Cacau, da amêndoa ao chocolate || Foto Águido Ferreira/Ceplac
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Os tempos mudaram e a cacauicultura não sobrevive mais do choro por preços melhores nos mercados interno e internacional, tampouco de financiamentos subsidiados e dívidas perdoadas.

 

 

Walmir Rosário

Por muitos e longos anos o cacau produzido na Amazônia era visto como de qualidade inferior. E realmente foi. Mas essa realidade faz parte do passado e a cada dia a lavoura cacaueira amazonense nos surpreende, principalmente nos estados do Pará e Rondônia. E o chocolate produzido lá pelas bandas do norte brasileiro vem ganhando prêmios e mais prêmios nos eventos internacionais.

E essa mudança não surpreende os que veem a cacauicultura brasileira com um olho no padre e outro na missa, como se diz. É verdade que ainda existe aquele cacau nativo e de qualidade inferior, cercado de vassoura de bruxa por todos os lados, mas estamos falando das novas plantações, incentivadas pela Ceplac e tão combatida pelos cacauicultores do Sul da Bahia.

Pra começo de conversa, o pé de cacau plantado na ponta do facão hoje só pode ser visto nos livros do conterrâneo Jorge Amado e essa nova cultura é cercada de conhecimento científico. A genética foi revirada pelo avesso, a clonagem é o assunto do momento, a produtividade é a marca a ser batida. Porém, a qualidade do produto final, o chocolate, é a galinha dos ovos de ouro dos bons produtores.

Quem é do negócio chocolate não se surpreendeu quando a revista Forbes estampou que Rondônia produz o melhor e mais espetacular cacau especial do Brasil. E o anúncio foi feito justamente em Ilhéus, por ocasião do Concurso Nacional de Cacau Especial do Brasil – Sustentabilidade e Qualidade, nesta sexta-feira (24). Na terra do maior concorrente.

Um dos prêmios foi concedido ao produtor Robson Tomaz de Castro Calandrelli, do sítio Três Irmãos, no município de Nova União, em Rondônia, vencedor na categoria mistura. Já na categoria varietal (única variedade genética de cacau), o vencedor foi Deoclides Pires da Silva, da Chácara Tiengo, em Jaru, em Rondônia, cuja lavoura foi implantada pelos seus pais em 1970.

Outros produtores de Rondônia e do Pará também foram premiados. Da Bahia, especificamente, Ilhéus, subiu ao pódio, como disse a Forbes, a produtora Marina Paraíso. Ao que parece, na cacauicultura, o sol já nasce para todos, desde que o produtor busque o seu lugar com os conhecimentos científicos disponíveis e os que ainda estão por vir.

Não encaro esse concurso como uma derrota dos cacauicultores baianos, mas como um alerta de que não basta cair, anualmente, cerca de mil e quinhentos milímetros de chuvas bem distribuídas; a sombra da Mata Atlântica; os solos excepcionais do Sul da Bahia; a melhor fermentação e os notáveis barcaceiros. Há anos o cacau está sendo produzido a pleno sol, com irrigação e o conhecimento dos produtores do cerrado, tudo isso sem os inimigos naturais.

Além da pretendida alta produtividade, como chegar a mil arrobas por hectare, é preciso que o cacauicultor tenha em vista produzir cacau de qualidade, como muitos vêm fazendo com “os cacaus finos” no sul da Bahia. Para o cacauicultor, a premiação não é um afago ao ego, mas o consequente sobrepreço no seu produto, em amêndoas ou em chocolate pronto. Mais dinheiro no bolso.

Por se tratar a cacauicultura iniciativa privada, sem gozar das antigos benesses dos subsídios governamentais, poderemos assistir a uma disputa mais acirrada no próximo ano. E garanto que será páreo cada vez mais duríssimo com a entrada do cacau do cerrado. Essa competição nos mostra, ainda, a especialização dos produtores de cacau in natura (amêndoas) e em produto final, o chocolate.

Não poderia deixar de dar um testemunho sobre a melhoria da qualidade da cacauicultura da Amazônia, desde os anos 1990, quando assistimos aos mais diversos experimentos. E eles sempre visavam um produto de qualidade e mais dinheiro na sua conta bancária, a exemplo do sombreamento de cacaueiros com mogno e outras espécies de madeira de lei. Um consórcio que unia o útil ao agradável.

E registramos esse incremento da cacauicultura nos estados de Rondônia e no Pará, especialmente às margens da rodovia Transamazônica, locais que estão recebendo os “louros” pelo excelente tipo de investimento e administração. E mais, os cacauicultores da Amazônia, de cerca de 40 anos pra cá, somente foram conhecer o cacau assim que chegaram do sul do país à Amazônia.

Lembro-me, que nesta época, os bancos do sul da Bahia queriam distância dos produtores de cacau, enquanto os da Amazônia visitavam os cacauicultores com tentadoras propostas de financiamento à lavoura. As agências bancárias disputavam as exposições da Ceplac como forma de atrair os agricultores, o que chamou a nossa atenção (eu, que editava a revista Ceplac, um bom caminho, o jornalista Odilon Pinto, e o fotógrafo Águido Ferreira).

O certo é que os tempos mudaram e a cacauicultura não sobrevive mais do choro por preços melhores nos mercados interno e internacional, tampouco de financiamentos subsidiados e dívidas perdoadas. A realidade atual é oferecer ao exigente mercado cacau em amêndoas e/ou chocolate de qualidade superior. Quem oferece o melhor produto recebe, em troca, preços especiais.

