A Igreja São Francisco de Assis é uma obra de arte de Aleijadinho e Mestre Ataíde || Foto Foto Mineiros na Estrada
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Primeira cidade brasileira a conquistar, em 1980, o título de Patrimônio Cultural da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional em 1938, Ouro Preto é um destino ideal para amantes de história, cultura e monumentos. A cidade mineira é marcada por fortes expressões artísticas, religiosas e mantém preservada a maior parte da infraestrutura do Brasil colonial e obras de arte daquela época.

Igreja do Pilar é a segunda mais rica em ouro no país, atrás apenas da Igreja de São Francisco, em Salvador || Foto PIMENTA

O traçado das ruas íngremes, estreitas, de pedra; as fachadas dos casarões, das quase 30 igrejas católicas e dos museus, por si só, valem a viagem ao principal destino do Circuito do Ouro. A cada esquina o turista se depara com um pouco da história do Brasil, que atrai estudantes e pesquisadores do Brasil e outras partes do mundo. Como os atrativos são muitos em Ouro Preto, o PIMENTA optou por duas reportagens sobre o destino, com as igrejas como destaque nesta primeira. As estrelas da segunda matéria sobre turismo nas cidades mineiras serão os museus e outros prédios de valor cultural e histórico.

A cidade de Ouro Preto || Foto PIMENTA

A nossa reportagem começou o passeio pela Igreja São Francisco de Assis, que recebeu importante contribuição do escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e do professor, pintor e decorador Manuel da Costa Ataíde. Mestre Ataíde, como tornou-se conhecido mundialmente, fez a pintura do teto do templo, com a representação da assunção da Virgem. Ele foi responsável pela pintura e douramento do retábulo da capela-mor, da pintura da nave, dois painéis em óleo sobre madeira. O prédio da igreja é considerado uma obra-prima.

Igreja Nossa Senhora do Carmo || Foto PIMENTA

Há alguns metros da São Francisco fica a bela Igreja Nossa Senhora do Carmo, que apresenta ao turista os traços marcantes de dois gênios da arquitetura barroca brasileira. O templo foi construído entre 1766 e 1772 numa área onde existia capela Santa Quitéria.

Interior das igrejas é uma prova da riqueza do Brasil Colonial || Foto PIMENTA

A igreja foi projetada pelo arquiteto português Manoel Francisco Lisboa e, ainda na fase de construção, teve seus traços modificados por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (filho de Manoel). São de autoria de Aleijadinho os altares laterais de São João Batista e Nossa Senhora da Piedade e lavado da Sacristia. O Mestre Ataíde foi responsável pelo douramento do altar-mor e pintura do forro da sacristia.

Igreja São Francisco de Assis (ângulos diferentes) é considerada obra-prima de Ajeijadinho || Foto PIMENTA

A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos é outra rica herança do estilo Barroco deixada para a arquitetura brasileira. O templo católico possui nave central, com seis altares laterais, e dois púlpitos com base de granito, varanda de ferro e detalhe de pedra esculpida de concha. Há capela-mor em formato de duas elipses entrelaçadas e frontão contracurvado. A fachada é composta por duas torres cilíndricas da arquitetura religiosa mineira. Na entrada da igreja, encontra-se o tapa-vento de madeira.

Interior da Igreja São Francisco

As outras igrejas que possuem bela arquitetura e grande valor histórico são: Basílica Nossa Senhora do Pilar, Bom Jesus do Motosinhos e São Miguel e Alma, Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia, Nossa Senhora do Carmo, Mercês e Perdões, Igreja Matriz de Santa Ifigênia, Sagrado Coração de Jesus, Matriz de São Gonçalo, Santuário Nossa Senhora da Conceição e Santuário Nossa Senhora da Lapa e Igreja Nossa Senhora dos Prazeres, Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias. Quase todas essas igrejas tombadas pelo Iphan.

A visita é a chance que o turista tem de conhecer de perto as imagens pintadas ou esculpidas por grandes artistas brasileiros. A entrada nesses templos custa entre R$ 5,00 e R$ 10 inteira. As igrejas funcionam de terça a domingo, a partir das 8h30min, sendo que fecham para o almoço.

Mas atenção: antes do passeio pelos templos religiosos de séculos passados, seguem algumas dicas: leve calçados confortáveis, como tênis ou sapatênis. As mulheres precisam se esquecer do salto enquanto estiverem por lá. O turista precisa ter fôlego e gostar de caminhar, pois são ao menos 25 igrejas que vale a pena serem visitadas.

Como são muitos pontos para visitação, o turista deve traçar um roteiro para não perder tempo e encerrar o primeiro turno de visitações perto de um local para almoço. As igrejas fecham das 11h30min às 13h30min. Outra recomendação para escolher uma hospedagem em Ouro Preto ou Mariana, uma cidade fica ao lado da outra. Na próxima reportagem serão apresentados outros monumentos históricos de Ouro Preto.

