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valéria ettigerValéria Ettinger | lelamettinger@gmail.com

 

Assim, se você quer presentear a pessoa que considera como mãe ou dizer-lhe o quanto a ama, faça quando o seu coração mandar e não apenas no dia que alguém, muito espertamente, criou para ganhar dinheiro.

 

Poderia hoje falar do trivial, do corriqueiro e dos clichês que norteiam o Dia das Mães.

Poderia falar da mãe maravilhosa que tenho e me ensinou muitas coisas. E uma coisa muito boa que ela me apresentou foi a existência das diferenças na vida.

Poderia falar da minha relação com meu amado filho, que me impulsiona para a vida todos os dias e com toda canseira do mundo me faz sentir o quanto sou amada.

Mas, como sou um ser político, quis mudar o discurso e tentar entender para que serve o Dia das Mães e para quem ele serve.

Nos últimos tempos, tenho me questionado muito sobre esses dias festivos e, ao me deparar com tantas diferenças e tanta complexidade social que vivemos, tenho feito a seguinte pergunta: Para que generalizarmos os dias e ou especificarmos se existem tantas mães que nem sequer podem ser mães ou tem o prazer de vivenciar esse dia?

Para que festa do Dia das Mães nas escolas, se as relações familiares, hoje, são tão complexas que nem o Direito consegue mais definir o que é família?

Quantas mães no Dia das Mães estão trabalhando para outras mães e nem sequer podem estar com seus filhos?

Quantas mães abandonam seus filhos à própria sorte, porque precisam sair para trabalhar cedo e quando elas voltam eles já estão dormindo, ou foram mortos, presos e ou estão nas sarjetas da vida?

Quantas mães perdem seus empregos por se tornarem mães?

Quantas mães sofrem violências na frente dos seus filhos e muitas delas morrem deixando-os órfãos neste mundo tão individual?

Quantas mães não recebem presentes porque elas são os chefes da família e o dinheiro que têm é apenas suficiente para alimentar os seus filhos?

Será que esses questionamentos são necessários? Nos últimos meses tenho ouvido dizer tantas coisas fantasiosas das mães mulheres que me pergunto para que serve o Dia das Mães.

Serve para um consumismo desenfreado? Para fazer com que as famílias consigam se perceber em um dia do ano porque nos demais não se enxergam e nem se escutam?

Serve para aprofundar mais o fosso social que vivemos porque muitas crianças não conseguem ter suas mães por perto e nem as mães conseguem ser mães, porque a elas não é dado esse direito, pelo contrário querem piorar a sua condição?

Quem de fato são as mães dos filhos das mães que dão entre três a quatro jornadas de trabalho e não são reconhecidas enquanto mães mulheres? E muitas ainda ouvem o seguinte som: Você não faz nada…

E os homens que são pães e não são reconhecidos como tais, porque o gênero é quem define os papéis e não o afeto, que é a condição maior para o equilíbrio do ser humano?

Penso que precisamos valorizar mais as pessoas enquanto regentes da vida humana, sejam elas em que condições estejam. E não apenas lembrarmos de sua existência como um meio de beneficiar terceiros ou para cumprirmos uma agenda de satisfação social.

Assim, se você quer presentear a pessoa que considera como mãe ou dizer-lhe o quanto a ama, faça quando o seu coração mandar e não apenas no dia que alguém, muito espertamente, criou para ganhar dinheiro.
Inclusive, como fizeram aqui no Brasil, parafraseando o nome de quem já morreu…

Valéria Ettinger é mulher e mãe.

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Bárbara AndradeBárbara Maria Fagundes Andrade

O novo lugar da mulher atual acabou por deixar espaço recaindo sobre os homens para que expressem um comportamento mais participativo e envolvente nos relacionamentos afetivos e familiares, o que vem contribuindo para o surgimento de uma nova concepção de masculinidade/paternidade.

O que é ser mulher? Que aspirações tem a mulher da atualidade? Que nova mulher é essa? O que a menina, agora, quer ser quando crescer? Mãe? Uma profissional bem-conceituada? Mulher maravilha? Quem é esta nova mulher que tem conquistado os corredores sociais?

Mês passado, ao assistir o programa Saia Justa, da GNT, a fala da atriz Maria Ribeiro chamou-me a atenção, pois a mesma indagava que só haviam explicado a ela o “lado romântico da maternidade” e que a maternidade não é de toda tão romântica assim, mesmo tendo tido uma experiência única com a chegada de seu primeiro filho.

Analisando a história da mulher ao longo dos anos, percebemos as grandes transformações significativas que ocorreram no modo como elas se posicionam no mundo. Observa-se, que a mulher de outrora não é mais a mulher da atualidade, essa nova mulher já não tem mais como aspirações primordiais: a maternidade, o sonho de ter uma família, cuidar de casa…. Agora elas querem e desejam suas realizações profissionais, embora ainda existam algumas mulheres que desejam, sim, ser mãe, mas não em primeiro plano, pois acabam priorizando suas profissões, como apontam algumas pesquisas e estatísticas. O que mudou? Será que mudou?

O movimento feminista (1960), novos arranjos familiares (família nuclear, família patriarcal, família homoafetiva, monoparental, etc.), Lei do Divórcio, advento da pílula anticoncepcional, dentre tantos fatores sócio-históricos ao longo dos anos, ajudaram nesse movimento de mudança do lugar da mulher em seus meios sociais, principalmente no familiar.

