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É sábado à noite. Escrevo enquanto escuto um especialista explicar no Jornal Nacional, da Rede Globo, que é preciso viver um dia de cada vez para evitar o estresse e a ansiedade. Respiro fundo, mas confio na seriedade e serenidade do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Manuela Berbert || manuelaberbert@yahoo.com.br

Fui uma das pessoas que, ao ficar em casa voluntariamente, chamei o meu movimento de quarentena, até entender que não é isto o que estou vivendo. Estou isolada socialmente, em minha própria residência, respeitando uma medida preventiva dos Governos, na tentativa de amenizar a disseminação do COVID-19, conhecido popularmente como coronavírus.

Tenho um coração dividido, neste momento: de um lado, a tentativa de não acompanhar todas as notícias e me distanciar de sentimentos como medo e ansiedade. Do outro, uma curiosidade absurda para tentar entender o que está acontecendo de fato, e porque a Itália divulgou, há algumas horas, a morte de 793 pessoas em um único dia, inclusive ultrapassando o número de vítimas da China, onde tudo começou.

Uma das palavras que mais tenho escutado, há alguns dais, é Lombardia, região mais populosa da Itália cuja capital é Milão. A tão sonhada por tantos brasileiros! Tão sonhada quanto o Rio de Janeiro e São Paulo. Impossível não fazer a associação. Impossível não lembrar que as primeiras mortes pela infecção estão acontecendo por lá. Impossível não pensar que o COVID-19 está pontuando nas regiões da classe média e alta, e que se chegar a um barraquinho sequer de uma daquelas tantas favelas do Rio, ou na gigantesca população que mora nas ruas de São Paulo, o Brasil não terá a menor condição de contabilizar ou conter. Lamentavelmente.

É sábado à noite. Escrevo enquanto escuto um especialista explicar no Jornal Nacional, da Rede Globo, que é preciso viver um dia de cada vez para evitar o estresse e a ansiedade. Não sabemos quanto tempo tudo isso irá durar. Respiro fundo, mas confio na seriedade e serenidade do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O nosso presidente, Bolsonaro, chama a pandemia de gripe e desfaz das ações enérgicas dos Governadores dos Estados Brasileiros. Desconfiam que ele esteja negando a própria infecção. Desconfio que muitos ainda negam sua insanidade…

Manuela Berbert é publicitária.
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Adroaldo Almeida | adroaldoalmeida@hotmail.com
 
 

O certo é que a crítica “republicana” de Aninha não se interessa pela atuação dos atores e diretores a quem o PT combate. Pelo visto, nem com duas batidas de Molière ela acertaria o fim do espetáculo dos vampirões que tomaram o país.

 
Vez por outra Aninha Franco tenta falar sobre política em seus artigos, mas o que sempre sai é um arremedo de crítica monotemática, repetidamente contra o PT e seus dirigentes, como agora nesse burlesco “A dramaturgia de Jaques Wagner”. Ao que parece, Aninha, a escritora e dramaturga, acha que pertence a uma categoria que chegou ao Planeta para atacar os que pensam diferente dela, inclusive em questões de estética, arquitetura e decoração de interiores. Preconceituosa e enviesada, sugere que a esquerda deve morar para sempre na Cabana do Pai Tomás.
Outro desencontro da personagem política de Aninha é se valer de um jornal, o Correio da Bahia, notório adversário e inimigo imperdoável de Wagner por ter infligido a maior e mais humilhante derrota aos seus proprietários em 2006. Assim fica fácil. Isso é sabujice do pior teatro serviçal.
Neste Brasil véi sem fronteira, muita gente faz teatro como Aninha; alguns, inclusive, a favor dos poderosos; outros, na trincheira da vanguarda contra o atraso; porém há aqueles que não são nem uma coisa nem outra, mas personagens de si mesmos, e escrevem repetitivos monólogos enfadonhos que adormecem a plateia.
Agora, tudo indica, suponho, que Aninha premiada roteirista, não entende patavina de cinema. Pois quando Geddel apareceu chorando diante de um juiz federal em cadeia nacional do JN da TV Globo, Aninha nada falou. Nem, tampouco, quando Rocha Loures foi flagrado correndo, numa cena de perseguição à noite pelas ruas do Rio de Janeiro. Também se calou quando um avião, pertencente ao Senador Perrela, foi filmado pousando no Espírito Santo com meia tonelada de cocaína pura. Ou, quem sabe, ela não aprecie as produções de “terrir” (o terror cômico dos filmes B).
Quem sabe?
O certo é que a crítica “republicana” de Aninha não se interessa pela atuação dos atores e diretores a quem o PT combate. Pelo visto, nem com duas batidas de Molière ela acertaria o fim do espetáculo dos vampirões que tomaram o país.
Adroaldo Almeida é advogado e ex-prefeito de Itororó.

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walmirWalmir Rosário | wallaw1111@gmail.com

 

Acordos eram feitos dentro e fora dos recintos parlamentares, principalmente na calada da noite nos badalados restaurantes. Local melhor para conspirar, trair e até mesmo acordar não existiam e tudo era percebido no plenário.

É um sufoco diário para produtores e editores dos veículos de comunicação do Brasil. Têm que se virar nos 30, como diz Faustão, para conseguir fazer um programa redondinho. E o motivo não é outro, senão a política (e os políticos), que simplesmente mudaram de editoria: ao invés da tradicional e prestigiosa editoria de política, elas passaram a engordar a editoria de polícia, que nunca teve esses prestígios todos, a não ser em determinados horários ou meios de comunicação especializados.

