As sextas-feiras na sede do Agora eram regadas a informação e bom papo nas recepções de Adervan
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A depender da amplitude do evento, o eficiente fotógrafo Waldyr Gomes se tornava um competente churrasqueiro; o editor que vos fala, um chef a elaborar um pièce de résistance da culinária brasileira; sem falar nos préstimos de José Nazal com sua festejada culinária árabe, diretamente de Ilhéus.

 

Walmir Rosário 

Se Deus não o tivesse requisitado para que ficasse ao seu lado, o jornalista José Adervan de Oliveira completaria – fisicamente – nesta quinta-feira (3 de março de 2022) 80 anos de idade. Sua ausência nos deixa saudades dos encontros, embora continue pra sempre em nossos corações, com sua calma, sempre em busca de um norte para o sul da Bahia, como deixou escrito nos textos da Coluna Livre, no jornal Agora.

Neste seu aniversário estariam presentes amigos tantos, parentes, admiradores de sua perseverança e do seu espírito conciliador. Uma comemoração não seria bastante para receber o abraço de tantos, que seria necessário preestabelecer um roteiro: em casa, na quinta-feira, parentes e amigos mais chegados; na sexta-feira, no jornal Agora, todos, sem distinção, como recomendaria o ritual.

E garanto que os 80 anos seriam comemorados em alto estilo, como todas as festas que promovia. Como esquecer o corre-corre do fechamento das sextas-feiras, jornal mais “gordo” com os cadernos do fim de semana e a atenção que dispensávamos aos convidados? Como um bom grapiúna que teve a felicidade de nascer em Boquim, Sergipe, era um grande anfitrião.

A depender da amplitude do evento, o eficiente fotógrafo Waldyr Gomes se tornava um competente churrasqueiro; o editor que vos fala, um chef a elaborar um pièce de résistance da culinária brasileira; sem falar nos préstimos de José Nazal com sua festejada culinária árabe, diretamente de Ilhéus. Pratos fartamente regados com as melhores cachaças baianas e mineiras, além de uma variedade de whiskys, escoceses, claro.

Aos poucos, chegavam em turmas os convidados. O pessoal chegava, se integrava ao bate-papo, bebia, comia e iam embora, também em turmas. Por fim, o pessoal que o ajudaria a fechar as portas e fazer companhia na passada pelo Alto Beco do Fuxico e Kati-Kero, no Pontalzinho, com Juvenal e Tonet. No período, assistíamos aos telefonemas de ministros, governador, secretários estaduais, prefeitos e amigos ausentes.

E o ritual das sextas-feiras era sagrado, com mudanças apenas de intensidade. Nesse meio tempo, quando aparecia uma figura de destaque na política ou economia, concedia uma entrevista durante o ágape, sem a menor cerimônia. Essas mal traçadas linhas nos dá uma visão da importância do jornal Agora como meio de comunicação regional, linha traçada pelo mestre José Adervan.

Mesmo com as mudanças na economia e na tecnologia de comunicação, o jornal Agora continuou com seu prestígio junto aos leitores, apesar da diminuição no número de cadernos e páginas. Com a morte de José Adervan, em 12 de fevereiro de 2017, o Agora continuou circulando por algum tempo, mas não resistiu e encerrou suas atividades, deixando quase muda Itabuna e região.

O jornal Agora teve sua edição circulando em 28 de julho de 1981, por obra e graças de José Adervan e Ramiro Aquino, jornalistas e bancários (Banco do Brasil). Durante todo esse tempo ofereceu aos leitores não apenas notícias, mas a participação efetiva de um consagrado meio de comunicação nos problemas regionais. Em 1° de janeiro de 2003 o Agora deixa de ter circulação semanal e passa a ser diário, incrementando sua participação no mercado.

O Agora era a cara de Adervan. Democrático, informativo, opinativo e com fôlego suficiente para fomentar e participar de todas as campanhas institucionais da região cacaueira. Nesses cinco anos de ausência de Adervan, está mais que provado que a região cacaueira – não só os leitores – perdeu um bastião, reconhecido ponta de lança em todas as lutas regionais.

