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Pilhado, o sujeito foi a Otávio Moura, editor do Diário da Tarde, e disse para falar com Alberto Hoisel que o respeitasse, que era reserva moral da cidade e que não admitiria tal falta de respeito. Se o epigramista continuasse, ele iria responder. O editor apavorou.

 

Carlos Pereira Neto Siuffo

Alberto Hoisel foi o melhor epigramista que Ilhéus já teve. Era quase um gênio. Um dia chegou na cidade um sujeito que se achava muito importante e espalhou que era candidato a prefeito. Alberto publicou no Diário da Tarde: “Em Ilhéus qualquer sujeito/que quer ter notoriedade/espalha pela cidade/que é candidato a prefeito”.

Pois bem, na cidade, tinha um professor muito querido que, em toda eleição, anunciava que seria candidato. Às vezes desistia no meio do caminho. Noutras era lanterninha. A turma da maledicência procurou o lente e o convenceu que a quadrinha era para ele.

Pilhado, o sujeito foi a Otávio Moura, editor do Diário da Tarde, e disse para falar com Alberto Hoisel que o respeitasse, que era reserva moral da cidade e que não admitiria tal falta de respeito. Se o epigramista continuasse, ele iria responder. O editor apavorou. Esse era o grande problema. As palestras do professor levavam quatro horas, um latinídio só, e todo mundo dormia. Seus artigos ocupavam todas as páginas do jornal, que encalhava.

Otávio Moura procurou Alberto, contou o ocorrido e pediu para parar. Surpreso, o autor disse que o epigrama não havia sido feito para a ilustre figura, mas, se a carapuça tinha servido, o problema era dele. Aí publicou outro epigrama: “Essa gente que desista/seus gritos não fazem eco/em Ilhéus ninguém é paulista/para votar em Cacareco”. Cacareco era o nome da rinoceronte que, em 1959, recebeu quase 100 mil votos para a vereança na cidade de São Paulo.

O professor cumpriu a promessa e escreveu um artigo de seis laudas. Ocupou todas as páginas do diário, inclusive a manchete. Otávio falou para Alberto: “Eu não disse!”. De quebra, o epigramista lascou os últimos versos:  “Arrependo-me se peco/para que o céu me abençoe/se eu ofendi Cacareco/Cacareco me perdoe.”

Ao final, a pessoa a quem eram direcionados os epigramas desistiu da candidatura, e o nosso querido professor foi candidato. Novamente, ficou na lanterninha.

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor da Uesc.

Sofia Manzano, professora da Uesb e pré-candidata à presidência da República pelo PCB
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Sofia Manzano pode até vir a ser um traço eleitoral, mas estará certamente construindo o traçado da história, criando passos para a construção de um Governo Popular.

 

Carlos Pereira Neto Siuffo

O analfabetismo político ou o senso comum muito rebaixado levam a criações bizarras.

É muito comum ouvir de pessoas pouco esclarecidas politicamente frases do tipo: “Só voto para ganhar”; “Não perco meu voto”; “Só voto em quem ganha”. A pessoa vota na propaganda mais divulgada, vota na pessoa mais conhecida, como se fosse um jogo de perde ou ganha.

O PCB lançou Sofia Manzano pré-candidata à presidência da República, e vi gente comentar: “Não tem um traço…”. Ora, essas pessoas pensam o processo político-social como um simples jogo de perde e ganha eleitoral. Não enxergam a história. Para essas pessoas, a vida é estática.

Quem viveu o período da ditadura militar lembra como o MDB era nem um traço. Em 1974, ele explode e vence as eleições de ponta a ponta, mesmo com as inúmeras restrições impostas pelas regras ditatoriais.

O PT, quando surgiu, era uma espécie de patinho feio eleitoral, estigmatizado até por parte da esquerda. Nem traço era, mas tinha um acúmulo de lutas políticas-sociais nas costas e acabou elegendo presidente da República. Depois, foi se degenerando. Perdeu as ligações sociais mais profundas. Virou uma máquina institucional e vai carregando os votos das lembranças.

Não é fácil remar contra a corrente. Imaginem ser oposição no nazismo e no fascismo. Mas, havia. No início, eram poucos e persistentes. Hitler meteu uma bala na própria cabeça e Mussolini foi fuzilado pelos partisans e dependurado num posto.