E olha que os coitados dos jornalistas, radialistas e blogueiros até que tentam emplacar as notícias vindas de Brasília – sobretudo – na tradicional editoria de política, mas é muito difícil conseguir, e muitas vezes não encontram outro recurso que não seja a apelação. Como costumo dizer, não se deve brigar com a notícia, mas nem sempre essa máxima é seguida à risca e o público termina por não acreditar no que está vendo, lendo ou ouvindo. Ao invés de política, polícia no programa inteiro.

A depender o horário, aí é que o programa vai pro brejo. A escalada feita com todo o esmero para dar ênfase às chamadas e conseguir uma boa audiência é toda trocada no decorrer do programa, nos casos de emissoras de rádio e televisão. Já os impressos e blogs, passam o tempo esperando que a grande imprensa e agências de notícias transmitam os debates do Congresso Nacional, acerca de temas relevantes para as áreas econômica, saúde, educação e cidadania. Mas é tudo em vão.

Como sempre acontece de uns tempos pra cá, oposição e situação não costumam travar os fenomenais debates com políticos importantes e que faziam vibrar a nação com seus discursos. Os grandes tribunos do naipe de Ruy Barbosa, Tarcilo Vieira de Melo, Aliomar Baleeiro, Carlos Lacerda, ou raposas políticas, a exemplo de Tancredo Neves e Ulisses Guimarães, desapareceram e deram lugar à política de bastidores. Se antes se privilegiava o debate sobre os temas, à vista de todos, hoje a população costuma “comer o prato feito” preparado nos recônditos das cozinhas palacianas.

Não quero aqui afirmar que na política de antes corredores, gabinetes, salas, restaurantes e cafezinhos do Congresso Nacional não fossem testemunhas de olhos e ouvidos – de mercador – do que e sobre o que se conversava nesses locais. Acordos eram feitos dentro e fora dos recintos parlamentares, principalmente na calada da noite nos badalados restaurantes. Local melhor para conspirar, trair e até mesmo acordar não existiam e tudo era percebido no plenário.

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E até mesmo o Jornal Nacional, que evitava a notícia policial como “satanás corre da cruz”, adotou e proporciona espaços generosos, prometendo, ainda, mais desdobramentos para o dia seguinte.

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Uma das grandes diferenças era, àquela época, a presença das convicções, tempos ainda marcados pela ideologia política, comportamento tão escasso no Brasil de hoje, e prova melhor não há do que uma simples e perfunctória análise da mudança de partidos de nossos parlamentares. Transitam da esquerda à direita sem a menor cerimônia, sequer fazem um simples estágio no centro nessa temida e nefasta trajetória. E aí está o xis do problema: Hoje, em Brasília, até a raiva é combinada.

E os pensamentos são mudados, as consciências são compradas por qualquer dois mil réis. Aliás, essa antiga expressão não tem a menor chance de sobreviver em Brasília, onde as conversas começam com milhões, distribuídos generosamente pela nossas gentis empreiteiras, de forma das mais generosas. São todos bonzinhos e inteligentes ao interpretar a oração de São Francisco de Assis, principalmente naquela parte do é dando que se recebe. No popular, um caminho de duas vias: eu contribuo e você me devolve a gentileza com pequenas ações e atos no parlamento.

Mas ao fim e ao cabo, não conseguiram antever a recusa de cumplicidade dos Procuradores da República, Juízes Federais e da Polícia Federal. A partir daí, a atividade desenvolvida pelos políticos passou a ser publicada nas editorias de polícia. Ao invés de apresentações projetos de lei, operações da polícia federal; apreciações de projetos foram substituídas pela denúncia dos procuradores; e o espaço dado às ações parlamentares no dia a dia trocadas pelas prisões em casas, ao amanhecer do dia, embora todos se declarem inocentes.

Os jornais e revistas – inclusive os eletrônicos – que reservavam mais espaços para a vida em sociedade, o cotidiano, a economia, a cultura, passaram a dar manchetes sensacionalistas das atividades criminosas dos parlamentares. E até mesmo o Jornal Nacional, que evitava a notícia policial como “satanás corre da cruz”, adotou e proporciona espaços generosos, prometendo, ainda, mais desdobramentos para o dia seguinte.

É de matar de inveja antigos jornais como Notícias Populares, A Luta Democrática e o Jornal O Dia (em seu antigo formato) adjetivados como do tipo “se espremer, sai sangue”. Hoje, esses modelos são copiado largamente pelos blogs, que expõem imagens cruéis de pessoas mortas e esquartejadas, sejam pelas chacinas ou em acidentes automobilísticos. Quanto aos coitados dos editores, só duas alternativas: manter o novo formato policialesco ou perder audiência para os concorrentes.

Não esqueçamos, porém, que a sociedade mudou em seus costumes, com o embrutecimento das pessoas, para os quais miséria pouca é bobagem.

Walmir Rosário é jornalista, radialista e advogado.

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A TELEVISÃO E SUA LINGUAGEM RASTEIRA

Ousarme Citoaian
Do jeito que a coisa anda, terminaremos nos comunicando por sinais de fumaça. Escrever (ou falar) de acordo com o que a norma preceitua virou coisa arcaica, sem graça e de difícil entendimento. E a mídia (façamos aqui um mea culpa) tem muito a ver com isso, sobretudo a tevê, que defende como princípio uma linguagem cada vez mais rasteira, cooptando, lentamente, a sociedade: os folhetins (a que chamam novela), antes considerados “produto para domésticas analfabetas”, hoje são matéria de teses de doutoramento nas universidades (e quem empregar a frase aspeada será tido como preconceituoso e politicamente incorreto). São ásperos os tempos.

