito Mário Alexandre (PSD) se movimenta pra fazer a maior coligação possível para seu prefeiturável e está em Brasília, em articulações e reuniões, objetivando convencer os caciques nacionais dos partidos a estarem consigo na viabilização da sua pretensão de eleger seu sucessor.

Em seu radar está seu correligionário e senador Otto Alencar, com quem espera aparar arestas e dirimir dúvidas sobre o controle local do seu próprio partido, em decorrência de rusgas advindas das articulações que Marão tem protagonizado, principalmente em Itabuna, Itajuípe e alguns outros municípios sul-baianos.

Em Brasília, Marão está buscando apoio declarado do senador e líder do Governo Lula no Senado, Jaques Wagner (PT), e do ministro e ex-governador Rui Costa (PT), com quem o prefeito teve o maior parceiro quando era governador. Outras reuniões e encontros estão na agenda do prefeito Marão e de dois influentes e fortes secretários, Ari Santos, o articulador político do governo, e o provável pré-candidato Bento Lima.

Mário Alexandre já conta com mais de dez partidos sob seu controle, que deverão proporcionar maior aparelhamento e recursos de campanha, mas que não garantem eleição tranquila e fácil. Na trajetória eleitoral das pretensões de Marão, estão possíveis candidatos majoritários competitivos e que circulam pela cidade e seus distritos, com disposição de engrossar o caldo pro lado do prefeito e seu prefeiturável.

Neste contexto está o ex-prefeito Jabes Ribeiro (PP), que circula pelos quatro pontos cardeais da cidade em busca dos seus amigos de 50 anos de vida pública. Também há o empresário Valderico Reis Júnior (UB), que deverá contar com uma frente ampla oposicionista de peso, com perspectiva de coordenação sob controle do ex-presidente da União de Vereadores da Bahia (UVB) e ex-presidente da Câmara de Vereadores de Ilhéus advogado Joabs Ribeiro, que é irmão de Jabes Ribeiro.

Quem também quer ser prefeito de Ilhéus é o vereador Augustão, que tem garimpado bons apoios e transitado bem em diversos segmentos sociais da cidade, com protagonismo que já está fazendo sua candidatura ganhar musculatura e ser alvo de diversos convites para ser vice de alguns dos demais pré-candidatos. De saída do PT, o vereador está de malas prontas para uma possível filiação ao PDT, garantido sua participação majoritária no pleito eleitoral de 2024.

O bolsonarismo tem no pré-candidato Coronel Resende (PL) uma alternativa ideológica baseada no eleitorado da direita e cujo contingente não pode ser considerado como insignificante. No campo governista, 4 pré-candidaturas disputam preferência da máquina municipal, estadual e federal. Essa é a mais disputada de todas vagas, o candidato que poderá participar da campanha eleitoral dizendo ser o candidato do presidente Lula, governador Jerônimo, Rui, Wagner e Otto. Esses apoios possuem apelos consistentes no eleitorado ilheense, que vê esse alinhamento de forma positiva.

O prefeito deve apresentar Bento Lima aos caciques dos mais de dez partidos do seu arco de aliança e espera resposta positiva do PSD, que também tem em sua disputa pela indicação do seu candidato majoritário o ex-presidente da Câmara de Ilhéus o vereador Jerbson Morais, que está rompido com seu correligionário Marão e se sustenta no deputado federal Paulo Magalhães (PSD), para acreditar que terá o beneplácito do PSD, para preterir Bento e ser seu prefeiturável.

“Correndo por fora” e “comendo pelas beiradas” para se tornar opção do grupo situacionista está o vice-prefeito Bebeto Galvão (PSB). Duas mulheres são pré-candidatas a prefeita de Ilhéus: a secretária de Educação da Bahia, a médica e professora Adélia Pinheiro (PT), e a advogada Wanessa Gedeon (Partido Novo). Recentemente o PRTB lançou a pré-candidatura de Edson Silva a prefeiturável.

Fora das hordas governistas e oposicionistas, transitando no campo da rejeição a quem não quer sair do poder e todos os demais que pretendem entrar no poder, está o ex-vereador Makrisi de Sá (Psol-Rede), com propostas que esquentarão a temperatura das eleições e buscarão cooptar o eleitorado exausto dos nomes que serão seus adversários na disputa à sucessão de Marão!

Jerberson Josué é ativista social.

Última Ceia, de Leonardo Da Vinci (1452-1519)
Tempo de leitura: 3 minutos

Se Jesus veio após todos os livros e lições do Antigo Testamento, é porque este tornou-se insuficiente, fazendo-se necessário que a Luz do Cristo brilhasse mais alto.

 

 

 

 

 

Julio Gomes

Chama a atenção um fenômeno cada vez mais recorrente entre pessoas da atualidade, quanto à vivência da religiosidade no âmbito do cristianismo: a substituição, cada vez em maior quantidade, das narrativas diretamente relacionadas a Jesus contidas no Novo Testamento por referências diretas aos textos e passagens que vão do Livro do Gênesis até o Livro de Malaquias, todos do Antigo Testamento.

Essa percepção é fruto de uma convivência religiosa que procura ser o mais livre de preconceitos possível, escutando nas ruas, junto à juventude e às pessoas maduras, nos locais de trabalho, nas atividades esportivas e em família, quando das preces que abrem ou encerram eventos, as orações de pessoas de diversas religiões cristãs: católicos, espíritas e, sobretudo, evangélicos.

