Gabriel Burgos move processo contra Wilma Petrillo (à dir.), viúva de Gal
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Gabriel Burgos, filho da cantora Gal Costa, solicitou à Justiça que o corpo da cantora seja exumado para investigação da causa da morte. Segundo a certidão de óbito, Gal foi vítima de infarto agudo do miocárdio e já enfrentava um câncer de cabeça e pescoço. A artista faleceu no dia 9 de novembro de 2022, na sua casa na cidade de São Paulo.

Segundo a jornalista Mônica Bergamo, colunista da Folha de S. Paulo, Gabriel também pediu à Justiça que o corpo da mãe seja transferido de São Paulo para o Rio de Janeiro, onde a mãe de Gal, Mariah Pena Costa, foi sepultada em 1993.

De acordo com o jovem, a decisão de enterrar o corpo de Gal na capital paulista foi de Wilma Petrillo, viúva da cantora, contra quem ele move a ação judicial. Na época, Gabriel tinha 17 anos e não pôde intervir na escolha do local de sepultamento. No processo, ele também questiona o direito de Wilma à herança da cantora.

Julio Gomes recupera memórias afetivas nas vozes de Moraes, Gal e Erasmo
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“Perder cantores que ouvíamos quando éramos bem jovens – e que eram ídolos de nossos pais – é como perder um pouco mais e novamente aqueles que nos criaram”.

 

Julio Gomes

Primeiro foi Moraes Moreira. Senti o golpe ao saber que aquele que cantava Pombo Correio e que sacudia a praça, seja a Castro Alves, em Salvador, ou qualquer outra pelo Brasil afora, quando embalava Tem que dançar a dança / Balança o chão da praça, ao som de quem tanto dancei e pulei carnaval, havia partido repentinamente após um infarto. Doeu, deixou um sabor de nunca mais misturado com muitas saudades.

Há bem pouco tempo, outra perda significativa: aquela Gal que docemente cantava Baby, eu sei que é assim e que eletrizava dizendo que é preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte também se foi muito de repente, sem aviso prévio e sem adeus, fazendo ecoar por dias seguidos em minha mente as músicas que ouvia minha mãe colocar na vitrola no tempo em que eu ainda era criança.

Perder cantores que ouvíamos quando éramos bem jovens – e que eram ídolos de nossos pais – é como perder um pouco mais e novamente aqueles que nos criaram, pais e mães que, com seu amor e seus defeitos, nos formaram como seres humanos que somos.

Agora, ainda não refeitos da ida de Gal, recebemos a notícia da partida de Erasmo Carlos, sempre mais ousado do que seu parceiro Roberto Carlos, que fez mais sucesso e vendeu mais discos, mas não tinha o charme rebelde do Tremendão, apelido de Erasmo, que tão bem encarnava a Jovem Guarda e o espírito inovador e inquieto dos anos de 1960.

Perder pessoas que nos anos 60 tinham em torno de 20 anos e que, naquela época, mudaram o mundo com a força de sua juventude e rebeldia é, sem dúvida, um duro golpe para nós que crescemos escutando suas músicas, namorando apaixonadamente ao som de seus acordes, que dançamos os seus ritmos e que sonhávamos acordados com as letras das músicas que falavam de um mundo novo, ressignificado e em busca de paz e amor, como se as revoluções e o movimento Hippie nunca mais fossem acabar, como se a nossa juventude também pudesse ser eterna.

Erasmo, Gal e Moraes Moreira se juntaram àqueles da sua geração que partiram precocemente, como Gonzaguinha e Elis Regina, e nos deixaram com esse sentimento de estarmos órfãos, de perder as referências sentimentais e culturais que nos fizeram ser quem somos, pensar como pensamos, gostar do que gostamos.

Fica a vontade de ouvir novamente suas maravilhosas canções, originais como o mundo que desejavam criar, como os sonhos que ousaram viver.

Eles se foram, mas cumpriram sua missão: enfrentaram a caretice, a repressão sexual, as ditaduras, criticaram a Guerra do Vietnã e todas as outras guerras, ousaram se vestir de forma colorida e diferente, usar cabelos longos e desprezar a sociedade de consumo que trata o dinheiro e o mercado como se fossem deuses absolutos.

Acima de tudo, penso que a geração dos jovens nos anos 60 – a geração de meus pais – tentou aprender a amar e a viver ardentemente, errando e acertando, quebrando a cara e recomeçando, criando novos estilos musicais e novas formas de convivência entre as pessoas, acreditando que toda a forma de amor vale a pena.

Que todos nós possamos ser um pouco como eles, sobretudo em seus acertos, para sermos mais ousados, mais inovadores e amarmos ainda mais intensamente do que eles conseguiram amar.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc (Universidade Estadual de Santa Cruz).

Rolando Boldrin faleceu nesta quarta (9) || Imagem da TV Brasil
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Hoje (9), definitivamente, é dia de luto para a cultura brasileira, que, além de Gal Costa, também perdeu o ator, cantor, compositor e apresentador Rolando Boldrin, de 86 anos. A informação foi confirmada pela Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura de São Paulo, onde Boldrin apresentou o programa Sr. Brasil por 17 anos.

A causa da morte não foi revelada. O velório do artista será na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), em horário ainda não confirmado.

Nascido em São Joaquim da Barra (SP), em 1936, Boldrin foi ator de filmes premiados, de novelas de grande audiência e compositor, cantor, apresentador e grande contador de causos. Atuou em mais de 30 novelas, como O Direito de Nascer; As Pupilas do Senhor Reitor; Os Deuses Estão Mortos; Quero Viver; Mulheres de Areia; Os Inocentes; A Viagem; O Profeta; Roda de Fogo; Cara a Cara; Cavalo Amarelo e Os Imigrantes.