ANTÔNIO MARIA, A FRASE PARA A HISTÓRIA

O processo de erosão intelectual é bem antigo. Sérgio Porto (o Stanislaw Ponte Preta) nos conta esta: Antônio Maria (cronista, compositor, narrador de futebol, roteirista e apresentador de programas de rádio e televisão), foi solicitado por Péricles do Amaral, então diretor da TV Rio, a copidescar uma matéria. A ideia era tornar o texto mais simples, ao alcance do público menos escolarizado. O trabalho do autor de Ninguém me ama não satisfez o chefe, pois este achava que o texto ainda poderia ser mais simples. O bom Maria refez a tarefa, porém, ao entregar a nova adaptação, produziu uma frase para a história: “Pior do que isto eu não sei fazer”.

DE COMO TORNAR PERPÉTUA A IGNORÂNCIA

A tevê, em seu objetivo de atingir as camadas medianas da população, derrapa tanto em linguagem quanto em conteúdo. A linguagem (seja na tevê seja na literatura de ficção, por exemplo) precisa ser simples, sem ser indigente. Nunca é demais repetir que a simplicidade é uma qualidade do estilo. Portanto, ser simples, sem ser rasteiro, não é defeito, é virtude. Já a questão do conteúdo é mais difícil: William Bonner, editor do Jornal Nacional, comparou o telespectador médio a alguém simplório como o personagem Homer Simpson, “incapaz de entender notícias complexas” – daí o JN só divulgar o “simples”. Este, sim, é um argumento destinado a perpetuar a ignorância.

PROVA DE DESRESPEITO AO LEITOR/OUVINTE

Costumo dizer que jornalistas detêm, basicamente, o mesmo saber. Eles se diferenciam na ética, no comportamento moral e na (in) dependência com que atuam – mas se equivalem em domínio da linguagem (ou não são jornalistas, são enganadores). Todos eles sabem o que é sujeito e predicado, estudaram e apreenderam noções de concordância, regência e acentuação (se não estão seguros sobre o emprego do hífen, não os culpemos – afinal de contas, ninguém sabe usar esse sinalzinho nefasto, depois do último Acordo Ortográfico). Por que erram tanto? – perguntaria a leitora ingênua (ainda há leitoras ingênuas?), a quem eu diria: erram por falta de cuidado, desleixo e conseqüente desrespeito ao leitor/ouvinte.

CUIDADO COM O REBANHO BOVINO NAS RUAS

Em dias recuados, na aventura de assistir a um noticiário de tevê, dei de cara com uma reportagem do Extremo Sul da Bahia, alardeando o progresso econômico daquela região. Lá pras tantas, o repórter destacou que, além da agricultura, existe em Teixeira de Freitas um notável crescimento da pecuária. E saiu-me com esta pérola: “Tanto é assim que a cidade já possui o quarto rebanho bovino do estado”. Pálido de espanto, pensei no inferno que seria a cidade conviver com tantas vacas, bois, bezerros e touros nem sempre de bom humor, a atravancar ruas e amedrontar pessoas. Ao que me consta, nem a Índia (onde as vacas, por tradição religiosa, têm sagradas até as fezes e a urina) se viu igual pesadelo.

PARA UM BIFE, 15 MIL LITROS DE BOA ÁGUA

Devidamente traduzida e digerida a notícia, filosofei, a respeito do repórter: tão jovem, bem vestido, mas tão descuidado! Tudo ficaria simples e claro se ele dissesse que “o município” etc. etc., pois é regra conhecida que a pecuária não se pratica na cidade: é lá no campo que ela se exerce, sob protesto dos ambientalistas, que querem os bois extintos (um bovino, até que passe de bezerro a bife acebolado, bebeu milhões de litros de boa água – sendo que o tal bife acebolado “custa” cerca de 15 mil litros – mas esta é outra história). Voltando à pérola, é o que dizíamos na abertura deste tema: o repórter, por certo, está careca de saber que município e cidade são valores bem diferentes. Descuidou-se.

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DE TROPEIRO A ATOR, POETA E COMPOSITOR

Zé do Norte (por extenso, Alfredo Ricardo do Nascimento, em Cajazeiras/PB) trabalhou na enxada sob o sol do sertão nordestino, foi tropeiro e apanhador de algodão. Em 1921, alistado no Exército, foi servir no Rio de Janeiro e, a partir de um convite de Joracy Camargo, embrenhou-se no meio artístico e foi em frente: virou cantor, compositor, poeta, folclorista e ator. Jogava nas onze e chutava com as duas. Trabalhou nas principais emissoras de rádio da época, foi consultor do sotaque nordestino em O Cangaceiro (Lima Barreto) e, graças a esse filme, ficou conhecido mundialmente com Muié Rendera (ou Mulher Rendeira). Fez cerca de cem canções, algumas delas com revisitas modernas de Nana Caymmi, Raul Seixas, Maria Bethânia e Joan Baez. É tido como “descobridor” de Luiz Gonzaga.

CANGACEIRO-POETA OU POETA-CANGACEIRO?