São as leis do mercado.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor d´Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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Uma dúvida que aflige a poucos é se a contribuição da Ceplac, mesmo com os poucos cientistas que restam, não poderia acrescentar mais benefícios à atividade? Já imobilizada, como está, apenas gasta os recursos escassos da sociedade.

 

Walmir Rosário

Ultimamente temos lido boas notícias para a cacauicultura brasileira, uma esperança para o sul da Bahia. Entre elas a elevação do preço do cacau no mercado internacional, consequentemente, mais dinheiro no bolso do cacauicultor, embora o preço do dólar em relação ao real tenha sofrido leve queda. Mas os senhores podem ficar sossegados que não tratarei de economia, pois não possuo conhecimento suficiente para tal.

O que pretendo é deixar bem evidenciada a mudança ocorrida no sul da Bahia – a região cacaueira –, em que uma notícia alvissareira em anos passados, sequer é tratada na mídia como simples informação. Caso o cidadão que não faça parte da cadeia produtiva do cacau não busque os veículos de comunicação especializados na matéria, a notícia continuará desconhecida. E olha que o cacau já foi nosso principal produto econômico.

Atualmente, o cacau sequer aparece nas discussões presentes na sociedade, após a Ceplac ser internada na UTI, sem direito a boletim médico com informações sobre sua enfermidade e qual a reação ao tratamento. Ao que parece, entrou em estado vegetativo e não teve os aparelhos que a mantém nesse estado desligados por interesses outros desconhecidos do grande público.

É triste, porém real, que a instituição responsável pelo soerguimento da economia de uma imensa região receba o tratamento há muito dispensado. Uma antiga locução a designaria com absoluta realidade: “morrendo à míngua”. O que foi criado para ser um amplo hospital para a atividade cacaueira, num exemplo chulo, se transformou numa enfermaria na qual vemos, a cada dia, morrer os técnicos responsáveis pela sua sobrevivência.

Pecados foram cometidos e não há como escondê-los, o que não justificaria condenar a instituição a arder eternamente no fogo do inferno, com meu pedido de perdão a tamanha e estapafúrdia comparação. Se a instituição não mais se justifica, que seja extinta de uma vez e repasse suas obrigações e o que resta do pessoal a outras empresas estatais, inclusive suas instalações, abandonadas em dezenas de cidades, muitas delas ocupadas pela marginalidade.

Impossível acreditar que a Ceplac não soube se adequar aos novos tempos. Conversa fiada. Basta uma olhada nos seus antigos projetos e programas para constatar as propostas de mudanças, calcadas na diversificação das atividades econômicas regionais. O incentivo às cooperativas, à verticalização da cacauicultura com a produção do chocolate “caseiro”, isso após o melhoramento genético e o uso de práticas agrícolas adequadas.

E todas as iniciativas visaram consolidar o agrobusiness regional por meio da exploração vertical dos imóveis rurais com gestão empresarial,  incentivando a produção, com qualidade e baixo custo, para competir num mercado cada vez mais globalizado. Também demonstrou que o importante não era produzir muito, e sim produzir dentro de padrões adequados e compatíveis como o tipo de atividade.

Antes e depois do nefasto ataque da vassoura de bruxa nos cacauais do sul da Bahia a Ceplac trabalhava com afinco para abrir a mentalidade do cacauicultor, muitos dos quais se conscientizaram para a necessidade de evoluir. Os que entenderam passaram a mudar os métodos de produção, salvando suas galinhas dos ovos de ouro, com investimentos dentro das possibilidades individuais.

Outros, entretanto, sucumbiram, por motivos diversos cuja avaliação não cabe nesse escrito. A produção de cacau fino é hoje uma afortunada realidade, cujos preços são de fazer inveja, com ganhos muito acima dos publicados do cacau comum – dito superior – nas bolsas de Londres e Nova Iorque. Prêmios e honrarias são concedidos a nossos cacauicultores que embarcaram nesse nicho e navegam em mar de almirante.

Aos poucos, e a olhos vistos, conseguimos enxergar uma mudança benéfica no comportamento regional dos que acreditaram na cacauicultura como um excelente ramo de atividade. Aprenderam que precisam conviver amigavelmente com os fatores da natureza, especialmente os climáticos, para conseguir os resultados pretendidos na cultura, driblando ou se antecipando aos vários fatores adversos.

Pela experiência adquirida nos ensinamentos da Ceplac de outras instituições, os novos cacauicultores continuam enfrentando as adversidades climáticas, os baixos preços no mercado internacional, a infestação da vassoura de bruxa, os índices de endividamento,  até mesmo a má vontade do mercado em importar cacau africano de qualidade duvidosa. Muitos ainda continuam nessa dependência, seja por imobilismo ou descrédito no que faz.

Os cacauicultores que passaram a ver o seu produto como chocolate, e não como simples commodity, estão bombando num mercado crescente, cujos consumidores estão ávidos pelas boas novidades. Uma dúvida que aflige a poucos é se a contribuição da Ceplac, mesmo com os poucos cientistas que restam, não poderia acrescentar mais benefícios à atividade? Já imobilizada, como está, apenas gasta os recursos escassos da sociedade.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Luiz Ferreira defende programa de recuperação da cacauicultura no sul da Bahia
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“A cacauicultora sul-baiana passa por maus momentos, mas ainda pode ser importante ao país e sobretudo à Natureza”.

Luiz Ferreira da Silva 

A Natureza proporcionou ao homem dos trópicos úmidos uma árvore frutífera, o cacaueiro, que pudesse ser utilizada sem causar danos ao seu ambiente florestal.