Com seus programas de televisão, Boldrin tornou-se uma figura emblemática da cultura popular brasileira. Apresentou os programas Som Brasil, na Rede Globo; Empório Brasileiro, na TV Bandeirantes; e Empório Brasil, no SBT. Na TV Cultura, esteve à frente do Sr. Brasil desde 2005. Com Agência Brasil.

Abalado, Chico não tem condições de se apresentar, informa assessoria
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A assessoria de Chico Buarque de Holanda informou o adiamento das três apresentações que o artista faria em Salvador neste final de semana.

Com quase todos os ingressos esgotados, os shows seriam na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, na próxima sexta-feira (11), sábado (12) e domingo (13). As novas datas da turnê Que tal um samba? na capital baiana ainda serão divulgadas.

De acordo com a assessoria, Chico testou positivo para Covid-19 no último domingo (6) e, hoje (9), o impacto da notícia da morte de Gal Costa deixou o cantor e compositor sem condições emocionais de seguir com a agenda.

Gal e Lula em encontro na campanha de 2022 || Foto Ricardo Stuckert
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A morte da cantora Gal Costa, nesta quarta-feira (9), gerou diversas manifestações de pesar de colegas da artista e de autoridades públicas, a exemplo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva; do governador Rui Costa; e do governador eleito Jerônimo Rodrigues, todos do PT.

– Gal Costa foi das maiores cantoras do mundo, das nossas principais artistas a levar o nome e os sons do Brasil para todo o planeta. Seu talento, técnica e ousadia enriqueceu e renovou nossa cultura, embalou e marcou a vida de milhões de brasileiros – escreveu Lula em uma rede social.

Rui Costa decretou luto oficial de três dias na Bahia. “Lamento profundamente a morte de Gal Costa. Com sua partida, perdemos uma das mais potentes vozes da nossa música, eternizada em interpretações que cantam a Bahia e o Brasil para todo o mundo”, afirmou o governador.

Jerônimo Rodrigues lembrou o papel de Gal Costa durante a ditadura militar e do posicionamento crítico da cantora em relação ao Governo Bolsonaro. “Dona de uma voz inigualável, Gal nos presenteou com a sua arte e se tornou um dos símbolos de resistência em tempos sombrios da nossa História, no passado e no presente. Suas interpretações farão, para sempre, parte da trilha sonora das nossas vidas”, escreveu o governador eleito, que manifestou solidariedade aos familiares, amigos e fãs da artista.

Gal Costa faleceu na manhã desta quarta (9) || Foto Fundarte/SP
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Gal Costa faleceu na manhã desta quarta-feira (9), aos 77 anos, na sua casa em São Paulo. A informação foi confirmada pela assessoria da cantora e compositora baiana. Ainda não há detalhes sobre a causa da morte.

Gal passou por cirurgia, em setembro passado, para a retirada de um nódulo da via nasal direita. Não há informação que ligue o procedimento à causa da morte. Os shows da artista estavam suspensos até o final de novembro, mas ela se preparava para voltar aos palcos já em dezembro, para a turnê As Várias Pontas de uma Estrela.

Maria da Graça Costa Penna Burgos iniciou a carreira musical na adolescência e foi das principais vozes da música popular brasileira. Fez parte do movimento tropicalista. Ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Maria Bethânia, formou o quarteto Doces Bárbaros.

Também brilhou intensamente nos shows solo, como o que deu origem ao álbum Fa-tal- Gal a todo vapor, gravado ao vivo em 1971, quando deu ao mundo as interpretações definitivas de músicas como Sua Estupidez, Mal Secreto e Vapor Barato, composições de Roberto Carlos, Jards Macalé e Waly Salomão, respetivamente.

REPERCUSSÃO

Diversas manifestações de pesar sucederam a notícia do falecimento da diva da Bahia. Para Adriana Calcanhotto, o mundo acaba de perder uma das vozes mais lindas e marcantes da música. “É inacreditável pensar que não tem Gal”, resumiu, em entrevista à Globonews. “A gente está perdendo um mito, uma rainha, um pilar da música popular brasileira”, comentou Zélia Ducan. Abaixo, confira Gal cantando Chuva de prata.

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Vander Lee havia gravado trabalho para comemorar 20 anos de carreira.
Vander Lee havia gravado trabalho para comemorar 20 anos de carreira.

Autor de sucessos como Onde Deus possa me ouvir, Românticos e Esperando aviões, o cantor Vander Lee morreu nesta sexta (5), em Belo Horizonte (MG), vítima de infarto.

Vander Lee faleceu por volta das 8 horas, no Hospital Madre Teresa, na capital mineira, onde havia passado por cirurgia depois de sofrer um infarto. De acordo com boletim médico, o cantor e compositor sofreu paradas cardíacas depois da cirurgia e não reagiu às tentativas de reanimação.

O músico mineiro teve várias de suas canções regravadas por monstros da MPB, dentre eles Gal Costa, Maria Bethânia e Fagner.

Confira, abaixo, interpretação de Lee para música de sua própria autoria, Esperando aviões.

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Gal Costa fez show magistral no Centro de Convenções de Ilhéus há dois anos (Foto Pimenta/arquivo).
Cantora fez show magistral no Centro de Convenções há dois anos (Foto Pimenta).

Anunciado para esta sexta à noite, no Centro de Convenções de Ilhéus, o show de Gal Costa, turnê Recantos, foi cancelado. Até o início desta tarde, a produtora do show, a R10, não havia divulgado nota para esclarecer os motivos do cancelamento nem como devem proceder os fãs que adquiriram ingresso.

