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Na semana passada, Itabuna perdeu figuras-símbolo de sua história centenária. Vivaldo Moncorvo, Adonias Oliveira, José Carlos “Bocão”, Benedito Soriano e Léo Briglia, craque do futebol brasileiro que fez chover nos gramados brasileiros. A seguir, um email enviado pelo jornalista e escritor Antonio Lopes ao também jornalista Marival Guedes, autor do texto “Valeu, Léo”, publicado no último sábado (27). Na sequência, encerrando a série de artigos em homenagem a Briglia, trazemos texto do advogado Allah Góes, amigo do ex-jogador. Confira.

antônio lopes pimentaAntônio Lopes | abcdlopes@gmail.com

 

Perguntei se ele sofreu com a possibilidade de o Bahia ser derrotado (o jogo foi zero a zero), e ele, contrariando minha expectativa, disse que não. “Afinal de contas, sou Vitória”, explicou, para meu espanto.

 

Oi, Marival! A sua foi a melhor matéria que vi na mídia, a respeito da fera Léo Briglia. As notícias omitiram coisas importantes, como ele ter jogado no América (Rio) e no Colo Colo (Ilhéus). Em geral, falam apenas em Fluminense e Bahia. Também não falaram que ele era um dos líderes do “ingênuo” carnaval da Ponta da Tulha, com um bloco, creio que As muquiranas, na tradicional fórmula de homens vestidos de mulheres.

Eu o conheci, quem diria, no Brasil de Buerarema, e disse, em algum lugar, nunca ter visto alguém que jogasse tanta bola. Pode ter sido uma visão distorcida de menino perna-de-pau? Talvez. Mas digo e provo que, mais tarde, já metido a entender do famoso esporte bretão (cheguei a cometer análises na Rádio Difusora, ao lado dos insuspeitos Orlando Cardoso e Geraldo Borges), vi Pelé e Zico, craques acima de qualquer suspeita, comparei-os com o Léo da minha infância e sequer me bateu a passarinha.

Sobre o América, também não falaram que o time de Orlando Cardoso foi a perdição do craque itabunense. Lá, ele conheceu o técnico Martin Francisco, de quem se fez grande amigo. E esse Martim Francisco (Ribeiro de Andrada, descendente daqueles Andradas famosos de Minas) sabia tudo de bola e de copo. Fome e vontade comer: Léo, chegado aos etílicos, encontrara o “chefe” que pedira a Deus.

MF, chamado de lorde dos gramados brasileiros, professor e cientista do futebol, morreu com apenas 54 anos, vítima de “doenças relacionadas com o álcool”.

Em 1988, A Tarde me escalou para acompanhar a decisão do Campeonato Brasileiro ao lado de Léo, na Ponta da Tulha. Lá fui, com o fotógrafo Zeca, encontrar o ex-jogador numa roda de cerveja e papo descontraído, num dos botecos que frequentava. Expliquei meu objetivo, e ele não se fez de rogado: “Vamos lá”, disse. Encerrou a conversa e nos levou para sua casa. Lembro que, no sagrado recesso do lar do craque, enxugamos duas ou três cervejas.

O resultado, todos sabem: o Bahia empatou, o que era suficiente para sair do Beira-Rio campeão brasileiro. Anotei, durante o jogo, alguns comentários de Léo, mas só depois do apito final “encontrei” minha matéria. Perguntei se ele sofreu com a possibilidade de o Bahia ser derrotado (o jogo foi zero a zero), e ele, contrariando minha expectativa, disse que não. “Afinal de contas, sou Vitória”, explicou, para meu espanto.

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