Ao facultar um produto nobre – o chocolate –, adicionou características fisiológicas inerentes ao complexo do seu habitat, quente, chuvoso e rico em espécies consortes e fauna agregada.

Teria que ser uma planta que reciclasse com eficiência, mantendo a capa orgânica do solo, fator importante para alimentar as raízes finas, que têm a função de arejar o solo, agregar as partículas e evitar a perda de nutrientes. Enfim, manter a vida do solo.

E para tanto, sob a mata, recebendo pouca luz, forma um “túnel folear”, com as copas se encontrando, evitando que a luz solar danifique o solo. A luz é para as folhas fazerem a sua “química carboidrática” de transformação – fotossíntese, para os puritanos.

A Natureza ainda deu uma colher de chá. Aumentou a sua “plasticidade fisiológica” – conviver em ambiente mais arejado, a exemplo de uma mata raleada – no limite que ainda mantém o cacaueiro na sua missão fitogeográfica de equilibrar o uso com a conservação.

Neste contexto interativo, o cacaueiro usufrui da fauna, notadamente dos insetos polinizadores, alimentados por frutas em decomposição, oriundos do andar de cima, as árvores tropicais.

A Natureza é sábia. Por um lado, criou o cacaueiro com o fenômeno da incompatibilidade sexuada, que se manifesta quando o pólen de uma flor em uma planta não consegue fecundar os óvulos das flores da mesma planta (autoincompatibilidade) ou de outras plantas (inter incompatibilidade). E até o cacaueiro “macho” ocorre, com raridade nas plantações, com floração e não produtores de frutos.

Pelo outro, resolveu a questão no próprio meio. Criou as mosquinhas chamadas “forcipomyas”, e não havendo polinização adequada, a lavoura não produz satisfatoriamente.

Por essa razão, alertou ao Homem sobre a importância delas, incumbindo-lhe de cuidar de seus criadouros, os seus locais naturais, a exemplo das bromélias.

Chegou o cacaueiro no Sul da Bahia. Uma floresta tal e qual a da sua origem, a Mata Atlântica. Encontrou aí condições favoráveis de clima, solo, topografia e rede hídrica, razões da sua expansão, chegando a ocupar 600 mil hectares, com a equivalência de uma fonte de divisas de quase 1 bilhão de dólares em determinado ano.

Os pioneiros souberam mesclar a lavoura com a floresta, sem macular o meio ambiente, satisfazendo com a produção auferida, com elevada liquidez, mantendo preservado o ecossistema e proporcionando um epicentro gerador de riquezas com o produto cacau, cujos reflexos se irradiaram pelas áreas circunvizinhas, criando uma estrutura de bens e de serviços que permitiu, com outras atividades agrícolas e congêneres, distribuir benefícios para todas as comunidades, o que infelizmente não foram aproveitados na magnitude dos bônus.

Sessenta anos atrás, um cacauicultor com pouco esforço, com seus 100 hectares de cacau, sem usar maquinaria e tudo no lombo do burro, gastando pouco, em sua área cabrocada, mesmo com uma produtividade não tão expressiva, colhia 4 mil arrobas, que o tornava um homem de classe média alta. Com maior presença e bom solo, muitos chegavam a 6 mil arrobas, tornando-se ricos.

Nessas circunstâncias, uma lavoura nota 10. Produtiva e conservacionista.

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Tricovab tem eficiência comprovada no controle da vassoura-de-bruxa
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O Ministério da Agricultura (Mapa) publicou edital para contratar empresa que produza e comercialize, com exclusividade, o Tricovab®, recomendado para o controle do fungo causador da vassoura-de-bruxa do cacaueiro. O Edital de Oferta Tecnológica n° 01/2022 , segundo o Mapa, busca promover ações visando o co-desenvolvimento do produto em parceria com a Ceplac, conforme condições estabelecidas no documento.

O estudo para desenvolver o Tricovab® foi iniciado em meados de 1990 por pesquisadores da Ceplac, em um grande esforço para aprimorar o controle do fungo da vassoura-de-bruxa sem resíduos químicos, possibilitando seu uso na cacauicultura orgânica. O Tricovab® é comprovadamente eficaz, inibe o crescimento do fungo da vassoura-de-bruxa em 99% no solo e em 57% na copa das árvores.

O diretor da Ceplac, Waldeck Araújo, afirma que o uso de bioinsumos para controle biológico está em franco crescimento no agro. “Além dos excelentes resultados obtidos com o uso do Tricovab para o controle da vassoura-de-bruxa do cacaueiro, o produto contribui para a ampliação do mercado de bioinsumos na agricultura brasileira. A oferta do Tricovab®, para a produção em larga escala, é um importante passo para melhorar a produtividade e aumentar a remuneração dos produtores”, declara o diretor.

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O deputado federal Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vislumbra futuro promissor para a cacauicultura com a criação dos selos verdes Cacau Cabruca e Cacau Amazônia. Ele é o autor da proposta, que avançou no Congresso.

Aprovado em 2013, o projetou voltou à Câmara dos Deputados após alterações feitas no Senado. Neste mês, a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara aprovou as mudanças e encaminhou o texto para a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

“Os selos visam agregar valor ao cacau produzido na Bahia e no Brasil, representando um aspecto diferencial na venda e atributos para o mercado de produtos ecológicos. Para ter direito ao benefício, os produtores também precisarão comprovar que estão de acordo com a legislação ambiental e trabalhista”, explica o parlamentar baiano.