A referência ao Antigo Testamento é, sim, bem-vinda, pois o próprio Jesus, pilar e origem do Cristianismo, vem de uma sociedade e família de religião judaica. Fundamentada, portanto, na Torá ou Pentateuco, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento, e nos demais livros e tradições que o compõem.

Porém, o que causa estranheza não é a presença de referências à Lei Antiga, mas a ausência, por vezes quase total, de citações, trechos e passagens relacionadas a Jesus, aos atos de seus apóstolos e à expansão da fé cristã após o assassinato de Jesus.

Embora sejam vibrantes e sinceras em suas crenças, dotadas de fervor por vezes admirável, essas pessoas, ao usar a palavra nos momentos de oração, quase nunca se reportam a Jesus senão para abrir a oratória e, por vezes, para fechá-la, mas fixam-se durante sua preleção em Profetas, Reis, Salmos, Êxodo e outras referências do Antigo Testamento, mesmo se considerando inteiramente cristãs.

Ora, por definição lógica e etimológica, cristão é quem segue ao Cristo, a Jesus.

Obviamente que isso não exclui outras influências, atualizações ou reflexões quanto à origem do Cristianismo, mas Jesus tem de ser, obrigatoriamente, o centro, o fulcro, o cerne da doutrinação, dos exemplos e da vivência de cada cristão!

Não ouço referência aos milagres realizados por Jesus. Nem ao perdão que livra da morte, como ocorreu com a mulher flagrada em adultério que seria apedrejada em praça pública. Nem à cura de enfermidades que até a presente data são, muitas delas, simplesmente incuráveis. Também não vejo referência aos questionamentos que Jesus fazia quanto à sociedade e à conduta das pessoas de seu tempo, erros e vícios que quase todos nós continuamos a reproduzir em nossas condutas até hoje.

Não vejo a exaltação do papel social de Jesus, chamando a todos de irmãos em um tempo em que existia escravidão, em que uma pessoa podia ser literalmente dona de outra. Nem constato a exemplificação ou mesmo menção ao relevo, respeito e igualdade em que Jesus colocou as mulheres com relação aos homens, mesmo estando em uma sociedade extremamente machista e misógina, como a judaica de dois mil anos atrás, em que a mulher, na prática, sequer era reconhecida como cidadã.

Necessitamos, desesperadamente e cada vez mais, de Jesus e sua doutrina, de Jesus e sua essência. Para isso, temos de desapegar do Antigo Testamento, sem desmerecê-lo ou desprezá-lo, mas colocando as coisas em seu devido lugar. Se Jesus veio após todos os livros e lições do Antigo Testamento, é porque este tornou-se insuficiente, fazendo-se necessário que a Luz do Cristo brilhasse mais alto. Sejamos, pois, cristãos com o Cristo, pois é Dele que o mundo de hoje precisa!

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

Tempo de leitura: 4 minutos

Através da Terapia Sistêmica e da Psicologia do Nascimento, podemos desvendar os segredos e padrões ocultos que moldam nossas vidas.

 

Rava Midlej Duque || ravaduque@qmail.com

A jornada do autoconhecimento é, por natureza, um mergulho profundo em nossas origens e vínculos familiares.

O que chamamos de coincidências pode, na verdade, ser um reflexo de fidelidades inconscientes, conexões profundas com o passado de nossa família que permanecem influenciando diretamente nossas escolhas e caminhos. E nesse contexto que a Terapia Sistêmica, em especial a Psicologia do Nascimento, revelam-se como ferramentas essenciais para explorar e transformar os vínculos ocultos que permeiam as histórias familiares, antes mesmo de você nascer.

Muitas vezes, carregamos em nosso interior as dores e angústias de familiares que não tiveram a chance de expressar suas emoções, de enfrentar seus traumas e de curar suas feridas emocionais. Essas experiências não resolvidas podem se transformar em um legado de dor que ecoa através das gerações, moldando nossas vidas de maneiras sutis e muitas vezes desconhecidas. Com a Psicologia do Nascimento, mergulhamos profundamente nessas questões, desvendando os segredos que foram passados adiante, os padrões repetitivos que permeiam nossas relações e os traumas que ainda ecoam em nossas almas.

As transmissões de memórias nem sempre vêm por meio de narrativas orais. O grande material que trazemos em nossa psique, sem saber, são as memórias reprimidas, os conteúdos escondidos, velados e não resolvidos por nossos ancestrais! As memórias transgeracionais referem-se à transmissão de informações emocionais de uma geração para outra, às vezes de forma consciente, como a narrativa oral, e outras vezes de forma inconsciente.

Não à toa, no caminho do autoconhecimento, nos deparamos frequentemente com uma resistência interna, um muro invisível que nos impede de avançar. Essa resistência muitas vezes se manifesta como um medo profundo, uma relutância em enfrentar as verdades dolorosas sobre nós mesmos e nossa vida. Mas cada momento de sofrimento e cada dificuldade que enfrentamos carrega consigo a semente da transformação ao alcance da minha e da tua mão.

Os mistérios da mente humana estão frequentemente enraizados em histórias familiares. Revisitar o passado familiar nem sempre é uma tarefa fácil; muitas vezes é encarado com medo, temendo descobrir verdades desconfortáveis ou enfrentar dores antigas. No entanto, essa exploração é crucial para entendermos os padrões comportamentais e traumas transmitidos através das gerações. Ao compreendermos os padrões comportamentais e os traumas transmitidos através das gerações, abrimos espaço para a cura e o desenvolvimento pessoal. E um processo desafiador, mas profundamente recompensador.

