João Marcos faleceu ao cair de prédio quando trabalhava || Reprodução Rede Bahia
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O Ministério Público do Trabalho (MPT) na Bahia abriu um inquérito para apurar as responsabilidades trabalhistas pelo acidente que deixou um operário morto após cair de um prédio, na tarde desta segunda-feira (22), na Rua Rodrigues Dórea, Armação, em Salvador. O inquérito foi aberto nesta terça-feira.

Trata-se  do 14º inquérito aberto pelo órgão este ano na Bahia para investigar acidentes de trabalho. No total, foram, pelo menos, 18 mortes, segundo o MPT. O trabalhador foi identificado como João Marcos Moraes, 29 anos. Segundo informações da Polícia Civil, João lavava a fachada do local no momento do acidente. Ele caiu do prédio em construção, onde trabalhava, e o corpo foi encontrado no playground. O edifício está em fase de finalização para ser entregue aos novos moradores.

De acordo com a EngeBahia, empresa em que João prestava serviços, o operário trabalhava há seis anos na companhia. Ainda não há informações sobre o que causou o acidente. João era casado, tinha dois filhos e morava em Salvador. A família dele está no local e a empresa informou que tem prestado apoio aos parentes. O caso será investigado pela 9ª Delegacia Territorial (DT/Boca do Rio).

Diante dos fatos, o vice-procurador-chefe do MPT na Bahia, Marcelo Travassos, afirmou que o órgão abriu um inquérito civil para reunir informações que identifiquem eventuais falhas no cumprimento de normas de saúde e segurança do trabalho que tenham levado ao acidente. “O Ministério Público Trabalho na Bahia está abrindo uma investigação para que todas as circunstâncias do acidente possam ser investigadas. Então, nós vamos reunir as provas, vamos requisitar fiscalizações para que esse empregador seja responsabilizado pela sua atitude caso tenha ocorrido algum equívoco”, afirmou.

SEM TREINAMENTO

Travassos também salientou que é importante que todo trabalhador esteja capacitado para o exercício da sua função, além de que todas as normas de saúde e segurança sejam cumpridas. A esposa do operário deu declarações afirmando que a vítima não tinha recebido treinamento para trabalhar em altura. Se a vítima não estiver capacitada para o exercício do trabalho, a empresa pode ser responsabilizada por isso por meio de pagamentos de indenizações ou outras sanções previstas nas leis trabalhistas.

Caso se confirme que houve responsabilidade do empregador pelo acidente de trabalho, a partir das informações que serão colhidas pelos órgãos de fiscalização, o MPT vai buscar a reparação dos danos em ajuste de conduta ou uma ação judicial. Para isso, vai investigar eventuais falhas no cumprimento de normas de saúde e segurança do trabalho que tenham levado ao acidente.

O caso será distribuído e analisado pelo procurador designado para presidir o inquérito. Nos próximos dias, deverão ser encaminhados ofícios aos órgãos de fiscalização, como Departamento de Polícia Técnica, Corpo de Bombeiros e principalmente Superintendência Regional do Trabalho da Bahia (SRT-BA). São os auditores-fiscais do trabalho da SRT-BA que deverão concluir a peça principal do inquérito, que é o laudo apontando as falhas nas normas de segurança que levaram à tragédia. A partir dos dados recolhidos, o MPT vai buscar a reparação dos danos em um ajuste de conduta ou uma ação judicial.

NÚMEROS

No ano passado, ocorreram 12 mil acidentes de trabalho na Bahia, com 77 mortes. Neste ano, pelo menos 18 mortes de acidente do trabalho foram confirmadas no estado, número que deve subir com a consolidação dos dados da Previdência Social. Diante dos números alarmantes, o MPT reforça que as denúncias feitas pela sociedade ajudam a manter uma boa fiscalização com a finalidade de assegurar a segurança do trabalho.

