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Quando faleceu, em 24 de março de 2021, o ex-deputado federal Haroldo Lima (PCdoB) já havia escrito boa parte da sua autobiografia. Aos 81 anos, o comunista deixou os manuscritos aos cuidados da família, antes de ser internado no Hospital Aliança, em Salvador, onde perderia a luta pela vida contra a Covid-19, doença que já matou 665 mil brasileiros, segundo os números oficiais.

Coube ao ex-deputado federal Aldo Arantes, correligionário de Haroldo no PCdoB, a tarefa de organizar e concluir a obra, que será lançada nesta terça-feira (17), às 18h, no Sindicato dos Bancários de Itabuna, com o título Haroldo Lima – coragem e dedicação à luta do povo (Ed. Anita Garibaldi).

Natural de Caetité e formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Haroldo Borges Rodrigues Lima participou ativamente da militância estudantil. Durante a ditadura (1964-1985), foi um dos fundadores da Ação Popular (AP), movimento de resistência armada ao regime golpista. Deputado constituinte, teve cinco mandatos na Câmara Federal. Deixou a Casa em 2002 e, de 2003 a 2011, dirigiu a Agência Nacional de Petróleo (ANP).

Davidson Magalhães é reeleito presidente do PCdoB da Bahia
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O itabunense Davidson Magalhães foi reeleito presidente do PCdoB da Bahia, neste domingo (3), no encerramento da Conferência Estadual do partido, em Salvador. Professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e secretário estadual de Trabalho, Emprego e Renda, Davidson foi reeleito pelos delegados e delegadas municipais, que também elegeram 119 nomes que vão compor o novo Comitê Estadual para o biênio 2021/2023.

Após o anúncio do resultado, Davidson agradeceu à militância comunista pela confiança e afirmou que é com muita honra que reassume a presidência do PCdoB na Bahia, definida por ele como “a seção mais forte do país, uma seção que teve como marca importante a presença de Haroldo Lima”. Davidson também fez menção a Péricles de Souza.

Davidson falou de desafios no centenário do PCdoB em 2022, quando o eleitorado do país deve retornar às urnas para escolha de deputados estaduais e federais, senadores, governadores e novo presidente do País. “É preciso confirmar o Partido como uma das referências políticas do país na consolidação da democracia e na luta pela retomada do Brasil para os brasileiros e pela derrota da onda neofascista representada por Bolsonaro”.

WAGNER

O presidente do PCdoB-BA também enfatizou, no evento, a participação protagonista do partido no novo momento político do estado, a partir da eleição do ex-governador Jaques Wagner (PT). “O PCdoB tem dado uma contribuição quer na militância política, quer no governo, com secretários e dirigentes de estatais. É a nossa contribuição também para o povo baiano”, afirmou.

O resultado da eleição do novo Comitê Estadual do PCdoB-BA teve a marca da diversidade, segundo a sua direção, e representou avanço na participação de mulheres, que passou de 36%, no último biênio, para 45%, em uma tentativa de alcançar a paridade de gênero. Na gestão cessante, dos 101 integrantes, 37 eram mulheres; no novo, são 54, entre os 120 novos membros eleitos.

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Quando Haroldo Lima foi convidado a fazer uso da palavra parece ter feito uma viagem de volta ao passado, lembrando de que, quando estava na clandestinidade, perseguido pela força policial da Ditadura Militar, atuou como trabalhador rural nos municípios de Buerarema, São José da Vitória e Arataca…

Wenceslau Júnior

Hoje recebi um telefonema do amigo Lucas Costa, ex-secretário de Agricultura e Meio Ambiente do Município de Arataca.

Ele fez questão de manifestar o seu pesar pelo falecimento do nosso querido Haroldo Lima.

Logo hoje, 26 de março, Dia do Cacau, dois dias após o falecimento de Haroldo e um dia após o aniversário do Glorioso Partido Comunista do Brasil.

Uma história curiosa me chamou a atenção e jamais poderia guardá-la comigo.

Lucas lembrou de uma reunião ocorrida na campanha eleitoral do ano de 1998, ocasião na qual Haroldo Lima foi candidato a deputado federal e Davidson Magalhães a deputado estadual.

O cenário: umas dezenas de pessoas na porta do estabelecimento de um outro “cabo eleitoral” conhecido como “Zé do Caixão”, já falecido. Todos em pé no meio da rua. Uma caixa de som e um microfone improvisados. Lucas e Zé do Caixão apresentavam seus candidatos a Deputados.