Consideramos o momento atual como um momento de transição, posto que, devido às inúmeras transformações por que vêm passando as sociedades modernas neste novo século, os antigos conceitos culturais de classe, gênero, etnia, raça e sexualidade, entre outros, que antes nos forneciam nosso lugar como indivíduos estão se fragmentando, acarretando também mudanças em nossas identidades pessoais, como por exemplo, que lugar de mulher não é na cozinha ou cuidando de seus filhos.

A perda dos antigos referenciais, que marcavam as antigas identidades sociais e individuais, vem levando os indivíduos a tentar buscar novos referenciais, inclusive aqueles que dizem respeito aos papéis de gênero. Vale lembrar que gênero aqui não se trata de sexo (masculino ou feminino), e sim o que o sujeito define ser ao longo de sua vida, seria um posicionamento social. Tais papéis, que antes eram muito bem estruturados, acabaram por incorporar formas plurais e fragmentadas de identificações, que caracterizam o sujeito contemporâneo.

A cultura patriarcal teve como um de seus efeitos o distanciamento do homem da cena familiar, composta basicamente pela mãe e seus filhos. Contudo, a nova mulher, que não é mais aquela mulher do lar e sim aquela que contribui para o sustento familiar, ou mesmo aquela que deseja e aspira por uma profissão e não por um casamento, veio quebrar a hierarquia doméstica e iniciar indagações referentes à autoridade paterna. No entanto, autores como Gomes e Resende (2004), alertam que “a mudança de hábitos não acompanha o ritmo da transformação dos valores” e, por isso, podemos observar que, não apenas a identidade feminina, mas também a masculina, transitam, no momento atual, por modelos tradicionais e modernos, sem que um, necessariamente exclua o outro.

O novo lugar da mulher atual acabou por deixar espaço recaindo sobre os homens para que expressem um comportamento mais participativo e envolvente nos relacionamentos afetivos e familiares, o que vem contribuindo para o surgimento de uma nova concepção de masculinidade/paternidade.

Hoje, embora ainda seja mais difícil para as mulheres assumir cargos de maior poder e prestígio, elas estão ampliando seu campo de atuação profissional e investindo cada vez mais em uma boa formação acadêmica, tentando alcançar, com isso, maiores e melhores oportunidades no mercado de trabalho.
É frequente vermos mulheres que desempenham verdadeiros papéis de Mulher Maravilha, pois estas, além de serem mães, são profissionais bem conceituadas, esposas/namoradas, amigas, filhas, líderes e por aí vai. Esta mulher da atualidade já não quer somente ser do lar quando crescer. Elas querem, sim, ser quem elas quiserem ser, “simplesmente mulher”.

Bárbara Maria Fagundes Andrade é psicóloga e especialista pela UFBA em Formação de Operadores do Sistema de Atendimento Socioeducativo.

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IMG-20170115-WA0051Maurício Maron | mauricio.maron@gmail.com
Vá em paz, amigo. Leve consigo a minha gratidão. E a imagem inesquecível do abraço que trocamos, às 5 e meia da tarde, em Ferradas, no dia 24 de dezembro de 1989.

 

Recebo com imensa tristeza a morte de Ramon Vane. Todas as vezes que nos encontrávamos, relembrávamos um episódio especial que compartilhamos secretamente, por muitos anos, em nossas vidas.

Era Natal. Enquanto minha primeira filha, ainda muito pequena, aguardava pelo Papai Noel em nossa casa, eu tocava meu plantão na TV Santa Cruz.

A primeira pauta do dia me designava para cobrir uma triste realidade da nossa gente.

Ir até a periferia da cidade e ouvir as crianças que (sobre)viveriam naquele entorno, sobre o que representava aquela data e o que esperava daquela noite.

Conheci Jorge, sugestivamente morador de Ferradas.

Ao entrevistá-lo, eu cheio de dedos para não aumentar ainda mais a ferida que a vida lhe proporcionara, ouvi de uma criança de não mais de seis anos, uma frase que jamais consegui esquecer.

“Nunca vi Papai Noel, acho que ele não sabe o endereço daqui de casa. Queria muito uma bicicleta. Até tenho a sensação de que esse ano ele vem”.

Voltei para a redação com a sensação de culpa por ter reavivado um sentimento tão profundo numa criança, sabendo que, à noite, a realidade certamente não chegaria. Ouvia a todo instante a frase repetida na minha alma. E tomei uma decisão.

Na retomada das pautas, no turno da tarde, decidi me dirigir à residência do empresário Helenilson Chaves, então dono da emissora, e tentar uma conversa para ele.

(Aqui um parêntese: tenho uma admiração profunda por esta pessoa e ele sempre me tratou com um carinho especial enquanto estive na empresa dele.)

Mesmo estando recebendo, naquele momento, uma importante autoridade federal, ele não me negou a audiência.

Expliquei o que tinha se passado pela manhã.

Ele olhou nos meus olhos e me perguntou: você tem ideia de quantas crianças tem lá?

Respondi: umas cem. Rs

Ele pegou um pedaço de papel, fez uma anotação e me entregou. Era uma autorização para ir até uma loja de brinquedos e pegar bonecas e bolas e, claro, a bicicleta de Jorge, e fazer a entrega àquelas crianças sedentas por um gesto de carinho e de respeito. Todas seriam presenteadas.

Me pediu apenas uma coisa: que não revelasse quem assumiu financeiramente a iniciativa.

