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Ilton Cândido | iltoncj@hotmail.com

A assinatura do convênio de cooperação técnica entre a UESC e a Prefeitura de Ilhéus pode ser o pontapé para a saída do estado de letargia em que se encontra a universidade nos últimos anos, sobretudo no que diz respeito à interação com a sociedade regional. A ausência da UESC no debate sobre temas importantes para a região, como o gasoduto, a implantação do complexo intermodal Porto Sul, a demarcação de terras indígenas, a criação de uma Universidade Federal e outros de igual relevância, há muito vem provocando indagações.

Muitos jornalistas e blogueiros da região já abordaram o distanciamento da UESC dos assuntos de interesse das cidades da região e alguns chegam a afirmar que as faculdades particulares estão mais antenadas com o cotidiano. Muitos vêem a UESC como um universo paralelo, em que os assuntos de seu interesse não têm ponto em comum com as principais demandas regionais, apesar de situadas no mesmo plano.

Das “teorias” que tentam explicar tal fenômeno, pelo menos três chamam mais a atenção. A primeira tentativa de explicação se refere à localização geográfica da universidade. Para os defensores desta tese, o fato de encontrar-se relativamente longe dos centros urbanos justificaria o isolamento da universidade.

A segunda é a mais defendida e a menos assumida, pois envolve questão melindrosa que, se mal explicada ou mal interpretada, pode resultar em peleja das brabas. Diz respeito ao grande número de professores de outras regiões do país na universidade. Segundo os adeptos deste pensamento, “os estrangeiros”, por não possuírem vínculos culturais com a região, geralmente não se sentem parte dos problemas locais. Os mais radicais chegam a afirmar que a UESC tem servido apenas para turbinar os currículos lattes desses professores, que depois voltam para seus locais de origem ou se transferem para as federais, atraídos pelas vantagens salariais.

A terceira tentativa de explicação, não menos polêmica, afirma que o inegável crescimento da UESC nos últimos anos na área de pesquisa teve como ônus a diminuição da importância dos demais pilares que sustentam uma universidade, o ensino e a extensão, apesar da ampliação significativa no número de cursos, inclusive de pós-graduação. Para os que defendem esta tese, a UESC é o império da tecnocracia.

Professor ou estudante que não estiver envolvido em nenhum projeto de pesquisa e que se dedique apenas ao ensino é discriminado; que o diga o professor Walter Silva, quando da eleição para reitor. Se além de não pesquisar ainda for “metido em política”, a coisa fica pior do que doença contagiosa. Obviamente aqui não se pretende desmerecer a atividade de pesquisa no âmbito acadêmico, mas antes evidenciar e criticar a falta de relevância social de muitos projetos e até mesmo o excesso de tecnocracia.

O fato concreto é que das universidades estaduais da Bahia, a UESC é, inegavelmente, a mais conservadora e a menos articulada politicamente. A UESB, sobretudo com o campus de Vitória da Conquista, participa ativamente da política local (o ex-reitor é deputado estadual no segundo mandato e líder do governo; o ex-prefeito é doutor/professor/pesquisador com muitos trabalhos publicados). Na UESC, o máximo que se consegue em termos de participação política são aqueles debates insossos realizados com candidatos a prefeitos de Ilhéus e de Itabuna.

Nesse contexto uesquiano, como não poderia deixar de ser, as pessoas que ainda insistem em debater questões sociais ou que tentam resgatar entidades como o DCE, a ADUSC e a AFUSC encontram muitas dificuldades. A região espera muito mais da sua única instituição pública de ensino superior – mas tal expectativa esbarra na cortina de ferro erguida pelos grupos hegemônicos que compõem a comunidade acadêmica.

Ilton Cândido é economista

0 resposta

  1. Respeito a visão do autor, mas concordo apenas em parte, …!!!

    Justificativa:

    Já fizemos vários convênios, há algum tempo atrás, principalmente na área de turismo, pois já desenvolvi Projeto de Pesquisa nessa área e, mesmo os Prefeitos manifestando vontade de firmar parcerias, na hora H, muitos pulavam fora, pois não queriam arcar com o custo, por menor que ele fosse, principalmente Ilhéus, …!!!