As eleições são fundamentais e importantes, mas a luta política é muito mais larga e profunda e, em verdade, se não houver forte organização popular e muita pressão, as mudanças são cosméticas. Não se iludam com o imediato e com a visão do palmo da mão.

Se fosse tudo estático, não teria havido golpe nem a besta do Bolsonaro seria o presidente ilegítimo, mas eleito.

Sofia Manzano pode até vir a ser um traço eleitoral, mas estará certamente construindo o traçado da história, criando passos para a construção de um Governo Popular.

A luta continua!

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

O presidente do DEM, ACM Neto, e o governador Rui Costa
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Rui Costa faz uma versão bem piorada dos Governos Lula/Dilma, mas, de qualquer forma, é menos pior do que a direita carlista-bolsonarista.

Carlos Pereira Neto Siuffo

1 – Os governos petistas foram melhores do que os anteriores, de FHC até Sarney, mas, mesmo sendo muito mais inclusivos socialmente, também foram neoliberais. Não fizeram uma reforma estrutural sequer.

2 – Aproveitaram um contexto de alta das commodities e distribuíram rendas orçamentárias. A política macroeconômica, com algumas nuances, foi a mesma de FHC, o tal tripé econômico: câmbio flutuante, meta inflacionária e superávit primário (este chegou a ser de 4,2% do PIB). Seguiram à risca a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), não reestatizaram a Vale. Ao invés disso, privatizaram estatais com o eufemismo das concessões. Nos governos petistas seguiu a desindustrialização, malgrado os esforços nos setores de petróleo-gás e naval.

3 – Não há dúvida de que, mesmo com vacilações e o grande erro do Haiti, realizaram uma política externa muito mais ativa e altiva.

4 – Falavam muito em republicanismo, mas foram um desastre nas indicações ao STF e STJ, fortaleceram o corporativismo do MP e da PF.

5 – Fizeram alguns arranjos, mas não tiveram uma política correta para as Forças Armadas. Perderam a oportunidade quando ocorreu o caso Viegas. Repiso o grande erro do Haiti.

6 – O PT e os movimentos sociais ligados a ele se acomodaram e viraram linha auxiliar do governo. Não aproveitaram as políticas públicas para aprofundar a auto-organização e manter a autonomia política e social.

7 – O PT entrou no jogo político fisiológico do toma lá, dá cá. Palocci não foi o único, e Zé Dirceu não poderia ser dirigente partidário e lobista. Havia corrupção nos governos petistas, mas é uma absurda falsidade tentar passar a ideia de que o partido é mais corrupto do que PSDB, DEM, PP, MDB, PSB e muitas outras legendas. O nível de corrupção petista é infinitamente inferior ao dos demais partidos.

8 – A Lava Jato foi a maior corrupção existente no Judiciário brasileiro e, até agora, ninguém foi punido. Foi uma armação com a participação do Departamento de Estado dos EUA e visava pegar o PT. Evidentemente, a maior autonomia dos governos petistas não interessa aos EUA nem à nossa burguesia ligada ao rentismo. Acrescento que as absurdas, punitivistas e de moralismo raso leis da Ficha Limpa, da Delação Premiada e do Antiterrorismo-GLO foram aprovadas por Dilma.

9  – Os erros de condução do poder facilitaram o golpe que foi dado no Governo Dilma e a posterior e absurda prisão de Lula, mas o golpe foi dado em razão dos acertos. Mesmo o reformismo fraco não é aceito pela burguesia financeira.

10 – Rui Costa faz uma versão bem piorada dos Governos Lula/Dilma, mas, de qualquer forma, é menos pior do que a direita carlista-bolsonarista.

11 – Lula, no imaginário popular, é melhor do que o de carne e osso e, infelizmente, parece tentar reeditar a política anterior, a de 2002. No entanto, ainda é a maior liderança popular que se tem. Cabe ao movimento vivo dos partidos mais à esquerda e ao movimento social pressioná-lo para ter uma política radical e não conciliadora com o neoliberalismo. Lula precisa deixar de ser candidato e ser o líder que o povo brasileiro necessita.

12 – Por isso, é muito importante todo movimento de ruas e a manutenção da movimentação independente e programática de Glauber Braga (PSOL).

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor de Direito da Uesc.