Informalmente, a versão é de que o espetáculo teria sido apenas adiado. O último show da cantora em Ilhéus ocorreu em 2011.

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CÉSAR E UMA CONFUSÃO DE DOIS SÉCULOS

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

Júlio César, aquele mesmo, morreu em 44 a.C., por falta de informação. Sem o Ibope, a Gasparetto Pesquisas ou o Vox Populi, não percebeu que, a exemplo de alguns prefeitos regionais, tinha a popularidade no chão. Enquanto o ditador estava “se achando”, um grupo de senadores tecia seu assassinato, com a ideia geral de que cada um dos ilustres parlamentares desse uma facada no homem, de modo que todos dividissem a culpa pela execução. À frente do complô estavam Marcus Brutus e Decimus Brutus, respectivamente filho (para alguns historiadores, apenas amigo) e companheiro de armas do general romano. E aqui começa uma confusão que já dura mais de dois séculos.

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2Júlio CésarUma frase inventada por Shakespeare

Já furado feito um queijo suíço, César vê Brutus (qual deles?) vindo em sua direção, de adaga em riste, e, surpreso, teria decidido deixar uma frase para a história. Pronunciou um Et tu, Brute? (Até tu, Brutus?), segurou na mão de Deus e foi-se. Há controvérsias. Diz-se que a frase foi dita em grego, Kai su, teknon? (Até tu, filho?), enquanto a latina teria sido inventada por Shakespeare, em Júlio César (Ato III, cena 1). Para o cientista político Michael Parenti (O assassinato de Júlio César – Record/2005), é tudo mentira, pois César nunca pensou em  Marcus Brutus como filho: se o general ficou mesmo consternado teria sido com o traiçoeiro Decimus Brutus, companheiro de guerras.

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Líder popular hostil aos privilégios

Segundo Parenti (na contramão da história oficial), César foi o último de uma linhagem de reformistas assassinados por conservadores, por abraçar a causa do povo, tido em Roma como uma turba interessada apenas em pão e circo. Por que um seleto grupo de senadores assassinou Júlio César, aristocrata como eles? – inquire o autor. E responde: mataram César porque viam nele um líder popular hostil a seus privilégios de classe. O assassinato teria sido mais um dos atos violentos que marcaram grande parte do século, “manifestação dramática da velha disputa entre conservadores ricos e reformistas apoiados pelo povo”. A morte de César é, vista assim, algo bem contemporâneo.

ENTRE PARÊNTESES, ou

4VelinhaE assim se passaram doze meses…
Parece que foi ontem. Em agosto de 2012, centenário de Jorge Amado, o UNIVERSO PARALELO voltou a “circular” aqui nas asas do Pimenta. Antes, ficáramos no ar durante dois anos, de 2009 a 2011. A coluna, se nos perdoam o que possa parecer cabotinismo, é aquilo que os publicitários chamam de case de sucesso: surpreendeu os leitores, o Pimenta e, sobretudo, a mim surpreendeu-me (adoro esta redundância!). Valho-me do humor e do talento de Aldir Blanc e digo como aquela Miss Suéter: “Dedico esse êxito ao Pimenta/ que tantos sacrifícios fez/ pra que eu chegasse aqui no apogeu/ com o auxílio de vocês”. Obrigado a todos.

AS PIORES VOZES JÁ GRAVADAS EM DISCO

Quem seria o maior vocalista do Brasil? Orlando Silva, Dick Farney, Cauby, Nelson Gonçalves, Agnaldo Timóteo, Sílvio Caldas, Emílio Santiago? E a melhor voz feminina? Elis Regina, Nana Caymmi, Gal Costa, Ângela Maria, Alcione, Marisa Monte, Elizeth Cardoso? Difícil dizer, pois toda opinião de valor porta em si o perigo da injustiça. E como música é arte e técnica, sequer me acho no direito de apontar os melhores, o que poderia ser feito, se muito, por alguém de grande saber musical – área de que, sem demagogia, estou muito distante. Mas abro uma exceção: creio ter, há muito tempo, identificado as duas piores vozes que já ouvi gravadas em disco: Xuxa e Pelé.
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Deus perdoa aos bêbados e aos  loucos

5Xuxa-PeléObservem que não falo de amadores, sambistas de mesa de bar, cantores de caraoquê (eu os detesto, mas Deus perdoa aos bêbados e aos loucos!) ou vocalistas de banheiro. Falo de profissionais, de gente que grava música, põe no mercado e ainda encontra colher de chá na mídia. Xuxa é, todos sabem, grande vendedora de discos, com o apoio da Globo/Som Livre; Pelé, em 1969, no auge da fama, teve o desplante de gravar com Elis Regina duas canções da autoria dele. Felizmente, ficou nessas duas, salvo uma ou outra investida pela publicidade. Se a gentil leitora nunca ouviu o disco da dupla Pelé-Elis, aceite meu parabéns.

COMPROMISSO RENOVADO COM A (BOA) MPB

7CanindéCanindé, ou Francisco Canindé Soares, nasceu em Currais Novos/RN, em 1965, e, cerca de 20 anos depois, mudou-se para Jacobina/BA. Cantor da noite, só ficou conhecido do grande público a partir de 2000, quando gravou seu primeiro CD. Vieram outros seis, até o DVD História de amor, em 2010. Já com um quarto de século na estrada (o tempo voa!) ele se mantém compromissado com a boa música brasileira, do forró à balada romântica. Nos últimos tempos, revisitou temas muito conhecidos, a exemplo de Canteiros (Fagner-Cecília Meireles), Tocando em frente (Almir Sáter) e Cidadão (Lúcio Barbosa). Meiga senhorita (Zé Geraldo?) é sua gravação mais ouvida, no momento.
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Sem medo de Belchior nem Elis Regina

Cultor das baladas românticas, o artista norte-rio-grandense-quase-baiano conserva a influência daqueles que se dizem menos cantores do que “cantadores”. Vem da linhagem de Geraldo Azevedo, Xangai, Almir Sater e Elomar, mas com sintaxe própria. De Xangai ele gravou o engraçadíssimo ABC do preguiçoso (que me parece velho tema do folclore, adaptado). De Belchior, no vídeo, uma composição cheia de brasilidade, misturando passado e futuro, clima interiorano, incertezas da juventude e velhas canções da riquíssima pauta nacional. Poucos cantores gravam Belchior – talvez intimidados pelas interpretações de Elis Regina. Canindé tocou em frente, com Tudo outra vez.

