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Enquanto isso, em meio ao alto índice de infecções e óbitos, o ‘luto’ vai se tornando verbo, uma luta árdua vivida pela sociedade brasileira.

Lucas França || jornalistalucasfranca@gmail.com 

Um ano após o primeiro caso de Covid-19, o país registra mais de 268 mil mortos e vive o pior momento da pandemia. O sistema de saúde colapsando e na maioria das cidades brasileiras, governadores e prefeitos, com exceções, fazendo o que podem para conter a tragédia da impossibilidade de atendimentos nos casos de internação, agravamento e UTI.

Em todo o país, uma onda de revolta, protesto e insurreição. Empresários e manifestantes começam a se rebelar contra as medidas restritivas, e surgem convites para manifestações contra governadores e prefeitos e as medidas de toque recolher (lockdown) e demais restrições impostas.

Durante os protestos, se quer mencionam a pandemia, o colapso na saúde, os índices de contágio e mortes, e tampouco a falta de vacina para imunizar mais de 210 milhões de brasileiros. Empresários acusam governadores e prefeitos de falirem suas empresas, e de serem os responsáveis por demissões.

Cada categoria afirma que o seu setor não é responsável pelo crescimento do contágio. Fechar o comércio não é solução. Fechar bares, restaurantes, academias não é solução. A questão hoje no Brasil, no entanto, não é ouvir o que não é a solução, mas saber qual é a alternativa ao fechamento das coisas.

Em alguns estados, o número de mortes nos dois primeiros meses deste ano já supera o total de vidas perdidas no ano passado, então, qual é a medida mais eficaz para conter o vírus, as mortes e o colapso nas redes de saúde? A situação do Brasil é singular, no sentido de ser uma das piores possíveis.

Como não bastasse, até mesmo o financiamento de leitos Covid que o Governo Federal mantinha está sendo cortado drasticamente. Não há dinheiro para abrir centenas de leitos e mantê-los, e mesmo se houvesse, já há falta de profissionais de saúde disponíveis e habilitados para atuar com os infectados.

Já se ouve rumores que, se a média de agravamento dos casos se mantiver no patamar que temos visto de janeiro pra cá, a indústria farmacêutica brasileira pode não ser capaz de produzir medicamentos sedativos suficientes para os entubados nas Unidades de Terapia Intensiva.

Diante da perplexidade efusiva, qual é, quais são as medidas propostas por quem acusa governadores e prefeitos por medidas de restrição? O que deve ser feito? Esperar o vírus se alastrar? Ver o surgimento de variantes mais severas e mais letais? Pagar para ver crescer o número de óbitos?

A imprensa, por sua vez, também vive sob uma condição crucial. Não é pequena a quantidade de brasileiros que se queixam de jornais, telejornais, rádios, sites. E então? Vamos ignorar que somos o segundo país do mundo em mortes, além de todas as dificuldades que enfrentamos?

O que assistiremos nos próximos episódios dessa ficção serão as controvérsias que tomarão as ruas, radicalizando a polarização, a politização da pandemia, a demonização dos gestores face à condução da crise e o estímulo à violência entre grupos, que veem a gestão da Covid de modos distintos entre si.

Houve um tempo em que o mundo ficou horrorizado com os mortos no campo de extermínio Dachau, na Alemanha Nazista. Se compararmos os números oficiais do campo de extermínio por gás, com o campo de extermínio de Covid no Brasil, por aqui já morreram o equivalente a oito Dachaus em apenas 1 ano.

Enquanto isso, em meio ao alto índice de infecções e óbitos, o ‘luto’ vai se tornando verbo, uma luta árdua vivida pela sociedade brasileira.

Lucas França é jornalista, publicitário e estrategista de marcas.