Dia das Mães de luto no Jacarezinho: Avó de Isaac Pinheiro de Oliveira, Regina Célia acompanhou o enterro do neto que havia criado após a morte da mãe || Foto: Márcia Foletto
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Sabe-se também que o Jacarezinho é uma das áreas sob domínio do Comando Vermelho, bando de traficantes que disputa a criminalidade com a milícia. A operação pode ter sido também uma ação articulada das milícias para futura tomada de território.

Carlos Pereira Neto Siuffo

Dias das Mães, estou ausente do Facebook, mas entro hoje* apenas para homenagear os filhos sem mães e avós e essas sem filhos e netos, todos e todas assassinados por Bolsonaro e sua corja, aliados da Covid e da destruição nacional.

Em especial, homenageio as mães das pessoas assassinadas pela Polícia Civil carioca no Jacarezinho. Uma operação fascista de genocídio, certamente um do maiores atentados contra o que resta de democracia no Brasil.

É inconcebível, onde vige o Estado Democrático de Direito, uma operação com tal nível de letalidade. É o terror praticado pelos agentes de segurança estatal. Um Estado tomado pelo banditismo.

A história um dia demonstrará que tal ação foi articulada em um nível superior, num momento em que a maioria da população começa a perceber o desastre do desgoverno Bolsonaro.

O Sistema Jurídico Brasileiro foi jogado na lata do lixo, da Constituição, passando pelo direito penal, material e processual, e também o civil. Se na famigerada Operação Lava Jato inventaram a competência aleatória, na operação do Jacarezinho criaram o bandido territorial por antecipação. Dois dias depois ainda não se sabia os nomes dos executados, mas todos, conforme a direção policial, eram criminosos. Isto como se suposto antecedente criminal retórico, pois não provado, fosse razão para pena de morte – inexistente no direito pátrio.

A posição das autoridades policiais cariocas foi endossada pelo “civilizado” General Mourão. O que não é de se estranhar, pois antes já havia sugerido o assassinato do Presidente Chávez e chamado de herói o torturador Ustra: “heróis também matam”. Também o governador do estado deu seu apoio, discursando que a operação foi fruto de dez meses de trabalho da inteligência policial – mudaram o sentido de inteligência, agora é burrice letal.

Evidentemente, tal fato só pode ter ocorrido em face de uma longa deterioração da imprensa (viva Tim Lopes e outros!), o Globo na frente, do Ministério Público e Judiciário. Os policiais são a ponta de um sistema corrompido.

Sabe-se também que o Jacarezinho é uma das áreas sob domínio do Comando Vermelho, bando de traficantes que disputa a criminalidade com a milícia. A operação pode ter sido também uma ação articulada das milícias para futura tomada de território.

Se a sociedade brasileira um dia ajustar as contas com o seu terrível e cruel passado, todos deverão ser chamados à responsabilidade. O governador e os policiais deverão ser processados e condenados.

Não tenho dúvida de que o Brasil entreguista, antidemocrático, antipopular, egoísta e muito desigual é o de uma minoria muito poderosa e, no momento, no poder. É o país do massacre de Jacarezinho e da irresponsabilidade com a pandemia. Poderá vir a ser derrotado, é o mais provável, mas não será fácil. Haverá que ter muita luta e um longo caminho pela frente.

Por fim, homenageio a mãe e o marido ( muito carinho) do ator Paulo Gustavo, tão precocemente retirado do convívio dos brasileiros. Ele representava um Brasil democrático, generoso, feliz, sorridente e mais justo, que é o desejável pela maioria.

Um viva para todas as mães! Vai passar!

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

*Artigo escrito no domingo (9) de Dia das Mães.

Segundo articulista, livro do ex-comandante das Forças Armadas, Eduardo Villas Bôas, é obra de "delírio absoluto"
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O general quer o silêncio, uma sociedade sem debate, sem consciência dos seus problemas. Uma sociedade de ordem unida e sem democracia.

Carlos Pereira Neto Siuffo

Segunda-feira, 19 de abril, terminei de ler o livro “Conversa com o comandante”, do General Villas Bôas. Cada página lida me estarrecia com o despreparo do comandante. Lembrava do general-ditador Figueiredo dizendo ser um intelectual em razão de ter sido o primeiro em matemática na Academia. O general é um boçal.

Sempre leio muitos livros ao mesmo tempo, sendo constante, raramente não ocorre, leituras diárias da Bíblia (sou agnóstico), de Machado de Assis e dois ou três poemas. No dia em que findei a leitura do “Conversa com o comandante”, tinha terminado a releitura de “Lavoura Arcaica”, de Raduan Nassar, e o conto “Teoria do Medalhão”, de Machado de Assis.