Nossa história familiar é parte integrante de quem somos, molda nossas crenças, valores e comportamentos. Ao reconhecermos e explorarmos os vínculos transgeracionais que nos ligam ao passado, abrimos caminho para uma transformação profunda e duradoura. A terapia sistêmica aliada à psicologia do nascimento oferece um espaço seguro e acolhedor para essa jornada de autoconhecimento e cura, guiando-nos na superação dos medos relacionados ao passado e na construção de um futuro luminoso.

É nesse sentido que a terapia sistêmica apoia-se na ideia de que ao integrar as experiências vividas por nossos antepassados, podemos curar feridas antigas e promover renovação.

Não permita que as dores do passado continuem a influenciar seu presente e qualquer possibilidade de futuro. Não se trata de ser vítima de maldições ancestrais, mas de reconhecer a força e a resiliência transmitidas por seus antepassados. A cura verdadeira começa com a aceitação de onde viemos, – as histórias familiares têm um sentido profundo para nossa alma.

Nas histórias de nossa família, encontramos muitas vezes dores e desafios. Mas as adversidades não são por acaso, e nos lembram de que, não importa quão sombrias sejam essas histórias e narrativas, há sempre a promessa de algo que pode ser transformado. Há uma força que se apresenta nas adversidades, uma força que reside dentro de todos nós, mesmo quando não percebemos. Ao tomar posse dessa força somos convidados a encarar os desafios familiares não como barreiras intransponíveis, mas como ponte para um crescimento luminoso, transformando as faltas, as perdas, as dores herdadas, em força para a construção de uma história diferente.

Podemos sempre escolher: utilizar as heranças familiares como um alicerce para nosso crescimento e oportunidade para florescermos além das circunstâncias, ou, podemos simplesmente ficar presos em ciclos viciosos que nunca nos levam a lugares diferentes, repetindo tudo de novo, sem sair do lugar.

O convite que faço é o seguinte: por mais difícil, doloroso e cruel que tenha sido sua história até aqui, não ignore suas raízes. Use-as como força para crescer. Deixe que elas a ensine olhar para a vida de nova perspectiva e consciência. Observe os desafios familiares não como obstáculos intransponíveis e sentenciais, mas como oportunidades diferentes a serem construídas daqui para frente. uma nova história familiar construída a partir de você.

Este caminho de autoconhecimento a partir do seu Nascimento e a reconciliação com a sua história, é essencial para seguir com autenticidade e confiança para a vida. Sem isso, é bem possível que você nunca avance.

Reconhecer e explorar nossas raízes familiares é fundamental para a jornada do autoconhecimento e desenvolvimento emocional. Através da Terapia Sistêmica e da Psicologia do Nascimento, podemos desvendar os segredos e padrões ocultos que moldam nossas vidas, permitindo-nos transformar dores antigas em fontes de força e crescimento. Ao compreendermos e aceitarmos nossas histórias familiares, abrimos caminho para um futuro mais luminoso e autêntico, livre das amarras do passado. Cada desafio enfrentado, cada dificuldade superada, carrega consigo a promessa de uma transformação profunda e significativa. Sugiro que experimente.

Rava Midlej Duque é comunicadora, mestra, terapeuta sistêmica, consteladora familiar e especialista em Psicologia Perinatal.

Julio Gomes escreve sobre o genocídio em curso na Palestina || Foto Fepal/Facebook
Tempo de leitura: 3 minutos

Em razão do genocídio praticado pelo exército e pelos líderes de Israel, todo o carinho, a visão afetiva, o respeito que um dia tive por este país e, especialmente, pelos Judeus ao longo de sua milenar história, simplesmente desapareceu. Foi sepultado em vala comum de corpos anônimos junto com as mulheres e crianças que eles mataram e continuam matando sistematicamente.

 

Julio Gomes

Sempre, desde criança, aprendi a ter um carinho especial pelo povo Judeu, com um olhar de admiração e desejo sincero de que prosperassem e encontrassem a paz e a felicidade, e isso tem uma explicação simples e lógica.

Quem estudou um pouquinho que seja de História sabe o que os judeus ou israelitas passaram, sobretudo no Século XX, quando da ascensão do nazismo ao poder na Alemanha: perseguições, segregação racial, confisco e invasão de suas propriedades, demonização, segregação com base em leis absurdas e, por fim, confinamento nos campos de concentração, trabalhos forçados e extermínio em massa nas câmaras de gás de Treblinka, Auschwitz, Dachau e inúmeras outras fábricas da morte, onde foram consumidas as vidas de seis milhões de judeu, homens mulheres e crianças.

Terminada a 2ª Guerra Mundial com a derrota do nazismo e do fascismo, a ONU, guiada pelos países vencedores, teve a feliz ideia de criar um território onde a nação, o povo judeu, pudesse constituir um estado próprio, formando aquilo que aqui no Brasil chamamos popularmente de um país, e assim nasceu Israel no ano de 1948, plantado no território denominado Palestina.

Os anos passaram. O estado de Israel, sempre apoiado pelos Estados Unidos por representar uma presença dos EUA no conturbado e rico em petróleo Oriente Médio, se consolidou como um país próspero e como uma potência militar, passando a tomar sucessivamente faixas de território que pertenciam à nação palestina devido ao poderio de suas forças militares, terminando por anexar territórios até que não restasse aos palestinos muito mais do que uma estreita faixa em que sobreviviam cerca de dois milhões de palestinos: a Faixa de Gaza.

Talvez como reação às agressões de Israel, talvez insuflado por radicais fundamentalistas ou em razão das condições subumanas de boa parte da população palestina, em 1987, surgiu o Hamas, que se consolidou como força política e acabou cometendo os odiosos atos terroristas que assistimos no final do ano de 2023, matando centenas de israelenses, sobretudo civis.