Fiéis da Igreja da Conceição fazem caminhada da Via Sacra || Foto Acervo
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Na próxima sexta-feira (10), os fiéis da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Itabuna, retomam a terceira caminhada da Via Sacra, que antecede o período quaresma, como preparação da solenidade da Páscoa. A procissão, comandada pelo padre Adriano Fernandes, sai da porta da igreja, na Praça dos Capuchinhos, a partir das 5h, e percorre algumas ruas do bairro, previamente definidas.

Com orações e entoando cânticos, os religiosos seguem o caminho formando 14 estações representadas pela casa de uma família que acolhe os fieis. Durante uma pausa há a meditação do tema “Fraternidade e fome” e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”, da Campanha da Fraternidade 2023. O encerramento acontece uma hora depois, em frente à matriz da Conceição, com a bênção de padre Adriano.

Ele explicou que a Via Sacra é um piedoso exercício de prática de oração que se faz durante a quaresma, sempre às sextas feiras, recordando a paixão de Cristo, meditando o sofrimento de Jesus a partir do tribunal de Pilatos até o monte Calvário. “Para a igreja católica, esta celebração nos ajuda a seguir os ensinamentos de Jesus, Crucificado e Ressuscitado, que venceu as trevas da morte, trazendo-nos a luz da vida em sua plenitude”, disse padre Adriano.

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Daquela época aos dias de hoje, o bairro passou por várias etapas de crescimento e desenvolvimento, com boas escolas públicas e privadas; na área de lazer e esportes (…). Mais que isso, sua gente se destaca na sociedade nas mais diversas áreas – literária, artística, esportiva e profissional.

 

Walmir Rosário

De forma bastante singela, acredito que o ato de viver pode ser comparado a assumir a direção de um veículo. Ter foco no presente do caminho que lhe rodeia, olhando, sempre, pelo retrovisor o passado, e analisando as possibilidades do futuro, do que possa vir pela frente. São através das histórias do passado que poderemos entender mais sobre nós mesmos, para que possamos encarar o futuro sem qualquer receio.

Dito isso, passo a narrar, com alegria, um “achado” importante da minha infância, vivida no bairro da Conceição em Itabuna. Essa descoberta é um memorial de autoria das professoras Edith Oliveira de Santana e Jiunice Oliveira de Santana e do engenheiro agrônomo e pesquisador aposentado da Ceplac Sandoval Oliveira de Santana, que conta grande parte da história do bairro, em textos e fotos.

O trabalho, que leva o nome Bairro da Conceição e os Primórdios, foi elaborado para homenagear o cinquentenário da implantação da Paróquia Nossa Senhora da Conceição (8-12-1958 a 8-12-2008), com informações antecedentes ao ano de 1958. Todo o trabalho foi realizado por meio de consultas aos moradores descendentes dos desbravadores, com registros dos personagens.

E os três autores tinham motivos pra lá de especiais para elaborar o memorial, haja vista que eram filhos de Marinheiro e dona Janu (Antônio Joaquim de Santana e Joana Oliveira de Santana), casal que ostenta o título de quarto morador do bairro e o primeiro da rua Bela Vista. Os 13 filhos (uma adotiva) do casal se criaram no hoje bairro da Conceição, local que ainda residem filhos, netos e bisnetos.

Marinheiro, sergipano do distrito de Outeiro, município de Maruim, era um homem conhecedor do mundo, sempre a bordo dos navios da Marinha de Guerra Brasil e participou ativamente da “Revolta da Chibata”. Pretendendo mudar de vida, aporta em Ilhéus e vai trabalhar nas roças de cacau, tornando-se, posteriormente, administrador de fazendas e especialista no plantio e manutenção de cacaueiros.

Em 1932, Marinheiro muda-se para Itabuna em busca de escola para seus seis filhos, construindo uma casa na recém-criada Abissínia (bairro da Conceição), que se tornara promissora com a construção da ponte Góes Calmon, sobre o rio Cachoeira e a estrada para Macuco (hoje Buerarema). Conhecedor do mundo, Marinheiro participava da política local com ideias inovadoras para as campanhas políticas e a administração municipal.

Formalmente, o Conceição é o segundo bairro criado, embora em sua área, a Marimbeta, ostente a primazia de abrigar a primeira casa construída de Itabuna, na roça de Félix Severino do Amor Divino, um dos fundadores de Itabuna. E o memorial descreve que morar ali na década de 1930 era uma demonstração de coragem e trabalho, por ser um local de vegetação densa e contar com muitos animais silvestres.

Àquela época as casas eram feitas de taipas, adobes (crus ou queimados), telhados de palmeiras e poucos de telhas, que já serviam para se defender as intempéries, das onças e outros animais selvagens, muitos destes transformados em misturas na alimentação. Naqueles tempos bicudos, para matar a sede os moradores recorriam aos leitos dos ribeirões e à noite utilizavam fifós e placas, alimentados com querosene.

Para cozinhar bastava cortar a madeira na mata, tocar fogo e colocar as panelas de barro. Os mais abastados possuíam fogões a lenha, geralmente fora de casa. Nas panelas, feijão, carnes de caça, peixes do rio Cachoeira em abundância e muitas frutas na sobremesa. As vestimentas para os marmanjos eram calça curta, depois comprida, camisas com botões e cuecas samba canção; a depender da condição financeira, ternos de linho ou gabardine. As mulheres: vestido, saia, blusa, capote, combinação, anágua e calçola.

