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daniel_thameDaniel Thame | danielthame@gmail.com

É possível dizer que mudou sem mudar, porque ao longo deste um quarto de século, continua sendo o que sempre se propôs a ser: uma televisão com a cara e as cores do Sul da Bahia, com uma profunda identidade regional.

O mês era dezembro e o ano era 1987.

Em Itabuna, todas as cores no ar anunciavam a chegada de uma nova estação. Não era o verão.

Quem chegava -e lá se vão 25 anos- era a TV Cabrália, primeira emissora de televisão do interior do Norte/Nordeste, não apenas uma repetidora da programação da Rede Manchete, a quem era afiliada.

Mas uma emissora com programação própria, vida própria e, principalmente, com a alma do Sul da Bahia.

A chegada de TV Cabrália, como era de se esperar, gerou expectativa e euforia, numa civilização orgulhosa de seu fruto de ouro e de ter forjado o próprio desenvolvimento.

O fruto de ouro, dois anos depois, perderia seu brilho, esplendor e pujança por conta de uma doença com poderes de bruxa malvada.

A TV Cabrália, símbolo daquele tempo, atravessou sobressaltos, mas resistiu ao apocalipse econômico e social  que as bruxarias provocaram, fez história. E que história.

Começou como afiliada da Rede Manchete, depois SBT e, adquirida pela Igreja Universal do Reino de Deus, passou pela Rede Record, teve uma incipiente fase na Rede Mulher e hoje integra a Record News.

É possível dizer que mudou sem mudar, porque ao longo deste um quarto de século, continua sendo o que sempre se propôs a ser: uma televisão com a cara e as cores do Sul da Bahia, com uma profunda identidade regional.

Gestada pelo espírito empreendedor do Dr. Luiz Viana Filho e que ganhou forma nas mãos do visionário Nestor Amazonas, a TV Cabrália, além de acompanhar os principais acontecimentos e se envolver nas grandes causas sulbaianas nestes 25 anos, foi uma espécie de escola de profissionais de televisão, profissão até então inexistente por essas plagas amadianas e/ou pragas vassorianas, com o perdão do trocadilho irresistível. Leia Mais

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ANALFABETOS COM DIPLOMA E ANEL NO DEDO

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

Vão pensar que brinco em serviço, se lhes repetir o que li: segundo o Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf), 65% dos brasileiros que concluíram o curso médio não são plenamente alfabetizados. Isto quer dizer: têm dificuldades para entender, interpretar, analisar, avaliar conteúdos, relacionar as partes do texto e distinguir fato de opinião. Se os gentis leitores e leitoras ficaram abalados, sentem-se, pois o pior está por vir: diz o Inaf que 38% das brasileiras e brasileiros de nível universitário encontram-se na mesma situação, ou seja, possuem nível insuficiente em leitura e escrita. Estes seriam os analfabetos de terno, gravata, diploma e anelão no dedo.

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Boçalidades exuberantes e barulhentas

E como fica a tese da classe média dita “formadora de opinião”, em defesa da leitura que liberta, transforma, constrói? É pregar no deserto, discursar para ouvidos moucos, mostrar imagem a cegos. Somos uma nação de analfabetos funcionais tácitos e hereditários, alguns desses (devido à sua alta titularidade sem conteúdo) autoconsiderados sumidades, quando não passam de boçalidades exuberantes e barulhentas. Recentemente, uma desembargadora do Rio, no texto de sua sentença, recomendou aos advogados da causa examinada “adquirir livros de português de modo a evitar expressões que podem ser consideradas como injuriosas ao vernáculo”.

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Atentado contra a língua portuguesa

E ela cita exemplos que atestam serem completamente ignorantes em ortografia os nobres causídicos que apresentaram as contrarrazões do processo: em fasse (no lugar de “em face”), aciste (“assiste”), cliteriosamente (“criteriosamente”), doutros julgadores (“doutos”), estranhesa (“estranheza”), discusão” (“discussão”), inedoneos (“inidôneos”). Fico sabendo de uma curiosidade: “o advogado que atenta contra o vernáculo comete infração disciplinar”, de acordo com a Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia). Logo, este caso sugere a ideia de que os advogados dessa causa deveriam ser processados por tentativa de homicídio. A vítima? A idosa, inculta, porém bela língua portuguesa.