O.C.
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lenine e arthur moreiraLenine e Arthur Moreira Lima abrem a programação de shows com grandes músicos nacionais dos festejos natalinos de Vitória da Conquista, no próximo sábado, 15.

Considerada a maior programação do interior baiano, o Natal da Cidade será realizado em três praças do município e vai reunir atrações como Gal Costa, Ivan Lins, o cantor lírico Edson Cordeiro, 14 Bis, O Teatro Mágico e Marina Elali.

Confira programação completa

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NA REDE, CARREGAM “UM DEFUNTO DE NADA”

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

O tema está em Morte e Vida Severina (João Cabral de Melo Neto): são encontrados dois homens levando um defunto numa rede, aos gritos de “Ó, irmãos das almas! Irmãos das almas! Não fui eu quem matei não!”. Dos diálogos: “– A quem estais carregando,/ irmãos das almas,/ embrulhado nessa rede?/ dizei que eu saiba. – A um defunto de nada,/ irmão das almas,/ que há muitas horas viaja/ à sua morada. – E sabeis quem era ele,/ irmãos das almas,/ sabeis como ele se chama/ ou se chamava? – Severino Lavrador,/ irmão das almas,/ Severino Lavrador,/ mas já não lavra”. O “já não lavra” pode parecer irônico, mas não é: JCMN não tinha senso de humor.

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A rede traz recordações nem sempre boas

Minha locatária me presenteou com uma rede, bonita em seu colorido, armada e pronta para o uso, me dando uma estranha sensação de volta ao passado. Ou quase. A verdade é que a cidade grande estraga as pessoas, ofende-lhes origens, tradições e sotaques. No meu tempo de criança matuta, a cama era luxo destinado aos ricos, enquanto a rede simbolizava a pobreza, servindo aos vivos e aos mortos. A rede acompanhava o dia a dia das pessoas, também sendo uma espécie de mortalha – pois nela os pobres eram levados à cova – e, acreditem, lá deixado o defunto, ela era trazida de volta. A rede em que se levava o morto ao cemitério era devolvida à utilidade dos 

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Para os pobres, medo de defunto é luxo

vivos, pois a ideia de enterrá-la com o corpo não merecia, sequer, consideração. Uma boa rede não era coisa de se jogar fora, pôr a apodrecer debaixo da terra, pois era um bem valioso para quem quase nada tinha de seu. E digo aos infelizes habitantes da vida burguesa que pobres não têm luxos do tipo medo de defunto, e até ao esquecimento de outros detalhes nos víamos obrigados. Exemplo: não temer deitar-se no espaço em que, muitas vezes, o falecido penara o encerramento do seu tempo na terra e que ali exalara o último suspiro… Olho minha rede e concluo que nenhuma boa recordação da infância ela me traz. Vou agradecer e mandá-la de volta. Vazia, é claro.

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Lei de Murphy vai ao “Aulões do Enem”

Cena 1 – A bela repórter de famosa rede de tevê, com a maior sem-cerimônia, voz caprichada: “Esta calça aqui é toda orgânica. Só para se ter uma ideia, foi feita com algodão, fios de seda e pet. A cor chegou ao jeans por conta de uma mistura feita com ervas…” Cena 2 – Em teste do “Aulões Enem” (Unime/Governo da Bahia), foi assim redigida uma pergunta sobre meio ambiente : “As esponjas são animais de extrema simplicidade estrutural e, por conta disso, podem ser considerados organismos pluricelulares bastante primitivos”. Por conta (em lugar de devido a, por causa etc.) na tevê, já dói; quando vem de uma escola, abona a Lei de Murphy: nada é tão ruim que…

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DE VELHICE, PRECONCEITO E INTOLERÂNCIA

Circula na internet um texto atribuído ao publicitário Lula Vieira, em que ele se diz talvez “velho e ranzinza”, porque se irrita com certas coisas em moda.  A lista dos incômodos é enorme – e eu, por certo “velho e ranzina”, molestado com tanta bobagem, cito algumas. Há quem diga que isto é intolerância e preconceito, e talvez seja. É necessário ser sem preconceitos e encher-se de tolerância para aguentar mulher que anda com aquela garrafinha d´água e bebe um golinho a cada instante. É uma chata. A seguir, outras implicâncias: os naturebas radicais têm conversa incomodativa (falam o tempo todo em “vida saudável” e têm náuseas ao ouvir a palavra “carne”);

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Por que os atletas mordem as medalhas?

todo cara que costuma fazer aspas com os dedinhos quando faz uma ironia é um chato; mexer o gelo do uísque com o dedo é indício robusto de babaquice; gente que fala coisas como “chegar junto”, “fazer a diferença”, “superar limites”, “tudo de bom” e semelhantes, além de usar “gerundismos”, é babaca, com certeza; pegar na mão de desconhecidos durante a missa (Deus se apiede de minha alma!), é pagar mico, dos grandes; no cérebro de pessoas que se despedem dizendo “um beijo no coração”, se aberto, nada de bom será encontrado; por fim, minha contribuição a esta lista de sintomas de mau humor: se algum dia eu matar alguém será um atleta que morde a medalha na tevê. Que diabos os levam a aparecer na tevê mordendo as medalhas?

