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dt-chargeDaniel Thame | danielthame@gmail.com

O mundo continuaria desigual, mas jamais seria o mesmo, porque ele havia deixado um sinal. Ou melhor, ele era o próprio Sinal. Quem tiver olhos para ver, Veja. Quem tiver desprendimento para seguir, Siga.

Viajante errante, andava eu lá pelos lados do Oriente Médio. Os negócios, como sempre, iam mal. O dinheiro, quando havia, mal dava para o pão e o vinho. Tempos difíceis, como sempre foram difíceis os tempos para quem não tem a felicidade de nascer rico nesse mundo dividido entre os que têm tudo e nos exploram e os que não temos nada e somos subjugados.

Estava em Belém, uma cidadezinha perdida no mapa. Aquele dia tinha sido excepcionalmente ruim para mim. Tanto que só me alimentara porque um casal – a esposa em adiantado estado de gravidez – dividira comigo um pedaço de pão. Pareciam caminhar a ermo, mas a mulher tinha um semblante de quem trazia no ventre não um filho, mas um tesouro.

Sem dinheiro nem para a mais modesta das hospedagens, fui procurar abrigo nos arredores da cidade. Era uma noite linda e uma estrela lá no céu brilhava mais do que todas as estrelas. Parecia um sinal, nós que àquela época esperávamos tanto por um sinal. Quem sabe alguém capaz de mudar o mundo. Ou, mais modestamente, garantir que todos tivessem pão e moradia digna. Nossos desejos eram simplórios, naqueles tempos simplórios em que vivíamos.

Andei pouco, o suficiente para avistar uma estrebaria. Cansado, só pensava numa reconfortante noite de sono. Ao me aproximar da estrebaria, a surpresa. Lá estava o casal que dividira comigo o pedaço de pão. Ao lado deles, alguns pastores de ovelhas, uns poucos animais. Ao centro, brilhando como a mais brilhante das estrelas, iluminada como a mais intensa das luzes, estava a criança.

Não tive coragem de me aproximar. Cansado, preocupado com o dia seguinte, me afastei e encontrei uma estrebaria vazia. Antes, olhei para aquela criança que tanto me impressionara. Acho que ela sorriu pra mim. Ou, talvez tenha sido só impressão minha.

Naquela noite, sonhei que aquela criança, que os pais deram o nome de Jesus, se transformara num grande líder popular. Não desses líderes que após chegar ao poder viram as costas para o povo e só pensam em fazer fortuna. Mas um líder que combate as injustiças sociais, a violência. Um líder que não apenas divide, mas multiplica o pão. No meu sonho, Jesus arrebatou uma multidão de seguidores, todos eles humildes. Por isso, despertou a ira dos poderosos.

viajanteNo meu sonho, aquele barbudo revolucionário não se curvou aos poderosos, não desviou um milímetro do bom caminho, nunca abandonou os humildes e pagou um preço altíssimo por isso. Numa tarde sombria como só as tardes trágicas são sombrias, ele foi crucificado.

Meu sonho, entretanto, não terminaria na crucificação daquele homem que eu vira nascer numa noite estrelada. Morto, ele se multiplicou e sua mensagem se espalhou pelo mundo, atravessou séculos, cruzou milênios. O mundo continuaria desigual, mas jamais seria o mesmo, porque ele havia deixado um sinal. Ou melhor, ele era o próprio Sinal. Quem tiver olhos para ver, Veja. Quem tiver desprendimento para seguir, Siga.

No retorno para Belém, notei que a manjedoura onde nascera a criança estava vazia. Os pastores cuidavam de suas ovelhas e a vida seguia seu ritmo normal. Mas eu estava extremamente inquieto.

Teria sido apenas um sonho? Ou teria, eu, recebido o sinal e não percebido. Durante minhas andanças nunca deixei de olhar para o céu. Em busca de uma estrela que me indicasse o caminho.

Viajante errante, até hoje eu me sinto passageiro de uma história onde poderia ter sido personagem. Porque apenas e tão somente a ação – e não a simples contemplação- é capaz de mudar a História.

E que bela história, que começaria assim:

Viajante errante, andava eu…

Daniel Thame é jornalista, escritor e edita o Blog do Thame.

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Ricardo RibeiroRicardo Ribeiro | ricardo.ribeiro10@gmail.com

 

É imprescindível punir os maus, mas um autoexame também se faz necessário. Ou o combate ficará apenas na superfície e, logo que trocadas as peças no tabuleiro, o jogo continuará o mesmo.

 

Neste Domingo de Páscoa, peço compreensão a Deus para entender o momento que o Brasil atravessa. Guerra (política), epidemias (dengue, zika e chikungunya), falta de água nesta cidade sem rumo… Sensação de Apocalipse, de que o mundo está para acabar a qualquer momento!

Sobre a política, o que o momento nos diz? Possíveis interesses sub-reptícios disfarçados sob o manto do louvável combate à corrupção. Quem pode ser contra a condenação dos ladrões do erário? Mas estaremos inocentes ao acreditar que tudo se limita a essa cruzada do bem contra o mal?