Entretanto, a resposta que Israel deu e está dando aos palestinos é de uma desproporção e crueldade que supera qualquer argumento de justiça ou de autodefesa. Já são cerca de 30 mil palestinos mortos e 10 mil desaparecidos, além da expulsão em massa da população civil, da destruição sistemática das habitações, hospitais, universidades, indústrias, escolas, enfim, das cidades palestinas e da morte de cera de 8.000 crianças em um genocídio que choca o mundo a cada dia pela brutalidade, estupidez e impunidade com que é feito.

Em razão do genocídio praticado pelo exército e pelos líderes de Israel, todo o carinho, a visão afetiva, o respeito que um dia tive por este país e, especialmente, pelos Judeus ao longo de sua milenar história, simplesmente desapareceu. Foi sepultado em vala comum de corpos anônimos junto com as mulheres e crianças que eles mataram e continuam matando sistematicamente em cada bombardeio, na destruição de cada prédio, vítimas também da proposital falta de alimentos, de medicação, de água e, sim, pelo genocídio que neste momento praticam contra o povo da Palestina.

Oh, Israel, que fizeste para passar de vítima a algoz, de violentado a assassino, de flagelado a genocida impiedoso? Que fizeste do holocausto sofrido, de tua história milenar? Que fizeste dos exemplos que Jesus deu há dois mil anos, ao pisar nestas mesmas terras e ensinar as lições que agora, mais do que nunca, não queres escutar? Afasta-te de mim, Israel.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

Jerberson Josué escreve sobre as movimentações dos atores políticos ilheenses
Tempo de leitura: 2 minutos

 

Nos bastidores, a pedra mais cantada para disputar a sucessão, pelo grupo do alcaide, é o secretário de Gestão, Bento Lima.

 

 

 

 

Jerberson Josué

Ao se aproximar o período da troca de legenda, que, neste ano, será de 7 de março a 5 de abril, data final do prazo de filiação para quem pretende concorrer às eleições de 2024, alguns nomes ganham força nos bastidores da política ilheense. Entre eles, o da secretária de Educação da Bahia, Adélia Pinheiro, que já anunciou filiação ao Partido dos Trabalhadores, do presidente Lula e do governador Jerônimo Rodrigues.

As próximas pesquisas serão cruciais para aferir o interesse do eleitor no nome da médica, professora e ex-reitora da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). Conversas com o prefeito Mário Alexandre, reuniões com o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, e o deputado Rosemberg Pinto, líder do Governo na Assembleia Legislativa da Bahia, bate-papos que vão de lideranças comunitárias a empresários, além do corpo a corpo com os eleitores/foliões no Carnaval, estiveram na agenda da pré-candidata.

Outro ator político que fez movimento importante foi o ex-vereador Makrisi Angeli, que anunciou sua saída do PT, após décadas de militância e atuação, para cerrar fileiras no Partido Socialismo e Liberdade, como pré-candidato a prefeito de Ilhéus, se colocando como alternativa para o eleitorado ilheense, caso o PSOL lhe dê guarida oficialmente.

O vereador Augustão é outro postulante com grande destaque nos holofotes da pré-campanha. Nas últimas semanas, também não saiu da mídia especializada, seja por suas andanças no meio do folião/eleitor, ou por questionamentos sobre seu futuro partidário, já que seu atual partido, o PT, não demonstra interesse em sua candidatura. Com isso, a pergunta que não quer calar: para onde vai Augustão?

Nos bastidores, indícios de que ele pode ir para o Partido Democrático Trabalhista, a saber no fechamento da janela de filiações partidárias. Importante ressaltar que o PDT é aliado do União Brasil no estado, partido de Valderico Reis Júnior, também postulante ao Palácio Paranaguá (saudosismo que ainda prefiro escrever em vez de Centro Administrativo de Ilhéus), o que leva a outra pergunta inevitável: Augustão pode ser vice de Valderico Reis Júnior ou vice-versa? A ver.

Outra incógnita importante é o nome do pré-candidato que terá o apoio do prefeito Mário Alexandre. Nos bastidores, a pedra mais cantada para disputar a sucessão, pelo grupo do alcaide, é o secretário de Gestão, Bento Lima. Porém, todavia, entretanto, nem um sinal da fumaça branca do habemus candidato. Só quando o prefeito Mário Alexandre decidir anunciar quem será ele ou ela. O que foi dito é que até o final do mês de março teremos a resposta. Será?

Eu, no meu humilde observar, me pergunto: teremos um único candidato na base do governador Jerônimo em Ilhéus? Por enquanto, resta esperar fluir o rio das articulações políticas do campo governista estadual.

Jerberson Josué é ativista social.

Juca Alfaiate, sentado: craque da bola em epopeia com final feliz
Tempo de leitura: 4 minutos

 

 

 

Juca Alfaiate se considera um homem de sorte por chegar em Itabuna vivo e não perder seu compromisso, o jogo de logo mais, embora estivesse bastante cansado.

 

Walmir Rosário

O garoto José Correia da Silva, ou simplesmente Juca, como chamado, era um apaixonado por futebol. Mas também pudera, sabia tudo de bola e desde pequeno fazia gato e sapato dos colegas nos babas em que jogava. “Nasceu para jogar bola”, comentavam. Seus pais eram quem não gostavam nada disso, pois preferiam ver seu filho estudado, formado e estabelecido numa boa profissão.