Esta quinta-feira (3 de março) é dia de lembrança, de comemoração pelo legado deixado por José Adervan, como bancário, jornalista, empresário, economista, professor universitário, visionário. Os tempos mudam, as pessoas passam, a obra fica e passarão por análises permanentes, com destaque para as boas e recomendações de esquecimento para as sem relevância.

Como diz a canção: Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Foi como agiu Adervan.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Atuando hoje nas mais diversas áreas do conhecimento, a Uesc volta seu foco de ação para os municípios regionais, notadamente para o enfrentamento à pandemia da Covid-19, incluindo aí os planos de abertura econômica, que pode ser – ou não – referendado pelos prefeitos.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Na noite desta quarta-feira (9) tive a grata satisfação de assistir a uma live organizada pelo Laboratório de Ensino de História e Geografia (Lahige) da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). Em pauta, os Impactos nas Cidades e na Economia no Contexto da Pandemia da Covid-19, debatidos pelo Magnífico Reitor Alessandro Fernandes e o vice-prefeito de Ilhéus, José Nazal.

Finalmente, tivemos a felicidade de constatar que há inteligência no planeta cacau, embora a prática e a execução nem sempre chegue ao destinatário, o cidadão, que paga a conta e não recebe os benefícios. Desta vez, espero que mudem-se os comportamentos e a Uesc possa interagir com a sociedade, como reclamava o ex-professor de Economia José Adervan de Oliveira, desde os tempos de cuspe e giz.

Em duas horas e meia, o reitor Alessandro Fernandes discorreu sobre como fazer ciência na academia e repassar esses conhecimentos às instituições políticas para a aplicação nas diversas cidades da região. Sei que não é fácil esse intercâmbio, haja vista os interesses díspares entre a academia e a política. Se hoje a Uesc faz tudo para sair do Salobrinho, a realidade entre os políticos se volta para o carcomido modelo do clientelismo.

Dentre os políticos do planeta cacau destaco – sem medo de cometer qualquer pecado ou injustiça – o vice-prefeito de Ilhéus, José Nazal, como o único que caminha com desenvoltura por entre as instituições, sempre em busca do conhecimento para aplicar em sua cidade. Não existe em qualquer cidade do sul e extremo-sul da Bahia alguém que estude Ilhéus e região e tenha os conhecimentos acumulados como ele.

Se sobram conhecimentos a Nazal, falta-lhe a caneta, como frisou durante a live, fornecendo dados contundentes, a exemplo dos arquivos digitais de aerofotogrametria do município de Ilhéus, guardados sem que prefeitos demonstrem o menor interesse sobre eles, essenciais para organizar a cidade, prospectar investimentos. É o mesmo que comprar livros de capas duras e coloridas, guardá-los numa vistosa biblioteca, não lê-los, como se ganhasse conhecimento pelos simples olhar e, quem sabe, a osmose.

A Uesc – mais uma grande criação de José Haroldo Castro Vieira – toma seu lugar no mundo da ciência e passa a administrar parte do acervo e serviços prestados pela Ceplac, igualmente criada por José Haroldo. Esse legado também será dividido com a Embrapa e a UFSB, após a decisão da morte por inanição da maior instituição de pesquisa, ensino e extensão da cacauicultura.

Atuando hoje nas mais diversas áreas do conhecimento, a Uesc volta seu foco de ação para os municípios regionais, notadamente para o enfrentamento à pandemia da Covid-19, incluindo aí os planos de abertura econômica, que pode ser – ou não – referendado pelos prefeitos. Embora as prefeituras sejam as maiores empregadoras em seus municípios, nem sempre contam com pessoal qualificado.

E nesta realidade, a Uesc é um campo fértil para as prefeituras, que por falta de bons projetos, nem sempre conseguem prospectar recursos disponíveis em bancos de desenvolvimento e no governo federal. Outro “calcanhar de Aquiles” das prefeituras é a áreas de compras – licitações –, na qual os servidores municipais poderiam “beber em fonte limpa”, e acabar com dissabores da rejeição de contas – junto com a área contábil –, caso queiram trabalhar com técnica e lisura.

