A Represa Iguape, em Ilhéus || Foto José Nazal
Tempo de leitura: 3 minutos

Em outro recado ao Brasil, Macron ressaltou a determinação da França em eliminar o desmatamento importado, aquele gerado pela aquisição de produtos que causam desmatamento ou degradação ambiental no país de origem.

Emerson Oliveira

Após ser adiado por causa da pandemia, o Congresso Mundial da Natureza, importante evento promovido a cada quatro anos pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), foi realizado em Marselha, na França, entre os dias 3 e 10 de setembro. Como de costume, o evento indicou tendências e prioridades para os próximos anos para a conservação da biodiversidade no planeta e colocou o Brasil no centro dos debates.

Em discurso na abertura do evento, o presidente francês Emmanuel Macron demonstrou como os olhos da comunidade internacional estão voltados ao Brasil e, de um modo especial, para a Amazônia. O líder do país anfitrião enfatizou a necessidade urgente de interromper a acentuada destruição da floresta amazônica, entre outras prioridades.

Em outro recado ao Brasil, Macron ressaltou a determinação da França em eliminar o desmatamento importado, aquele gerado pela aquisição de produtos que causam desmatamento ou degradação ambiental no país de origem. O presidente francês afirmou ainda que a França é contra o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, que entre outros pontos pretende facilitar as exportações entre os dois continentes.

Fato negativo digno de nota foi a ausência de representantes do Ministério do Meio Ambiente do Brasil. Na verdade, a única autoridade brasileira presente foi o embaixador do Brasil na França, Luís Fernando Serra. Entre os participantes ilustres, destaques para o ator norte-americano Harrison Ford e o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.

Apesar dos fatores preocupantes que envolvem a política ambiental brasileira, o Congresso também trouxe esperança para todos que estão comprometidos com a conservação da natureza em nosso país. Durante a Assembleia Geral que elegeu a nova presidente e os membros da diretoria da UICN para os próximos quatro anos, o Comitê Brasileiro (CBR), formado por diversas organizações com destacada atuação pela causa ambiental, entregou aos candidatos ao pleito uma carta intitulada “O Brasil Importa!” (Brazil Matters!), visando evidenciar as pautas brasileiras de conservação, especialmente em relação às ameaças à biodiversidade e relativas à situação crítica dos rios e outros corpos hídricos brasileiros.

Leia Mais

Tempo de leitura: 3 minutos

Não há futuro seguro para o meio ambiente enquanto não mudarmos radicalmente o governo, substituindo-o por outro que internalize essa agenda e se comprometa com a sustentabilidade.

Wenceslau Junior

O mundo experimenta um dos piores momentos da sua história. Não bastasse a crise do sistema capitalista e do estado burguês em sua forma de representação da sociedade, vivemos uma pandemia de grande envergadura.

A situação brasileira se mostra, indubitavelmente, mais agravada em razão da postura do principal líder da nação, que nega a ciência, tripudia da morte de quase meio milhão de brasileiros, criando falsos dilemas entre salvar vidas e garantir empregos; entre direito de ir e vir e direito à saúde e integridade física.

Vivemos uma crise de caráter político (a democracia ameaça pela postura fascista), econômico (desaquecimento da economia global, agravada pelo neoconservadorismo em curso), social (ante à insensibilidade do governo central de socorrer as pessoas impossibilitadas de prover o sustento da sua família em razão das necessárias restrições) e ambiental (em razão do completo descompromisso do Ministro do Meio Ambiente com essa agenda e seu posicionamento em defesa daqueles que atuam ilegalmente no garimpo e na exploração de madeira, inclusive em terras indígenas).

Em 25 de janeiro de 2019, menos de um mês da posse do atual presidente, ocorreu um dos maiores desastres ambientais do país. As vítimas do rompimento da Barragem de Brumadinho até hoje agonizam com a perda de parentes, destruição da cidade e poluição ambiental. Mas até o presente momento não vislumbramos uma ação enérgica por parte do Governo Federal para evitar novas tragédias semelhantes.

Em agosto de 2019 o Brasil assistiu de forma estarrecida a um dos maiores acidentes ambientais com derramamento de petróleo bruto na costa do Nordeste. O vazamento de cinco mil toneladas de óleo foi um dos maiores desastres ambientais do litoral brasileiro. Atingiu mais de 1.000 localidades em 130 municípios de 11 estados, sendo nove do Nordeste e dois no Sudeste. O desastre também atingiu aproximadamente 300 mil trabalhadores do mar. Até a presente data não se tem um desfecho sobre as investigações e a situação estaria pior se não fosse o trabalho voluntário de limpeza das praias pelas comunidades atingidas.