Assim que parou os estudos, sua mãe, uma exímia costureira, combinou com ele que poderia continuar a jogar bola, mas tinha que dividir o horário com o aprendizado de uma profissão. E assim continuou sua vida dividindo seu tempo entre a alfaiataria em que aprendia a profissão e os campos de futebol. A formação foi mais rápida do que esperava e já se notabilizava no meio de tesouras, linhas, agulhas e máquinas.

Como tinha uma namorada em Santa Rosa – hoje Pau Brasil –, foi tentar a vida por lá. Abriu uma alfaiataria e continuou sua vida na nova localidade, embora não perdesse o vínculo com Itabuna. Por aqui parara de jogar pelo São José e jogava esporadicamente pelo São Cristóvão, embora fosse seduzido pelo Grêmio, um time maior, o segundo mais conceituado de Itabuna.

Um certo dia, na virada da década de 1930/40, Juca, já tendo o Alfaiate incorporado ao seu nome, recebeu um recado da direção do São Cristóvão, que sua presença era imprescindível no próximo domingo. Não contou conversa e se arrumou para a viagem de mais de 20 léguas (medida nordestina), cerca de 120 quilômetros, viagem que seria feita em cinco dias num cavalo bom, igual ao que possuía.

Pois bem, na madrugada da terça-feira, debaixo de muita chuva, Juca Alfaiate sela o cavalo e toma a direção de Itabuna, num caminho bem escorregadio, perigoso, mesmo para um animal forte e conhecedor da estrada como o dele. No início da tarde parou para almoçar numa fazenda e começou a prosear com um trabalhador, que lhe ensinou um caminho mais curto, já que tinha compromisso no domingo.

Juca Alfaiate não conta conversa e segue pelo caminho indicado, que embora mais curto era mais íngreme e perigoso, principalmente com o toró de água que caía dia e noite. Em alguns trechos teve que descer do cavalo e puxá-lo pela rédea. Mais abaixo a situação ficou ainda pior, justamente na travessia de um rio cheio. Amarrou na sela o alforje em que carregava sua roupa, o uniforme do São Cristóvão, a comida que preparara e um revólver para se defender de qualquer malfeitor na estrada.

Travessia feita, parou para dormir no meio da mata e ao raiar do dia continuou seu caminho em busca de Itabuna, até chegar em uma fazenda, na qual parara para descansar, fazer uma boquinha com a comida que ainda restava e tomar novas informações. Continuou sua viagem por mais um dia e uma noite e já estava agoniado com possibilidade de não chegar a tempo para a partida no campo da Desportiva.

Na noite de sexta-feira pede rancho para pernoitar numa fazenda e é aconselhado, se quisesse chegar a tempo em Itabuna, a largar o cavalo e alugar uma canoa para descer rio abaixo. O rio era bastante estreito e sinuoso, embora fundo, com a vegetação alta e cheia de espinhos, da qual tinham – ele e o canoeiro – de se desviarem constantemente. Embora a viagem tenha adiantado estavam todos com ferimentos feitos pelos espinhos.

Pararam para dormir perto do rio Cachoeira, e no dia seguinte – o domingo do jogo – seguiriam para Itabuna. Só que Juca Alfaiate não contava com mais um percalço: logo depois que passaram da Burudanga a canoa vira e ele quase morre afogado com as câimbras. É salvo pelo canoeiro e finalmente chegam ao arruado da Mangabinha, hoje próspero bairro de Itabuna.

Juca Alfaiate se considera um homem de sorte por chegar em Itabuna vivo e não perder seu compromisso, o jogo de logo mais, embora estivesse bastante cansado. Mas nem se importava com isso, o que valeria era entrar em campo e ganhar o jogo. Na Mangabinha, parou na casa do técnico para avisar de sua chegada, e foi recebido com broncas pelo seu atraso, por, sequer, ter participado dos treinamentos.

Sem se preocupar com o cansaço, Juca Alfaiate entra em campo, dá um show de bola e marca os três gols da partida, vencida por 3X1. A diretoria e torcida em delírio, se juntam e fazem uma “vaquinha” para premiá-lo. Recebe uma grande quantia em dinheiro e repassa para os colegas Macaquinho e Lubião, e vai participar da festa até o dia amanhecer, quando descansa para retornar à Santa Rosa.

Pouco tempo depois, Juca Alfaiate retorna a Itabuna, desta vez para jogar no Grêmio, no qual ficou uma temporada até ser “vendido” para a Associação Athletica Itabunense (AAI), equipe em que foi pentacampeão em Itabuna. Centroavante titular, tinha como reservas os craques Clóvis Aquino e Elísio Peito de Pomba, que possuíam futebol para jogar em qualquer equipe da Bahia ou Rio de Janeiro.

Centroavante e goleador, era conhecido pelos belos gols que marcava. Altamente disciplinado, de estatura baixa e magro, era bastante arisco com a bola, driblava com perfeição, o que talvez tenha contribuído para parar de jogar, de tanto os zagueiros baterem em seus joelhos. Bom mesmo era apreciar seus treinamentos, quando amarrava um jereré (pequena rede de pesca circular) nas “gavetas” da trave para treinar os gols espetaculares que marcava.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado e autor d´Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Julio Gomes opina sobre a volta do Carnaval organizado pela Prefeitura de Ilhéus || Foto PMI
Tempo de leitura: 3 minutos

 

Não há como comparar a quantidade de foliões de Carnavais passados com os gatos pingados que neste ano fizeram o Carnaval de Ilhéus parecer uma festa de largo melhorada.