Quando Haroldo Lima foi convidado a fazer uso da palavra parece ter feito uma viagem de volta ao passado, lembrando de que quando estava na clandestinidade, perseguido pela força policial da Ditadura Militar, atuou como trabalhador rural nos municípios de Buerarema, São José da Vitória e Arataca, período no qual se dedicou a “recrutar” e formar militantes rurais para resistirem à Ditadura.

Mirando uma mata que podia ser vista por todos, Haroldo Lima apontou para ela e disse: “Baixinhos, eu já quebrei muito cacau no pé de pau nestas matas de Arataca”.

Alguns permaneceram em silencio, outros cochicharam nos ouvidos daqueles que estavam ao lado. Um ar de desconfiança pairava no ar.

Evento encerrado, Haroldo e Davidson seguiram viagem com a comitiva e a turma permaneceu no bar de Zé do Caixão para bebericar e jogar sinuca.

Aí foi aquele alvoroço: “o que ele quis dizer com isso? Quebrar cacau no pé do pau?”

Muitos duvidando da história de Haroldo Lima trabalhador rural. Outros querendo entender a expressão, outros rindo da cara de Haroldo.

Quando Lucas explicou que nessa época costumava chover muito na região, o que dificultava a colheita e transporte do fruto na “cabruca” (cacau plantado sob a mata). Por tal razão os trabalhadores colhiam o fruto, colocavam nas raízes das árvores frondosas umas folhas de bananeira para servir de anteparo e não sujar a poupa e ali mesmo quebravam o cacau, dispensando a casca e coletando apenas o caroço. Tal pratica facilitava o transporte para as barcaças, pois reduzia o peso e o volume.

Lucas finalmente disse: “vocês estavam duvidando do homem e o homem mostrou que conhece mais de cacau de que vocês todos”.

Haroldo Lima e Davidson angariaram alguns votos e nossa amizade com Lucas que até hoje permanece sólida.

Wenceslau Júnior é ex-vereador de Itabuna e professor da Uesc.

Haroldo Lima, de camisa branca, compondo a mesa de ato em defesa da estadualização da Fespi, episódio histórico lembrado no artigo de Élvio Magalhães
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Foi na transição da Fespi para a Uesc que Haroldo Lima pôde despontar para minha geração como o que sempre foi: um orador brilhante, um dirigente afetuoso, um político estudioso, um defensor das causas da Bahia e do Brasil.

Élvio Magalhães || Para José Junseira e Adnaelson Amparo, “emarquianos uesquianos”

Numa madrugada de inverno de 1986, a pequena célula “emarquiana” do PCdoB iria fazer sua primeira ação eleitoral: colar nos alojamentos masculinos a propaganda de Haroldo Lima para deputado federal. Balde, soda cáustica, farinha de trigo, vassoura. Ainda guardo no rosto respingo da cola e a cicatriz da ferida e, no coração, os tempos idos de descoberta e rebeldia.

Na Emarc-Ur me fiz comunista, entre leituras amadianas e artigos de Haroldo, aquele deputado, líder do PCdoB, que emergia da clandestinidade como fênix, após vinte anos de arbítrio de uma ditadura militar feroz e implacável, que espancou, torturou, assassinou, prendeu e baniu.

No ano de 1986 haveria eleições para a Assembleia Constituinte, e os comunistas baianos do sul buscavam reeleger Haroldo Lima. Militante oriundo da Juventude Universitária Católica (JUC), um dos responsáveis pela incorporação da Ação Popular ao PCdoB, ele enfrentou a ditadura, resistiu à tortura, ao cárcere e à barbárie de cabeça erguida. E venceu!

A chegada na Fespi de parte daquela célula da Emarc foi uma alegria. Na entrada, Ramon Vane recitando o “Poema Sujo” de Ferreira Gullar e o megafone de Déa Jacobina, a carismática líder estudantil, nos davam boas-vindas. Foi na transição da Fespi para a Uesc que Haroldo Lima pôde despontar para minha geração como o que sempre foi: um orador brilhante, um dirigente afetuoso, um político estudioso, um defensor das causas da Bahia e do Brasil.

Em 1987, a crise no modelo híbrido (subfinanciamento pela Ceplac, complementado pelas mensalidades), que sustentou a Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna desde sua fundação, tinha chegado ao auge. No movimento estudantil, o PCdoB dirigia o DCE e organizava a luta contra aumentos de mensalidades e pela estatização. Neste ano o deputado Haroldo Lima consegue um recurso extra no Ministério da Educação do governo Sarney, que possibilita à FESPI pagar os salários dos professores e seguir sem onerar os estudantes, congelando as mensalidades.