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AS GRANDES HISTÓRIAS DE ANTÔNIO JÚNIOR

Antônio Nahud Júnior, depois de publicar, pelo menos, oito títulos (em gêneros variados), está de livro novo na praça, ainda quente do prelo: Pequenas histórias do delírio peculiar humano. São contos da mais diversa feitura, alguns ditos minimalistas, outros extensos, uns na primeira pessoa, outros tendo o autor como narrador “distante” – mas, em conjunto, todos formando uma celebração da maturidade do artista. E mais não digo para evitar a ociosidade da chuva no molhado, pois Pequenas histórias… é apresentado por Jorge Araújo e Ruy Póvoas, ainda com luxuosas orelhas lavradas por uma especialista em Coelho Neto, a pesquisadora Danielle Crepaldi, da Unicamp.

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O lado penumbroso do ser humano

Para Jorge Araújo, Pequenas histórias…“é livro inquieto e inquietante, que convida ao debate e à inteligência não conformados ainda à inércia do pensar de calças curtas”. E destaca o conto “Sem notícias de Deus” como “soberbo, antológico e definitivo”. Danielle Crepaldi percebe a erudição do autor, salientando que Poe, Miller e Ibsen “ecoam nessas histórias”, também destacando “Sem notícias…”, em que “a crítica social singelamente brota da aridez da fome e do clima nordestino”. Ruy Póvoas afirma que Nahud Júnior tem personagens “em crise de delírio”, que mostram “o lado sombrio do ser humano, sua rede de trevas, que a maioria teima em negar ou ignorar”.

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ALITA PRESTA HOMENAGEM A JORGE AMADO

A Academia de Letras de Itabuna (Alita), presta homenagem a Jorge Amado, com o projeto “A Alita vai à escola”, de 27 de agosto a 5 de setembro. Dia 27 – 19 horas: Cyro de Mattos, com o tema Jorge Amado em Itabuna (auditório da FTC); Dia 28 – 9 horas: Margarida Fahel, com Jorge Amado: um humanista nas terras do cacau (Colégio Militar); 29 – 9 horas: Antônio Lopes, com Jorge Amado: o pão e a liberdade (Campus 2 da Unime); 30 – 9 horas: Gustavo Veloso e Ceres Marylise, com exibição de documentário sobre Jorge Amado, seguido de atividades interativas (Escola Lourival Oliveira – Ferradas); Dia 5/9: Ruy Póvoas, com o tema Jorge Amado: ficcionista, ogã e obá.

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ENFIM, CORONEL RECEBE TÍTULO MERECIDO

A Justiça demorou mas reconheceu, agora em agosto, que o coronel da reserva do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra (sem foto, para a coluna não cheirar mal), chefe dos serviços de repressão a presos políticos em São Paulo (1970-1974), merece o título que com tanta determinação perseguiu: “Torturador”. Ele é tido como símbolo dos agentes da ditadura militar (1964-1985) que, em nome do Estado, sequestraram, torturaram, estupraram, mataram e ocultaram corpos de presos políticos e “inimigos” do regime. Estima-se que 17 pessoas foram assassinadas na “gestão” de Ustra (que usava o codinome de Doutor Tibiriçá e raramente sujava as mãos: apenas dava ordens e supervisionava o “serviço”).

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Dante aprendido no pau-de-arara

Não se sabe (nem interessa saber) se Ustra, um bandido vestido de verde-oliva, lia os clássicos. Mas seus presos tomaram conhecimento, pelo modo mais doloroso, do Inferno de Dante: a quem entrasse naquelas masmorras modernas a lógica perversa mandava, como noCanto III de A divina comédia, renunciar a qualquer esperança de rever o céu. Na minha tradução (de Fábio Alberti, para a Abril Cultural) está, à página 18, uma indagação apropriada ao caso: “Que dor tão cruel se apodera deles e os faz gritar, urrar tão fortemente?” O Doi-Codi de São Paulo, era um inferno; o coronel Ustra, o capeta-chefe.

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SEM TREJEITOS, CHICO CANTA A MULHER-MULHER

Sem aqueles trejeitos homossexuais (que transmitem ridícula caricatura da mulher) Chico Buarque tem um lado lucidamente feminino, isto é, político: não canta a mulher “gostosa”, objeto de desejo sexual, nem tão pouco a mulher-musa, deusa no alto do panteon. Seu discurso é o da dor, da discriminação, do “veneno” e da grandeza dessa costela tirada de um ser já também esfacelado chamado homem. Sua visão, prenhe de poesia e beleza, não é sobre a mulher, mas da mulher. São tantas as canções (Atrás da porta, Olhos nos olhos, O meu amor, Teresinha, Folhetim), mas me detenho numa que ele fez especialmente para Nara Leão: Com açúcar, com afeto.