PARA RELATORA, MUDANÇAS APERFEIÇOARAM PROJETO

A relatora do projeto na comissão, deputada Silvia Cristina (PL-RO), avaliou que os senadores fizeram mudanças que aprimoraram a proposta original, ampliando o rol de beneficiados para incluir cooperativas de cacauicultores e retirando do texto detalhes sobre o prêmio (validade de dois anos e custo de concessão pago pelo cacauicultor).

Segundo o projeto, os cultivos no bioma Mata Atlântica receberão o selo desde que adotem o sistema cabruca, caracterizado pelo plantio dos cacaueiros na mata, sem a derrubada de árvores nativas, como é feito no sul da Bahia.

De forma semelhante, os plantios na Amazônia devem seguir sistemas agroflorestais definidos para a região, de modo a conservar a diversidade biológica e os recursos naturais, mantendo as funções ecológicas da floresta.

Caso seja aprovado nas comissões de Meio Ambiente e de Constituição e Justiça, o PL 2.913/2021 (antigo PL 3665/12) seguirá à sanção do presidente Jair Bolsonaro (PL), sem ir ao plenário.

OUTRAS FORMAS DE INCENTIVO À CADEIA PRODUTIVA

Coordenador da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Lavoura Cacaueira, Félix Mendonça Júnior também é autor do projeto que propõe alterar a Política Nacional de Incentivo à Produção de Cacau de Qualidade, com objetivo de criar linhas de crédito para o financiamento da cacauicultura.

O parlamentar defende a ampliação do crédito para investimento específico na renovação dos cacauais, com a substituição das árvores por mudas resistentes às pragas que inviabilizam ou prejudicam a produção. Estratégica para o ganho de produtividade da lavoura, a substituição da sua matriz genética tem custos econômicos consideráveis, daí a necessidade de financiamento.

Outro projeto do deputado baiano vista estimular o crédito para as agroindústrias de produtos derivados do cacau de qualidade superior e fino, que verticalizam o beneficiamento das amêndoas e, dessa forma, geram mais valor para a cadeia produtiva.

Félix propôs ainda que sejam zeradas as alíquotas de tributos (PIS/PASEP e Cofins) que incidem sobre a receita bruta da venda de cacau de categoria superior e de suas preparações.

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Neste sábado (26), Dia do Cacau, o governo baiano anunciou que o projeto Bahia Produtiva já investiu R$ 37,7 milhões em melhorias no cultivo e manejo da produção do cacau, no acesso dos pequenos produtores ao mercado, nos serviços de assistência técnica e extensão rural (Ater) e no processo de Identificação Geográfica do fruto.

Líder da produção nacional, a Bahia tem na agricultura familiar o segmento mais promissor para a cacauicultura. De acordo com o Censo Agro 2017, dos 64 mil estabelecimentos rurais que plantam o fruto, 53 mil são propriedades de trabalho em família.

Uma das principais frentes de atuação da  Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) na cacauicultura, segundo o governo, é a entrega de máquinas e equipamentos aos produtores para cultivo, beneficiamento e agroindustrialização das amêndoas de cacau.

MUDANÇA DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA

De acordo com o chefe de gabinete da SDR, Jeandro Ribeiro, o cenário da cacauicultura baiana passa por uma mudança fundiária que aconteceu há 20 anos e se traduz numa distribuição de renda muito mais efetiva do que no passado, após a desconcentração da posse de terras.

Ele explica que, desde 2020, uma nova modalidade de Ater, via contrato com consórcios públicos, ampliou esse serviço para o desenvolvimento da lavoura cacaueira, envolvendo os municípios que têm, na sua base econômica, a produção do cacau como atividade protagonista.

Ao todo, 5.310 famílias de agricultores, de 46 municípios, são atendidas pelo serviço de Ater, com aquisição de kits produtivos e apoio do Consórcio Intermunicipal da Mata Atlântica (Cima), Consórcio Intermunicipal do Mosaico das Apas do Baixo Sul (Ciapra), Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do Território Litoral Sul (CDS), Consórcio Intermunicipal Médio Rio de Contas (Cimurc) e Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do Vale do Jiquiriçá (Convale), somando investimentos de R$ 7,1 milhões.

CONSOLIDAÇÃO DA MARCA BAHIA CACAU

A Cooperativa da Agricultura Familiar e Economia Solidária da Bacia do Rio Salgado e Adjacências (Coopfesba), que comercializa produtos derivados do cacau, com a marca Bahia Cacau, conta com investimentos no valor de R$3,8 milhões do estado. Os recursos são direcionados para construção e equipamentos para agroindústria do cacau e casa de extração de mel, kits produtivos e implantação de energia solar.

De acordo com o presidente da Coopfesba, Osaná Crisóstomo, equipamentos como cocho, casa de fermentação, os kits contendo roçadeira, podão, medidor de unidade e temperatura, a entrega de mudas de qualidade e o serviço de acompanhamento dos técnicos são essenciais para ganho de produtividade. “Em 2021, colhemos cerca de 700 arrobas. A perspectiva para este ano de 2022 é de colher cerca de 950 arrobas, um aumento de 30% na produção”.