Mas é no ano de 1988, com as palavras de ordem “parar pra acertar” e a campanha “Ô estadualiza ou pifa”, que foi possível o desencadeamento de uma greve com o qual o movimento estudantil e acadêmico arrancaram, após 7 meses de intensa mobilização política, a estadualização da Fespi e a gratuidade do ensino. Deste processo participaram intensamente a militância do PCdoB e o deputado federal Haroldo Lima. O governador Waldir Pires, antevendo o futuro, queria federalizar a Fespi, com o correto argumento de que era preciso investimento federal no ensino superior da Bahia, o que só viria acontecer 25 anos depois, com a criação, pela presidenta Dilma Rousseff, da Universidade Federal do Sul da Bahia.

No início dos anos 90, quando a transição da Fespi para universidade se alongou e o impasse institucional se deu em função do Patrimônio da Universidade e outras burocracias, foi de novo Haroldo Lima quem construiu a saída. Mesmo um tenaz opositor do então governador Antônio Carlos Magalhães, Haroldo utilizou de sua amizade com o deputado Luís Eduardo Magalhães, vizinho de apartamento funcional em Brasília, para relatar as dificuldades institucionais da Fespi e cavar uma audiência da comunidade universitária com o então governador ACM. Presente na reunião, vi quando ACM se dirigiu a Haroldo Lima e disse: “Haroldo, você não precisa de intermediários para falar comigo!”.

Desta reunião ficou decidido que a Fespi seria estadualizada e viraria a Universidade Estadual de Santa Cruz – Uesc, o que de fato ocorreu meses depois, numa solenidade no auditório do Pavilhão Jorge Amado, onde o então estudante Wenceslau Jr., recém-eleito presidente do DCE, foi intensamente aplaudido pelos presentes, como reconhecimento da condução vitoriosa do movimento estudantil para aquele desfecho. A maior conquista da minha geração.

Ultimamente, conversava com Haroldo sobre sua participação na vice-liderança da Comissão Permanente do Índio, presidida pelo deputado xavante Mário Juruna, que deu origem à atual Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, os avanços conquistados na Constituição de 1988 e a luta dos povos indígenas pelos seus direitos. Não deu tempo de levá-lo à Marcha dos Tupinambás em Olivença, como combinado.

A nefasta política genocida do governo Bolsonaro, que boicotou vacinas e protocolos (e certamente colaborou para a morte prematura de Haroldo e de quase 300 mil vítimas da covid-19 no Brasil), só me faz ter a certeza da necessidade da construção de uma frente ampla, como defendia Haroldo, para que possamos derrotar o fascismo negacionista e descortinar o futuro de prosperidade para o povo brasileiro.

E, quando tudo isso passar, haveremos de fazer uma grande homenagem a este homem público imprescindível. Tomara que a Uesc esteja presente.

Haroldo Lima Vive!

Élvio Magalhães presidiu o Diretório Central dos Estudantes Carlos Mariguella, da Uesc; é membro da direção estadual do PCdoB na Bahia e assessor do deputado estadual Fabrício Falcão (PCdoB).

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Haroldo Lima, ex-deputado federal e ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), faleceu na madrugada desta quarta-feira (24), no Hospital Aliança, em Salvador, vítima do novo coronavírus (Covid-19). Com 81 anos de idade, Haroldo Lima estava internado por causa da doença e chegou a ser intubado no final da semana passada.

A morte do ex-deputado foi confirmada pelo presidente do diretório baiano do PCdoB, Davidson Magalhães. “Com muita dor, comunicamos o falecimento do histórico dirigente do PCdoB Haroldo Lima, mais uma vítima da Covid-19, na madrugada do dia 24/03”, informou o dirigente em nota. “Haroldo lutou bravamente por longos dias contra a doença, mas não resistiu às complicações provocadas pelo novo coronavírus”, completou.

A TRAJETÓRIA DE HAROLDO LIMA

Nascido em família tradicional de Caetité, Haroldo Lima tem 81 anos. Destacou-se na política nacional como membro da Ação Popular, movimento revolucionário contra a ditadura instaurada pelo Golpe de 1964. Em 1976, foi preso e torturado pelo regime.

Elegeu-se deputado federal pelo PMDB em 1982. Foi deputado da Constituinte de 1988, representando o PCdoB/BA. De 2005 a 2011, comandou a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

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– Quem bom, embaixador! Essa é uma ótima notícia para a população de Itabuna, que poderá ficar livre dessa terrível doença. Basta utilizar o bagunço como supositório, que estarão imunizados – brincou (mas não necessariamente com essas palavras).