(Neste momento, peço a ele para quebrar um silêncio de mais de 25 anos, para justificar esta homenagem que faço a Ramon Vane.)

De posse dos brinquedos, um dilema. Quem seria Papai Noel que tivesse o endereço daquela comunidade tão esquecida?

Não pensei duas vezes. Um telefonema foi suficiente para convencer Ramon. Em menos de 15 minutos ele já estava na emissora, com uma roupa de bom velhinho “tamanho duplo” onde caberiam dois dele, com a determinação que o que mais importava naquele momento não era o estético, era ver um sorriso nos rostos sofridos dos esquecidos pelo sistema.

E assim terminamos o nosso dia. Entregando bonecas, bolas e bicicleta.

Oferecendo o bem-querer, alimentando almas de novos sonhos.

Obrigado, Ramon Vane, por me proporcionar um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida.

Obrigado pelo abraço que trocamos silenciosamente naquele dia de natal.

Obrigado por me permitir chegar feliz em casa e, mesmo encontrando minha pequena dormindo ainda sem a chegada de Papai Noel, sorrir e acreditar que, ao encontro com pessoas como você, a gente pode acreditar num mundo melhor.

Vá em paz, amigo. Leve consigo a minha gratidão. E a imagem inesquecível do abraço que trocamos, às 5 e meia da tarde, em Ferradas, no dia 24 de dezembro de 1989.

Maurício Maron é jornalista e editor do Jornal Bahia Online.

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rosivaldo-pinheiroRosivaldo Pinheiro | rpmvida@yahoo.com.br

 

Foquemos na prática do bem e lutemos a partir dos nossos lares por uma cidade e um país melhores. Não nos deixemos cair em tentação e sigamos na busca por ciclos que nos façam cidadãos e cidadãs com maior inserção no mundo das coisas positivas.

 

O ano está terminando e com ele vem a certeza da realização de alguns planos, o registro de alguns nascimentos, a não realização de objetivos traçados e a despedida de pessoas importantes para a nossa comunhão. São os ciclos da vida…

Além deles, os ciclos da vida em comunidade: o nosso país e a clara realidade de classes jurídica e política envoltas em um tsunami de problemas, a corrupção e a teia de interesses ramificada nos mais altos escalões e estruturas de decisões. Ciclos da ganância.

Assistimos ao perdão de dívidas de grandes empresários. A fixação de teto para despesas com saúde, educação e seguridade social, reforma da previdência e leis trabalhistas. Ciclos do capital.

Estamos vivendo um momento que nos impacta diante das centenas de narrativas que nos deixam boquiabertos ao percebermos quanto de dinheiro é surrupiado dos serviços essenciais. São tantos os casos que já não conseguimos reagir com tenacidade, nos sentimos fracos, oprimidos e incrédulos. Ciclos do silêncio.

Um novo ano bate à nossa porta… Esperamos que sejam estabelecidos novos paradigmas e que nossas vidas melhorem. Precisamos continuar nossas lutas, vencer os desafios que aparecerão no caminho e estabelecer objetivos novos. Manter a fé na vida e no que virá será o que nos fortalecerá no percurso da vida. Ciclos da existência.

Foquemos na prática do bem e lutemos a partir dos nossos lares por uma cidade e um país melhores. Não nos deixemos cair em tentação e sigamos na busca por ciclos que nos façam cidadãos e cidadãs com maior inserção no mundo das coisas positivas.

Feliz Ciclo Novo!

Rosivaldo Pinheiro é economista e especialista em Planejamento de Cidades pela Uesc.

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rpmRosivaldo Pinheiro | rpmvida@yahoo.com.br

 

A grande maioria das vítimas é jovem, negra e vive nas periferias, sinalizando ao estado brasileiro necessidade de fazer investimento na geração de oportunidades para esse segmento da população.

 

Estamos experimentando um momento difícil da convivência humana, que não é um comportamento restrito ao nosso país. A intolerância tem sido manifestada mundo afora, basta uma rápida vasculhada na programação dos canais televisivos e radiofônicos ou uma rápida passagem na internet e nos impressos para percebermos o quanto de agressividade o ser humano tem produzido em todo o planeta.

O animal humano se diferencia dos demais pelo uso da racionalidade, mas parece que abriu mão desta ao agir de maneiras que nos rebaixam às últimas posições da cadeia alimentar, causando danos irreversíveis ao habitat e degeneração da nossa própria espécie. O ódio manifestado por alguns pode ser medido a partir das reações a simples opiniões postadas nas redes sociais, no confronto das torcidas opostas após grandes clássicos de futebol, das contradições e ataques oriundos do posicionamento político-ideológico, religião ou diferença de gênero.

Essa baixa na qualidade das atitudes humanas vai de encontro ao avanço do conhecimento e da própria expansão socioeconômica e tecnológica no pós-globalização. Esperava-se que o advento das aproximações culturais e a quebra das fronteiras físicas dos países possibilitassem uma nova roupagem na organização do homem. No entanto, por questões de intolerância, estamos assistindo um comportamento que nos redireciona à barbárie.

No Brasil, a face da violência pode ser melhor percebida observando os números de mortes por arma de fogo: foram mais de 45 mil mortes em 2014, segundo o levantamento feito neste ano (Mapa da Violência, Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), que também aponta que esse número tem crescido a cada ano. Nenhum conflito bélico hoje tem esse grau de letalidade. A grande maioria das vítimas é jovem, negra e vive nas periferias, sinalizando ao estado brasileiro necessidade de fazer investimento na geração de oportunidades para esse segmento da população, além de melhoria na legislação e investimentos na estrutura policial para o enfrentamento desse fenômeno que nos envergonha enquanto sociedade. Não podemos assistir passivamente, achando que não seremos atingidos.