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“Quando a noite, enfim, lhe cansa…”

O malandro sai de casa em busca de dinheiro para sustentar sua Amélia, mas ela sabe que até a oficina “há um bar em cada esquina” – e ele vai beber, cantar, discutir futebol e olhar as pernas das moças – “coisas de homem”. Isto tudo é dito com rimas magníficas, um ótimo trocadilho (“alegre, ma non tropo”) e um fecho de ouro: finda a farra, o cara (que saiu “com seu terno mais bonito”) retorna “maltrapilho e maltratado” feito um gato após orgia no telhado. Ela tenta zangar-se, mas qual! “Ainda vou esquentar seu prato/dou beijo em seu retrato/e abro os meus braços pra você” – que mulher! A cantora erra a letra (onde estava“há” ela canta “existe”, quebrando o verso), mas não reclamo. Nara Leão tem direito.

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Como se fosse uma conversa de botequim

E antes que vocês queiram ver/ouviresta injustamente pouco executada canção de Chico, um aviso a quem interessar possa: a partir da próxima terça-feira, pretendo responder aos comentários que necessitem de resposta. Nada de chat – ou coisa igualmente chata (ops!): só esclarecer pontos de vista e retribuir a gentileza dos que gastam tempo e tutano opinando sobre esta coluna (alguma coisa como uma inocente conversa de botequim, com permissão de Noel). E com vocês, Nara Leão!

O.C.

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Aldo x Antônio Júnior: enredo que dá filme (Montagem Pimenta).

O coordenador do Centro de Cultura Adonias Filhos (CCAF), Aldo Bastos, disse que ingressará na justiça com ação por danos morais contra o jornalista e escritor Antonio Júnior, seu ex-auxiliar na gestão do CCAF.
Júnior acusa Aldo de promover Caixa 2 e até desviar dinheiro do centro de cultura para a campanha eleitoral da petista Juçara Feitosa em 2008. Diz o jornalista que Aldo criou Caixa 2 para bancar santinhos da então candidata e cafés da manhã da petista com os artistas locais.
O jornalista também acusa o coordenador do CCAF de fazer desaparecer R$ 4.800,00 em novembro do ano passado.
– Estou entrando com uma ação com queixa- crime contra ele. Ele terá de provar, responder por tudo isso. Ele terá de provar tudo e terá de me ressarcir por danos morais – retrucou Aldo Bastos.
O ator e diretor teatral recorre a adjetivos fortes para descrever o ex-auxiliar e o acusa de ter feito de tudo para lhe tomar o cargo na época em que estava no centro cultural administrado pelo governo baiano. “Ele queria ser o titular [o coordenador]. Pensava que ele era um cara íntegro, mas começou a aprontar”.
Ainda segundo Aldo Bastos, seu desafeto caiu porque “fez coisas terríveis [no Centro de Cultura]”.
– Eu tenho como provar tudo. Tenho provas contundentes contra ele – afirmou Aldo Bastos ao Pimenta em resposta a uma nota aqui publicada e ao que foi postado no blog pessoal do escritor e jornalista.
Aldo Bastos ainda afirma que Júnior foi expulso da Espanha devido a plágios e aponta algumas pessoas como testemunhas de quem é o escrito:
– Pergunte a Osmundinho Teixeira, pergunte a Ruy Póvoas, pergunte a Marcel Leal, pergunte ao pessoal da Espanha, de onde ele foi expulso, quem é Antônio Júnior. Mas eu não vou me rebaixar ao nível dele. Irei processá-lo.

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A direção do PT itabunense decidiu que não dará resposta à provocação do escritor Antônio Júnior. Estabelecido na capital do Rio Grande do Norte, ele distribuiu texto em que afirma ter se afastado do PT e do grupo do deputado federal Geraldo Simões ao ver que, no partido, o que existe é uma “guerra permanente, cobra engolindo cobra”.
Um dos membros do diretório petista classificou a atitude do escritor de oportunista. Antônio Júnior filiou-se à legenda em 2008. Ele também acusou o deputado Geraldo Simões de defender apenas interesses pessoais.
As críticas aos petistas foi feita pelo escritor enquanto informava que passou a integrar o marketing da campanha ao Senado da ex-governadora potiguar Wilma de Faria.