O músico pernambucano (1926-2006) ensinou a arte a Baden Powell, Paulo Moura, Menescal, Sérgio Mendes, Nara Leão, João Donato. Não é pouca coisa. Dele, Vinícius disse (Samba da Bênção): “Moacir Santos/tu que não és um só, és tantos”. Sua estreia em gravação se deu com o álbum Coisas, “um dos melhores discos brasileiros de todos os tempos”, segundo a revista Rolling Stones. São dez faixas – Coisa nº 1, Coisa nº 2, Coisa nº 3 (e por aí vai), mas Coisa nº 1 não é a primeira faixa, é a 8ª, Coisa nº 8 é a 10ª e Coisa nº 5 é a 3ª. Coisa confusa, não? Coisa mais linda é Sônia Braga, que enfeita, acompanhada de figuras carimbadas da Globo em 1980, Coisas do mundo, minha nega, do elegante, fino, inteligente, discreto e terno Paulinho da Viola. Faltou alguma coisa? Então vá: genial.

LAMPIÃO: “TU ME ENSINA A FAZER RENDA”

Volta Seca e Zé do Norte foram contemporâneos (Zé do Norte era dez anos mais velho) e, ao que consta, chegaram a trabalhar juntos como consultores de O Cangaceiro. Mesmo assim, o ex-integrante do bando de Lampião não se mostrou incomodado com a Muié Rendera cantada pelo grupo paulistano Demônios da Garoa (a letra de Zé do Norte, não a dele). E não se pode ignorar a versão também corrente de que o autor não seria nenhum dos dois, mas o mítico Lampião, o Rei do Cangaço. Enfim, a autoria da letra simplória de Mulher Rendeira tem lá seus mistérios, mas a Zé do Norte cabe o mérito da adaptação conhecida por várias gerações de brasileiros, há quase 60 anos. A dupla Marco Pereira (violão) e Gabriel Grossi nos mostram o que a composição tem de melhor, a melodia.
(O.C.)
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Parece que o arremate de Ronaldinho Gaúcho será mesmo nesta segunda (10). O atleta fez do seu retorno ao futebol brasileiro um circo e, para completar, dará entrevista exclusiva ao Jornal Nacional, da rede Globo, nesta noite para dizer que assinou com o Flamengo. Pelo menos foi o que antecipou o repórter Fábio Azevedo, da concorrente TV Bandeirantes. Se verdade ou não, esperemos o jornalístico da Vênus Platinada.

Às 20h01min – A Globo anunciou que dirigentes do Flamengo e o procurador Assis estão reunidos e à espera de Ronaldinho Gaúcho, para assinatura do contrato. O anúncio no Jornal Nacional foi feito pela apresentadora Renata Vasconcelos.

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ESCREVER NÃO É TRABALHO, É PASSATEMPO

Ousarme Citoaian

Milton Rosário, integrante de qualquer lista, por menor que seja, dos melhores jornalistas de sua geração (além de ser gente de excepcional qualidade), me contou esta. Certa vez, o pai do poeta Telmo Padilha (foto) virou-se para o autor de Girassol do espanto e, olho no olho, o chamou à terra: “Meu filho, deixe esse negócio de escrever e arranje um trabalho decente, pois literatura não dá camisa a ninguém”. Telmo persistiu e obteve reconhecimento nacional, o que não invalida a lição de que intelectual, para ganhar uma camisa nova, precisa suar (e muito!) a antiga. Não temos tabela de preços nem sindicato como proteção – e escrever, diz o senso comum, não é trabalho, é passatempo.

JORNALISTA É QUEM VIVE DO JORNALISMO

Aqui, uma questão semântica. Para a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) –  que anda pelas redações ameaçando prender e arrebentar quem por lá se encontre que não seja diplomado – é jornalista profissional quem tem o curso superior específico (aos demais, considerados no exercício ilegal da profissão, cadeia). Já o conceito “clássico” é diferente: jornalista é quem atende aos dois requisitos de 1) trabalhar regularmente na atividade e 2) ser remunerado por esse trabalho. Com ou sem diploma, é profissional o indivíduo que exerce o jornalismo periodicamente e é pago para fazê-lo. Fora dessa fórmula simples e clara, não há salvação, pouco importa o que pense a Fenaj.

“GANHARÁS O PÃO COM O SUOR DO TEXTO”

A região tem muitos (e bons) jornalistas não diplomados, e me arrisco a citar apenas um, na tentativa de síntese do que quero dizer. Refiro-me a Eduardo Anunciação (foto), um “bicho de jornal”, com mais tempo de redação do que urubu de vôo (às vezes penso que ele, por essa escrita em linhas tortas próprias dos deuses, teria nascido num ambiente de jornal – e, para completar a quimera, bebeu tinta de impressão, em vez de leite materno). Nunca foi balconista de loja, não trabalhou em banco, não sabe botar meia-sola em sapato, não é pedreiro nem médico. É jornalista. Daqueles que lutam com as palavras todos os dias, mal rompe a manhã – e pagam o supermercado com o suor do seu texto.