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Rosivaldo PinheiroRosivaldo Pinheiro

 

Precisamos disciplinar nossas rotinas para não nos isolarmos do mundo no aspecto das trocas de convivência, limitando nossa interação por conta do excesso de contato feito unicamente pelas redes sociais.

 

As tecnologias do mundo moderno criaram facilidades, tais como agilidade, proximidade e ampliação do leque de possibilidades profissionais, mas também possibilitaram diversos males. Num clique podemos destruir vidas; num impulso, permitimos invasões de privacidade, invadimos e nos expomos às vulnerabilidades do excesso de disponibilidade e de informações no espaço virtual.

Nos tempos em que eu iniciava a vida executiva, não existiam os mecanismos de hoje e por isso existia uma delimitação melhor de vida pessoal, trabalho e respeito aos mundos de cada indivíduo. O dia de trabalho geralmente terminava no local de trabalho, com exceções, obviamente. Mas não era regra, como corriqueiramente ocorre hoje, a extensão do horário e ambiente de trabalho nas residências, nos horários de folga.

Para além da liberdade proporcionada pela simultaneidade entre execução de tarefas e locomoção e agilidade nos feedbacks, os smartphones também roubam a atenção do que deveria ser prioridade, tais como o olho no olho, o tempo livre de preocupações para desacelerarmos a rotina e fazermos reflexões sobre nós mesmos e nossa estada no mundo… Atrapalham até quando o nível de amizade é medido pelo termômetro do tempo que levamos para responder uma mensagem no WhatsApp após visualizá-la.

Vivemos um novo tempo, novos paradigmas, e precisamos entender ou nos esforçar para proceder a adaptações a esse momento da vida em sociedade. Precisamos disciplinar nossas rotinas para não nos isolarmos do mundo no aspecto das trocas de convivência, limitando nossa interação por conta do excesso de contato feito unicamente pelas redes sociais.

Nada substitui o calor humano de um abraço, o olhar nos olhos e a sinergia da solidariedade presencial. Vivamos os benefícios da tecnologia sem nos esquecer de que ela foi pensada para nos propiciar soluções, e não para nos ambientar ao isolamento das emoções e nos transformar em consumidores compulsivos dos ambientes virtuais. Não nos esqueçamos de que todos os indivíduos têm e precisam do recolhimento familiar, do aconchego da casa e da necessidade de praticar o ócio, criativo ou não.

Rosivaldo Pinheiro é economista e especialista em planejamento e gestão de cidades.

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Cel artigo 2016Celina Santos | celinasantos2@gmail.com

 

Há casos de quem não consiga separar-se do celular sequer para ir ao banheiro. Duas ou mais pessoas chegam a conversar pelo “Whats” estando numa mesma casa.

 

O bloqueio do WhatsApp durante 24 horas esta semana – um terço do tempo inicialmente determinado pela Justiça – levanta uma série de questões para serem pensadas pelos 100 milhões de usuários do aplicativo no Brasil. A primeira diz respeito ao comportamento das pessoas diante das redes sociais, sendo o “zap” (como é carinhosamente apelidado) o mais usado.

Por mais que se reconheçam as vantagens de uma comunicação instantânea, nessa era da velocidade, e o uso do programa até para fins profissionais, é impossível negar que muitos estejam nutrindo certa dependência. A ponto de, muitas vezes, deixarem de perceber o ambiente real em volta, para alimentar primeiro as relações virtuais.

É possível conviver com gente já incapaz de travar um diálogo “cara a cara” por cinco minutos, sem abaixar as vistas para olhar o celular – leia-se WhatsApp. Também se tornou comum ver grupos de amigos (e até casais!) reunidos em bares e restaurantes, estando cada um em seu respectivo aparelho telefônico. Tem, ainda, os encontros – e reencontros – presenciais em que a maior parte do tempo é consumida na postagem de fotos nas redes.

Há os casos de quem não consiga separar-se do celular sequer para ir ao banheiro. Outra estranha, mas frequente rotina: Duas ou mais pessoas chegam a conversar pelo “Whats” estando numa mesma casa. Sem falar, já que o assunto é a residência, no quanto as famílias deixam de bater papo e de “compartilhar” a vida no sentido não virtual da palavra.

São muitos os exemplos que poderiam traduzir uma nociva realidade envolvendo todos nós: existe uma legião de presentes-ausentes. Estamos tratando de uma multidão solitária, pois há um embarque no mundo virtual, muitas vezes em detrimento do real. A manhã que prenunciou a “despedida” temporária do WhatsApp refletiu o desespero de usuários que se diziam viciados no aplicativo. Certamente foi um dia que pareceu mais longo para a maioria dos citados 100 milhões.

Resta saber qual é o caminho de volta, quando o sujeito se der conta de que tem deixado o tempo passar estando um tanto anestesiado diante da tela touch screen do smartphone. O episódio da segunda suspensão do “zap” merece uma ponderação sobre a forma como lidamos com as redes. Ou se, ao contrário, estamos sendo apenas “pescados” por elas, sem a autonomia apontada como trunfo do internauta desde que a web se popularizou.