O medo de que a democracia sucumba é crescente e justificável. Juízes que se portam como inquisidores, transbordando parcialidade e paixões, somente despertam desconfiança. Mas a maioria da assistência se conforta com a fachada da causa justa.

Está difícil conter o estouro da boiada e agora, aparentemente, só nos resta orar. Pedir a Deus pelo Brasil, para que este país enfim se torne uma nação de verdade, onde seus filhos sejam respeitados, onde o coletivo prevaleça sobre o individual, onde a ética se aparte da demagogia e se concretize na prática, onde o povo tenha discernimento para não ser tangido feito boi de um lado para o outro, sem saber para onde está indo.

Que a verdade seja plena e o combate, honesto! Boa parte do público já percebeu que nesse faroeste não se dá uma briga de mocinhos contra bandidos. O enredo sugere que estão todos com as mãos sujas: protagonistas, coadjuvantes e, ora, até os espectadores. Como disse Jesus diante da mulher adúltera, “atire a primeira pedra aquele que não tiver pecado”. E todos se aquietaram.

É imprescindível punir os maus, mas um autoexame também se faz necessário. Ou o combate ficará apenas na superfície e, logo que trocadas as peças no tabuleiro, o jogo continuará o mesmo.

Somente aí muitos entenderão qual é o problema real desse país…

Ricardo Ribeiro é advogado.

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professor júlio c gomesJulio Cezar de Oliveira Gomes | advjuliogomes@ig.com.br

Jesus foi caluniado e tentado, para que, acusando-o, o pudessem matar, como na ocasião em que lhe perguntaram se deveriam pagar impostos com a moeda romana.

Torço, sinceramente, para que Jesus tenha vivido uma noite de amor carnal sob as estrelas. Não se trata de diminuí-lo, nem de desejar que sua natureza humana se sobrepusesse à grandeza de seu espírito. Não é isso, absolutamente.
Jesus foi homem em todos os sentidos. Foi parido e nasceu em meio a uma viagem, sob as precaríssimas condições existentes em sua época. Sua família teve de fugir e refugiar-se por anos a fio em terras distantes, porque o rei dos Judeus, Herodes, ordenou a matança dos primogênitos do sexo masculino, o que segundo a bíblia efetivamente ocorreu naquela localidade. Assim, Jesus não se entendia como pessoa, mas já carregava o fardo das perseguições políticas e do poder sem limites que os maiorais de seu tempo detinham.
Sem ser de família rica, Jesus e seus familiares trabalhavam a cada dia para garantir seu sustento, e em uma época na qual os filhos seguiam o ofício dos pais, decerto que ainda menino ele tanto ajudava aos genitores quanto aprendeu – na prática do trabalho duro – a ser marceneiro, tal como seu pai.
Jesus sofreu toda a sorte de injustiça, acusações, incompreensões e agressões morais e físicas possíveis. E o pior, sofreu-as injustamente.
A pregar em sua cidade (ou aldeia) natal, Nazaré, foi discriminado e desacreditado, o que o levaria a dizer eu ninguém é profeta em sua própria terra. Saiu de lá quase fugido, para evitar que ocorressem confrontos que poderiam levá-lo à morte antes do devido tempo.
Por todos os lugares onde pregou, os poderosos, sobretudo os Judeus como ele, o viam e tratavam como uma ameaça à Religião Judaica e aos seus privilégios de econômicos e políticos, inerentes às altas funções de sacerdote monopolizada por aquelas abastadas famílias.
Em virtude disto Jesus foi caluniado e tentado, para que, acusando-o, o pudessem matar, como na ocasião em que lhe perguntaram se deveriam pagar impostos com a moeda romana, o que o levou, num rasgo de inteligência e profunda sabedoria, a dizer que se deveria dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
Finalmente, quando os sacerdotes conseguiram prendê-lo em Jerusalém, após sofrer pérfida traição por parte de Judas – e qual de nós humanos não traiu nem foi traído? – Cristo veio a ser espancado, interrogado sob violência, condenado, torturado e executado, mesmo sendo inocente quanto às acusações a ele imputadas.
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Política com Vatapá (A Tarde)
Essa quem conta é o jornalista Jeremias Macário, o expert da alma do sudoeste baiano.
Era o ano de 1962. Em Vitória da Conquista, José Fernandes Pedral Sampaio disputava a prefeitura contra  Jesus Gomes dos Santos.
Campanha, José Pedral, o progressista, enfrentando a oligarquia coronelista de Jesus.
Os jornais locais se deleitavam:
Pedral crucifica Jesus. Ou então: Discípulos abandonam Jesus. Ou ainda: Jesus é traído na ceia. Ou Povo renega Jesus, e por aí ia.
O padre Palmeira, aliado do grupo de José Pedral, a ‘esquerda subversiva’, mas comedido na sua campanha para deputado estadual, estava num evento, alguém provocou:
– Padre, o senhor está contra ou a favor de Jesus?
O padre olhou, respondeu com desdém:
– Eu estou com o pai, José.
Pedral ganhou a eleição disparado, mas foi cassado em maio de 1964. Os adversários disseram que foi castigo de Jesus, o verdadeiro, pelos ataques a Jesus, o genérico.