JORNALISMO DO DIFUSO E DO IMPALPÁVEL

O Sul da Bahia é terreno fértil para  colunistas de todos os jaezes, com amplo espectro de textos dirigidos a leitores interessados em confetes, serpentinas, lantejoulas, plumas, paetês ou temas difusos e impalpáveis. Temo-los também de amenidades, política, economia e do que mais lhes der na telha e for suportado pela “democracia” dos donos de veículos. Esse banquete de vaidades e tolices (exemplo típíco na foto) nada de bom acrescenta ao pensamento regional, mas é incentivado pelos jornais: são colunas e artigos que nada custam para aspergir ideias de segunda mão, enquanto tomam espaço dos profissionais. Jornalistas como Eduardo correm perigo: se escaparem da Fenaj, serão desempregados pelos diletantes.

PARA O BEM OU PARA O MAL, EIS O HÍFEN

Não há dúvida: a maior armadilha de nossa ortografia é o hífen. A depender do caso, ele é bem-vindo e bem-visto. É o hífen é do bem, digamos. Mas quando surge sem ser “convidado”, causa mal-estar e mau humor, deixa o leitor mal-humorado, faz o texto mal-amado, sugere que quem o escreve é mal-educado (mal-afortunado, em termos de língua culta). Aí, é o hífen do mal. Às vezes, ele é bendito, bem-visto, benquisto, benfeitor e bem-querido; noutras, é malnascido, malcuidado, malcriado, mal-ajambrado, mal-afamado, malvisto e, portanto, contra-indicado. É o contra-exemplo da boa construção.

GOVERNO MUDA GRAMÁTICA PORTUGUESA

O governo estadual houve por bem abolir, por sua inteira conta e risco, o hífen de “Bem-Vindos”. A CLMH (Comunidade dos Linguistas Mal-Humorados) há de dizer que isto não tem importância, pois todos os leitores vão entender que a placa indica a gentileza e a cortesia com que a autoridade recebe quem visita a Direc de Ilhéus. Mas peço licença para manifestar meu estranhamento com mais este descaso oficial com a língua portuguesa. Afinal, se nem num local feito por e para professores as regras gramaticais são obedecidas, onde mais vamos obedecê-las?

O VEÍCULO DÁ SUA OPINIÃO NO EDITORIAL

Era o fim do ano, numa redação de jornal. O redator-chefe vira-se para o editorialista e lhe encomenda, para o dia seguinte, um editorial sobre Jesus Cristo. “Contra ou a favor?” – pergunta candidamente o articulista… A história é conhecida por todo jornalista, ou quem trabalhou numa redação – seja como estagiário, servindo cafezinho ou dobrando jornal. Ela pretende ilustrar que o editorial não é a opinião de quem o escreve, mas a do veículo que o publica. Teoricamente, o autor de editoriais é alguém com isenção bastante para, como na historieta acima, escrever contra ou favor de Jesus, com a mesma desenvoltura.

CAVALO COM CHIFRES E COBRA COM ASAS

Se o prezado leitor (ou a prezada leitora!) concluiu que não se assina editorial, parabéns. Não se assina porque, se assinado, vira artigo “comum”, a espelhar a opinião do signatário, não mais do veículo. Editorial “assinado” se define com uma palavra de nossa língua culta pouco utilizada por nós, mas corriqueira em Portugal: contrafação – que vem a ser fraude, disfarce, fingimento, imitação, falsificação, e por aí vai. Editorial “assinado” é tudo isso (e mais alguma coisa), mas editorial não é. Será, mudando da língua erudita lusitana para a popular brasileira, um cavalo com chifres. Ou uma cobra com asas.

ROBERTO MARINHO E O EDITORIAL ASSINADO

Há tempos, o Jornal Nacional costumava, numa noite sim e na outra idem, antecipar o que O Globo publicaria no dia seguinte, como “o editorial do jornalista Roberto Marinho” – na foto, à direita do general Figueiredo. No afã de agradar ao chefe (ou, quem sabe, por ordem do mesmo), violentavam-se as regras e se desserviam as novas gerações de redatores. Essa contrafação (!) durou até quando apareceu no JN alguém com juízo e pôs cobro  à farsa – ou Doutor Roberto se cansou da brincadeira. O fato é que este morreu e, para nosso alívio, resolveu, em definitivo, o problema. “Editorial do jornalista Roberto Marinho”: nunca mais.

A LEI DE MURPHY EM VISITA ÀS REDAÇÕES

Morre o homem, ficam-lhe os defeitos. Em pleno 2010, há veículos por aí que identificam seus editoriais com a palavra “Editorial” no alto da página (o que é uma informação supérflua, ociosa, mas aceita por alguns grandes veículos) e ainda os assinam, numa prova irretocável de que não sabem o que fazem. Mas, como diz o muito citado Murphy (creio que esta é a Lei nº 81, do seu elenco de 100), “nada está tão ruim que não possa ficar pior”: pois acaba de surgir entre nós o editorial com foto. Isso mesmo: editorial assinado e com foto de quem o assina. Aí, pego meu boné e caio fora, pois a discussão já adentrou a órbita da insensatez .
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NOEL E A FÁBRICA QUE NÃO ERA DE TECIDOS

A imortal Três Apitos foi composta em 1933 para uma das paixões de Noel Rosa, Josefina (a Fina), que ele julgava trabalhar numa fábrica de tecidos (a Confiança) mas que, na verdade, era empregada numa pequena fábrica de botões.  Esse engano o levou a criar a famosa rima de pano/piano.  Ao descobrir o equívoco, ele manteve os versos. Coisa de poeta: sacrificou a verdade, em benefício da rima: “Mas você não sabe/ Que enquanto você faz pano/ Faço junto do piano/ Esses versos pra você”. E aqui há outra pequena fraude, pois Noel nunca foi pianista. Vejam o contraste desses dois operários em construção: a moça tece pano, ele tece poesia.