No clássico de Raduan Nassar, André, o protagonista, narra o avesso de si próprio e da família; no conto de Machado, um pai ensina a um filho como deve proceder para se dar bem na vida. Os dois livros calharam bem com o do General (mesmo achando que o militar nunca leu Nassar nem o Bruxo do Cosme Velho).

O livro do oficial é uma fantasia de propaganda política e ideológica, evidentemente escrito para o público interno: é inventada uma família militar e apresentado um roteiro de como deve se fazer para que tudo dê certo. É um avesso do real. “Toma cuidado para não te deixares seduzir e não seres humilhado por sua insensatez”(Eclo 13).

Terminada a leitura, liguei para um grande amigo, filho de general, que passou grande parte sua vida em colégios e vilas militares. Não foi para a Aman porque desistiu da carreira. Ainda hoje frequenta os clubes militares para praticar exercícios e fazer sauna. Conhece como poucos a vida e o que pensa a tal família. Inclusive, tem um irmão Coronel.

Esse amigo também leu o livro de Villas Bôas e, quando fiz alguns comentários debochados, ouvi uma boa risada, acompanhada da seguinte frase: “Toda mulher de oficial é santa e não existe oficial corno nem homossexual”. Pois é.

Vou passar ao largo do tuíte golpista para pressionar o STF a retirar Lula das eleições de 2018, segundo o autor, articulado com o Alto Comando do Exército. Um recado para que todos estejam comprometidos com o desgoverno Bolsonaro.

Todo mundo no Exército é perfeito. Sobre a desastrada intervenção militar no Rio, quando foi assassinada a vereadora Marielle Franco, cuja opinião dos especialistas foi um retumbante fracasso, o comandante diz “que se mostrou impecável” e, em razão disso e da “maneira de ser do Braga Netto, levou o presidente Bolsonaro a nomeá-lo para a chefia da Casa Civil onde, tenho certeza, vai se haver muito bem.” Hoje, Braga Netto é Ministro da Defesa e fez, há poucos dias, discurso golpista publicado nas páginas secundárias da grande mídia.

Sobre Pazzuello, o especialista em logística, que entregou o Ministério da Saúde com 300 mil brasileiros mortos (pegou com 14 mil), ele ressalta o seu papel numa suposta acolhida humanitária de refugiados venezuelanos – conforme Celso Amorim, uma submissão aos Estados Unidos – graças à criatividade do general Pazuello.

Segundo Villas Bôas, quando Pazuello foi designado para comandar a Operação Acolhida, “garantiu o êxito da recepção, triagem, abrigo, saúde, alimentação e interiorização de milhares de venezuelanos. Sem falsa modéstia, fez com que nos tornássemos referência mundial”. Delírio absoluto!

Pazuello, infelizmente, não teve tal competência para salvar vidas de brasileiros. Certamente, um dia, será responsabilizado pelo que fez e não fez no combate à Covid.

Bolsonaro, na Cúpula do Clima, pronunciou, mais uma vez, um discurso mentiroso, distorcendo toda a realidade. O mundo desaprova o governo brasileiro. O ministro Ricardo Salles é persona non grata para o Brasil e o mundo todo. A política ambiental do desgoverno Bolsonaro é um desastre. O Brasil está na berlinda do malfeito.

Sobre Ricardo Salles, Villas Bôas escreve duas vezes. Aqui vai a primeira: “Cito como exemplo expressivo o que vem sendo feito com nosso destacado e eficiente ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que corajosamente, desde que assumiu sua pasta, vem lutando para desmontar estruturas aparelhadas, ineficientes e corrompidas, que criaram um ambiente favorável à dissipação de recursos financeiros, sem que se produzam os efeitos pretendidos”.

Na visão do general, o ministro resiste a verdadeiro massacre. “Um personagem que, por vezes, é alvo de um massacre de acusações, até mesmo com origem no exterior, é o já citado ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, que “ousa” denunciar o que está por trás do indigianismo e do ambientalismo internacionais. A virulência das críticas é um indicativo da fragilidade dos argumentos. Usam então o expediente de, diante da incapacidade de refutar os argumentos, desqualificar a fonte”.