Nos dois primeiros anos da gestão do atual presidente, o Brasil ardeu em chamas. Houve aumento de 30% de incêndios na Amazônia em comparação com o ano anterior. A maior floresta tropical do mundo teve 89.178 focos de fogo em 2019. Fato que rendeu fortes críticas no mundo inteiro.

Em 2020 foi a vez do Pantanal. A área queimada na região somente em 2020 supera em 10 vezes a área de vegetação natural perdida em 18 anos. Entre 2000 e 2018, o IBGE estimou em 2,1 mil km² a área devastada no Pantanal, que era o bioma mais preservado do país. Já em 2020, pesquisadores estimam a perda de pelo menos 23 mil km² consumidos pelo fogo.

O bioma do Cerrado também sofreu duro golpe no ano passado. Em 2020, somente entre janeiro e agosto, foram registrados 21.460 focos de queimadas no Cerrado, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Apenas no DF, segundo o Corpo de Bombeiros, foram incendiados mais de 6,9 mil hectares de Cerrado e registradas 3.912 ocorrências de incêndios florestais.

A ameaça de retirar o Brasil do Acordo de Paris, associado ao desmantelamento das estruturas governamentais de fiscalização ambiental, sinaliza o descompromisso do Governo Federal com a agenda ambiental.

O ano de 2020 bateu recorde em desmatamento. Ao invés de adotar medidas de contingenciamento e repressão à extração ilegal de madeira e ao desmatamento, o presidente sacou Ricardo Galvão da diretoria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe, justamente pelo mesmo ter cumprido seu dever e alertado às autoridades sobre os índices.

Enquanto isso o ministro da Destruição Ambiental, Ricardo Salles, sugere ao presidente que se aproveite da situação na qual todos os holofotes estão voltados para a pandemia, para “passar a boiada”.  Quer dizer: acelerar a extração ilegal de madeira; legalizar a grilagem e o garimpo em terras indígenas; expandir a fronteira agropecuária à custa da devastação das florestas. O comportamento do ministro lhe rendeu operações da Polícia Federal e abertura de investigação autorizada pelo STF.

Infelizmente não há nada a comemorar nesta data. Mas ela deve simbolizar a necessidade dos segmentos e instituições comprometidos com a agenda ambiental a se integrarem ao esforço pela construção de uma ampla frente política, heterogenia, interinstitucional, suprapartidária, comprometida com a defesa da democracia e pelo fim desse governo. Assim como não existe futuro seguro e promissor para a classe trabalhadora, as mulheres, a juventude, as minorias em geral. Não há futuro seguro para o meio ambiente enquanto não mudarmos radicalmente o governo, substituindo-o por outro que internalize essa agenda e se comprometa com a sustentabilidade.

Wenceslau Junior é advogado, professor da Uesc e mestrando em Direito, Governança e Políticas Públicas pela Unifacs, além de membro da Comissão Política Estadual do PCdoB, ex-vereador e ex-vice-prefeito e ex-secretário de Planejamento e Tecnologia de Itabuna.

Tempo de leitura: 2 minutos
Papa Francisco na abertura do sínodo || Foto Yara Nardi/Reuters-Agência Brasil

O papa Francisco disse neste domingo (6), durante a missa de abertura da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan Amazônica, celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, que a Amazônia precisa do fogo de Deus e não do fogo ateado por interesses.

“O fogo ateado por interesses que destróem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros.”

Na celebração, Francisco disse ainda que o fogo de Deus é também amor que ilumina, que aquece e dá vida; e não aquele que se “alastra e devora”.

“Quando sem amor nem respeito se devoram povos e culturas, não é o fogo de Deus, mas do mundo. Contudo quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto! Quantas vezes houve colonização em vez de evangelização! Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos.”

O papa pediu que o Espírito de Deus inspire o Sínodo para que renove os caminhos da Igreja Católica na Amazônia. “Reacender o dom no fogo do Espírito é o oposto de deixar as coisas correr sem se fazer nada. E ser fiéis à novidade do Espírito é uma graça que devemos pedir na oração. Ele, que faz novas todas as coisas, nos dê a sua prudência audaciosa; inspire o nosso Sínodo a renovar os caminhos para a Igreja na Amazônia, para que não se apague o fogo da missão.”