A POESIA RESISTINDO À INDUSTRIALIZAÇÃO

Aliás, contraste é o que não falta nesta bela canção de Noel (foto). O mundo, com seu pragmatismo, parece conspirar contra o amor e outras cardiopatias, da mesma forma que a fábrica, símbolo do progresso, contrapõe-se ao piano – que o poeta usa para dirigir-se à amada. Três apitos mostra o mundos dividido em dois: de um lado, o artista e sua carga de sensibilidade, claramente à margem da sociedade de consumo; do outro, o capitalismo, o progresso industrial, a busca do lucro. “Quando o apito da fábrica de tecidos/ Vem ferir os meus ouvidos/ Eu me lembro de você”. O chamado ao trabalho é, para o poeta, a invocação para o amor.

APESAR DOS ERROS, UM MOMENTO MÁGICO

Noel Rosa foi listado aqui entre pessoas e efemérides que completavam, ao lado de Itabuna, um século em 2010. De repente, vejo que mais um ano se passou, sem nenhuma homenagem ao Poeta da Vila – logo eu, que tenho predileção pela sua arte, e até, se posso ser imodesto, razoável conhecimento de sua lavoura. Caso esta coluna se mantenha, vamos postar ainda uns dois vídeos sobre este grande nome da cultura brasileira. Hoje, um grande momento da MPB, reunindo Elizeth Cardoso e Jacob do Bandolim. Mesmo com a grande intérprete, ao vivo, errando a letra de forma deplorável, penso que vale a pena ouvir.

(O.C.)

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O tucano José Serra foi o entrevistado da terça (19) do Jornal Nacional, da rede Globo. Ele foi questionado sobre suspeita de Caixa 2 na campanha presidencial, o enigmático Paulo Vieira de Sousa (o Paulo Preto) e nepotismo na Casa Civil do tempo em que ocupou o cargo de governador de São Paulo. Os apresentadores também questionaram Serra sobre o apelo à religião, e a temas como o aborto, para ganhar voto.

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O ex-deputado federal Roberto Jeferson, pelo Twitter, comentou a atuação do presidenciável José Serra (PSDB) na entrevista concedida ao Jornal Nacional, da Rede Globo, há pouco.
Citado na bancada, Jefferson disse no microblog que os apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes “foram mais amenos” com José Serra.
Uma das perguntas espinhosas do casal para Serra no JN foi sobre a aliança do tucano com o PTB, envolvido no Mensalão do Governo Lula e tido como responsável-mor pela corrupção nos Correios.
Mais adiante, Jefferson diz que os jornalistas do JN “amarelaram” diante de Serra e “foram violentos com Dilma e Marina”. Na Globo, Serra defendeu Jefferson. “”Os personagens principais nem foram do PTB, foram do PT”.
Deixemos o Jefferson de lado. Confira a sabatina no vídeo abaixo e tire as suas conclusões:

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A ex-ministra Marina Silva (PV) foi a entrevistada da vez no Jornal Nacional, da Rede Globo. A ex-ministra jogou soltinha no início da sabatina, diante do casal William Bonner e Fátima Bernardes, mas não se sentiu à vontade ao falar de Mensalão do PT e falta de apoio para governar, por exemplo. Mas o casal global foi menos incisivo do que ontem.
A “verde” encerrou a entrevista colocando-se como a candidata das “grandes transformações na educação”. Ela ainda atacou Serra e Dilma e afirmou que os presidenciáveis do PSDB e PT estão tão comprometidos que ofereceriam aos brasileiros “mais do mesmo”. Amanhã, quarta-feira, o entrevistado será o tucano José Serra.

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Daniel Thame

Os companheiros Willian Bonner e Fátima Bernardes precisam voltar urgentemente para a faculdade e estudar melhor a diferença entre entrevista e interrogatório. O que o casalzinho fez com a candidata Dilma Rousseff na noite desta segunda-feira no Jornal Nacional foi vergonhoso.
As perguntas duras, mesmo as fora de contexto como a de comparar o Brasil com a Bolívia e Uruguai, até fazem sentido, mas interromper Dilma a todo instante, impedindo que ela concluísse seu raciocínio e fazendo com que ela parecesse confusa, não pode ser atribuído à falta de experiência da dupla Bonner & Fátima.
Leia a íntegra da análise de DT

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A Folha de São Paulo acionou o cronômetro e observou: quase um terço do tempo da sabatina do Jornal Nacional com a ex-ministra e presidenciável Dilma Rousseff (PT) foi ocupado pelo casal de apresentadores William Bonner-Fátima Bernardes.
Dos 12min35s da entrevista, o casal usou 3min50s para fazer perguntas. Todas longas, observa o jornal dos Frias, que também aponta no “mentirômetro” incoerência na fala da ex-ministra, quando ela afirma que o governo Lula foi quem mais investiu em saneamento.

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GENOCÍDIO EM PORTO SEGURO

Ousarme Citoaian

O apresentador da TV Bahia referiu-se, no Jornal da Manhã, ao ex-secretário de Governo, Edésio Lima, como “acusado de matar os professores de Porto Seguro”. É incrível a falta de atenção dos nossos redatores (e, na televisão e no rádio, também dos apresentadores, que lêem as bobagens escritas pelos outros). O Pimenta, felizmente, não foi na mesma linha. Tratou Edésio Lima como “acusado de mandar matar os professores sindicalistas Elisney Pereira e Álvaro Henrique”. No dia anterior, estampou em manchete que saíra a preventiva “contra secretário acusado de matar professores”. O Pimenta está certo.