Uma ressalva: para além do comportamento, é mesmo inadmissível que a empresa se negue a contribuir com investigações de crimes que utilizam o WhatsApp como instrumento. Obviamente, a privacidade dos usuários precisa ser preservada – mas a exceção é mais do que legítima se tal pessoa estiver se valendo dessa tecnologia para afetar a coletividade. No caso do crime em questão – o tráfico de drogas –, todos sabem o quanto ele alimenta a violência, evidente no alto índice de assassinatos Brasil afora.

 

Celina Santos é pós-graduada em Jornalismo e Mídia e Chefe de Redação do Diário Bahia.

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Daniela Borges psicólogaDaniela Borges

Todos nós precisamos de um pouco de estresse para funcionar. O problema é quando ele se torna excessivo ou prolongado, resultando em baixa imunidade e dificuldade do organismo em lutar contra doenças, tornando o indivíduo vulnerável.

 

O estresse surge da necessidade do corpo de se adaptar a situações de tensão, desencadeando componentes psicológicos, físicos e hormonais. É a tentativa do corpo de restabelecer o equilíbrio diante do evento estressor.

Ele pode ser positivo quando nos ajuda a atingir metas e objetivos, quando nos impulsiona à ação e nos tira da zona de conforto. Torna-se negativo em situações em que o indivíduo permanece “ligado” por muito tempo, sem desfrutar dos momentos de lazer, incapaz de relaxar mesmo após ter vencido seus desafios, trazendo dano à qualidade de vida, podendo resultar no adoecimento.

O que determina o bom enfrentamento do estresse é a nossa capacidade de resiliência, de lidar com os eventos estressores e retornar ao estado inicial de relaxamento.  O quanto algo é estressante depende da maneira pela qual o indivíduo interpreta as situações e as estratégias que dispõe para lidar com o evento estressor.

Alguns acontecimentos considerados positivos também podem ser geradores de estresse, a exemplo do nascimento de um filho, o casamento, o ingresso na universidade, uma promoção no trabalho, pois todos estes fatos exigem adaptação e uma reorganização de vida.

Confira alguns sintomas que são indicativos de estresse:

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michelle costa soaresMichelle Costa Soares | michellecsoares@yahoo.com.br

 

Os pais e professores são os primeiros a identificar dificuldades no processo de aprendizagem da criança. Então, é importante que seja dado um olhar diferenciado para quaisquer alterações.

 

A aprendizagem é um processo interno e pessoal e para que ela ocorra são necessários alguns fatores como desejo, atenção, organização e elaboração dos conteúdos adquiridos. Em meio ao excesso de informações, muitas crianças têm sentido dificuldade em filtrar aquelas necessárias para a aprendizagem, gerando sensível atraso no desenvolvimento de funções cognitivas necessárias para a aquisição de novos conhecimentos.

Algumas dificuldades no processo de aprender nem sempre têm relação com alterações neurológicas, mas é preciso estar atento aos marcos de aquisição de determinadas aprendizagens. É esperado que aos 2 anos uma criança já esteja conseguindo se comunicar por meio da linguagem oral e da mesma forma é esperado que aos 7 anos ela consiga fazer a representação da linguagem através da escrita.

Quando este caminhar das aprendizagens não vai bem, é preciso avaliar de onde surgem tais alterações. Elas podem ter relação com fatores sociais, educacionais, emocionais e orgânicos. Uma criança, para desenvolver-se bem, precisa de estímulos e um ambiente propício a aprendizagens.

Há sempre a queixa de crianças que não param, não aprendem, não obedecem e vivem a mil por hora, mas o que de fato pode levar ao diagnóstico de uma alteração do funcionamento neurológico, como um déficit de atenção/hiperatividade e a dislexia ou simplesmente uma alteração de comportamento em função de dificuldades em estruturar a rotina da criança?

Em primeiro lugar, é importante observar como foi o desenvolvimento na aquisição das aprendizagens. A criança sempre foi agitada? Desde pequena é uma criança que não observa mudanças no ambiente? tem dificuldade para iniciar e concluir propostas e/ou apresenta dificuldades relacionadas a aprendizagem? Tem dificuldades para lembrar fatos do seu dia, nomes, soletrar o alfabeto, faz trocas na fala ou escrita?

Os pais e professores são os primeiros a identificar dificuldades no processo de aprendizagem da criança. Então, é importante que seja dado um olhar diferenciado para quaisquer alterações. Procurar um profissional especializado nesta área irá garantir uma prevenção de dificuldades futuras, assim como um diagnóstico e intervenção precoce para a melhoria dos sintomas.

Michelle Costa Soares é psicopedagoga e especialista em neuropsicologia.

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Felipe-de-PaulaFelipe de Paula | felipedepaula81@gmail.com

 

Algumas perguntas passaram pela minha cabeça, mas mesmo encontrando todas as respostas nenhuma poderia se comparar com a minha descoberta: – Meu professor comia acarajé!

 

Não sei se alguém já escreveu uma crônica sobre seu professor. Aliás, nem sei se isso é uma crônica. Apenas me senti tentado a escrever sobre essa figura de incrível unicidade que era o meu professor, ainda mais depois da incrível descoberta que tive na época da graduação: – Meu professor comia acarajé!

