Tyrone Perrucho em foto que sugeria ter atravessado o caudaloso rio em Canes
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Como se diz na política, ele não preparou em tempo um substituto à altura para agregar os seus amigos, que hoje vivem desgarrados, errantes de bar em bar.

 

Walmir Rosário

Na tarde de ontem (quarta-feira, 11 de janeiro), pasmem os senhores e senhoras, eu me encontrava no bar Mac Vita, como um simples expectador, assistindo a meus amigos Batista e Walter Júnior beberem um litrão de Coca Cola. Confesso que me sentia incomodado, haja vista considerar uma profanação de um dos botecos de memoráveis histórias festivas de Canavieiras, sede ocasional da Confraria d’O Berimbau e da Clube dos Rolas Cansadas.

Eis que de repente um carro dá uma parada e ouço algumas perguntas: Quem foi o melhor ponta-esquerda de Itabuna? E o melhor zagueiro? Respondo que Fernando Riela e Ronaldo Dantas, Piaba, dentre outros. E aí reconheço o autor das perguntas, o engenheiro agrônomo e advogado João Geraldo, que faz nova pergunta: “E quem mais desfrutou das noites e madrugadas de Canavieiras?”. E ele mesmo responde: “Tyrone Perrucho”.

João Geraldo segue caminho e nós continuamos nossa amena conversa tendo como testemunha um litrão de Coca Cola, embora, de antemão, confesso que não bebi. Na manhã desta quinta-feira recebo, via whatsapp, uma foto de Tyrone Perrucho, enviada por Alberto Fiscal. Já Raimundo Ribeiro, direto do Belém do Pará, responde presente na chamada. Foi aí que caiu a ficha: hoje é o segundo aniversário sem Tyrone Perrucho.

Tyrone era uma pessoa que se destacava por suas diferenças. Na foto acima, aparece ele como se estivesse saindo de uma epopeia de natação, após atravessar um braço de mar, cruzar de uma margem a outra de um rio. Que nada, era simplesmente uma foto para a sua gloriosa coleção. O dito cujo sequer sabia nadar; até que tentou, mas o professor gentilmente solicitou que ele buscasse algo mais parecido com suas habilidades.

Na realidade, o nosso ausente personagem gostava mesmo era de se dedicar à redação e edição do seu jornal, o Tabu, morto de morte matada assim que completou 50 anos. Foi um chega pra lá que deixou os leitores de boca aberta. Fora disso, nada mais lhe aprazia do que jogar conversa fora, de preferência num dos botequins em que “sentava praça” com frequente habitualidade, com a presença de amigos tantos.

Era pau pra toda a obra. Comemorava de tudo, datas festivas, aniversários, casamentos, batizados. Quando não os tinha, inventava, astuciava. Há décadas passadas escandalizou a sociedade canavieirense e o judiciário ao marcar seu casamento civil à beira da praia, ele, a coligada e convidados vestidos rigorosamente em trajes de banho. As autoridades forenses não permitiram e a praia da Costa continuou, apenas, como sítio de comemorações.

Ao planejar sua sonhada aposentadoria na Ceplac – após 30 longos anos de bons serviços prestados –, jurou que todos os dias beberia duas cervejas para abrir o apetite. Passou a comer pela manhã, ao meio-dia e à noite. Na ilha da Atalaia, onde se refugiou, mantinha contato com os amigos, via telefone, e-mail ou whatsapp, geralmente avisando o boteco que nos receberia, fazendo questão de informar que se tratava apenas um aviso e não convite.

Certa feita, comprou um carro novo em Salvador, apenas e tão somente para aproveitar a viagem de forma etílica e ainda convida o amigo da vida inteira, Antônio Tolentino (Tolé) para irem juntos. Tolé avisou que iria a Itabuna no domingo para assistir a um jogo do Itabuna, pois ainda não conhecia o novo (à época) Estádio Luiz Viana Filho. Tyrone diz que também gostaria de estar presente, mesmo sem gostar de futebol.

Chegaram em Salvador, pegaram o carro e viajaram com destino a Itabuna e Canavieiras, viagem que demorou quase uma semana. Conforme o garantido, chegaram a tempo de assistir à partida futebolística, mas caminhos diversos o tiraram do estádio, para a tristeza de Tolé, que somente foi conhecer o Itabunão um ano e meio depois, numa viagem feita em sigilo absoluto, para evitar a presença e interferência do amigo Tyrone.

Ao ler a crônica sobre a recuperação do famoso jipinho Gurgel, um dos mais antigos colegas da velha Divisão de Comunicação (Dicom) da Ceplac, Raimundo Nogueira, retrucou: “Não sei o porquê dessa implicância do amigo Perrucho com os carros. Também não sei o motivo que alguns colegas passaram a rejeitar as caronas por ele oferecidas, rumo quase sempre a uma boa farra…”.

E continuou. E por falar nessa matéria e o proverbial descaso de Tyrone Perrucho em cuidados com seus carros, certa feita aconteceram dois casos típicos. Primeiro, roubaram a antena da sua Brasília e ele, prontamente, colocou um fio de arame farpado no lugar, e como funcionou nunca mais tirou. Segundo, certa feita, alguém no banco traseiro deixou cair uma caixa de ovos caipira que se espatifou. Os ovos ali quebrados e mau cheiro correlato permaneceram no carro, intocados, por mais de dois meses. Sobrou mau cheiro e faltaram caronas.