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PELE MORENA E BOCA PEQUENA: MEU DEUS!

Índia é uma guarânia de fronteira, uma coisa brasilguaia, cuja versão de José Fortuna tomou o Brasil de ponta a ponta, a partir de 1952. Foi lançada aqui pela dupla sertaneja paulista Cascatinha & Inhana (Francisco dos Santos e Ana Eufrosina da Silva) e virou mania: vendeu 300 mil cópias no primeiro ano e andava pelos 3 milhões em meados dos anos noventa. A letra é medonha, espécie de indianismo de mesa de boteco em fim de noite nos anos trinta: cheia de cabelos pelos ombros caídos, lábios de rosa, doce meiguice no olhar, pele morena rimando com boca pequena… um horror! Mas a melodia gruda, tanto assim que foi gravada até pelo insuspeito Dilermando Reis e pela orquestra nem tanto de Waldir Calmon.

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Deserto do Atacama, meio-dia, 38 graus

“No deserto do Atacama, vi uma mulher a cantar. Em pleno sol do meio-dia, termômetros em 38 graus (sensação de 42!), ela parecia ter saído do banho, tal a beleza geral que irradiava, além de um particular e incrível frescor da pele. Entre um trinado e outro, perguntei-lhe quem era. – Meu nome é Gal, disse a bela, piscando um olho – e mais não disse, pois acordei emocionado.” Em algum delírio, imaginei escrever uma coisa assim para falar de Gal Costa. É como a entendo: capaz de cantar a lista telefônica do Uzbequistão, em pleno deserto do Saara, sol a pino, 42 graus, sem desidratar a pele. E desafinar, jamais. Em 1973 ela gravou o LP Índia: na capa, um close de suas vergonhas, sob o biquíni pequenininho, que quase leva os militares a fechar a gravadora. A falsa moral é uma riqueza dos ditadores.

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Combinação de rouxinol e pintassilgo

Eu me chateei com o que achei ser concessão ao mau gosto, mas ela, sensata o bastante para não me dar ouvidos, vendeu horrores do disco e do show de mesmo nome (atenção: Gal repete um erro histórico na letra, mas não vou dizer qual). Ainda considero dispensável aquela gravação, mas o nome dela é Gal, cantando qualquer coisa, em qualquer lugar – e fez de Índia o registro definitivo (regravou-a mais duas vezes). Do show de 1983, temos um trecho dos versos quilométricos, ela cantando com a competência de sempre: na primeira parte, quase nos convence de que é uma cantora normal; na segunda, com arrepiantes agudos, é Gal Costa, a única – com seu som que parece combinar rouxinol, pintassilgo e taça de cristal.

(O.C.)

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A LINGUAGEM E A TRIANGULAÇÃO AMOROSA

Ousarme Citoaian
Num jornal de Itabuna leio esta intrigante manchete: “Por dinheiro, se juntou ao amante para matar o outro” – e fico com a sensação de que o leitor não vai, de primeira, entender o que se lhe quiseram transmitir. E isto não é bom, pois manchetes precisam ir direto ao leitor, por linhas retas, contornando parábolas e elipses. Releio. E concluo que uma mulher se consorciou com um sujeito, para matar outro. É a velha (e, não raro, fatal) triangulação amorosa, que está em moda desde o dia em que Deus inventou homem e mulher e o capeta os misturou. Mas, no caso, houve uma segunda vítima: a boa linguagem.

QUEM NÃO EXISTE, NÃO PENSA E NÃO MORRE

Os artigos precisam ser respeitados pelos redatores: o amante é uma coisa; um amante é coisa diversa. Se escrevo “João é o amante de Maria”, quero dizer que Maria tem, digamos, um caso com João; se escrevo “João é um amante de Maria”, digo que Maria é danadinha, roda muito, anda com mais de um felizardo. E agora? Quanto à manchete referida estamos diante da impossibilidade absoluta: a boa moça “se juntou ao amante”, portanto, só tinha um; logo, “o outro” não existe – e se não existe não pensa (como explicou o filósofo) e, em compensação, não morre (como o sabem até os postes). Conclusão: não houve crime.

PREMISSA FALSA LEVA A CONCLUSÃO FALSA

Conclusão falsa, porque parte de premissa falsa. A gentil senhorita não se associou “ao amante”, mas “a um amante”. Dentre os dois (revelados!), ela se juntou a um, para assassinar o outro. Houve homicídio, sim, e – nos diz o jornal – com minúcias que interessariam aos estudantes de medicina legal e causariam frouxos de riso nos cultores do humor negro. Está no texto: “Para praticar o crime, o casal utilizou enxada, faca, porrete, cacos de garrafa e uma pedra”. Se o casal de assassinos não era competente, ou se a vítima estava mesmo decidida a permanecer neste vale de lágrimas, resta a dúvida.

ONDE TERIAM FICADO AS LETRAS E OS SONS?

Não nasceu ultimamente nenhum Machado de Assis, ninguém toca como Miles Davis ou canta rouco feito Armstrong (foto). Onde o verso de Bandeira e Drummond, o som do Zé-Pereira, a serenata de Orestes Barbosa, o violão de Baden, a crônica de Rubem Braga e Fernando Sabino? Cadê Antônio Maria e Noel, espargindo dor de amor nas estrofes?  Há quem afirme que os grandes livros já foram escritos, os filmes feitos e a música, gravada. Disso não sei. Mas sei bem da aridez dos tempos, tempos de descartáveis autores e obras natimortas. E sei também que o tempo, juiz exigente, me disse que a arte destituída do eterno sopro da juventude será espectro de arte, não arte.

