Rosivaldo diz que município poderá solicitar conferência, caso seja confirmada a redução populacional
Tempo de leitura: 3 minutos

 

A bola foi tocada e, na primeira passada, irritado, o marcador provocado tentou me tirar do lance para não ser zoado. Acertou um chute por trás, direto no tendão que, por mais de cinco décadas, nunca havia sido alcançado.

 

Rosivaldo Pinheiro || rpmvida@yahoo.com.br

Hoje, compartilho com vocês a minha volta ao gramado, numa terça-feira à noite, num baba disputado. No meu pensamento, 12 anos depois de ter parado, estava de volta a uma rotina que imaginei ter cessado.

Parei de jogar aos 42 anos, um recorde se a CBF tivesse registrado. Bom, agora aos 54, os cabelos brancos já são logo notados, trazendo com eles um apelido colado, alguém diz, sonoramente: “olha o coroa do lado”.

A minha volta era resultado do clima da copa e do incentivo da turma do trabalho. Além dessas duas verdades, o desejo de pisar pra jogar numa das areninhas que viraram febre, fruto da parceria da gestão municipal com a gestão do estado. Todas essas coisinhas me passavam energia e me deixavam empolgado.

Pronto, a hora chegou e, com tudo novo, a reestreia enfim tinha chegado. Calma! Explico o tudo novo falado, antes que alguém questione querendo ser engraçado: os itens esportivos (materiais de trabalho) – chuteira, caneleira, meião, short, camisa, bola e gramado e o cinquentão aqui ainda conservado.

O jogo começou, a bola correu de canto a canto, e eu passeava por conhecer os atalhos. Usava da sabedoria e tocava de lado, deixando a turma mais nova correr até ficar cansada. Eles têm mais afinco, afinal, estou com 54 e logo mais 55.

Os lances aconteciam, o pensamento estava em dia, as jogadas saíam mesmo que o físico não atendesse plenamente o drible e o lance idealizados.

Terminei a primeira partida. Suado, meio extenuado. Por um momento pensei: por hoje, estou realizado.

Saí um pouco, 15 minutos depois já me achei recuperado, e pedi pra ser novamente escalado. O ‘Rosi’ fominha já estava atualizado.

Voltei, a essa altura achando tudo engraçado. Na sequência vos conto porque acabei engessado. Já antecipo o final antes que alguém se intrometa e mude a verdade dos fatos.

Pedi a bola, falei em tom de provocação: “joga em mim, não estou marcado!”. Olhei de relance e vi o marcador com a expressão de zangado. A bola foi tocada e, na primeira passada, irritado, o marcador provocado tentou me tirar do lance para não ser zoado. Acertou um chute por trás, direto no tendão que, por mais de cinco décadas, nunca havia sido alcançado.

Ainda tentei caminhar, mas só me restou deitar, de imediato gritar e me contorcer no chão, e escutar a zoação: caiu sozinho, tropeçou nas próprias pernas e outras contrariedades. Mas sempre tem a turma que presta solidariedade. Resumo do lance: amparado para fora do campo de jogo, o atleta foi transportado e o jogo continuado.

Saí dali com uma imaginação: era apenas um machucado. Ao chegar em casa, olhei e percebi que o pé, o tornozelo e a panturrilha estavam todos inchados. Esperei por uma semana para estar recuperado. Sem melhora e aconselhado, fui ao médico que, ao examinar o local, disse: “Tem jeito não. Rompimento de tendão, mas vamos fazer uma imagem pra compreender a extensão”.

Logo após o raio-X, manteve a impressão e pediu ultrassom para ter certeza da tomada de decisão. Procedimento feito e ele novamente, com especial atenção, disse: “você fará cirurgia de tendão, uns dias com limitação, depois, fisioterapia e estará na ativa pra contar a ocorrência de um atleta cinquentão”.

Aqui, encerro a narrativa do retorno do atleta bem-humorado, que com graça provocou o marcador e terminou engessado. Por fim, essa história teve dor, mas eu conto com humor porque sei que não vale a pena guardar nenhum rancor. Já com a página virada, assisti à Seleção, que também foi eliminada. Assim é a vida, e seguimos a nossa jornada.

Vou ficando por aqui. Até o próximo texto, a próxima copa e a próxima jogada. Um abraço, cambada.

Rosivaldo Pinheiro, atleta cinquentão, é economista e especialista em Planejamento de Cidades.

Tempo de leitura: 2 minutos

Começamos todos os dias em um cenário e adormecemos em outro completamente diferente. Aqui fora e dentro dos hospitais também, já que os mesmos começam a receber os primeiros figurantes dessa história. Uns com sintomas mais brandos da Covid-19, outros com danos intensos comprometendo sua saúde física e mental.

Manuela Berbert || manuelaberbert@yahoo.com.br

De dentro da minha residência (#FiquemEmCasa) assisto uma grande novela brasileira: tabelas e mais tabelas compartilhadas com números em movimento crescente; cenas das mais diversas, que vão desde diálogos entre líderes a grandes centros comerciais do país fechados; e, como em todo grande enredo, diversos personagens. O mais pitoresco deles, vale ressaltar, chama-se Bolsonaro, que discursa quase sempre em um tom ainda capaz de me confundir: seria uma novela de suspense ou de humor?

Infelizmente, preciso lembrar a todos que o grande persona do momento não é o senhor político, e sim o popularmente conhecido coronavírus, embora eu ache, diante do sorriso de deboche do capitão durante o pronunciamento nacional da última terça-feira (24), que o seu sonho, realmente, é ser um grande protagonista, mas não é.

Não, ele não pode ser um grande protagonista,  porque desdenha do impacto social (vidas) e considera apenas o impacto econômico (dinheiro) de uma grande crise. Ele não pode ser um grande protagonista, porque promove justamente esta desavença em uma nação de mais de 200 milhões de habitantes, onde o poder de fala do grande é sempre mais alto.  E o do oprimido, sempre abafado. Ele não pode ser um grande protagonista, porque reage às organizações mundiais capacitadas que traçam possíveis cenas de terror no país com politicagem e infantilidade.

Estamos nos primeiros capítulos disso tudo. Começamos todos os dias em um cenário e adormecemos em outro completamente diferente. Aqui fora e dentro dos hospitais também, já que os mesmos começam a receber os primeiros figurantes dessa história. Uns com sintomas mais brandos da Covid-19, outros com danos intensos comprometendo sua saúde física e mental.

Particularmente (e acho que a maioria dos brasileiros), me sinto bastante arrependida por não ter seguido nenhuma carreira como atleta. Que sorte a sua, hein, presidente?!

Manuela Berbert é publicitária.