    Conseguimos fazer trabalhos interessantes em Belmonte, Itacaré, Canavieiras (vide publicações), mas a cidade que seria o maior representante da Costa do Cacau, por meio de seus representantes políticos e empresariais, sempre se comportou como “sabonete molhado”, …!!!

    É muito fácil escrever um texto (isso qualquer um é capaz de fazer), difícil mesmo é conseguir fundamentá-lo com informações fidedignas, …!!!

    Vai ver “quem está fora da UESC sabe mais das ações dela que aqueles que estão dentro dela”, …!!!

  2. Dos três pilares que sustentam a educação, o único que tem prestígio é a Pesquisa. Não é apenas para a UESC, isso começa pela própria CAPES. Vejam nos ediais o peso de um artigo publicado e o peso de um semestre letivo trabalhado. Chique é ser pesquisador, mesmo que o resultado da pesquisa contribua para sairmos do nada para lugar algum. É o Brasil! As mentes brilhantes dos pesquisadores não podem perder tempo com sala de aula, isso não é nobre! Já a extensão sempre é bem vinda, desde que contribua para melhorar o orçamento ou a captação de recursos de qualquer instituição. É o Brasil!

  3. Não entendo o ponto de vista do colega, pois a UESC tem realizado muitos trabalhos junto a sociedade, com reconhecimento regional e até internacional. Lá também, sempre há discursões, debates, palestras, seminários, acerca do desenvolvimento regional, negar isso seria leviano. Enquanto aos professores “extrangeiros”, esses muitas vezes têm mais encantamento pela região do que os que nasceram aqui. Outro fato importante de salientar é que o reitor da Uesc é um professor de Econometria e não tivera, até que se prove o contrário, envolvimento com pesquisas, derrubando assim, a tese de que há discriminação nesse sentido.
    Noto que essa crítica foi feita com base no “achismo”, o ideal, por se tratar de um bacharel em Economia, seria partir para um estudo científico sobre o assunto.
    Por fim, certamente a UESC está “antenada” com o município, a região, o estado e o mundo, mas as iniciativas de cooperação devem partir mais, no meu ponto de vista, dos prefeitos, governadores etc…

    Érick Maia

    Candidato a presidente do C.A de Economia

    Presidente da JPMDB Itabuna

    Integrante do Movimento de Esquerda

  4. Quero aproveitar este espaço para manifestar minha insatisfação quanto ao modelo dos cursos de licenciatura da UESC. Sou graduando do curso de Licenciatura em História nesta universidade e meu objetivo é ser professor desta disciplina. O que me incomoda é que num curso de licenciatura se dê tanta ênfase ao campo da pesquisa enquanto a formação do professor se faz com o que sobra do tempo já escasso.Minha frustração é saber que num país com um percentual tão grande de analfabetos e ( mal-formados ) se dê tão pouca importância à formação de professores, bem como a capacitação dos profissionais já atuantes. Mas… enquanto isso o governo federal gasta milhares de reais em propaganda, convidando-nos a ser professor. EU SEREI(SE DEUS CONSENTIR), mas por minha convicção, não pelo convite hipócrita de um governo demagogo.

  5. Não sou da area Técnica, nem vou discutir o assunto exposto, apenas, aproveitar para perguntar: Como vão os projetos das bacias dos Rios Cachoeira e Almada? a regiao precisa.

  6. Ilton,
    Faço minhas suas palavras. E acrescento: Nós éramos felizes e não sabíamos. A partir dessa gestão, peercebe-se um preconceito contra o ensino com se fosse ele uma atividade menor, como se fosse um processo condenável por si mesmo. E digo mais: O bom professor é o que se preocupa com o ensino e a aprendizagem. Para isso, deve aprimorar-se. buscar novas técnicas, pesquisar sobre o tema.O que se observa hoje na academia é a busca incessante dos professores em desenvolver projetos de pesquisa visando status profissional e melhoria na sua remuneração (o que é louvável)porém, na sua grande e esmagadora maioria sem qualquer qualidade científica prática nos seus conceitos básica e, ou aplicada. Entendemos a importância da pesquisa porém entendemos que a razão de existir da Universidade, ou seja, sua matéria prima principal, seria a socialização do conhecimento por meio do ensino e a sua aplicação prática pela extensão. O que é, infelizmente, a parte negativa da instituição observada em todos os seus cursos, não só pela falta de professores qualificados para atender as nossas demandas quanto pela baixa qualidade de alguns que ministram as disciplinas nas suas respectivas áreas. Não sou xenófobo mais a questão dos professores de outras plagas e sem compromisso com a região aliado a uma gestão universitária débil explica os demais problemas levantados.