POBRE VIDINHA DE GOLPES E ESPERTEZAS

A arte verdadeira tem um estoque infindável de emoção, alguma coisa que faz chorar – como diria Vinícius. A arte arrepia. Assim é Malagueta, Perus e Bacanaço, obra-prima do conto brasileiro, de João Antônio, que releio – o drama e a solidão de pequenos perdedores, anti-herois esmagados pela cidade grande. São três malandros, andarilhos, comparsas em suas vidinhas de golpes, espertezas e dissimulações, num tour noturno que começa na Lapa, passa pela Barra Funda e termina em Pinheiros, depois de passar por Água Branca e o centro. Exímios jogadores de sinuca, vão à cata dos mocorongos, trouxas, pixotes, enfim, otários para depenar. Piranhas famintas, boca aberta na noite. Perdidos.

TESES APROXIMAM JOÃO ANTÔNIO E JOYCE

Os malandros chegaram à tela em O jogo da vida/1977, de Maurice Capovilla (foto), com Lima Duarte (Malagueta), Gianfresco Guarnieri (Perus) e o gualberiano Maurício do Valle (Bacanaço) – além da participação de Carne Frita, o mestre maior da sinuca. As teses, estudos, análises e ensaios sobre esta obra de João Antônio encheriam uma livraria. Há até (pelo menos) um estudo de literatura comparada que aproxima Malagueta…/1963 de Dois Galantes/1914: João Antônio é James Joyce e São Paulo é Dublin, espaços de desgosto e sofrimento. O caminhar perene desses vagabundos (como se andassem à volta de si mesmos) parece nos dizer que, lá e cá, a grande cidade não costuma dar lugar aos deserdados sociais.

O AUTOR CONVERSA COM SEUS PERSONAGENS

O encontro de criador e criaturas: no sentido anti-horário, João Antônio (segurando uma bola de sinuca) e os malandros Malagueta/Lima Duarte, Perus/Gianfrancesco Guarnieri e Bacanaço/Maurício do Valle.

NO MEIO DA FICÇÃO SURGE UM ÍDOLO REAL

João Antônio faz sua sinuca de ficção encontrar na madrugada paulista um ídolo do jogo jogado, “moço, baixinho, com olhos de menino”, sobre quem derrama seu afeto: “Ninguém daria nada àquele, parado à esquina da Santa Ifigênia, dando um gesto de mão a Malagueta, Perus e Bacanaço. Fossem ver… Sua história abobalhava, seu jogo desnorteou todos os mestres”. E aconselha: “Botassem respeito, sentido e distância, com silêncio e consideração”. É a homenagem do autor a Carne Frita, lenda viva da sinuca (na foto, à direita, junto a Noel; à esquerda, o itabunense Rui Chapéu). Este texto é minha homenagem a Vadu Baié e Vivi Guimarães, piranhas do pano verde, e ao professor Adylson Machado, que conhece como poucos a sociologia do joguinho.

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CONTRIBUIÇÃO DE ZÉLIA À OBRA DE JORGE

A escritora Zélia Gattai (1916-2008), segunda mulher de Jorge Amado, era uma senhora muito bem humorada e consciente de que vivia com uma celebridade. Modesta, não procurou abrir caminho à sombra do marido famoso e tampouco extrapolou seu papel. Numa entrevista (já nem me lembro quando e em que veículo), perguntaram-lhe sobre a contribuição que ela teria dado à obra de Jorge – uma pergunta tentadora para quem pretende mostrar-se mais importante do que é na verdade. A autora de Chão de meninos contou a história que reproduzimos aqui, sujeita a pequenas falhas de memória .

O ESTRANHO PEDIDO PARA SOLTAR A VOZ

Certa vez, batucando em sua velha Remington, Jorge a chamou e lhe pediu que cantasse Só louco, de Caymmi, então em voga. “Agora?”, perguntou Zélia, vendo em risco a sanidade do marido. “Agora”, confirmou ele, aflito. “Pedido mais estranho”, pensou a boa Zélia, mas não se fez de rogada e soltou a voz: “Só louco amou como eu amei/ só louco quis o bem que eu quis/ Oh, insensato coração…” “Chega”, disse Jorge (foto). E explicou à mulher atônita que se esquecera de uma palavra, mas sabia que ela estava na letra de Caymmi. “Minha contribuição à obra de Jorge é a palavra insensato”, brincou Zélia.

MARISA MONTE, GAL, BETH CARVALHO, JOÃO

Quando vi na tevê uma chamada de Insensato coração, imaginei que Só louco/1956 estaria na trilha. Fui ao Google e… na mosca! Também soube que essa música embala o folhetim das nove pela segunda vez. A primeira foi em O casarão/1976. E sabem o que mais? Gostei. A Globo volta e meia dá folga a Roberto Carlos, Zezé de Camargo, Xitãozinho e outros chororões e se permite nos oferecer surpresas: Marisa Monte (O Salvador da Pátria/1989), Beth Carvalho (Duas Vidas/1977) e o luxuoso grupo (aqui comentado há dias): João-Astrud Gilberto-Tom Jobim-Stan Getz  (Laços de família/2000). Nem tudo são ruídos. No vídeo, Gal e Caymmi, com o tema famoso.