Audiência debaterá revitalização da lavoura cacaueira sul-baiana
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A revitalização da lavoura cacaueira, com o perdão das dívidas dos produtores atingidos pelas chuvas, será um dos temas da audiência pública que acontece nesta sexta-feira (18), no auditório do Sest/Senat de Itabuna, a partir das 18h. O evento, organizado pelo PDT local com o apoio da Associação dos Municípios do Sul, Extremo-Sul e Sudoeste da Bahia (Amurc), contará com a presença de prefeitos da região, fazendeiros, entidades da sociedade civil organizada e do presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Lavoura Cacaueira do Congresso, deputado pedetista Félix Mendonça Júnior.

O principal objetivo da audiência é somar esforços para pressionar o governo federal a adotar medidas em prol da lavoura. A dívida histórica dos produtores com o Banco do Brasil é de cerca de R$ 1 bilhão, e já se tornou impagável, principalmente após as chuvas que castigaram o sul e extremo-sul do estado entre o final de 2021 e o começo de 2022.

“A maior parte dessa dívida foi contraída a partir de orientações equivocadas da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) para o combate à vassoura-de-bruxa. Ou seja, o produtor não teve culpa. Para que a lavoura de cacau na Bahia possa voltar a ser pujante, é preciso não só que haja o perdão desse débito e a liberação de novas linhas de crédito. As chuvas só fizeram piorar a situação”, explicou o presidente do PDT de Itabuna, o médico Edson Dantas.

SELO VERDE

A audiência vai debater ainda o projeto do Selo Verde Cacau Cabruca, que já passou na Câmara, no Senado e retornou para apreciação dos deputados. O objetivo é conferir um selo sustentável de qualidade para atestar que os produtores preservam a Mata Atlântica do sul do estado, bem como a legislação trabalhista, assegurando empréstimos com juros mais baratos e outros benefícios. O texto é de autoria de Félix Mendonça Júnior.

“A lavoura de cacau é hoje ocupada, em sua maioria, por pequenos e médios produtores. Acabou aquela coisa de grandes fazendas, como se lia nos livros de Jorge Amado. A reforma agrária já foi feita naturalmente na cacauicultura baiana, que preserva a Mata Atlântica, é ecologicamente correta no modelo cabruca. Por isso que esses pequenos e sustentáveis produtores precisam de incentivos”, disse o deputado.

65 ANOS DA CEPLAC

Outro tema que será debatido é a revitalização da Ceplac, que completa 65 anos no próximo dia 20. Tramita na Câmara um projeto de indicação de Félix que propõe ao governo a criação da Embrapa Cacau, incorporando a estrutura da Ceplac, inclusive a mão de obra e o corpo de pesquisa. “Não podemos deixar que o conhecimento acumulado por essa estrutura se perca. E a Embrapa é forte, reconhecida internacionalmente, a vai colaborar para que novas pesquisas de aperfeiçoamento da lavoura sejam feitas”, concluiu Félix.

Vice-governador João Leão mira autossuficiência da cacauicultura baiana
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A região oeste da Bahia e o Piemonte do Paraguaçu devem se tornar as novas fronteiras da cacauicultura baiana, na opinião do vice-governador João Leão, secretário do Planejamento do Estado. Com o apoio de técnicos da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), Leão mapeia as regiões aptas para o plantio de cacau com irrigação, dentro da Agenda Territorial de Desenvolvimento (AGTER) da Seplan.

“O Brasil é o sétimo produtor mundial de cacau. De acordo com dados do IBGE, a safra de 2020 atingiu 269 mil toneladas (t). De acordo com a Secretaria de Agricultura do Estado (Seagri), a Bahia é o segundo maiory produtor da cultura no país com 107 mil toneladas, já o Pará fica em primeiro lugar (144 mil t). A Bahia possui uma área plantada de cacau de aproximadamente 450 mil hectares e cerca de 70% desta área é cultivada por meio do sistema Cabruca. No estado há aproximadamente 45 mil produtores de cacau. Mesmo com este cenário de crescimento, a Bahia tem ainda uma deficiência de mais de 70% em relação ao cacau que é produzido, tendo que importar amêndoas do Pará e de países da África e Ásia. Queremos mudar este cenário”, afirma Leão.

Mudas de cacaueiro em estufa de fazenda no oeste da Bahia

De acordo com o vice-governador, além da produção consolidada na região sul da Bahia, o oeste será um novo polo, por meio do projeto de expansão desta fronteira da cacauicultura. Hoje, revela o gestor da Seplan, já há produção em Riachão das Neves, com o Grupo Schmidt Agrícola, Tamafe Tecnologia, a TFR Consultoria Agrícola, que estão implantando o projeto da BioBrasil, com um viveiro que já possui 120 mil mudas que vai fomentar a produção na região.

Outra referência nestas novas fronteiras agrícolas do cacau baiano, a Fazenda Santa Colomba, no município de Cocos, estima uma primeira safra com produtividade acima de 170 arrobas por hectare. O empreendimento possui 200 ha de cacau plantados e gera cerca de mil empregos.

Ceplac terá investimento de R$ 4,7 milhões em pesquisa
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A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) inauguraram uma Unidade Mista de Pesquisa e Inovação (UMIPI) do Cacau em Ilhéus. A promessa é de investimento de R$ 4,7 milhões em quatro linhas de pesquisa, além de transferência de tecnologia entre as instituições.

O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, disse que a nova unidade de pesquisa é um “marco histórico” para a recuperação da produção cacaueira, trazendo “uma nova carga de energia para o produtor de cacau”.

Uma das linhas de pesquisa da UMIPI será voltada para caracterização, avaliação e conservação de recursos genéticos do cacau com eficiência e economicidade. A Ceplac reúne mais de 4.549 acessos a germoplasma, distribuídos em quatro coleções.

