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Sabemos que os estudantes que forem aprovados nesse certame não estarão iniciando as aulas presenciais e até mesmo remotas nesse primeiro quadrimestre, logo, deveria o Ministério da Educação tê-lo adiado, deixando-o para ser realizado logo após a aplicação da vacina e a diminuição da curva pandêmica.

Rosivaldo Pinheiro

Estamos num país dividido. Todos os temas acabam sendo politizados sob o manto ideológico que logo despenca à intolerância. Nenhum tema, por mais ou menos relevante ou obviedade que tenha, escapa a essa contaminação, dificultando que a própria sociedade encontre uma saída para os nossos graves problemas. Questões ligadas à pandemia jamais deveriam fazer parte dessa conjuntura, mas acabaram sendo o terreno mais fértil para esse comportamento e manifestação dos grupos antagônicos.

Primeiro, foi incorporado como tábua de salvação para o enfrentamento da covid o uso da cloroquina, atualmente rejeitada e retirada dos debates dos grupos pró-governo federal. Mas o Brasil possui estoque para abastecer as cidades brasileiras por 100 anos, segundo levantamento do portal Metrópoles. Atualmente, ganharam notoriedade as discussões em torno da necessidade da vacinação em massa, tendo clara resistência por parte de alguns segmentos que se deixam pautar pela corrente negacionista, tendo no presidente da República seu principal difusor.

A vacina CoronaVac passou a ser descredenciada e uma rede de informações contrárias sistematicamente socializada, tudo em função da sua origem chinesa e por ser ela divulgada e defendida pelo governador de São Paulo, João Dória, hoje claro desafeto do presidente Bolsonaro, já que eram parceiros políticos unidos pelo ódio ao PT até o segundo turno das eleições o presidenciais em 2018.

Brasileiros e brasileiras que nunca buscaram saber as origens das nossas vacinas (BCG, Poliomielite, Varíola, Sarampo, Gripe etc) passaram a se apropriar do discurso contrário ao seu uso como se fossem verdadeiros infectologistas, estudiosos da sua eficácia e das relações internacionais que cercam a geopolítica.

Os resultados dos testes feitos pelos cientistas do Instituto Butantã foram desmerecidos, e a margem de segurança e eficácia, desconsiderada, por entenderem, os seus detratores, que se trata de um subproduto, colocando a vacina quase como um placebo. Vejam que esses mesmos negacionistas não se opunham ao uso da cloroquina, mesmo após os cientistas comprovarem a sua ineficácia para covid, ficando claro que a manifestação desses grupos visa apenas dar voz à tese patrocinada pelo presidente da República.

Diante de todo esse desencontro de informações, o país já registra mais de 204 mil mortes e uma calamidade humanitária em Manaus, mas nada disso parece ganhar um olhar de maior análise por parte dos seguidores do negacionismo. Neste domingo teremos o Enem, que só será realizado pela falta de sensibilidade do MEC diante desse momento de extrema vulnerabilidade por que passamos no aspecto epidemiológico e, por consequência, os desdobramentos psicológicos por que passam as famílias e parte dos estudantes que farão a prova nessa primeira etapa.

Sabemos que os estudantes que forem aprovados nesse certame não estarão iniciando as aulas presenciais e até mesmo remotas nesse primeiro quadrimestre, logo, deveria o Ministério da Educação tê-lo adiado, deixando-o para ser realizado logo após a aplicação da vacina e a diminuição da curva pandêmica. Resta agora às famílias e aos participantes buscarem cumprir os protocolos necessários e mitigar os riscos das exposições e aglomerações nos locais de prova.

Que a nossa sociedade saia desse divisionismo nocivo à vida e que possamos respirar – literalmente. Para isso, que cheguem as doses das vacinas e a civilidade.

Rosivaldo Pinheiro é economista e especialista em Planejamento de Cidades.