PROFESSORES OU “OS PROFESSORES”?

O caso é transparente. Com o artigo definido “os”, e sem complemento, a frase descreve um genocídio: em vez de a morte de dois professores, registra a de toda uma categoria profissional. Aceita-se “matar professores” ou “matar os professores etc. (etc. é especificação)”. O redator da tevê cometeu um equívoco muito comum na comunicação, que é tentar dizer uma coisa e dizer outra. O povo, na sua intuição, já explicou o mecanismo desses erros: “Quem não sabe rezar…”. E não me venham repetir, como justificativa, que “a língua é viva”. A língua é viva, sim, mas erro é erro, apesar da muleta errare humanum est.

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“É PENTA! É PENTA! É PENTA!”

O narrador da televisão, pré-apoplético e parecendo à beira de um ataque de histerismo, berra, a plenos pulmões, referindo-se à seleção brasileira de futebol: “É penta! É penta! É penta!”. Um exagero. Antes, dizia-se pentacampeão quem vencia um campeonato cinco vezes consecutivas (duas era bicampeão, três, tri etc.). A partir de 1970, quando o Brasil – com a melhor seleção de todos os tempos, a que João Saldanha (foto) montou – venceu sua terceira Copa do Mundo, popularizou-se a tendência de dizer-se tricampeão quem vence um campeonato três vezes, sem ser seguidas. Ao que me recorde, o jornalista Raimundo Galvão, que mencionamos aqui há dias, foi a primeira voz a se insurgir contra esse modo de dizer.

MENTIRA QUE VIRA VERDADE

Pouco sei de futebol (prefiro basquete e o xadrez), mas a discussão, sob o prisma da língua portuguesa, me fascina. Entendo que o Brasil é, de maneira indiscutível, bicampeão mundial, pois venceu as Copas de 1958 e 1962. Ao voltar a ganhar em 1970 (com a melhor seleção etc. etc.), tornou-se campeão pela terceira vez – e isto é diferente de ser tricampeão. Acontece que a mídia, por ignorância ou interesse, às vezes assume aquele comportamento atribuído a Goebells (ministro das Comunicações de Hitler): bate na mentira até que ela se transforme em verdade. O rito é mais ou menos este: lança-se a invenção, as ruas a adotam e ela adentra os compêndios, já travestida de verdade. A língua é viva, certo. Mas não precisa ser burra.

O FUTEBOL NO ANO 2110

É ocorrência admirável um time ser tricampeão regional (no sentido “clássico”). Mas obter três títulos não sucessivamente, convenhamos, é moleza. Depois, essa “nova” linguagem produz alguma confusão no público: como representar clubes como o Flamengo, por exemplo, que já foi trinta e três vezes campeão do Rio? Ou o Fluminense, trinta e duas vezes?  Ou o Vitória e o Bahia? Percebe-se que, na Copa do Mundo, porque são poucos os países com vários títulos, isto é possível. Mas quando se trata de certames regionais é preferível ficar com o sistema “antigo”. Especialistas afiançam que, daqui a uns cem anos, quando as grandes seleções terão muitos títulos acumulados, o sistema “moderno” será esquecido.

SALDANHA E A MODA BLACK POWER

Por falar em  futebol… Nos últimos tempos, jogadores passaram a adotar o estilo cabeça raspada. Ronaldo (foto), apelidado O fenômeno, é um dos últimos a adotar o modelo. Nos tempos em que o estilo black power estava em moda (os anos setenta), João Saldanha foi chamado à polêmica e, bem ao seu estilo, não fugiu da raia. O inventor da melhor seleção brasileira de futebol de todos os tempos foi, de novo, ao âmago da questão, mostrando que treino é treino e jogo é jogo. É engraçada sua sugestão de que os jogadores raspem a cabeça pra jogar e usem uma peruca na hora do rebolado (hoje se diz balada). Veja no vídeo.

PANACUM DE BUGIGANGAS

Como esta coluna não tem formato definido, estando mais para panacum de bugigangas, vai aqui mais uma. Para não dizerem que só falamos mal da mídia, pretendemos registrar, habitualmente, a existência de textos jornalísticos de boa qualidade – pois que os há, sem dúvida. Comecemos com Hélio Pólvora, que produz, no jornal A Tarde, aos sábados, uma crônica que compensa, por si só, o preço que pagamos. Estilo leve, criativo, econômico, sem sobras, sem concessão aos adjetivos ociosos. Não é à toa que o autor de Os galos da aurora é fã confesso de Graciliano Ramos, tendo declarado que, em tempos de juventude, quase decorou Vidas secas. Mas não se apressem em pensar que HP se dedique ao odioso esporte do pastiche.

PRECISÃO CINEMATOGRÁFICA

Hélio é senhor de sua própria forma de expressão, aprovada pela crítica e demonstrada em cerca de 30 títulos, entre contos, crônicas e análise literária (tem em preparo o primeiro romance). Seu texto equilibra simplicidade e erudição, vazadas na fórmula mágica e difícil que muitos perseguem e poucos alcançam, e que fez a glória de um gênero eminentemente brasileiro, a crônica de jornal. Sobre a linguagem de Hélio Pólvora, assim falou Aramis Ribeiro Costa (foto):  “É preciso registrar que foi o domínio da linguagem, unido à observação sagaz do ficcionista (…)  que o fez primoroso na descrição de cenas e situações, bem como na ambientação das suas histórias, resultado obtido com poucas palavras e uma precisão que se diria fotográfica, ou, considerando a dinâmica do entrecho, cinematográfica”.