O diretor da Ceplac, Waldeck Araújo, explica que apesar de ocupar posição de destaque, estudos apontam que essas coleções conservam apenas 20% da variabilidade existente na região amazônica brasileira.

Outro tema a ser pesquisado é em relação ao melhoramento genético da espécie a partir de clones de cacaueiros com resistência a pragas como a monilíase e a vassoura de bruxa. O fungo Moniliophthora perniciosa (conhecido como vassoura de bruxa), uma das mais sérias doenças do cacaueiro nas Américas, dizimou produções inteiras no final da década de 1980 no Brasil.

Por muito tempo restrito à região amazônica, na qual sempre deixou rastro de grandes perdas na produção cacaueira, o fungo chegou à Bahia, em 1989, a principal região produtora do país à época. Com a dispersão da doença, o Brasil perdeu 75% da produção de cacau (de 400 mil toneladas para 100 mil toneladas por ano).

SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS

A atuação da UMIPI perpassa também na busca por soluções tecnológicas para o controle dessas pragas, segundo Waldeck Araújo. “Com a chegada da vassoura de bruxa na Bahia, a cacauicultura tornou-se dependente de tecnologias para o seu controle, impulsionando as pesquisas fitopatológicas e as interações desta com as diversas áreas visando os controles cultural, químico, biológico e genético”.

Para o presidente da Embrapa, Celso Moretti, a aliança entre as instituições e as linhas de pesquisa permitirão avanço consistente da cultura do cacau no país. “A forma de Unidade Mista de Inovação e Pesquisa é inovadora, criativa e moderna para avançarmos em temas caros à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação da agricultura brasileira”.

O secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Mapa, Fernando Camargo, ressalta que o Brasil tem uma característica única no mundo em relação ao cacau. O país é representativo de atividades em toda a cadeia cacaueira: produz a semente, processa o cacau, fabrica chocolate, exporta cacau e chocolate, além de ter o público consumidor interno.

FASE DE RECUPERAÇÃO 

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a cacauicultura no Brasil vive uma fase de recuperação e perspectiva de aumentar a produção em 60 mil toneladas nos próximos quatro anos. O Brasil já foi o 2º maior produtor mundial de cacau, e, atualmente, ocupa a 7ª posição, atrás de Costa do Marfim, Gana, Equador, Camarões, Nigéria e Indonésia.

A produção anual, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é estimada em 250 mil toneladas, sendo que o Pará figura como maior estado produtor com aproximadamente 129 mil toneladas por ano.

A Bahia aparece na sequência, com 113 mil toneladas. Além de produtor de cacau, o Brasil é o 5º maior produtor de chocolate do mundo. O ranking é o mesmo quando se fala em consumo da iguaria, que faz parte do dia a dia do brasileiro. Toda essa indústria é responsável por 300 mil empregos diretos.

Distribuição de mudas beneficia agricultores familiares de Itacaré
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Agricultores familiares de Itacaré foram beneficiados com a distribuição, pela Secretaria Municipal de Agricultura, de 10 mil mudas de cacau estaqueado. A distribuição, feita pela Prefeitura, integra parceria firmada pelo município com Governo do Estado, via Superintendência da Agricultura Familiar e Biofábrica da Bahia. Segundo o município, o objetivo é fortalecer a agricultura familiar e a geração de emprego e renda no campo.

A ação beneficia, segundo a Secretaria de Agricultura de Itacaré, cerca de 200 agricultores familiares do município cadastrados. O prefeito de Itacaré, Antônio de Anízio, falou da importância da distribuição das mudas, que servirão para incrementar ainda a produção dos pequenos agricultores familiares, garantindo mais fonte de renda e uma melhor qualidade de vida no campo. As novas mudas, segundo o prefeito, fazem parte do trabalho de incentivo à agricultura familiar que vem sendo desenvolvido em todo o município.

O secretário de Agricultura e Pesca, Luís Fabiano Santana, adiantou que a Seagripesca criou um viveiro com 96 metros quadrados na sede da Secretaria, no distrito de Taboquinhas, para recepcionar mudas de cacau e diversas outras culturas e depois fazer as entregas aos agricultores familiares. “É importante essa parceria com a Biofábrica e a SDR, pois estamos criando novas alternativas de cultivo e diversificação, levando essas mudas para os agricultores, melhorando cada vez mais a produção”, complementou o secretário.

Valderico diz que prefeito precisa liderar defesa dos produtores
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O candidato a prefeito de Ilhéus, Valderico Junior, afirmou que é obrigação da prefeitura “liderar regionalmente o processo político de redenção do cacau”.  O prefeiturável avaliou o peso das prefeituras nesse processo em um vídeo divulgado em redes sociais.

Há décadas, disse Junior, os cacauicultores carregam nos ombros “o peso de uma dívida ilegítima, que é de responsabilidade do governo”. Ele explica que essa responsabilidade não é dos produtores, porque os empréstimos para a recuperação da lavoura foram contraídos com base numa orientação técnica equivocada do poder público.

“Sem uma liderança regional efetivamente comprometida, os produtores ficaram sozinhos. Nós faremos diferente. Vamos trabalhar desde o primeiro dia da nossa gestão para unir toda a nossa região. Eu tenho certeza de que, juntos, vamos conseguir a redenção da economia cacaueira”, disse Valderico.

Segundo o professor Dorival Filho, candidato a vice-prefeito também pelo DEM, a renegociação da dívida dos cacauicultores vai criar as condições para que eles possam investir na modernização da lavoura. “Porque já existe tecnologia para multiplicar a produção de cacau em nossa região”, justifica.