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Antonio Júnior e Wilma de Faria

O escritor grapiúna Antonio Júnior, ao anunciar sua entrada na equipe da campanha da ex-governadora Wilma de Faria, do PSB do Rio Grande do Norte, destilou veneno contra o casal Juçara Feitosa e Geraldo Simões, ambos do PT itabunense. “Estou empolgado com esta oportunidade profissional relevante e bem remunerada. Wilma de Faria é uma lenda viva da política potiguar”.
Em seguida, Antônio Júnior diz que foi boicotado pelo marketing de Juçara, em 2008, na disputa pela prefeitura de Itabuna, “mesmo me oferecendo voluntariamente para trabalhar na campanha de Juçara”.
O escritor não revela-se até sarcástico ao lembrar da situação. “Terminei por compreender que o PT grapiúna vive em guerra interna permanente, brutal, com cobra engolindo cobra”.
O escritor e jornalista também afirma ter se decepcionado com o deputado federal Geraldo Simões. “Como tantos veteranos, ele se habituou às benesses públicas, se acomodou, já não se preocupa em trazer benefícios para o sul da Bahia, priorizando estratégias e artimanhas para permanecer na glória do poder”.
Juçara e Geraldo.

Antônio Júnior cutuca Geraldo. O parlamentar sul-baiano não seria chegado a uma leitura. “O que esperar de um homem público que não abre um livro, acredita que é o dono da verdade e defende publicamente desatinos familiares, quando deveria humildemente pedir desculpas?”. E complementa: “O que posso garantir é que ele nunca mais terá o meu voto”.
O escritor e jornalista trabalhou com o grupo geraldista em 2007 e 2008, afastando-se quando novamente deixou Itabuna. Atualmente, está radicado em Natal, capital do Rio Grande do Norte, onde fará a campanha de Wilma Faria ao Senado.

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Tom Jobim, o músico brasileiro de maior prestígio no exterior, e o escritor itabunense Antônio Júnior são destaques na coluna Universo Paralelo desta semana. Assinada por Ousarme Citoaian, a UP também trata de cavalos. Com a elegância, o estilo e a simplicidade característicos, o nosso colunista descreve curiosidades destes animais que “ganharam” o Oscar ou um lugar na história… e nas pegadinhas. Ainda tem a história de um ex-prefeito que ‘prometeu’ exterminar a população analfabeta.

Confira tudo lá na edição desta semana (clique aqui).

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QUEM NÃO SABE REZAR, XINGA DEUS

Ousarme Citoaian
Professora de língua portuguesa e latim da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), experiente em corrigir redações do Vestibular (e de quem não declino o nome por não estar autorizado a fazê-lo) explicou-me um dos problemas mais freqüentes em seu trabalho: “O candidato quer escrever uma coisa e escreve outra”. Ótimo resumo. Penso que o fenômeno também ocorre na linguagem oral: às vezes, queremos dizer uma coisa e o que chega ao interlocutor é diverso do nosso pensamento. Já falamos do assunto nesta coluna, e o explicamos com um dito do falar brasileiro muito saboroso: “quem não sabe rezar, xinga Deus”.

“VOU ACABAR COM OS ANALFABETOS”

Há tempos, um candidato a prefeito de Itabuna, famoso por traumatizar a gramática portuguesa e os cofres públicos, disse num programa de rádio que, se fosse eleito, iria “acabar com os analfabetos”. Mesmo que o ilustre representante do povo não tenha minha simpatia, nunca o imaginei dono de crueldade tamanha, capaz de, em tal sanha analfabeticida, matar tantos itabunenses – afinal, a Bahia é campeã nessa modalidade e Itabuna, por certo, dá grande contribuição à conquista. Quer dizer: eu entendi que ele queria, patrioticamente, “acabar com o analfabetismo”. Mas nem por isso, como querem certos lingüistas, a formulação dele há de ser aceita..

COMUNICAÇÃO POR SINAIS DE FUMAÇA

Uma reportagem da TV Record, em Salvador, colheu interessante depoimento de uma senhora, a propósito de ações do governo. “Diante da violência que nós veve…”, preambulou a soteropolitana – e, para o caso, não interessa o resto da fala. Achei ótimo, mesmo que isto espante os leitores desta coluna tida como ranheta em questões de língua portuguesa. Neste caso, pode. O que não pode é o Fórum de Itabuna, tocado por gente muito estudada, produzir e autorizar a divulgação de um anúncio como o da foto ao lado (O. C. clicou). Ao povão que não foi à escola é válido comunicar-se até por sinais de fumaça; das autoridades, com responsabilidade na formação do público, não. E a crase não humilha ninguém.