 

 

 

 

Julio Gomes

Voltamos a ter Carnaval em nosso município de Ilhéus neste ano de 2024, após alguns anos sem que tal festividade ocorresse ou sendo ela relegada ao mínimo do mínimo. Mas neste ano teremos eleições para prefeito e vereadores, e isso explica o porquê de aquilo que deveria ser comum voltar como se fosse uma grande novidade.

Vamos à análise do Carnaval.

Primeiro, vale destacar a força e presença da festividade momesca no imaginário popular, mesmo sendo propositalmente esquecida pelos gestores municipais durante anos. Apesar de todas as influências culturais estrangeiras, da condenação por parte de setores religiosos diversos, da violência onipresente e crescente em nossa sociedade, o brasileiro, e especialmente o baiano, ainda é o Carnaval!

Assim, blocos como as Muringuetes e o Zé Pereira contaram com ampla e admirável participação popular, o primeiro turbinado por um palco onde se apresentaram artistas contratados pelo Poder Público estadual e/ou municipal e o segundo lamentavelmente atingido por uma chuva forte que, neste ano, esvaziou um pouco o evento, que mesmo assim não deixou de acontecer com o brilho, a alegria e a paz dos antigos Carnavais.

Também merece destaque o empenho do município/estado da Bahia em patrocinar atrações para turbinar o Carnaval na ainda pacata Olivença, que mantém os ares da estância hidromineral que foi um dia, como se fosse uma mulher do interior, de bela origem mestiça e indígena e que consegue preservar os encantos da sua mocidade.

Quanto ao Centro de Ilhéus, mais especificamente na parte da Avenida Soares Lopes, onde as festividades ocorrem com mais foco, há uma coletânea de acertos e erros a ser considerada, ficando os primeiros por conta da redução do circuito que assim teve um tamanho proporcionalmente mais adequado; da eficaz presença de policiais e bombeiros militares, da Guarda Municipal e da Polícia Civil, que em conjunto proporcionaram uma boa segurança; e do horário também reduzido das festividades, algo em torno das 18h à 00h, quando as atrações e as forças de segurança se retiravam e, consequentemente, o público também, evitando os episódios de maior violência que costumam ocorrer a partir da meia-noite e pela madrugada.

Entretanto, como ponto mais negativo a ser anotado no que diz respeito a nossos administradores locais, destaco a ausência dos blocos afros, afoxés e congêneres; e o notório enfraquecimento do Carnaval de Ilhéus como fruto direto de anos sem Carnavais, com Carnavais muito fracos e também sem a definição antecipada acerca da ocorrência ou não da festa, o que prejudica muito sua realização e a vinda de turistas.

O povo de Ilhéus como que se acostumou a não ter Carnavais, a não ter São João, ou a só desfrutar de festividades exclusivamente quando convém ao prefeito, como ocorreu neste ano eleitoral de 2024.

O resultado é que, embora se façam presentes, não há como comparar a quantidade de foliões de Carnavais passados com os gatos pingados que neste ano fizeram o Carnaval de Ilhéus parecer uma festa de largo melhorada.

Para terminar, lembro o patético encontro de dois mini trios elétricos ocorrido na noite de segunda-feira (12), na parte central do circuito. Apesar dos visíveis esforços dos artistas para dar o melhor de si aos presentes, os dois pequenos trios rodeados de apenas algumas dezenas de pessoas foi o retrato vivo de uma tradição que a administração municipal, por incrível que pareça, aos poucos está conseguindo matar.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

Pé de cacau no sistema cabruca || Foto Ana Lee
Tempo de leitura: 3 minutos

 

Nossos dirigentes parecem esquecer que, em nossa tradição local, o cacau floresce na sombra da mata, e que a preservação de outras espécies é fundamental! Adotemos essa sábia lição da natureza na execução das políticas públicas municipais.

 

Paulo Mesquita Magalhães || paulomagalhaes80@gmail.com

Toda monocultura é nociva! Desequilibra a diversidade da natureza, diminui a fauna e a flora, empobrece o solo e a alimentação humana. A cultura do cacau parece ter sido uma honrosa exceção: a cabruca, sistema de plantação em que o cacaueiro cresce à sombra de árvores nativas, preservou parte da riqueza da nossa Mata Atlântica.

O mesmo não pode ser dito no campo das relações econômicas e sociais: a riqueza do cacau, em seus tempos de fruto de ouro, se concentrou nas mãos de fazendeiros que dilapidaram fora da região grande parte de sua renda, ostentando luxo e riqueza, grilando terra e assassinando pequenos proprietários, enquanto trabalhadores rurais viviam em condições análogas à escravidão.

Pois bem, em um momento em que a cidade celebra parte de sua memória através do remake de uma novela televisiva global, nos deparamos novamente com a monocultura, dessa vez no Carnaval. O intitulado “Carnaval Cultural de Ilhéus” não pode ser acusado de não ser cultural, o que seria um contrassenso, dado que todas as relações humanas estão no campo da cultura. Ele parece, entretanto, ser quase monotemático: com poucas exceções, as contratações públicas se resumem a paredão, arrocha, pagode e axé. A maior parte da programação é feita pelas próprias comunidades e os blocos afro foram chamados de última hora, a uma semana da realização do evento, inviabilizando a produção de novas fantasias e o longo processo de ensaios que envolve suas comunidades.