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Para Canavieiras convergiam homens de negócios de parte do sul e todo o extremo sul baiano em busca da solução de pendências com as coletorias estadual e federal, fechar contratos de financiamento com o Banco do Brasil até a abertura da agência de Caravelas.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Tema da live do segundo dia da segunda exposição do grupo Apaixonados por Canavieiras, “Uma lavoura chamada Cacauicultura” é um título que poderíamos trocar para a expressão “Uma tomografia de Canavieiras”. Nenhuma cidade do sul da Bahia e das regiões cacaueiras do Brasil está mais ligada à cacauicultura do que Canavieiras. Deve ter sido impregnada pelo visgo cacau.

Desde 1746, quando o franco-suíço Louis Frederic Warneaux entregou a Antônio Dias Ribeiro as primeiras sementes de cacau, providencialmente plantadas na fazenda Cubículo, às margens do Rio Pardo, Canavieiras tomou novo rumo em sua economia. Aos poucos, parte das lavouras de subsistência e a cana-de-açúcar foram sendo substituídas pelos frutos de ouro que encantou os astecas, a ponto de suas sementes serem utilizadas como moeda.

Definitivamente, Canavieiras não foi mais a mesma, e aos poucos chegou à condição de “Princesinha do Sul” rivalizando com cidades do porte de Ilhéus, a quem pertenceu, alcançando a independência administrativa em 13 de dezembro de 1832. A partir daí ostentou a condição de Vila Imperial de Canavieiras, ato culminado em 17 de novembro de 1833, com a instalação da Câmara Municipal e escolha dos sete conselheiros (vereadores).

Mas a condição de vila, mesmo imperial, não condizia com a importância de Canavieiras – cuja economia se destacava no cenário regional, estadual e nacional –, embora poder político, orçamentário e financeiro dependesse das decisões do Senado Baiano. Era chegada a hora de se emancipar, ganhar a condição de gerir a vida do seu povo, os desbravadores de várias etnias e de diversos países aqui fincaram raízes como nos mostram os nomes de família.

Finalmente, em 25 de maio de 1891, o governador do Estado da Bahia, José Gonçalves da Silva, eleva a Vila Imperial de Canavieiras à condição de cidade. À época, a economia da Princesinha do Sul fervilhava com os garimpos do Salobro e a lendária Lagoa Dourada, onde a paixão dos garimpeiros era bamburrar num veio de diamantes e se tornar milionário da noite pro dia.

Se essas incertas oportunidades faiscavam aos olhos do garimpeiro daquela época, era apenas um possível promissor investimento dos coronéis do cacau, acostumados a plantar e colher os frutos de ouro. Ganhava-se aqui, investia-se aqui, na abertura de novas roças, na construção do magnífico casario, monumentos que nos remetem às lembranças de uma economia pujante no passado: a economia cacaueira.

Era o cacau quem movimentava o porto grande com a chegada dos grandes navios que levariam o nosso cacau para o mundo afora. Se Canavieiras vendia o cacau, comprava o mais granfino vestuário vindo do Rio de Janeiro, São Paulo e Paris, as mais finas bebidas, os coronéis frequentavam os melhores bares e leiterias, as melhores festas e os mais luxuosos lupanares.

Para Canavieiras convergiam homens de negócios de parte do sul e todo o extremo sul baiano em busca da solução de pendências com as coletorias estadual e federal, fechar contratos de financiamento com o Banco do Brasil até a abertura da agência de Caravelas. Canavieiras se dava ao luxo de possuir as melhores terras beirando o rio Pardo, próprias para o cacau, e seu município entrava léguas adentro chegando à distante Itapetinga.

Principal matriz econômica de Canavieiras, o cacau era e ainda é uma mercadoria com liquidez imediata e, a depender do cacauicultor, pago na flor, antes da colheita. Com simples 100 arrobas do produto comprava-se uma bela camionete F-100. Como não há bem que sempre dure e mal que nunca se acabe, após mais de dois anos de seca foram descobertos os primeiros focos da vassoura de bruxa na Bahia. Estávamos no ano de 1989.

A desolação toma conta do Sul da Bahia com a vertiginosa queda de produção, que em algumas fazendas chegou a zero; o desemprego e o inchamento de cidades; a miséria vista a olhos nus. Os ricos empobreceram e muitos dos que não resistiram ao golpe morreram – alguns tirando a própria vida. O caos chegou sem que ninguém esperasse ou tivesse tempo de se defender.

Mas o cacauicultor demonstrou que não é homem de se entregar e foi em busca de recuperar seu patrimônio. Com a ajuda dos pesquisadores e extensionistas da Ceplac conseguiram identificar, nas próprias fazendas, plantas tolerantes à vassoura de bruxa e de alta produtividade. Cruzamentos genéticos foram experimentados e o novo cacau floresceu, muitos pagos a preços superiores aos comuns. Hoje, o cacauicultor não mais produz uma simples commoditie e sim cacau fino, chocolate.