OLHAR SOBRE O COTIDIANO

Hélio (A Tarde – 13.3.2010) fala, com carinho, do sambista Ederaldo Gentil (foto):

“Por acaso encontrei cópia de um CD de suas melhores composições, em que Ederaldo se diz mais amargo do que o alumã, declara que não quer o dia, só a alvorada, queixa-se que a distância o mata e a saudade o maltrata, e vice-versa, e conclui que o próprio tempo é que não lhe deu tempo. Acusa uma mulher de ter sido ´cimento fraco na construção do meu lar´, e responsável por ´um amor em demolição´. Achados, Bossas. A filosofia das ruas está inteira nesses versos”. Hélio não desmente Aramis:  espalha sobre pessoas, ações e sentimentos do cotidiano de nossas vidas a “observação sagaz do ficcionista”. É ler para crer.

“DESCENDO PARA BAIXO”

Vejo na TV Globo o sobe e desce das pesquisas eleitorais e, ao fim, ouço do apresentador William Bonner (foto) que “a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos”. O correto editor do Jornal Nacional labora num erro daqueles que sua empresa – sabe-se lá o motivo – tenta repetir até transformar em acerto: variação de “x” pontos percentuais já diz tudo.  “Para mais ou para menos” torna-se um reforço que agride a boa linguagem – algo parecido com subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro e sair para fora. A tevê, em vez de informar os telespectadores, contribui para deseducá-los.

ETERNAMENTE EM BERÇO ESPÚRIO

Parece-me que o nome dessa coisa é redundância (também pleonasmo ou tautologia), algo que, se bem utilizado, dá cores vivas à frase. Alberto Janes escreveu e a extraordinária Amália Rodrigues (1920-1999) popularizou “E [Deus] deu-me esta voz a mim”. Há beleza neste verso pleonástico, longe do absurdo de “para mais ou para menos”. Aliás, o berço espúrio que embala esta expressão é o mesmo que embala “récorde”, termo estranho à língua portuguesa (certamente uma macaqueação do inglês record). Lembremos Dad Squarisi (foto): “Jornalistas têm de escrever tão bem quanto romancistas”.

FADO BRASILEIRO EM LISBOA

Que a citada Amália Rodrigues é a mais ilustre das cantoras portuguesas, todo mundo sabe. Mas há quem não saiba que o fado, elemento fundamental da cultura lusitana, tem mais a ver com o Brasil do que parece. O temido crítico José Ramos Tinhorão sustenta, baseado em pesquisa por ele feita, que o gênero nasceu em terras brasileiras – e depois se fez popular em Lisboa. Está tudo no livro Domingos Caldas Barbosa – o poeta da viola, da modinha e do lundu (foto), lançado em 2004. O modinheiro Caldas Barbosa (que teve por pseudônimo Lereno Selenuntino) teria sido o grande divulgador do fado brasileiro em Portugal.

PALMAS PARA A GRANDE DAMA

Tem mais. Amália Rodrigues (foto) também “nasceu” no Brasil. Foi no Rio de Janeiro, em 1945, que ela gravou seu primeiro disco (iniciara a carreira de cantora há alguns anos e ainda não gravara, sendo convencida a fazê-lo entre nós). Aliás, na turnê brasileira Amália agradou tanto que veio para ficar quatro semanas e ficou quatro meses. Mas as coincidências ainda não terminaram: foi no Rio, naquele período, que o compositor Frederico Valério, que acompanhava a cantora, fez um dos fados mais famosos de todos os tempos: Ai, Mouraria. No vídeo, Amália Rodrigues e o mencionado Foi Deus.

(O.C.)

Pouco sei de futebol (prefiro basquete e o xadrez), mas a discussão, sob o prisma da língua portuguesa, me fascina. Entendo que o Brasil é, de maneira indiscutível, bicampeão mundial, pois venceu as Copas de 1958 e 1962. Ao voltar a ganhar em 1970 (com a melhor seleção etc. etc.), tornou-se campeão pela terceira vez – e isto é diferente de ser tricampeão. Acontece que a mídia, por ignorância ou interesse, às vezes assume aquele comportamento atribuído a Goebells (ministro das Comunicações de Hitler): bate na mentira até que ela se transforme em verdade. O rito é mais ou menos este: lança-se a invenção, as ruas a adotam e ela adentra os compêndios, já travestida de verdade. A língua é viva, certo. Mas não precisa ser burra.

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No Dia do Professor, 15 de outubro, o principal telejornal do Brasil prestou homenagem aos educadores brasileiros usando um exemplo baiano de revolução pela educação. Dona Enedina, itabunense que está aprendendo a ler e escrever aos 100 anos, e a sua alfabetizadora Eunice Côrrea.

Enedina vive há um bom tempo em Ilhéus. É marisqueira e tem na sala de aula um colega especial, o filho Rosivaldo Pereira, 61 anos. Acompanhe a homenagem a quem ensina ao não perder a vontade de aprender – mesmo sendo uma feliz centenária.

Clique aqui e acompanhe a história de vida de Dona Enedina, a aluna que ensina sempre.