(O.C.)
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JORNALISMO NO TEMPO EM QUE SE SONHAVA

Ousarme Citoaian

Em outros tempos e costumes, o jornalismo era praticado como uma espécie de sacerdócio (o termo foi mais comumente usado para os professores e vai aqui empregado por falta de outro mais adequado). Habitadas por poetas e boêmios, as redações muito diferiam de hoje, pois tinham poucos “profissionais” e muitos sonhadores. Era a época do revisor (que escoimava o texto de eventuais solecismos) e do copidesque (garantia de que o texto saisse da oficina sem um defeito). Mas o meu preferido nessa fauna sempre foi o mancheteiro, o cara que fazia as manchetes.

RAPIDEZ, CRIATIVIDADE, PODER DE SÍNTESE

Fazer boas manchetes não é fácil: exige do redator poder de síntese, rapidez e criatividade, dizer o que precisa num espaço limitado (a quantidade de toques)  – e fazer isto tudo sob pressão do tempo, pois a gráfica está gritando que é hora de fechar. O jornalista Wilson Ibiapina reuniu algumas jóias de craques na complicada arte das manchetes. Uma de Felizardo Montalverne (chefe de redação do Correio do Ceará): “Todo fumante morre de câncer, se outra doença não o matar primeiro”. No Rio, O Dia teve um dos mais famosos mancheteiros de nossa imprensa: Santa Cruz. Vejamos alguns casos, a seguir.

JÂNIO EM CAMPANHA: DA FARSA À COMÉDIA

Sobre a mulher traída que castrou o marido: “Cortou o mal pela raiz”; ao padre prefeito que autorizou o aumento do preço da carne: “Padre não resiste à tentação da carne”. É comum que suicidas se joguem da ponte Rio-Niterói, mas o delegado Almir Pereira preferiu dar um tiro na cabeça, e A Notícia viu assim o tresloucado gesto: “Atirou em vez de se atirar”. Jânio (foto) volta do exterior em 1962 e desfila num bonde de Vila Maria, em São Paulo, com boné de motorneiro. A manchete da Última Hora foi “Jânio Quadros: da farsa da renúncia à comédia da volta”. É a minha preferida.

MORRO DESMORONA SOBRE CANDIDATA DO PT

Os grandes jornais, perdida a antiga verve, se nivelam em falta de graça. Os regionais tratam o leitor como se criatividade fosse artigo proibido nas redações. Duas manchetes ilustram bem os dois casos: o JB (recentemente falecido), em 10/2/2010, ao anunciar a vitória da Beija-Flor, exaltou a segunda colocada: “Tijuca, inovadora intrusa no reino da Beija-Flor”; o Agora (de Itabuna), em 27/10/2010: “Serra esmaga Dilma em debate da Record”. Da primeira, nada se entende. A segunda nos faz pensar que uma serra (ou um morro) deslizou sobre o estúdio da tevê, levando a presidenta desta para melhor.

TROCADILHO: UMA “FEBRE” RECIDIVANTE

No começo do século XX, o trocadilho (do francês jeu de mots = jogo de palavras) era quase uma febre. Depois, como toda moda, perdeu o encanto e passou até a ser considerado coisa de mau gosto, subliteratura. Pois eu o acho estimulante, desde que feito com inteligência e oportunidade. A política, bom campo para esse exercício, me traz à memória três casos: 1) Getúlio Vargas, dito “Pai dos pobres”, foi chamado por um opositor de “Mãe dos ricos”; 2) à divisa integralista “Deus, Pátria e Família”, o Barão de Itararé (foto) respondeu no seu A Manha com “Adeus, Pátria e Família”; 3) em final de campanha, Dilma surpreendeu, ao dizer: “a oposição está de serra abaixo”.

ANTÔNIO VIEIRA (O PADRE) ERA DO RAMO

Trocadilhos, versos mordazes, críticas candentes aos costumes da época (sobretudo aos políticos) fizeram a fama do mais perverso dos trocadilhistas brasileiros, Emílio de Menezes. Tal gênero também foi cultivado, pasmem, pelo circunspecto padre Antônio Vieira. É de sua lavra a frase “Com tais premissas ele sem dúvida leva-nos às primícias”. De Emílio (que atirou seu veneno sobre Ruy Barbosa, a Academia Brasileira de Letras e quem mais estivesse próximo) todos sabem pelo menos um dito espirituoso, pois eles existem à mancheia no livro clássico Emílio de Menezes, o último boêmio (Raimundo de Menezes/1949, Coleção Saraiva, só disponível nos melhores sebos).

ALBERTO HOISEL, O SATÍRICO DA REGIÃO

Deixando de lado os nacionalmente famosos, não resisto a citar alguns calembures da lavra do satírico ilheense Alberto Hoisel, do livro Solo de Trombone (Antônio Lopes/2001, disponível na Editus/Uesc). Sobre o advogado Tandick Rezende, baixinho (pouco mais de 1,50 m), parceiro de cerveja, Hoisel deu a sentença: “Ele bebe para ficar alto”; quando o ascensorista o avisou de que o elevador do Banco Econômico estava “quebrado”, ele se deu por feliz: “Ainda bem que não foi o banco”; o atraso no noticiário do Diário da Tarde ele analisou assim: “Com vocação vitalícia/ Para a imprensa sem alarde/ Até a própria notícia/ Nosso diário dá…tarde!”.

TROCADILHISTA QUE NÃO TROCA DE LISTA

A quadrinha satírica tem no trocadilho uma ajuda decisiva para sua força, graça e maldade, como mostra o satírico ilheense. Certo Nacib definiu Alberto como “um dos maiores trocadilhistas do país” e ele fez sua profissão de fé integralista ao responder ao elogio: “Se a exceção foge à regra,/ Nacib que tenha em vista:/ Este é um que a lista integra/ E nunca troca de lista”. Ou, escrita num guardanapo na boate Night and Day (Rio de Janeiro), homenagem ao jornalista Fernando Leite Mendes (na foto, ao microfone), seu companheiro de mesa: “Lei! Tu sempre foste errada,/Por isso ninguém te entende…/E sem que faça piada/Eu te digo: ´Lei, te emendes!´”.