 

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

No segundo mandato de Antônio Olímpio (AO) como prefeito de Ilhéus, o então deputado federal Haroldo Lima (PCdoB) trouxe à região uma comitiva da República Popular da China. O interesse do deputado comunista era ampliar o comércio entre os dois países, notadamente de cacau, à época atravessando uma das suas muitas crises – esta, causada pela vassoura de bruxa.

Àquela época, os técnicos em agropecuária da Ceplac, ideologicamente ligados aos partidos de esquerda – PCB, PCdoB, PT e PSB – convenceram seus dirigentes nacionais que a saída para o cacau era comercializar o cacau com a China. Após os cálculos feitos em várias reuniões, acreditavam que se cada chinês tomasse, diariamente, uma pequena xícara de chocolate, o preço do cacau subiria às nuvens.

Tese aprovada pelos cardeais vermelhos da esquerda brasileira, a primeira providência era convencer os herdeiros de Mao Tsé-Tung a introduzir esse novo hábito alimentar no cardápio de seus compatriotas. Para tanto, deveriam convidar uma comissão de alto nível para conhecer o Sul da Bahia e provar as qualidades alimentares e afrodisíacas do cacau, que poderia voltar a ser conhecido como frutos de ouro.

Nada mais fácil para camaradas e companheiros arrebanharem as pessoas mais importantes e decisivas numa negociação entre Brasil e China, que prometiam mostrar ao mundo capitalista os bons resultados de uma negociação com dois países com governos ideologicamente próximos, diria até, iguais. Data marcada, a cúpula das instituições políticas e da cacauicultura do Sul da Bahia se engalanaram para receber os chineses.

Entre os “camaradas” da comitiva estavam o embaixador da República Popular da China no Brasil (chefiando a delegação), o Cônsul, funcionários graduados da embaixada, empresários, técnicos e jornalistas. Aqui, cumpriram uma extensa programação, que incluiu visita a três fazendas de cacau, Ceplac, Conselho Nacional dos Produtores de Cacau (CNPC) e as prefeituras de Itabuna e Ilhéus.

Convidado pelo prefeito Antônio Olímpio para um almoço no Hotel Canabrava, a delegação compareceu em peso. Bem falante, o cicerone Haroldo Lima demonstrava todo o seu conhecimento sobre a região cacaueira – local onde permaneceu clandestino nas fazendas de cacau durante a ditadura militar –, encantava os chineses com informações sobre a Mata Atlântica (fauna e flora), além de características sobre a história e a população.

Lá pelas tantas, Haroldo Lima apresentou uma das frutas mais famosas da árvore Artocarpus heterophylla, a jaca, responsável pela alimentação da população rural e os doces que poderiam ser feitos com ela. Entusiasmado com as ricas propriedades da jaca, o embaixador chinês pediu a palavra e discorreu sobre as propriedades medicinais da fruta, conhecida dos chineses, que a plantam no sul do seu país, junto ao cacau.

Prosseguindo, o embaixador chinês revelou um estudo científico realizado pelos chineses para combater a Aids, por possuir em sua composição uma substância de propriedades medicinais, a “jacaína”. A cada frase, o embaixador fazia uma pausa, para que o tradutor fizesse a transcrição para os presentes, quando foi aparteado pelo prefeito então prefeito de Ilhéus, Antônio Olímpio.

– Quem bom, embaixador! Essa é uma ótima notícia para a população de Itabuna, que poderá ficar livre dessa terrível doença. Basta utilizar o bagunço como supositório, que estarão imunizados – brincou (mas não necessariamente com essas palavras).

Os chineses apenas sorriam – como sempre – mas não entendiam o porquê do silêncio sepulcral no ambiente. É que a intervenção de Antônio Olímpio causou um profundo mal-estar entre os presentes de língua portuguesa, inclusive no tradutor, que ficou embasbacado sem saber como verter a frase para o chinês, para desespero do embaixador, que continuava sem saber o que estava acontecendo.

Explicações de pé de ouvido entre uns, troca de olhares entre outros, fortes risadas entre os brasileiros que naturalmente conheciam Antônio Olímpio e sabiam da sua verve humorística. Na verdade, quem conhece Antônio Olímpio sabe que ele perde o amigo, mas não perde a piada, e que nem se lembrava ou importava que ele, nascido em Ferradas, à época distrito e hoje bairro de Itabuna, era um autêntico papa jaca.

Discretos, os chineses não disseram o motivo pelo qual abriram mão de importar milhões de toneladas de cacau prometidas pelos comunistas brasileiros. Se contaram ficou em segredo de Estado.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.