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O presidente Jair Bolsonaro
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Bolsonaro não pode ser tratado como um político comum. É um criminoso que tem nas costas a reponsabilidade da morte de 300 mil brasileiros.

Carlos Pereira Neto Siuffo

Sempre foi comum se ouvir a frase “não se deve brigar por política, religião e futebol”. É uma máxima de origem conservadora, brandida normalmente por pessoas que se consideravam “neutras” ou que diziam “não gostar de política”. O futebol entra de gaiato na história.

Tal frase poderia ter até sentido em períodos de normalidade política, nos jogos eleitorais das pequenas políticas provincianas, onde cada qual buscava as suas melhoras dentro das ofertas dos grupos políticos em contenda (processos fisiológicos de atendimento das necessidades de sobrevivência das pessoas, onde quase nulas as ofertas de trabalho e de acesso por meio de concursos públicos). Comuns os atritos ocasionais, os xingamentos, mas logo superados; as mesmas pessoas transitavam de um grupo para o outro conforme as possibilidades de êxito (ainda transitam).

Pessoalmente, acho que se deve brigar por política e religião. Falo da grande política, daquela que visa efetivamente transformar o mundo e a vida das pessoas. Não se pode aceitar o mascaramento segundo o qual todos são iguais (não são), tem que se desvelar o que não é normalmente visto, mostrar que existe luta de classes e que uns são beneficiados pela suposta normalidade das coisas. Na religião há que ter respeito à todas (o Estado é laico), mas não se pode aceitar o pensamento reacionário de interpretações preconceituosas, tem que se discutir, sim, demonstrar que aquele Jesus pregado não pode nunca ser o bíblico (é o Jesus do pastor malandro). Tem que ter o diálogo, mas não pode se aceitar a homofobia, o racismo, a misoginia, o preconceito contra religiões diversas; tem que brigar contra e muito.

Normalmente quem professa tal frase quer ficar no escondidinho dos seus preconceitos e/ou privilégios. Quer ficar no panteão da sua acomodação.
Já no futebol não tem por que brigar, tem que brincar, gozar o amigo torcedor do outro time. É desporto, brincadeira. Torcidas organizadas violentas são organizações políticas de natureza fascizantes (não fazem parte da naturalidade da coisa).

Já o Bolsonaro e os bolsonaristas, em regra, são fascistas. Não são políticos simplesmente conservadores interessados apenas em conservar o seu “status quo”. Bolsonaro não pode ser tratado como um político comum. É um criminoso que tem nas costas a reponsabilidade da morte de 300 mil brasileiros – em razão de um política sanitária genocida. Em diversas ocasiões defendeu tortura, ditadura, extermínio de índios, adversários e quilombolas (negro pesado em arroba). A mídia, todos os dias, mostra a corrupção das rachadinhas.

Desse modo, Bolsonaro e bolsonaristas são criminosos e assim devem ser tratados. Faço ressalvas para a massa de evangélicos, em verdade ignorantes e manipulados, que devem ser disputados religiosa e politicamente (o que não quer dizer que não são perigosos em face do fanatismo).

A rigor, com o julgamento da suspeição do Moro, o TSE deveria anular as eleições, e não só por isso, pois há as fraudes das Fake News. A eleição de Bolsonaro foi fruto de crimes e golpe.

Bolsonaro deve ser derrubado, julgado( com o devido processo legal,mas os seus crimes são gritantes) e condenado.

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
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Lula, no imaginário popular, é uma figura muito maior do que o Lula de carne e osso. Lula não é só maior do que o PT, é maior do que ele próprio.

Carlos Pereira Neto Siuffo

1 – O discurso de Lula após as anulações dos processos por Fachin foi um grande acontecimento político.

2- Foi um discurso político com centro correto, priorizou a luta concreta e imediata, não colocou os carros na frente dos bois. Não se poderia ali exigir uma autocrítica dos erros passados (vi artigos cobrando isso).

3- Lula, no imaginário popular, é uma figura muito maior do que o Lula de carne e osso. Lula não é só maior do que o PT, é maior do que ele próprio.