Aos poucos, o arruamento foi tomando forma urbana devido a crescente construção de casas, apareceram as primeiras vendas (mercearias) e padarias, melhorando as condições de vida da população. Mesmo assim, o “bairro” começou a ser chamado pejorativamente de Aldeia, e mais pra frente de Abissínia, devido a algumas mortes decorrentes de briga, injustamente comparada com a guerra no país africano.

No final da década de 1940, mesmo um aglomerado urbano de condições inóspitas, o bairro da Conceição possuía uma economia próspera, ganhando destaque nos anos 1950, quando começou a se consolidar. Nesse período, com as secas em Sergipe, os moradores de Itabuna convidavam os parentes para morar no “eldorado do cacau”, época em que o bairro da Conceição recebeu uma grande leva de migrantes.

Se em 1° de março de 1928 o bairro ganha a ponte Góes Calmon como primeiro vetor de crescimento, em 1955 veio o segundo com a construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, inaugurada em 08 de dezembro de 1958, quando a velha capela de madeira deu lugar a uma grande matriz. Neste mesmo período a fé dos moradores era atendida pelas igrejas Assembleia de Deus, Batista Teosópolis e Cristã do Brasil.

Construída pela batuta dos frades capuchinhos Isaías e Justo (italianos) e Apolônio (brasileiro/pernambucano), a Igreja de Nossa Senhora da Conceição marcou, decisivamente, o desenvolvimento do bairro. Enquanto a obra ia sendo tocada, a prefeitura passou a urbanizar o bairro, com a abertura e rebaixamento de ruas, a praça em frente a igreja e a canalização de água em algumas ruas.

Daquela época aos dias de hoje, o bairro passou por várias etapas de crescimento e desenvolvimento, com boas escolas públicas e privadas; na área de lazer e esportes – clube social, times de futebol, a sede do Itabuna Esporte Clube, bares e restaurantes, supermercados, dentre outros equipamentos urbanos. Mais que isso, sua gente se destaca na sociedade nas mais diversas áreas literária, artística, esportiva e profissional.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Luiz Conceição | jornalistaluizconceicao2@gmail.com
 

O Conceição e o Vila Zara eram como se família única fosse. Pais e filhos se reconheciam no pertencimento. A farra do Judas do Seu Conrado era traço de união a todos. Que tempos memoráveis!

 
Entre os anos de 1960 a 1980, o Sábado Santo, que antecede o Domingo de Páscoa, era marcado pela queima da Judas. Crianças e adolescentes dos bairros Conceição e Vila Zara aguardavam com ansiedade o show pirotécnico comandado pelo Seo Zé Conrado, um coletor de impostos do Fisco em Itapé, que morava no bairro próximo da Igreja de Nossa Senhora da Conceição.
Com engenhosidade, arte e humor, Conrado esticava fios de arame pelos postes da Praça dos Capuchinhos onde colocava um boneco simbolizando Judas Iscariotes, aquele personagem bíblico que entregou Jesus Cristo ao suplício para a redenção da Humanidade. Repleto de bombas e outros fogos de artifício, o boneco ficava ali o dia inteiro até ser queimado fixado em uma estaca de madeira sendo “insultado” por adultos em repulsa à sua conduta de entregar o Filho de Deus aos algozes.
Crianças e adolescentes não entendíamos muito, mas ficávamos ainda mais ansiosos pela hora da queima do boneco, findo os atos religiosos na igreja. Uma multidão ria à vontade com o “testamento” deixado pelo fajuto Iscariotes, mas era delicioso ver as pilhérias e o legado a pessoas conhecidas dos dois bairros e da cidade como um todo. Sim, políticos também eram vítimas das piadas do Seo Conrado e até gracejavam por reconhecer na brincadeira o humor ferino.
O Conceição e o Vila Zara eram como se família única fosse. Pais e filhos se reconheciam no pertencimento. A farra do Judas do Seu Conrado era traço de união a todos. Que tempos memoráveis! A felicidade enchia a todos pela suposta vingança de ver queimado, depois do rastilho de pólvora nos fios de arame, o boneco que representava o traidor, o falso apóstolo que com um beijo na face entregou Nosso Senhor ao suplício da cruz redentora e salvadora das pessoas que Nele acreditam.
Que a Páscoa, na aurora dominical, represente mais uma dessas passagens para um tempo novo em vez do desamor e do ódio, do ceticismo e descrença, da dor e sofrimento de cada um. É tempo de esperança, certeza e fé que um novo amanhã com amizades sinceras, harmonia e uma sociedade mais fraterna é possível. Que crianças e adolescentes fiquem longe da subjugação das drogas, maus tratos e da violência não só dos dois bairros, como de outros locais. E que renasça a crença de que o amor maior é aquele nascido da família, das boas amizades e da Cruz.
Feliz Páscoa!
Luiz Conceição é jornalista.