Não que o fato de comer acarajé seja algo fora do comum, mas dificilmente se imagina alguém como meu professor sentado em uma praça se deliciando com essa apimentada iguaria baiana. Aquela figura com um pequeno déficit de tecido adiposo, com os cabelos levemente escassos na testa, porém com volume na parte de trás da cabeça. Meu professor, sempre com seus óculos contornando seus olhos arregalados, sempre com camisas e calças que realçam seu “fino” porte físico. Ah! E sempre também com sua voz pausada, de fala elaborada, que em uma aula mais longa sempre provocaram sono em alguns (para não dizer todos) alunos.

Meu professor, que figura aquela! Esse homem que tinha no seu vocabulário algumas palavras do “informatiquês”. Sempre dizendo que as pessoas necessitam se “formatar”, as pessoas são “editadas”, ou até mesmo “deletadas”. Talvez, se dependesse da vontade do meu professor, uma comunidade vizinha à Universidade seria toda ela “deletada”.

Aquele meu professor que tinha mania de prever inovações do futuro, meu professor, que cheguei a imaginar que seria um androide que dava aula e em seguida era guardado no depósito da Universidade sendo acionado sempre que se fizesse necessária nova aula. Esse sujeito esfíngico que jamais imaginei ver realizando o ato de comer acarajé. Você pode achar estranha minha surpresa, mas, se você pudesse conhecer meu professor, também se espantaria com essa revelação: – Meu professor comia acarajé!

Após presenciar essa maravilhosa cena juntamente com minha então namorada, hoje esposa, ficamos os dois imaginando um pouco da vida do meu professor. Onde moraria? Com quem moraria? O que fazia para se divertir? Gostava de música? Que tipo? Essas foram algumas das perguntas que passaram pela minha cabeça, mas mesmo encontrando todas essas respostas nenhuma poderia se comparar com a minha descoberta: – Meu professor comia acarajé!

Ver aquela figura degustar seu acarajé acompanhado de uma Coca-Cola (obs.: Ele até arrotou quando bebeu!!!!) foi um momento que eu sabia que ficaria – e ficou – em minha memória por um longo tempo.

Mas não faça uma imagem ruim do meu professor. Ele pode ser diferente, mas é boa pessoa. Porém, sei que ainda chegará o dia em que revelarei uma grande história à minha filha: – O meu professor comia acarajé.

Felipe de Paula é professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).

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Manu BerbertManuela Berbert | manuelaberbert@yahoo.com.br

 

Colocar a violência contra a mulher em discussão não é punir o homem em si. Muito pelo contrário. É orientá-lo sobre sentimentos como o respeito, a compaixão, o amor e a amizade para com elas.

 

 

No domingo, quando o Enem divulgou o tema da redação após o fechamento dos portões, confesso que fiquei em êxtase. Tornar necessário que sete milhões de estudantes reflitam sobre “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” é um marco e deve ser comemorado por todos. As relações interpessoais estão em colapso, e o Ministério da Educação entendeu, enfim, que não basta decorar os assuntos do ensino médio para se tornar alguém apto a se relacionar com outrem e suas futuras profissões.

Li que especialistas confirmaram a pertinência do tema, e que neste ano só há um tipo de posicionamento: contrário à violência. Embora a liberdade de expressão seja o direito de qualquer indivíduo em manifestar suas opiniões e pensamentos, defender qualquer ato violento, seja ele qual for, é se colocar na contramão dos direitos humanos e, assim, ir de encontro às normas que regem o nosso país. Em resumo, só irá atingir uma pontuação significante na prova quem escreveu abominando a violência física, verbal ou psicológica à mulher. “Bingo”, pensei!

Os índices de violência doméstica crescem assustadoramente no Brasil. E não é necessário que se tenha acesso a ambientes judiciais para ter essa noção. Todos os dias, assistimos nos noticiários casos de atos grotescos praticados no âmbito familiar, e isso inclui abuso sexual contra as crianças, maus tratos contra idosos, e principalmente a violência contra a mulher. Ou a escola debate normas comportamentais atuais que orientem as interações entre os indivíduos, ou estaremos predestinados a um “apocalipse” social.

Colocar a violência contra a mulher em discussão não é punir o homem em si. Muito pelo contrário. É orientá-lo sobre sentimentos como o respeito, a compaixão, o amor e a amizade para com elas. Da mesma forma, a Lei Maria da Penha não tem como finalidade punir o homem, e sim punir o homem agressor. E antes que alguém pense “mais um texto de uma feminista do século XXI”, permitam-se um pouquinho mais de clareza: Mulher gosta de carinho, seja ela feminista ou apenas FEMININA, como eu!

Manuela Berbert é publicitária e colunista do Diário Bahia.

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Jaciara Santos PrimoreJaciara Santos | jaciarasantos@primoreconsultoria.com.br

 

Precisamos perceber as pessoas que estão à nossa volta, pois nos envolvemos em demasia com nossas “vidas”, com nossos “problemas”, com nossas “situações”, com nossos umbigos…

 

 

“Fazei o bem sem olhar a quem”. É uma frase muito conhecida, mas ajudar as pessoas simplesmente por ajudar é uma situação cada vez mais escassa numa sociedade onde o jogo de interesses e o individualismo são atitudes cada vez mais rotineiras.

Hoje, alguns desconfiam quando temos uma atitude ajudadora e despretensiosa. Porque o “normal”, geralmente, é haver pessoas necessitando de ajuda ao nosso lado e nem percebermos.