O Sínodo da Amazônia ocorre até o dia 27 deste mês, com o tema Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral. A celebração de abertura do evento religioso começou com a entrada de 185 padres sinodais, sendo 58 do Brasil. Estavam presentes também representantes de comunidades indígenas. Com o Vaticano News.

Tempo de leitura: 2 minutos

Cacau é amazônico e no Brasil é produzido em maior escala no sul da Bahia.
Cacau é amazônico e no Brasil é produzido em maior escala no sul da Bahia.
Ao contrário do que se imaginava até então, o cacau é amazônico – e não centro-americano – e já era consumido há 5,5 mil anos, apontou uma pesquisa desenvolvida por vários arqueólogos equatorianos e franceses, que, por sinal, chegaram a encontrar restos de uma grande cultura no sudeste do Equador.

Este grupo encontrou evidências químicas e físicas de cacau da variedade “fino de aroma”, muito apreciada atualmente pela indústria do chocolate, nos vestígios de recipientes encontrados na província de Zamora Chinchipe, na Amazônia equatoriana.

Francisco Valdez, que dirige a missão de pesquisa na jazida Santa Ana-La Florida, no cantão Palanda de Zamora Chinchipe, declarou à Agência Efe que o cacau foi criado na alta Amazônia e de lá, de alguma forma, foi levado à América Central.

“Na realidade, o cacau não é original dessa região, da América Central, como pensávamos até agora, pois se presume que, inclusive, há 7 mil anos ele já existia na bacia alta da Amazônia”.

Seu uso social foi iniciado há 5,5 mil anos, segundo as provas de carbono 14 em que foram submetidos os vestígios encontrados na cultura Mayo-Chinchipe-Marañón, descoberta em 2002 na região e que aparentemente se estendeu pela floresta peruana até o maior afluente da parte alta do rio Amazonas.

Na América Central, existem dados do uso do cacau, por parte da cultura Olmeca, que nos remetem há 3 mil anos, quando obteve um desenvolvimento importante e se estendeu pela Guatemala, Honduras e Nicarágua, além do México e da América do Norte.

“O cacau é amazônico e, por algum mecanismo, foi levado a esta região da América Central, onde ganhou uma importância cultural muito importante”, acrescentou Valdez, que lidera o projeto em Zamora Chinchipe, com o auspício dos institutos de Patrimônio Cultural (INPC) do Equador e de Investigação para o Desenvolvimento (IRD) da França.

Leia a íntegra na Folha

Tempo de leitura: 3 minutos

eduardo thadeuEduardo Thadeu | ethadeu@gmail.com

Fatores por nós já bastante conhecidos e identificados, fizeram com que a produção da tradicional região cacaueira baiana perdesse importância e começasse a derrapar em um mar revolto de enganos e interesses, por vezes escusos, travestidos de ciência de ponta, mas a serviço do oligopólio já instalado.

Não é nenhuma novidade que a commodity cacau e seu mais refinado produto final, o chocolate, sofrem influências de um mercado oligopolizado e de tal forma concentrado que não se vislumbra precedente ou comparação em nenhuma outra cadeia produtiva iniciada no setor primário.
É por demais conhecida a situação de que cinco ou seis grandes compradores e processadores da matéria-prima cacau, a amêndoa, detêm quase 100% do mercado mundial, mercado este que, sem muito alarde, envolve algumas dezenas de bilhões de dólares.
Apesar dessas cifras, esse mesmo mercado deixa somente 7% dos ganhos em sua ponta inicial e, em contrapartida, tem 74% dos ganhos auferidos pela indústria alimentícia que utiliza os sabores e o nome do chocolate.
A novidade oligopólica aqui é que os processadores finais, aqueles que colocam as cáries nos dentes de nossos filhos ao açucararem o cacau, são os mesmos que detêm o poder de compra da matéria-prima original, o nosso bom e saudável fruto, o Cacau.
O Brasil, representado pela Bahia, já foi um importante fornecedor deste mercado internacional. Fatores por nós já bastante conhecidos e identificados, fizeram com que a produção da tradicional região cacaueira baiana perdesse importância e começasse a derrapar em um mar revolto de enganos e interesses, por vezes escusos, travestidos de ciência de ponta, mas a serviço do oligopólio já instalado.
Leia Mais