4- Na força e no tamanho de Lula estão as virtudes e defeitos (os perigos). Ele pode ser o grande alinhavador da unidade das forças de esquerda, desde que use o seu tamanho para a construção de um programa mínimo de unidade e promova, junto com o conjunto, um calendário de lutas e de ações concretas para combater a pandemia e o a política neoliberal do desgoverno Bolsonaro. Mas, ele sofre uma grande pressão da direita petista e aí poderá vir a fazer alianças e concessões à direita, que serão mais problemas para as soluções dos infortúnios populares. Também o poder do chamado mercado pressiona para que se mantenha a atual política fiscal. Há também o risco do Lula de carne e osso, com as suas tendências conciliadoras (superadas, espero).

5- A esquerda ao lulismo não poderá ficar refém. Deverá tocar as suas lutas e participar das ações de unidade. A luta hoje é por vacina, auxílio emergencial de R$ 600 e para organizar no dia a dia as massas populares.

6- A força na luta política não se dá pela retórica. Ela é fruto da realidade concreta. Não se é temido pelo grito.

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o discurso desta quarta-feira (10) || Foto Andre Penner/AP
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LULA é hoje a maior liderança popular que o Brasil tem. Ele não é comunista nem revolucionário. É um socialdemocrata. Sabe ler os sentimentos das massas e falar com elas. Que a esquerda revolucionária faça o seu papel.

Carlos Pereira Neto Siuffo

Comecei a ouvir o discurso no início, interrompi após os agradecimentos para cuidar de outros afazeres. Estranhei a não citação de Dilma dois dias após a data comemorativa à luta das mulheres (8 de março), dia em que Ciro Gomes grosseiramente destratou a ex-presidente da República. Lula teria dado uma pisada na bola.

À tarde ouvi todo o discurso atentamente. Lula corrigiu o erro, no final, justificando o silêncio em face da ausência do nome na nominata e mais adiante, quando responde pergunta sobre mais uma grosseria do Ciro, faz uma espécie de desagravo.

Mitigou o equívoco inicial, porém foi uma falha grossa tanto do cerimonial quanto dele. Dilma, independentemente dos erros cometidos no governo, merece todas as homenagens possíveis, não só por sua vida de lutadora das causas populares como por ser a Presidenta do Brasil eleita pelo povo e golpeada pela direitada.

Lula fez um discurso preciso e correto. Atacou de frente o desgoverno neoliberal de Bolsonaro. Colocou na frente de tudo o combate à Covid-19, a necessidade urgente da vacina e do auxílio emergencial até o fim da pandemia.

Enfatizou a necessidade do investimento público para a criação de empregos. Defendeu as estatais e as riquezas nacionais. Acusou o desmonte que estão fazendo. Defendeu a presença de um Estado democrático e atuante. Insinuou a reestatização da Petrobras e manifestou-se radicalmente contra a autonomia do Banco Central.

Fez acenos conciliatórios para os empresários, mas deixou claro que o inimigo é o capital rentista e que enfrentará a política neoliberal. Atacou também os setores golpistas das Forças Armadas, sem deixar de estender as mãos (não discuto se isso é ilusório ou não). Porém, deixou claro qual seria o seu papel na defesa da soberania nacional.

O discurso político para a sociedade e as massas não é tese acadêmica nem programa de vanguarda. Lula focou em necessidades imediatas, apontou o caminho das ruas e da organização popular. Foi preciso ao ironizar a tal da Frente Ampla e demonstrou em que pontos ela seria possível (auxílio, vacina, etc.).

LULA é hoje a maior liderança popular que o Brasil tem. Ele não é comunista nem revolucionário. É um socialdemocrata. Sabe ler os sentimentos das massas e falar com elas. Que a esquerda revolucionária faça o seu papel. Organize as massas, conscientize-as, vá à luta e pressione organizadamente por conquistas mais radicais.

Defendo uma Frente de Esquerda com candidato próprio. Mas, Lula é parte fundamental do jogo e pode começar a estabelecer a criação de algo como a Frente Ampla Uruguaia, na qual muitos partidos (inclusive os sem representação parlamentar) acordem programas mínimos e unifiquem-se nas lutas.

Não caberia a Lula hoje fazer autocríticas dos muitos erros dos governos petistas. Não teria qualquer sentido. Isso pode ser feito na discussão sobre o programa e atualizá-las na prática futura.

Não sou petista e não me cabe escolher o candidato do partido. Lula, com o discurso desta quinta-feira (11), entra muito forte no jogo. Acredito que ajudará nas saídas desse desespero nacional. No momento, é ultrapassar a imensa barbárie em que está o Brasil. 2022 será fruto do que for feito agora. Eleições vêm depois. É hora de organização e lutas.