No supermercado, semana passada, fui mais uma vez surpreendida com uma limitação que os meus 1,65m de estatura me proporciona. Tentei pegar um produto numa prateleira alta. Tentava,incansavelmente, sem obter sucesso. De repente, um senhor se aproximou e eu já ensaiava um agradecimento por seu auxílio, com sua atitude generosa, porque já imaginava a situação que viria a acontecer, mas…

Aquele simpático senhor pegou quatro produtos dos que eu queria apenas um e saiu para colocá-los em seu carrinho. Fiquei chocada, arrasada com aquela atitude Nem tive ação para pedir ajuda, pois pensei que ele havia acompanhado minha labuta e que teria se aproximado para me ajudar.

Enfim, rodei com o carrinho buscando outros produtos que precisava, até encontrar um funcionário do estabelecimento, o qual me auxiliou.

Essa situação fez-me lembrar de uma propaganda em que ocorre algo parecido, mas, em minha visão devaneadora, pensei que aquela situação só acontecia na TV.

Creio que aquele cidadão nem notou todo meu esforço e dificuldade. Precisamos perceber as pessoas que estão à nossa volta, pois nos envolvemos em demasia com nossas “vidas”, com nossos “problemas”, com nossas “situações”, com nossos umbigos… E acabamos por esquecer os que estão perto de nós, ao nosso redor.

Preocupemo-nos em fazer o bem e ter um olhar mais atento, pois a vida é uma corrente em que ajudar o outro só nos faz bem.

Jaciara Santos é coach pessoal e profissional.
www.facebook.com/jaciarasantoscoach

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Felipe de PaulaFelipe de Paula | felipedepaula81@gmail.com

 

Todas as suas ações “comunicam”. O tempo que seu cliente demora para ser abordado e atendido é comunicação. O modo como ele é atendido é comunicação.

 

 

Muito se propaga a respeito da crise que vivemos. Contudo, sempre é tempo de elaborarmos reflexões: qual atitude devo tomar? Qual o caminho para minha sobrevivência no hostil ambiente que me cerca? Como ficam meus negócios, meu emprego? Independente do papel social que você ocupa, cabe iniciar suas ponderações com uma constatação humana: somos seres sociais e comunicadores por excelência. Nossa natureza clama por contato e diálogo. Então, diante de tal afirmo: o caminho para o sucesso está diretamente ligado à comunicação.

Quando destaco comunicação, tomemo-la no sentido mais amplo, pois ela é extensa em características e efeitos. Se um empresário for conclamado a projetar a comunicação de sua empresa, provavelmente destinará ideias para campanhas publicitárias, slogans ou jingles. Importante, mas está longe do fundamental. Sua empresa – ou mesmo você, profissional – é um ente comunicativo orgânico.

Todas as suas ações “comunicam”. O tempo que seu cliente demora para ser abordado e atendido é comunicação. O modo como ele é atendido é comunicação. A iluminação do espaço, o estoque disponível, cada pequeno e aparentemente insignificante detalhe na transação comercial é um ato de comunicação. Seu cliente sairá impactado – e essa palavra oferece múltiplas possibilidades de leitura – por cada pequeno detalhe que você e sua empresa lhe oferece na relação comunicativa que estabeleceu com ele.

Numa noite recente saí de casa para buscar um sanduíche numa lanchonete inaugurada há poucas semanas. Experimentei uma vez e resolvi retornar, pois encontrei atendimento gentil, preço justo e produto de qualidade. Ao chegar no espaço, por volta das 21 horas, fui informado que não tinham mais sanduíches, pois o hambúrguer havia terminado. Saí frustrado e em dúvidas se enfrentarei uma nova saída de casa em busca do produto. A frustração gerada provoca um impacto ainda maior do que as qualidades oferecidas.

A mensagem que recebi daquela empresa foi de descuido e despreparo no atendimento das necessidades e interesses do cliente. Um detalhe tão simples que poderia ter sido resolvido com um elemento fundamental para a comunicação profissional: planejamento.

Sou habitualmente interpelado por meus alunos com dificuldades em gerir a vida universitária – de atividades e leituras – com as demais obrigações cotidianas. A resposta que ofereço é a mesma destinada ao empresário ou profissional que deseja obter sucesso e progressão: planeje sempre. Planejar é gerir o futuro, contudo com a atenção voltada para o presente. Não adianta buscar uma oportunidade de progressão, desejar o crescimento de seus investimentos, sem atentar e cuidar das ações presentes. Peter Drucker afirma que o planejamento não diz respeito a decisões futuras, mas sim às implicações futuras das decisões presentes.

Todas as manhãs, no momento em que conduz seu carro saindo de casa rumo ao trabalho deve fazê-lo pensando no destino, no caminho que percorrerá para alcança-lo, mas deve realizar essa ação atentando para cada passo do presente. Caso contrário, você e seu carro podem colidir com obstáculos indesejados e acabarão da mesma forma que milhares de empresas e profissionais ficam cotidianamente: pelo caminho.

Felipe de Paula é professor universitário e pesquisador da Comunicação Social.

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marivalguedesMarival Guedes | marivalguedes@gmail.com

 

Aos 72 anos, Orlando comanda um dos programas de maior audiência, o Panorama 640. Ele confirma a história, mas se esquiva quando indagado sobre os detalhes: “Vamos esquecer, deixa isso pra lá,” diz educadamente.

 

Eleito prefeito de Itabuna em 1976, pelo MDB, Fernando Gomes começou as manobras para eleger a Mesa Diretora da Câmara. Pediu ao assessor político, jornalista Eduardo da Anunciação, que fosse até a residência do vereador e radialista Orlando Cardoso (Arena) conquistar este voto. O argumento estava dentro de um saco de papel do Supermercado Messias.