“Infelizmente são mais de mil acidentes de trabalho por dia no Brasil e mais de 30 por dia na Bahia. Esses números são resultados de uma falta de cultura de cumprimento das normas de segurança e saúde do trabalho. Além disso, o custo para a sociedade e pessoas em geral é muito alto. O grupo de pessoas que são mutiladas ou que perdem a vida é muito grande. É necessário que os empregadores se conscientizem e invistam no comprimento das normas de segurança do trabalho. Por isso recomendamos que toda a sociedade comunique ao MPT sobre qualquer ocorrência de acidente de trabalho. É importante, pois temos ciência que em todos os casos podemos tomar providências”, advertiu Marcelo Travassos.

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Número de acidentes voltou a crescer na Bahia em 2018, aponta MPT

A taxa de acidentes no trabalho na Bahia voltou a crescer em 2018 depois de um período de dez anos em queda. No ano passado, ocorreram 17.481 casos, número 7% maior do que o registrado em 2017, quando foram comunicados 16.332 acidentes. O maior índice foi apurado em 2009, quando ocorreram 26.483 acidentes. Desde então, os números vinham em queda, interrompida em 2018.

Esses dados são do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, plataforma online do Ministério Público do Trabalho (MPT) em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A plataforma digital está disponível para consulta no endereço smartlabbr.org. Nela, estão reunidos dados oficial de diversos órgãos públicos desde 2002 até o ano passado. Os números são totalizados ano a ano.

A maior parte dos acidentes na Bahia ocorrem na capital baiana (34%), seguida pelos municípios de Feira de Santana e Camaçari com 7% e 5% respectivamente. O estado está na oitava posição em número de ocorrências. Enquanto no Brasil, aconteceram 2.022 mortes no trabalho em 2018, na Bahia 94 casos foram registrados. Dados do INSS apontam a ocorrência de 11 mortes por acidentes de trabalho somente no primeiro trimestre deste ano.

O levantamento aponta que em todo o país, a cada grupo de dez mil trabalhadores, 102 sofreram algum tipo de acidente e seis morreram em decorrência da atividade profissional. A maior parte dos acidentes ocorre por falhas no cumprimento de normas de saúde e segurança do trabalho, que norteiam as medidas preventivas que devem ser adotadas em cada tipo de atividade produtiva, baseadas em estudos técnicos.Leia Mais

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Hospitais lideram acidentes de trabalho na Bahia

O setor hospitalar foi o maior causador de acidentes na Bahia, nos últimos cinco anos, com mais de 8 mil ocorrências. Em seguida, ficaram os setores de construção de edifícios e transporte rodoviário de carga. Esses e outros dados são do Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho do Ministério Público do Trabalho.
De acordo com a coordenadora regional de defesa do meio ambiente de trabalho, a procuradora Silvia Valença, “com relação às comunicações de acidentes de trabalho (CATs) emitidas na Bahia nos últimos cinco anos, chama atenção a informação de que o setor hospitalar emitiu quase quatro vezes mais CATs do que o setor da construção civil”.
Ela destaca que funcionários da área de saúde estão constantemente expostos a riscos biológicos e a resíduos contaminados, além de exposição à radiação e jornadas de trabalho longas, cansativas e estressantes. Por isso, o MPT tem atuado fortemente em inquéritos sobre o trabalho neste ramo.
O Observatório Digital tem como objetivo a promoção do trabalho decente no Brasil, e serve ainda para basear pesquisas científicas por meio de dados transparentes e de fácil mensuração. Ele foi criado a partir da cooperação técnica internacional entre o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
74 MIL SOFRERAM ACIDENTES DE TRABALHO
Casos como o do funcionário morto ao cair de um andaime no centro Industrial do Subaé em Feira de Santana, dia 28 de fevereiro, e dos dois trabalhadores acidentados durante uma obra na Rua Carlos Gomes, em Salvador, no começo do mês de março, mostram que o meio ambiente de trabalho ainda precisa de atenção e busca por soluções.
Segundo o Observatório, entre 2012 e 2017, 74 mil pessoas sofreram acidentes no ambiente de trabalho na Bahia. A plataforma mostra ainda que, nesse período, a Previdência Social gastou mais de R$ 27 milhões com benefícios acidentários.
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