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

Para Carlos Pereira, ACM Neto passa longe do poder ostentado pelo avô
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ACM Neto não tem nem de longe o poder do avô. Evidentemente, vem de uma escola familiar, é de direita, oportunista, inteligente e habilidoso. É apenas uma pequena parte do antigo poder do carlismo, mas em situação histórica totalmente diversa.

Carlos Pereira Neto Siuffo

ACM foi um político que predominou na política baiana por quase trinta anos. Começou na UDN com Juracy Magalhães, antes do golpe de 1964. Depois rompeu, e posteriormente alternou o poder disputando com outras correntes das classes dirigentes (o juracisismo, o vianismo e, meio outsider, com Roberto Santos).

ACM era dirigente da direita tradicional, conhecia muito das virtudes e fraquezas humanas e sabia manipular os instrumentos de poder como poucos. Eram conhecidos os slogans divulgados por seus seguidores: “quatros anos de pau sem pão”; “aos amigos os favores da lei, aos inimigos os rigores da lei”; ” a bolsa ou chicote”. Sabia corromper e bater, tinha arte em extorquir empresários e, também, agradar intelectuais e jornalistas.

Carlos Castelo Branco conta que ele mandava buscar jornalistas do sul para almoços na Bahia. E muitos intelectuais outrora de esquerda eram seus amigos (dentre eles, Jorge Amado). Comandava a Bahia com dengo e chicote. Era um populista de direita e patrocinava a cultura popular. Fazia da Bahia um sincretismo. Católico tradicional, afagava o candomblé.

Praticamente dizia a “Bahia sou eu”, a ponto de incorporar os símbolos e as cores do Estado em suas propagandas partidárias.

Comandava as instituições do Estado com mão de ferro (todas). As polícias eram milícias suas. Também era dono do judiciário. Era famosa a sabadada dos desembargadores no beija-mão.

Agradava e socorria amigos (desde que não o comprometesse) e era impiedoso com os adversários. Tinha espírito de moleque de rua e tanto telefonava quanto mandava fac-símile expressando xingamentos horríveis para jornalistas.

ACM foi o modernizador por cima da economia baiana. Uniu as oligarquias rurais com o capitalismo moderno e se cercava de tecnocratas competentes. Desde que não fizesse política contra ele internamente, não se importava com pessoas de esquerda nos órgãos do Estado. De quando em quando, cooptava algumas – era conhecida a esquerda baiana na Seplantec. Boa parte de suas bancadas estadual e federal eram compostas de seus tecnocratas, forçava os oligarcas regionais a votar neles.

Rompendo com a ditadura em seus estertores, manteve um grande poder no governo Sarney. Com isso, sufocou o governo estadual de Waldir Pires e o de Lídice em Salvador. Alertando que ele continuava com grande força nas instituições estaduais.

A coligação PSDB e PFL manteve forte o carlismo. Mesmo após o rompimento com FHC, ACM continuou forte e cooptando políticos antes adversários, como fez com parte do PSDB, cujas lideranças comandam o PP da Bahia.

O principal cálculo de poder de ACM era fazer Luís Eduardo Magalhães presidente do Brasil. A morte do filho começa a fazer desandar o carlismo, por falta de um sucessor natural.

O carlismo era formado no mando ditatorial e nos interesses econômicos e fisiológicos dos seus “fiéis seguidores”. Internamente, era um ninho de cobras, cada qual querendo picar a outra.

A morte de ACM dispersa o carlismo. A maioria dos seus então seguidores hoje apoia o governo petista. As instituições também não são mais as mesmas. O carlismo morreu e não existe mais. Seu poder era alicerçado nos muitos interesses econômicos e fisiológicos das classes dirigentes e nas características pessoais de um líder de direita, inclusive muito bem articulado nacionalmente.

ACM Neto não tem nem de longe o poder do avô. Evidentemente, vem de uma escola familiar, é de direita, oportunista, inteligente e habilidoso. É apenas uma pequena parte do antigo poder do carlismo, mas em situação histórica totalmente diversa.

O carlismo foi um fenômeno histórico. Os antigos seguidores do carlismo hoje estão no governo de Rui Costa e também na oposição. O fenômeno carlista deixou de existir.

Não esquecer que Oto Alencar chegou a ser governador pelo antigo carlismo. Não esquecer!

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).