Com as graças de São Boaventura, Canavieiras e a cacauicultura continuarão juntas, sempre unidas pelo visgo do cacau.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Equipe da LGE pesquisa as causas da vassoura-de-bruxa há 20 anos || Antonio Scarpinetti

Manuel Alves Filho || JUnicamp
No final da década de 1980, o Brasil era o segundo maior produtor mundial de cacau. O país colhia cerca de 400 mil toneladas do fruto ao ano. O excelente desempenho da cacauicultura brasileira, porém, foi duramente afetado nos anos seguintes por causa da ação de uma doença denominada vassoura-de-bruxa, causada pelo fungo de nome Moniliophtora perniciosa, que devastou inúmeras plantações. Atualmente, a safra nacional do produto gira em torno de 180 mil toneladas anuais, sendo que chegou a 120 mil toneladas no final dos anos 1990.
Desde que a vassoura-de-bruxa foi identificada, pesquisadores do Laboratório de Genômica e Expressão (LGE) do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp vêm desenvolvendo diversos estudos para tentar descobrir como o fungo atua, com o objetivo de combatê-lo. Recentemente, os cientistas deram um importante passo nessa direção. Eles descobriram um mecanismo usado pelo micro-organismo para “driblar” o sistema imune de planta, e assim infectá-la. O trabalho rendeu artigo que acaba de ser publicado pela prestigiada revista Current Biology, um selo da editora Cell Press da Elsevier.
De acordo com o professor Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, coordenador do LGE, a descoberta é resultado de quase 20 anos de pesquisas e da dedicação de centenas de alunos ao longo desse período, desde a iniciação científica até o pós-doutorado. “Tivemos um grande sucesso nessa empreitada. Descrevemos a vassoura-de-bruxa em detalhes e identificamos as vias metabólicas envolvidas na estratégia de ação do fungo. Também desenvolvemos métodos de manejo das plantas, em parceria com os produtores. Apesar desses avanços, ainda não conseguimos chegar a um produto ou processo que possa eliminar o micro-organismo. A partir de agora, com a identificação do mecanismo de ação do patógeno, estou convencido de que poderemos obter novos progressos”, considera o docente.
O que os pesquisadores do LGE descobriram é que o Moniliophtora perniciosa é bastante astuto e insidioso. Ele se vale de uma estratégia incomum para enganar o sistema imune da planta, como explica o biólogo Paulo José Pereira Lima Teixeira, que pesquisou o assunto em sua tese de doutorado. Atualmente, ele é pesquisador do Howard Hughes Medical Institute (HHMI), da Universidade da Carolina do Norte (EUA), e no próximo ano vai assumir a posição de professor assistente na ESALQ-USP. Dito de maneira simplificada, o mecanismo de ação do fungo funciona da seguinte forma. Micro-organismo e a planta estabelecem o que os especialistas qualificam de “frente de batalha”.Leia Mais

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No sul da Bahia, Álvaro Dias participará de eventos do mandato e da pré-candidatura à Presidência

Produtores rurais e lideranças empresariais sul-baianas reúnem-se com o senador e presidenciável Álvaro Dias, na próxima sexta (4), no auditório do Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec), na Rodovia Ilhéus-Itabuna, para discutir pontos como revitalização da economia sul-baiana, situação dos cacauicultores e preservação da Ceplac. O encontro está previsto para as 14h.
Além do fortalecimento da Ceplac, os agricultores do sul da Bahia propõem o estímulo, o fomento e a difusão do cooperativismo e o associativismo rural. Defendem, também, a análise conjuntural da situação da cacauicultura brasileira, com destaque para o grau de endividamento da classe e a busca de novos investimentos financeiros, com vistas à revitalização da economia baiana.
Álvaro Dias é o primeiro presidenciável em 2018 a visitar o sul da Bahia. Além do encontro com produtores rurais e funcionários da Ceplac, o senador também participa de encontro regional do Podemos, na Terceira Via, na Avenida J.S. Pinheiro, a partir das 19h. Mais cedo, ele concede entrevista coletiva à imprensa.

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Audiência na Assembleia Legislativa debateu desmonte da Ceplac.
Audiência na Assembleia Legislativa debateu desmonte da Ceplac.

A crise e o desmonte institucional da Ceplac foram debatidos na Assembleia Legislativa, na manhã desta quinta-feira (6). A redução em quase 50% do orçamento para este ano, o rebaixamento institucional, tornando o órgão departamento da Secretaria de Mobilidade Social do Produtor Rural e Cooperativismo do Ministério da Agricultura e o enxugamento dos setores de pesquisa e extensão estão entre os problemas apontados como centrais no desmonte promovido pelo governo federal, a partir de abril de 2016.

Os assuntos foram debatidos em audiência pública proposta pelo coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista da Bahia, Marcelino Galo (PT). Ainda como causas do desmonte estão, na análise de parlamentares e ceplaqueanos, a não realização de concurso público há 30 anos. Isto, observam, contribui com o agravamento do quadro da instituição dedicada à pesquisa, assistência técnica e extensão rural da lavoura cacaueira no país, que já teve 4 mil funcionários, mas atualmente conta com 1.722 servidores, sendo que 65% já estão aptos a se aposentar.

Para o deputado Marcelino Galo, a Ceplac tem sido tratada de forma desrespeitosa por quem não compreende o papel desenvolvido pelo órgão na assistência, na pesquisa, no desenvolvimento regional e na proteção da biodiversidade do bioma Mata Atlântica, que engloba a maior parte do território Litoral sul da Bahia.

“Ouvimos relatos de pessoas que se empenharam e contribuíram ao longo de sua vida com a construção desse patrimônio que deve ser preservado, revitalizado e fortalecido por ser fundamental para o desenvolvimento regional da Bahia. Para além da estrutura física, a Ceplac tem o patrimônio científico, intelectual e cultural que tem que ser preservado e potencializado”, disse o deputado Marcelino Galo.Leia Mais