ALFABETIZADOS SEGUEM DONA NORMA

Ouvi dizer que sou “formal”. Surpresa. Por não ter estudos específicos, ignorava essa divisão entre linguistas e “formais”. Sei é que, mesmo sem consulta, me puseram na escola, onde  gastei esforço e dinheiros público e da  comunidade, via CNEC  (Google, urgente!). Queimei as pestanas para aprender a dizer “Nós vamos”, em vez de “Nóis vai”, como era minha natural inclinação – e agora me vêm dizer que “tudo está certo”. Não está. Quem não foi à escola do professor Chalub, que fale como puder, com nosso respeito. Mas os alfabetizados – e jornalistas, até prova em contrário, o são – têm que seguir a norma culta. Eu sigo, também, a vizinha do 6º andar, inculta mas bela.

DA ARTE DE ESCREVER BEM

Antônio Naud Júnior (foto) é, sem questionamentos, o mais profícuo dos produtores literários da nova geração grapiúna. Leu, viveu, sofreu, acumulou experiências, escreveu e, sobretudo, andou. É um andarilho, inquieto, envolvido ao mesmo tempo com variadas atividades. Sua principal área de interesse, pode-se dizer, são todas: prosa, poesia, teatro, cinema, televisão e gente. Lê tudo, sem preconceitos. Discorre, com igual paixão, sobre o mais novo romance nas livrarias, a trama da novela das oito e um recém-lançado blog de poesia. O poeta Vicente Franz Cecim o chamou de “cigano incorrigível por vocação luminosa ou oculto fado”. Disse-o bem.

ACORRENTADO AO SILÊNCIO

Se um viajante numa Espanha de Lorca (um diário de viagem pela Europa, publicado em 2005) é seu trabalho mais pessoal, no sentido de mostrar-se em inteira sensibilidade de homem dilacerado. Porém é corajoso o bastante para adentrar os esconderijos, truques e subterfúgios deste mundo, traduzindo-os, poeticamente, para nós sedentários. Quem se propõe a tarefa de ler o mundo há de, primeiro, ler-se a si próprio. Mas qual de nós se lê com clareza? “Sou tantos. Há um Antônio poético e aventureiro errante, um Antônio porra-louca e pessimista, um Antônio disposto a saltar no vazio sem paraquedas, outro obcecado pelo amor. Há ainda um Antônio espiritualizado e acorrentado ao silêncio…”. As contradições de todos nós.

UM CÉU DE MUITO POUCO AZUL

Antônio Júnior, na Europa, descreve a solidão angustiante que nos esmaga nas grandes metrópoles: “Estar em Madrid (foto) é como estar em Londres, o peso do cinzento, do vazio interior, o ar asfixiante e pegajoso, o céu que só muito raramente mostra a cor azul, as estrelas que mais parecem imitação de péssima qualidade (…). Como não conheço ninguém e ninguém me conhece, é quase como não existir. Sou um estranho numa grande cidade, flechado por uma sensação assustadora de saber que posso cair duro no meio da rua e nem uma só alma local notará minha ausência” – obra citada.

INCITATUS, O SENADOR BIÔNICO

Sem propósito ou objetivo eis-me posto a lembrar de cavalos famosos, saídos de antigas leituras. Rocinante, esquelético feito o dono, era o cavalo de Dom Quixote (foto); Heroi, do Fantasma (que tinha também um cachorro, Capeto); Silver era o lépido cavalo do Zorro; John Wayne, em O último pistoleiro, montou Dólar; Incitatus, cavalo de Calígula, foi o primeiro senador biônico de que se tem notícia. Com a ditadura militar, ressuscitou-se o modelo no Brasil (mas aqui nomearam, além de cavalos, burros); Dr. Robledo montava um sonolento pangaré, que em algumas histórias teve esse nome: Pangaré. Justiceiro, no bom sentido do termo, o pacato médico virava o Cavaleiro Negro, enquanto Pangaré se transformava no fogoso Satã.