Eduardo foi ao encontro de Orlando, mas não conseguiu convencê-lo. Pelo contrário, o vereador irritou-se e não reagiu grosseiramente porque, além de amigos, compreendeu que o assessor cumpria ordens. O “presente” foi devolvido ao prefeito. Um colega perguntou a Anunciação porque ele não ficou com a grana. “Dinheiro não é tudo,” respondeu.

Duda morreu em fevereiro de 2013 aos 67 anos. Nos textos, adotou estilo singular e seu último compromisso profissional foi a coluna Política, Gente e Poder, no Diário Bahia.

Orlando Cardoso completou 53 anos de atividades no rádio ano passado, recebendo homenagens pela conduta. Aos 72 anos, comanda um dos programas de maior audiência, o Panorama 640. Ele confirma a história, mas se esquiva quando indagado sobre os detalhes: “Vamos esquecer, deixa isso pra lá,” diz educadamente.

No entanto, numa das homenagens, lembrou que foi vereador por dois mandatos e não gostou da experiência. Admitiu que foram várias as ofertas, porém nunca negociou um voto, refutou todas. E desafia: “Se alguém disser que me comprou, mesmo com um saquinho de pipocas, pode declarar que eu tornarei público dentro de meu programa.” No seu entendimento, “quem é honesto, não merece aplausos. É obrigação.”

Fernando Gomes, eleito quatro vezes prefeito de Itabuna e três deputado, após a gestão 2005/2008, decidiu morar em Vitória da Conquista. Em discurso na Rádio Difusora, à época sua propriedade, anunciou fim de carreira e desabafou: “A política está fazendo vergonha, com tanta corrupção”.

Marival Guedes é jornalista e retoma as (elogiadas!) crônicas das sextas-feiras no Pimenta.

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Apolônio, centenário, é tema de livro editado pela Uesc.
Apolônio, centenário, é tema de livro editado pela Uesc.

Jonildo Glória

O pastor e professor Apolônio Brito completa 100 anos de idade amanhã, 7 de janeiro. Com bastante saúde e lucidez, ainda planta árvores e faz planos para o futuro. Apolônio nasceu num remanescente de quilombo. Foi escravo por um ano em troca do enxoval de casamento da sua irmã. “Acho realmente que Deus me tem dado uma vida longa… Entendo isso como uma oportunidade para eu continuar meu trabalho e fazer mais coisas. Enquanto me preparo para a velhice, continuo a trabalhar e todos os dias agradeço a Deus pelo fato de ter em mim os bens mais valiosos da vida: saúde, paz e alegria”, comemora.

Apolônio foi garimpeiro. Enfrentou onça. Caminhou cerca de 5.000 km pelo Maranhão, Pará, Goiás e oeste da Bahia (de aventura em aventura), até que chegou ao Instituto Industrial de Corrente (Piauí), sua primeira escola. De analfabeto, torna-se o melhor aluno do Instituto. Estuda no Rio de Janeiro, torna-se pastor protestante e grande educador, fundador de várias igrejas e escolas. Chegou a Itabuna em 1958 e aqui recebeu o título de cidadão itabunense. É um homem impressionantemente otimista, espirituoso, exemplo de fé e determinação.

A idade de Apolônio, em si, já é um caso à parte, que atesta coisas típicas do Brasil: Nasci no dia 07 de janeiro de 1919 num lugar chamado Pé da Ladeira, próximo a Loreto, que também era perto de São Raimundo das Mangabeiras, no Maranhão. Essa data foi estimada pelo tabelião da cidade de Corrente (Piauí), quando lá cheguei, em 1944, e precisei de uma certidão de nascimento. Eu realmente não tinha documento nenhum e nem sabia a minha idade. Do lugar de onde venho, as pessoas não se preocupavam muito com isso. Ninguém tinha documento”.

O centenário Apolônio recorda o espanto do diretor da escola: “Quando o senhor nasceu não registraram o seu nome? … é um papel com seu nome, feito no cartório. … Como é que pode? Tem que ter certidão…. O senhor se lembra de algum acontecimento importante quando era pequeno? … Quando foi essa seca no Maranhão? E na enchente, o senhor tinha quantos anos? … O senhor já ouviu falar da Revolução de 1930? Getúlio Vargas? … olhe, vamos considerar que o senhor nasceu em 1919, e pronto. E o dia… foi 07 de janeiro”. “Depois, na verdade, comparando minha idade com a dos meus irmãos, descobri que o ano estava errado. Eu nasci mesmo foi em 1915”, lembra.

“O impressionante é que, aos 100 anos, ele ainda planta árvores, faz planos para o futuro e diz que se prepara para a velhice. Isso é um exemplo interessante de juventude, jovialidade, coisa que falta em muita gente com menos idade. É aí que a gente vê que para ser velho não precisa ser idoso e para ter juventude não é preciso ser jovem. Apolônio é um exemplo para as novas gerações”, frisa o professor  Samuel Mattos, autor do livro Apolônio, o multiplicador, publicado pela Editus, Editora da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

Para o Professor Lourival Pereira Piligra Júnior (UESC), “Apolônio é um sobrevivente, uma existência que vinga no terreno inóspito e agreste do Nordeste como uma flor que desabrocha em meio a uma grande moita de espinhos… a gênese de uma vida transfigurada em mito”.