Nada contra os ritmos acima citados! São legítimos e merecem respeito. Mas, parece haver uma simplificação populista do gosto popular: “é disso que o povo gosta, é isso que o turista quer ver”, como se a população da cidade e os nossos visitantes não fossem muitos, diversos, plurais. O Carnaval de Salvador é a maior festa de rua do mundo porque abraça a diversidade: além de axé, pagode, samba, guitarra baiana, frevo, se pode ouvir reggae, rap, rock, MPB e outros ritmos presentes na rica produção cultural baiana e nacional. E cadê os artistas de Ilhéus, de vários ritmos dançantes, que têm público durante todo o ano e movimentam o cenário local?

A programação do Carnaval monocultural reflete um impasse da política municipal: a total falta de articulação entre cultura e turismo. A Secretaria de Cultura parece ser o primo pobre e se restringe a gerenciar as verbas federais (Aldir Blanc, Paulo Gustavo) e o esquálido fundo de cultura. A esmagadora maioria dos eventos promovidos pela administração é promovida pela Secretaria de Turismo, e os critérios de contratação dos artistas, a curadoria, a concepção, não dialogam com o Conselho Municipal de Cultura, composto pela sociedade civil organizada.

Ou seja, Carnaval Cultural, Viva Ilhéus, Festival da Primavera, Novembro Negro, os principais eventos realizados com verba pública chegam prontos, são despejados como um pacotão fechado, sem qualquer participação da classe artística da cidade. Sabemos que a política é um campo de disputas, mas nessa briga de secretarias, quem perde é a cultura e seus protagonistas, impossibilitados de opinar, ajudar a construir, participar do processo.

Nossos dirigentes parecem esquecer que, em nossa tradição local, o cacau floresce na sombra da mata, e que a preservação de outras espécies é fundamental! Adotemos essa sábia lição da natureza na execução das políticas públicas municipais.

Paulo Mesquita Magalhães é jornalista, cientista social e membro dos conselhos municipais de Cultura de Ilhéus e de Itabuna, e do Conselho Gestor da Salvaguarda da Capoeira na Bahia.

Formação atual do 'Paroano Sai Milhó", que completa 60 Carnavais
Tempo de leitura: 2 minutos

Imaginar que a Cidade de Salvador, com suas imensas e contínuas dificuldades em querer ser metrópole, se organiza, se enfeita e se ilumina para permitir que Afoxés, Trios Elétricos, Blocos, “pipocas” e a nossa roda de palhaços cumpram a benfazeja sina de colorir e alegrá-la!

 

Archibaldo Daltro Barreto Filho

Não chegamos ao apogeu. Estamos fazendo apenas 60 anos. Nosso apogeu está, como já nos indicou Eduardo Galeano, no horizonte onde se mantém viva a esperança que nossas coloridas e maviosas vozes perseguem, sem insistência, mas com consistência e tenacidade. Sem atalhos e sem patrocínios, seguimos com os que nos seguem. Com os que se afinam com o bom gosto, com nossa energia em produzir alegria com pretensões simples, como atingir corações.

Creiam: isso não resulta de mágicas nem de estratégias bem elaboradas. Nesses 60 anos o roteiro permanece: reunir Paroaneiros, escolher repertório, providenciar arranjos, organizar encontros e ensaiar, ensaiar, ensaiar… cantar, cantar, cantar… Imaginar que o Paroano Sai Milhó fez e faz isso ao longo da sua existência pode gerar perplexidade. Mas, voltando ao “como tudo começou”, pode-se imaginar Antônio Carlos Queiroz Mascarenhas, o Janjão, em 1964 a nutrir esforços pessoais para articular e organizar os resultados coletivos das tranças de vozes!

Imaginar que cerca de 100 Paroaneiros, até então (neste Carnaval são 18), já embarcaram na roda musical que todos os anos avisa “Eu te prometo Paroano Sai Milhó / Vou a lua, viro a Terra / Paroano Sai Milhó”! Imaginar que tudo tem sido feito com os mecanismos humanos de reunir, dar opiniões, trocar ideias, exacerbar egos e idiossincrasias, concluir a última apresentação entoando a Marcha da Quarta Feira de Cinzas e cumprir os agradecimentos com abraços e beijos do “até logo mais”!

Imaginar que a Cidade de Salvador, com suas imensas e contínuas dificuldades em querer ser metrópole, se organiza, se enfeita e se ilumina para permitir que Afoxés, Trios Elétricos, Blocos, “pipocas” e a nossa roda de palhaços cumpram a benfazeja sina de colorir e alegrá-la!

Imaginar que, por trás desse cenário de “loucura coletiva”, encontram-se músicos, compositores, abnegados e amantes dirigentes, coordenadores de blocos e organizadores dos espaços onde rolam concepções, preparativos e trabalho para que aconteçam, vale enfatizar, as expressões coletivas frutos das ideias e inspirações pessoais!

Imaginá-los implica em homenageá-los com reverências. Algumas belas figuras: João Jorge, capitaneando o Olodum, Vovô na frente do Ylê Ayê, Carlinhos Brow sacolejando a Timbalada, Margareth agitando com Os Mascarados, Rubinho e sua turma inventando Os Internacionais, o apaixonado carnavalesco e poeta Walter Queiroz, a Banda Eva puxada por Ivete Sangalo. Imaginar os que dão suporte aos foliões, nativos e visitantes: vendedores ambulantes, bares e restaurantes, que não são poucos, e se espalham pela cidade toda.

Imaginar tudo é saber que integrar as histórias do Carnaval da Bahia nos últimos 60 anos é motivação para imensa satisfação, pessoal e coletiva. Imaginar que isso não nos conduz a pensar em nosso longínquo apogeu, mas a seguir adiante sem se importar quando chegaremos no horizonte onde está a esperança. Assim, é possível afirmar: o canto do Paroano Sai Milhó permanecerá. Chi lo sa, per omnia saecula saeculorum… VIVA A VIDA!