Pois é! Dois anos sem o amigo e promoteur Tyrone Perrucho e a alegria que nos contagiava, por certo diminuiu bastante. Como se diz na política, ele não preparou em tempo um substituto à altura para agregar os seus amigos, que hoje vivem desgarrados, errantes de bar em bar. Também nem deu tempo, a tal da Covid-19 lhe pegou de jeito, levando para o outro mundo, se é que existe.

Até que ensaiaram uma campanha do tipo “Volte Tyrone Perrucho”, mas não funcionou. Fica apenas a eterna lembrança.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Um amigo meu, cabra bem-sabido, já vendeu uma descoberta sua para uma governadora e um prefeito e descolou uma grana legal com o distanciamento dos carros no estacionamento. O prefeito gostou tanto que mandou interditar uma rua inteira.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Confesso que estou ainda muito confuso, mas não posso me queixar de tudo nesses dias quarentena, embora já passamos cerca de 60 dias engaiolados em casa – com exceção dos teimosos fujões – “debaixo de ordens”, como diz meu amigo Valdemar Broxinha. Às vezes chego a pensar que não “ando bem das bolas” ouvindo os poderosos da política e da imprensa afirmarem que preciso continuar no isolamento social.

Aqui pra nós, acredito que eles querem apenas me confundir. Sempre aprendi que quarentena é um período de 40 dias, mas esses dias Alberto Fiscal me disse que tem uma lei nova, feita pelo demitido Mandetta, estabelecendo que quarentena é pelo período que ele quiser. E essa tal de lei 13.979/20, que teima mandar na gente, também diz que o isolamento depende do tempo que coronavírus cismar de infectar.

Li tanto a lei que já sei de cor e salteado, mas não consegui enxergar em lugar alguns que  o Aurélio [o dicionário] tivesse sido revogado. Quem sabe nossos ministros do STF tenham dado uma canetada e inserido os costumes e tradições no nosso direito? Mas vamos ao que nos interessa, que é distinguir o joio do trigo, saber onde está a verdade: realmente estamos em quarentena e isolamento?

Nem um nem outro, pelo que observo. Em quarentena, impossível, pois não carrego comigo nenhuma presunção de contaminação, o que me deixa feliz estar acima de qualquer suspeita. Muito menos isolado, pois não convivo com nenhuma pessoa portadora do vírus. Sem esperar, o jornalista inativo Tyrone Perrucho me faz um alerta: “Ouvi o ministro falar que estamos em isolamento social” argumentou.

Grande coisa! Não vai ser um ministro qualquer que vai mandar nos meus relacionamentos sociais, já não bastam o prefeito de Canavieiras me proibir de sair da cidade, enquanto os de Ilhéus e Itabuna dizem que serei desconvidado em suas cidades. Nunca imaginei ser persona non grata nessas plagas da Nação Grapiúna, ainda mais quando estou respaldado pelo direito de ir e vir garantido por Ulysses Guimarães em nossa Carta Magna.

Pelo sim pelo não, preferi não empreender aventuras tais, dado o meu estado de quase senilidade, já quase sem forças para trocar uns bons catiripapos com esses prefeitos que confundem limites de municípios com fronteiras entre países. Daí, então, que resolvi me aquietar em casa e passar a utilizar os recursos tecnológicos que disponho para me conectar ao mundo.

Portais, blogs, facebook, twitter, whatsapp, instagram, e-mails e o telefone passaram a ser minha praia e desde que acordo já estou conectado com o mundo. Duvido até que o Google, que sempre foi metido a sabe-tudo esteja afiado como eu. Desde cedo já dou um passeio geral em tudo que é informação, classificando as melhores para repartir com os amigos de isolamento social.

Nesses dias já aprendi que se não tivermos cuidado poderemos ter outra pandemia ainda pior, que é reeleger os prefeitos, atuais por falta de candidatos. Numa pesquisa realizada por Tyrone fiquei sabendo que os egípcios foram os primeiros a colocar prostitutas sob o mesmo teto e que coube aos gregos, cinco séculos antes de Cristo, se tornarem pioneiros na fundação de bordeis, com preços e procedimentos regulamentados pelo governo.

Já gravei todas as passagens da vida da deputada Joyce, dos governadores João Dória, Wilson Witzel, dos ministros do STF, sem falar em Rodrigo Maia e Alcolumbre, Ronaldo Caiado e Rui Costa. Há, se fosse nos meus tempos de menino me candidataria ao Programa o Céu é o Limite, para responder sobre a vida de qualquer um deles. Num piscar de olhos tomaria aquele um milhão de Jota Silvestre.

Pelos meus cálculos, estou pronto para ser aprovado com distinção e louvor em qualquer doutorado ou pós-doutorado de medicina, mais precisamente na especialidade de infectologia, de tando conhecimento acumulado nesses dias. Em geografia já me falaram que sou PhD, pois sei explicar sem recorrer a livros ou ao Google os países acometidos pelo Covid-19, bem como conheço a China na palma de minha mão.

Com todo esse conhecimento adquirido nesses tempos de pandemia só me falta atualizar minha agenda de contatos para tratar diretamente com ministros, governadores e prefeitos. Um amigo meu, cabra bem-sabido, já vendeu uma descoberta sua para uma governadora e um prefeito e descolou uma grana legal com o distanciamento dos carros no estacionamento. O prefeito gostou tanto que mandou interditar uma rua inteira.

Se não me der sono antes da meia-noite, amanhã levantarei todo o imbróglio da deputada Joice Hasselman e seu ex-assessor, o pedreiro da Juju, e as gravações telefônicas de Sérgio Moro desde que deixou o ministério. Mas antes preciso de uma orientação de especialista sobre os feriados que estamos perdendo em casa e serão repostos depois da epidemia.

Essa vida e isolamento social me cansa.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.