NAPOLEÃO E SEU CAVALO BRANCO

Muito famoso é o cavalo de Napoleão, embora ele tivesse vários. “Qual a cor do cavalo branco de Napoleão?” – diz a velha “pegadinha” (se você acertar, ganha o CD O melhor do arrocha, incluindo uma faixa-bônus com Caetano Veloso cantando Rebolation). O nome do principal cavalo de Napoleão era Vizir, um árabe, presente do sultão do Egito. Reza a lenda que Vizir (na gravura) levou o velho Bonaparte de Paris a Moscou em 1812 e, na grande retirada, com 60 graus abaixo de zero, trouxe seu dono de volta, são e salvo. Depois de morto, foi empalhado e, nessa condição, encontra-se no Museu do Exército, em Paris. São cavalos muito importantes, mas nenhum deles ganhou o Oscar da Academia.

PANGARÉ “GANHA” METADE DO OSCAR

O cavalo mais vitorioso do cinema não recebeu a divulgação merecida. Foi um anônimo montado por Lee Marvin, em Dívida de sangue, de Elliot Silverstein. Marvin faz um pistoleiro pé-de-cana (Kid Sheleen), montando um cavalo igualmente bêbado (foto). Ao ganhar o Oscar como melhor ator de 1965, Lee Marvin, chegado a um copo, fez um discurso inusitado: disse que passara a vida toda “treinando” para ser um beberrão nas telas; e que metade do prêmio deveria ser dado ao cavalo do filme. É um dos meus (muitos) faroestes preferidos. Engraçado e diferente, tem Jane, a rebelde filha de Henry Fonda na plena forma dos seus 28 aninhos – além da criativa trilha sonora (“ao vivo”) de Nat King Cole e Stubby Kaye (A balada de Cat Ballou).

O MAIOR DOS NOSSOS COMPOSITORES

“Ora – direis – Tom Jobim é muito citado nesta coluna”. E eu vos direi no entanto que, a meu juízo, ele aparece até pouco. Tenho dúvidas sobre se nosso país de tão parco reconhecimento a seus valores intelectuais tem consciência da importância de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim para a MPB. E embora não seja neste espaço que se corrigirá tal injustiça, algo precisa ser dito: para começar, que Tom Jobim é o maior dos nossos compositores modernos, com uma produção imensa em que (não pude conhecê-la toda, é verdade) nunca encontrei nada que não fosse de alto nível. A produção de Tom Jobim é horizontal, no melhor sentido que possa ter a palavra.

NENHUM MÚSICO TEVE TANTO PRESTÍGIO

Foi ele, não Carmen Miranda, conforme se apregoa por aí, quem abriu as portas do mercado mundial (a partir dos Estados Unidos, é claro) para o canto brasileiro. Tom Jobim “invadiu” o jazz, ensinou Frank Sinatra a cantar música brasileira, mostrou a Gerry Mulligan como emitir  no sax uns acordes de Samba de uma nota só (isto tudo circula na internet). Foi gravado, além de Sinatra e Mulligan, por Ella Fitzgerald, Stan Getz, Sarah Vaughan e todo mundo que interessa. Imagino que Billie Holiday não o gravou porque não conseguiu sair do túmulo. Mas tentou. Anita O´day (que esteve no Brasil nos anos oitenta) abre e fecha suas apresentações com  Wave. Nunca na história deste país alguém teve tanto prestígio internacional. Tom era o cara.

A TERNURA ANTIGA DE JOE HENDERSON

Joe Henderson (1937-2001), saxofonista dos  mais respeitados do mundo, também fez um cancioneiro de Tom Jobim (Double raimbow, que enriquece minha humilde coleção). Sonoridade límpida, suave, “flutuante”, com certa nostalgia das baladas de  Coleman Hawkins (foto). Mas JH é discípulo confesso de Stan Getz e Charlie Parker, capaz de alternar a simplicidade do primeiro com a sofisticação do segundo. Mesmo nas notas agudas, não chega à agressão auditiva, mantém-se lírico, como se tocasse um acalanto. Como diria o velho Che (para quem balada se fazia com rifle, não com sax), Joe Henderson não perde a ternura, jamais.  No vídeo (com Desafinado), os “coadjuvantes” são Pat Matheny (guitarra) e Tom Jobim (ao piano). Em meio a esse luxo, brilha o sax de Henderson.
(O.C.)
</span><strong><span style=”color: #ffffff;”> </span></strong></div> <h3 style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>E FRED JORGE CRIOU CELLY CAMPELLO!</span></h3> <div style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>No auge do sucesso, em 1965, a música teve uma versão no Brasil, gravada por Agnaldo Timóteo. Como costuma ocorrer com as