Archibaldo Daltro Barreto Filho é integrante do grupo musical Paroano Sai Milhó.

Gérson Souza presidindo o Legislativo de Itabuna
Tempo de leitura: 3 minutos

Gérson Souza é daquelas personalidades que nascem de 100 em 100 anos e que vêm à terra com a finalidade de servir, tornar o mundo melhor com sua colaboração e dos amigos que o cercam.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Walmir Rosário

Tabelião do Cartório do 1º Ofício de Itabuna (registro de pessoas e casamentos), Gérson Souza era uma das pessoas mais influentes nas instituições da cidade, pela dedicação com que tratava as obrigações assumidas. E no futebol não era diferente. Na seleção de Itabuna era considerado um dirigente insubstituível e que conduziu o selecionado ao hexacampeonato baiano de amadores.

Gérson Souza era homem de aceitar desafios, inclusive no futebol. Em 1947, época de poucas estradas e veículos, chefiou a delegação da Seleção de Itabuna na partida contra a Seleção de Valença. E não era fácil, pois as estradas eram péssimas e o transporte disponível era a carroceria de caminhão. Após 12 horas de viagem venceram, e a partida seguinte seria contra Santo Amaro, em Salvador, porém o campeonato foi cancelado.

Daí pra frente Gérson Souza não deixou mais a Seleção de Itabuna e foi um partícipe importante na criação do Itabuna Esporte Clube, o primeiro time profissional da cidade, em 1967. Mas até chegar lá, o “Marechal do Hexa” esteve presente em todos os momentos, simplesmente apoiando ou coordenando a seleção amadora, bem como a equipe de profissionais, sempre com bastante sucesso e determinação.

Com a bondade que fazia o afago quando necessário, era capaz de tomar decisões mais duras que o momento exigisse. E não precisava alteração, bastava uma conversa de pé de ouvido que tudo se acertava. Sua argumentação convencia, mesmo nos momentos mais cruciais. Sabia como ninguém motivar diretores, jogadores e comissão técnica, com palavras simples, porém bem colocadas.

Na última partida para a conquista do hexacampeonato, Gérson Souza não titubeou ao suspender uma das maiores estrelas da seleção, o ponteiro-esquerdo Fernando Riela, por não ter permanecido concentrado com os demais jogadores. Numa conversa franca entre ele, o técnico Gil Nery e Fernando, expôs os prejuízos do comportamento e os riscos de sua atitude. Resolveu arriscar e os itabunenses comemoraram o título.

Provavelmente, o sucesso da Seleção de Itabuna tenha sido a convocação de uma base permanente, com substitutos à altura. Craques não faltavam em Itabuna e muitos ainda ficavam de fora desta super equipe. Porém Gérson Souza não conseguia ver um craque de outra cidade jogar, que não o convencesse a vir fazer carreira no brilhante futebol de Itabuna. Na maioria das vezes dava certo.

Um desses “convocados” por Gérson Souza foi Albertino Pereira da Silva, o goleiro Betinho, que trouxe – junto com Zelito Fontes – de São Félix para Itabuna, primeiro para o Janízaros, e depois para o Itabuna Esporte Clube. Betinho se notabilizou ao participar de uma partida jogando pela Seleção de Ilhéus contra o Santos. Pela sua atuação, foi levado por Pelé para o time da Vila Belmiro, mas devido ao seu comportamento não fechou um vantajoso contrato.

Em 1970, com a renúncia do presidente do Itabuna Esporte Clube, o time entrou em decadência, e mais uma vez Gérson Souza se dispõe a colaborar com o amigo Gabriel Nunes, que condicionou presidir o Itabuna com a sua participação. Das cinzas, o Itabuna ressurge com um plantel sem grandes estrelas, mas conscientes do que poderiam fazer para dar a volta por cima.

Apesar do descrédito de muitos, o Itabuna ganhou o segundo turno e se sagrou vice-campeão baiano. Não fossem as forças poderosas do extracampo, por certo teriam alcançado o primeiro lugar. Graças à união e credibilidade dos dirigentes junto aos torcedores, o time conseguiu os recursos necessários para participar dos jogos, com o apoio pessoal da torcida, mesmo nas partidas mais distantes.

Gérson Souza é daquelas personalidades que nascem de 100 em 100 anos e que vêm à terra com a finalidade de servir, tornar o mundo melhor com sua colaboração e dos amigos que o cercam. Encarar os desafios era uma de suas especialidades. Desprendido, coordenava e secretariava instituições com a maior naturalidade, debatendo e assumindo responsabilidades para si e o seu grupo.

E a responsabilidade com que traçava planos e projetos transmitia segurança em todos os segmentos da sociedade civil, que abraçavam suas ideias, tornando uma causa em comum de Itabuna. Era impossível a ausência de Gérson Souza nos projetos sociais. Sempre procurado pelo Executivo, Legislativo – do qual foi presidente –, Judiciário e líderes da sociedade, solicitando seus experientes conselhos para novos empreendimentos.

Sabia encarar os compromissos com muita seriedade sem ser sisudo. Ao contrário, a alegria de Gérson Souza era inebriante e contagiava os que conviviam com ele. Daí, trabalhavam com afinco até atingir os objetivos em plenitude e comemoravam as vitórias com a mesma intensidade. Gérson Souza é daquelas figuras ímpares, sempre lembradas com carinho pelo que fez em vida, deixando saudosos os que ainda choram seu desaparecimento.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor d´Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.