  7. Caro Ilton, Achei seu artigo interessante, porém, cheio de falhas. Não é verdade o que diz a respeito da Universisade. Essas críticas deveriam ser dirigidas aos órgãos de fomento e ao governo estadual que não prevê acões e nem recursos para este tipo de atividade. Além do mais, vá qualquer cidadão ou instituição do mundo tentar fazer um convênio ou um projeto com os municípios pra ver no que vai dar… Nossas prefeituras são um engodo e os governantes não tem o mínimo interesse em nada que não possa desviar recursos… fica complicado. Meu jovem, reveja sua argumentação, infelizmente, observo que você errou mais do que acertou.

  8. Projetos? na verdade os projetos deveriam partir das prefeituras. A UESC possui um NÚCLEO BACIA DO DO RIO CACHOEIRA, dirigido pelo professor dr. Neylor e prof Francisco de Paula. Quando, então, dirigente do núcleo, a prof. Maria Luzia de Mello Torres conseguiu implementar ações ostensivas e diagnósticos junto às populações ribeirinhas e instigou implantação da Agenda 21 Local nos municípios que compõem a bacia. Mas os projetos foram abandonados pelas prefeituras. O projeto da bacia do Almada nada teve com UESC, e, salvo engano, está respondendo na justiça pelo desvio de 10 milhões. Companheiro, Eleitor, vc tem um nome bem sujestivo e já sabe o que fazer nas próximas eleições. Fora Geraldo, Alice Portugal, Ângela, Jabes… mas não os jogue no rio. Vai poluir mais ainda nossas águas.

  9. A crise do cacau, não teve efeito apenas sobre os produtores, como pensa equivocadamente uma parte importante da comunidade da região. Muitos, estão pouco se lixando para a situação. Essa crise é problema de todos e se não tiverem consciencia disso, a tendencia é ficarmos discutindo “ad eternum”, problemas como esse da UESC, abordado hoje nesse importante BLOG.

  10. Muito pertinente o seu comentário Iton, a região precisando de projetos e intervenções e o pessoal da UESC no mundo da lua. Tá na hora de acordar e perceber que existem comunidades necessitadas ao redor dessa abóbada isolacionista.

  11. Erick Maia.

    O problema da UESC é justamente esse, se preocupa demais em ter reconhecimento internacional, mas n está nem aí p obtê-lo da população local. Diferentemente, da gestão da Prof. Reneè Albagli, a gestão do Magnífico reitor nda de bom trouxe para a comunidade, ao contrário, acabou com os projetos de extensão da gestão anterior. Se eu tiver errada, cite qual o projeto foi criado p beneficiar a população ilheesnse.

  12. Boa provocação,acredito que CEPLAC e UESC,deveriam tomar a iniciativa de juntas, atrairem os diversos atores sociais que atuam na região para o debate sobre grandes temas relacionados com um novo projeto de desenvolvimento regional.

  13. Uesc? Universidade? Onde?.. a Uesc é uma bomba elitista.. Não se envolve com questões populares… extensão passa loooooonge.. pesquisa, tem alguma coisa, mas nada de grande expressão.. Por mim derrubava a Uesc e transformava em um estacionamento…

  14. DONA CHEPA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    Chegastes no final da feira e não disseste a que veio.
    Espero que tuas retiscências sejam uma pausa para que em breve te expresses melhor.

  15. Além do mais Ilton, o que me entristece é que o aprisionamento da UESC naqueles muros (ou cercas) é questão desde os nossos tempos de graduação. Naquela época dizíamos que a UESC não alcançava Salobrinho. Como hoje, você só coloca brilhantemente em um texto uma constatação de um olhar atencioso, isento e, acima de tudo, honesto com as necessidades, desejos e limitações de uma região sedenta de transformação. E para os seus críticos Ilton, acredito serem dedsprovidos dessa habilidade: o olhar sagaz que demonstras. Que esse debate ganhe corpo, pelo bem da nossa querida UESC e, por consguinte, da nossa região.

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