Durante a live, muitas questões sobre a região cacaueira foram levantadas, sendo uma delas a realização de um amplo diagnóstico socioeconômico – nos moldes do realizado no início da década de 1970 –, em parceria com os municípios. Como suscitou Nazal, um trabalho dessa envergadura colocaria a região numa situação privilegiada para colocar o trabalho de baixo de braço – ou mandá-la por meio digital para investidores, se transformando em recursos garantidos para investimentos variados.

A esmagadora maioria dos sul-baianos não tem a menor noção do que representa o Complexo Intermodal do Porto Sul em termos de investimentos, crescimento e, possivelmente, desenvolvimento regional. Bilhões de reais serão investidos neste projeto, e o melhor: em diversas cidades, produzindo riquezas de forma solidária à população por meio da geração de emprego e renda.

Como bem disse Nazal, a qualquer dúvida sobre Ilhéus e região ele sai em busca soluções para os problemas apresentados junto aos produtores de conhecimento, notadamente determinadas áreas dos governos federal, estadual e as universidades (Uesc e UFSB). Esse seria um bom caminho a ser trilhado pelos políticos – parlamentares e gestores municipais –, que preferem o discurso vazio eleitoreiro, daí nosso estado de pobreza.

Por tudo isso e muito mais, rogo ao Magnifico Reitor Alessandro Fernandes e aos professores Humberto Cordeiro e Gilsélia Lemos que colaborem – ainda mais – com a região, disponibilizando no site da Uesc ou outro meio de comunicação as lives produzidas. Por certo, contribuirá para melhorar o nível de informação e de interesse sobre o desenvolvimento regional.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Assim como o prefeito de Uruçuca, Moacyr Leite, Fernando Gomes decretou luto oficial de três dias em Itabuna, em reconhecimento à contribuição de José Adervan de Oliveira para o desenvolvimento e, ainda, a luta pela liberdade da informação, “mantendo um diário de circulação regional por mais de 30 anos”.

Por meio de nota, o prefeito destaca a militância política de Adervan e sua “destacada atuação em favor do esporte e da cultura, bem como em defesa da ética profissionais e dos valores morais”.

Adervan faleceu na tarde do último domingo (12), no Hospital Calixto Midlej Filho, em Itabuna. O corpo foi enterrado ontem à tarde, em Itabuna. Ontem, o ex-prefeito Jabes Ribeiro lembrou da sua relação com Adervan e emitiu nota em que lembra da última homenagem prestada ao jornalista, ano passado, com a entrega da Comenda São Jorge dos Ilhéus.

Adervan, paletó claro, quando recebeu comenda em Ilhéus das mãos de Jabes, em 2016 (Foto Alfredo Filho).
Adervan, paletó claro, quando recebeu comenda em Ilhéus das mãos de Jabes, em 2016.

CÂMARA DE ILHÉUS

A Mesa Diretora da Câmara de Vereadores de Ilhéus se pronunciou em nota na qual enfatiza o amor do jornalista e empresário pelo sul da Bahia. “Foi um influente comunicador do sul da Bahia, que perde um dos seus grandes defensores. Neste momento de dor, enviamos nossos pêsames à família e amigos”.

BIOFÁBRICA

O Instituto Biofábrica de Cacau também emitiu nota na qual destaca a relevância de Adervan no desenvolvimento da comunicação regional. “Adervan deixa um importante legado para a comunicação regional, configurando como um dos principais personagens do setor”, observa a nota. “À família e aos amigos enlutados, a Biofábrica presta solidariedade”. O profissional era um dos maiores defensores da agropecuária regional.

Além da Prefeitura de Itabuna, Biofábrica e Câmara de Ilhéus, a FTC de Itabuna, por meio do seu diretor Luiz Alfredo Omena, também se posicionou. “Com o falecimento de José Adervan, o jornalismo sulbaiano perde uma das suas referências do profissionalismo exercido com ética, competência e seriedade”.