Edson Ramos e Geraldo Magela divergem sobre distribuição de recursos da Lei Paulo Gustavo
Tempo de leitura: 5 minutos

O professor e produtor cultural Edson Ramos levantou, em artigo, questionamentos sobre as regras para a distribuição dos recursos da Lei Paulo Gustavo em Ilhéus, que somam R$ 1,4 milhão. Na avaliação dele, a Secretaria de Cultura do Município concentrou muito dinheiro em poucos projetos. Até o momento, foram lançados 3 editais.

O edital 3 destina três prêmios de R$ 120 mil cada para a categoria Apoio à Produção Audiovisual de Média Metragem. Já a categoria Apoio a Cineclube e a Mostras e Festivais terá R$ 87 mil para uma vaga, enquanto a de cinema itinerante vai receber três cotas de R$ 58 mil cada. Ou seja, o edital 3 concentra R$ 621 mil em sete projetos.

Já o edital Pedro Matos reserva R$ 392 mil para 135 vagas. Além disso, 11 mestres da cultura popular vão receber R$ 2 mil cada, a título de premiação. Para agentes culturais do audiovisual, serão seis cotas de R$ 6 mil cada.

“A primeira questão é essa que os próprios números revelam. Por que a previsão de tanto para tão poucos e de tão pouco para tantos?”, questiona Edson Ramos (leia o artigo ao final do texto).

O produtor também aponta distorção no critério usado pelo edital 3, que define média metragem como produção com pelo menos 50 minutos. Para a Agência Nacional do Cinema (Ancine), uma obra de média metragem deve ter de 15 a 70 minutos. Conforme Edson, a regra da Secretaria desconsidera os parâmetros da própria Ancine e, de tão restritiva, pode inviabilizar a seleção de projetos de produtores indígenas e negros, como previsto na legislação.

O QUE DIZ A SECULT

O PIMENTA levou os questionamentos de Edson Ramos ao secretário de Cultura de Ilhéus, Geraldo Magela. Segundo o gestor, a Secretaria promoveu 27 encontros com agentes culturais do município para discutir e pactuar a forma de distribuição dos recursos. Esse trabalho teve a participação da OAB e da Defensoria Pública do Estado.

Magela também explicou que 70% dos recursos da Lei (R$ 1.023.000,00) devem ser destinados ao audiovisual, o que explica, segundo ele, a concentração de R$ 360 mil nos três filmes de média metragem. O secretário acrescentou que esse valor está abaixo do necessário para a uma produção desse porte.

Já os demais segmentos da cultura terão direito a R$ 413.000,00, segundo Magela. “A gente tentou democratizar ao máximo [a distribuição do dinheiro] para chegar lá na ponta”, assegurou o secretário, explicando por que o Edital Pedro Matos reserva R$ 392 mil para 135 vagas. Na opinião do gestor, no artigo, Edson Ramos revelou desconhecimento das regras da Lei Paulo Gustavo.

Leia o artigo na íntegra.

LEI PAULO GUSTAVO EM ILHÉUS – UTILIDADE PÚBLICA

Edson Ramos

No dia 18/12 encerrou o prazo para as inscrições de projetos para concorrer nos editais da Lei Paulo Gustavo (LPG) pelo município de Ilhéus. Essa lei possibilitou o repasse de 1,4 milhão para estruturação do setor cultural local vitimado pelos efeitos da pandemia. Certamente, o maior orçamento de fomento direto à cultura já vivenciado no município.

Como cidadão e profissional da área, gostaria de chamar a atenção da comunidade para algumas características reveladas nesse processo de interesse público:

O município de Ilhéus publicou quatro editais para os agentes culturais inscreverem suas propostas. Alguns dados revelados nesse ato público merecem atenção e reflexão da sociedade local:

· A categoria ‘Apoio a produção áudio visual de média metragem’ prevê 03 prêmios de 120 mil reais, totalizando 360 mil em uma única categoria – pelo edital 03, Paulo Roberto Ferreira dos Santos.

· Apoio a ‘cineclube e a mostras e festivais’ prevê uma vaga de 87 mil reais.

· Apoio a realização de ‘cinema itinerante’ prevê 03 vagas de 58 mil totalizando 174 mil reais nessa categoria.

Leia Mais

Secretaria de Cultura e Turismo de Ilhéus é alvo de representação feita ao MPF
Tempo de leitura: 2 minutos

Em nota enviada à imprensa nessa segunda-feira (11), o professor e produtor cultural Edson Ramos informa que a execução dos recursos da Lei Aldir Blanc (LAB) em Ilhéus é objeto de representação feita hoje ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA). O texto aponta possíveis “ilegalidades” na distribuição dos recursos emergenciais da cultura, que cabe à gestão municipal.

A LAB (Lei nº 14.017/2020) destinou R$ 1.206.000,00 para o Fundo Municipal de Cultura de Ilhéus. Desse total, R$ 666.000,00 vão pagar os subsídios dos grupos e espaços culturais impactados pela pandemia de Covid-19. Já o edital Arte-livre vai distribuir R$ 540.000,00 entre projetos de intervenção artística que serão executados a partir de fevereiro de 2021.

De acordo com Edson, no caso dos subsídios, os critérios “confusos” de habilitação adotados pela Secretaria de Cultura e Turismo excluíram entidades que têm o direito de receber os recursos, que variam de R$ 3 mil a R$ 10 mil. Enquanto a legislação nacional previa um credenciamento simples, a prefeitura criou parâmetros “caóticos e incoerentes com a natureza da lei”, escreveu Ramos, num artigo publicado em agosto de 2020.

Também critica o conteúdo do edital Arte-livre, que “não publicou os critérios de análise” dos projetos enviados. “A comissão de análise”, continua o professor, “não contou com a participação de especialistas com conhecimento na área, não houve a participação do Conselho Municipal de Cultura ou da Sociedade Civil, não houve a publicação das pontuações, classificações, justificativas ou pareceres de análise das propostas”.

Ainda segundo o professor, o princípio da impessoalidade pode ter sido ignorado na execução do edital Arte-livre. “Muitas propostas selecionadas são em nome de figuras direta ou indiretamente ligadas à comissão de implementação da LAB, ou ao funcionalismo público ou seus parentes”.

OUTRO LADO

Ouvido pelo PIMENTA na tarde de hoje (11), o secretário de Cultura e Turismo de Ilhéus, Fábio Júnior, destacou que a comissão responsável pelo edital Arte-livre conta com membros capacitados tecnicamente.

Para Fábio, Edson age em busca de holofotes. Também lamentou que a comissão não tenha sido procurada por Ramos no prazo devido para a apresentação de contestações formais. “Depois que não foi contemplado, ele achou tudo isso que tem divulgado”.

Conforme o secretário, outras denúncias sobre os subsídios e o edital – feitas no âmbito administrativo – estão sendo averiguadas, e eventual irregularidade será sanada.