ELIS SE ACHAVA A PRÓPRIA LIZA MINELLI

Procuro no Google e não encontro (prova de que nada é perfeito) este causo envolvendo Elis Regina e o (dentre outras coisas) produtor musical Luiz Carlos Miéle. Então, vamos à memória: a cantora, recém-chegada de Porto Alegre, novinha em folha, discutia com o produtor o cachê para um show no Beco das Garrafas, reduto da Bossa-Nova nos anos sessenta, no Rio de Janeiro. Quando disse o preço, Miéle estrilou: “Você acha que é alguma Liza Minelli?” – e a desconhecida e ousada Elis Regina respondeu, na tampa: “Acho”.  Elis era assim: corajosa, atrevida, competitiva, sabendo onde ficava o próprio nariz (um pouco arrebitado, é verdade).

A IMPRESSIONANTE MUDANÇA DAS COISAS

Miéle (foto), hoje com mais de 70 anos, está envolvido em muitas dessas histórias engraçadas, algumas como personagem central. Como esta, que o mostra um tanto desligado do mundo. Ele conta que, há alguns anos, entrou numa loja de música e pediu para ver uns discos de Frank Sinatra. O vendedor fez cara de compaixão, como se achasse que o cliente estava esclerosado. Ofendido com o aparente desdém do cara, Miéle reclamou: “Vai me dizer que nesta loja não existe disco de Frank Sinatra?”, ao que o vendedor, como se falasse a uma criança, explicou: “Não, Miéle, é que não existe mais disco”. O produtor saiu, dizendo-se “triste, com a impressionante mudança das coisas”.

NO BRASIL SÓ DUAS CANTORAS: “GAL E EU”

Voltemos a Elis Regina. Muitos anos e declarações polêmicas mais tarde, ela – falando de cantoras brasileiras – disse: “No Brasil, só há duas que cantam, Gal e eu”. Se aceitássemos como verdadeira esta apaixonada avaliação, só nos restaria uma grande cantora (Elis morreu em 1982, aos 37 anos). Sem critérios técnicos, mas apenas por preferência, acho que as duas são nossas maiores intérpretes. Prefiro Elis, pois vejo certa frieza técnica em Gal, mesmo assim “a cantora” baiana. Minha lista tem Alcione, sem esquecer que Ângela Maria é referência nacional, até para Elis Regina. E ela estava em dia de modéstia: disse “Gal e eu”, não “Eu e Gal”.
</span><strong><span style=”color: #ffffff;”> </span></strong></div> <h3 style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>E FRED JORGE CRIOU CELLY CAMPELLO!</span></h3> <div style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>No auge do sucesso, em 1965, a música teve uma versão no Brasil, gravada por Agnaldo Timóteo. Como costuma ocorrer com as

UMA CANÇÃO QUE “TODO MUNDO” GRAVOU

Wave, um dos temas mais famosos de Tom Jobim, teve a versão cantada lançada por João Gilberto, no disco Amoroso, de 1977. Depois, ganhou o vasto mundo nas gravações de artistas diversos, dentre os quais Gal Costa, o próprio Tom, Ella Fitzgerald, Rosa Passos, Elis Regina, Sarah Vaughan, Leny Andrade (foto), Stan Getz, Joe Henderson, Wilson Simonal, Frank Sinatra e Anita O´Day (que abria e encerrava seus shows com esta música). No vídeo, Gal, impecável como sempre.

(O.C)

(O.C.)

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Osias Ernesto Lopes
É sempre bom ouvir e falar de música, notadamente da música popular brasileira. E aqui o faço apenas enquanto ouvinte e amante desta arte que tanto bem faz à alma, e especificamente para dizer de sua importância, da verdadeira trilha sonora que é formada ao longo de nossa vida. Inegavelmente que muitos dos momentos vividos, seja de felicidade, de tristeza, de festejos, têm quase sempre uma música especial, como que a emoldurá-los. E o que dizer dos namoros, dos amores, sem uma música que os adorne?
Minha geração foi privilegiada musicalmente, sem dúvida. Vivemos os tempos da Jovem Guarda, do Tropicalismo, vimos o rock and roll, ou rock n’roll, se solidificar e ser exaltado pelo imorredouro baiano Raul Seixas, assistíamos a alegria contagiante de Jair Rodrigues, e o samba de Martinho da Vila ecoar. Era um tempo em que todas as músicas de um LP (Long Play) faziam sucesso!
Foi uma juventude embalada por canções entoadas pelo “rei” Roberto Carlos e sua turma da Jovem Guarda. Quem nasceu na década de 1950 que nunca cantarolou alguma música romântica de Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Agnaldo Timóteo, The Fevers, Renato  Seus Blue Caps, Elis Regina, Chico Buarque de Holanda, Gil, Caetano, Gal e Bethânia, etc.?
São artistas que, além de também produzirem músicas que embalavam nossos sonhos juvenis, ajudavam a aprimorar a formação de nossos pensamentos político-sociais e sedimentar o senso crítico. Eram obras que, digamos assim, se completavam e formavam um ambiente deveras lúdico, romântico, alegre e inteligente.
Lógico que esses são apenas alguns poucos nomes do enorme elenco que nos fins dos anos 1960, nos anos 1970 e até meados dos anos 1980, habitavam magistralmente a chamada MPB. A relação de nomes é demasiadamente vasta. Não cabe aqui (literalmente, inclusive) relacioná-los.
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