Moradores e turistas ficaram no escuro na "boca" do réveillon em Ilhéus
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A passagem de Ano-Novo para veranistas, turistas e comerciantes do litoral norte de Ilhéus foi marcada pela frustração. Graças a Coelba/Neoenergja, que deixou boa parte da região sem luz elétrica por mais de 24 horas.

Na sexta-feira (30), por volta das 20h, a energia faltou e somente retornou no sábado (31), pouco antes da meia-noite. Durante esse período, houve um vai e vem e muitas casas e estabelecimentos comerciais tiveram eletrodomésticos danificados.

Muitos que buscavam uma resposta via call center da companhia de eletricidade ficaram a ver navios, pois a resposta era de que “não havia previsão para o restabelecimento da luz”.

A insatisfação com a Coelba não se restringe à zona norte. Também na zona sul houve constante queda de energia, mas com intervalos bem menores sem luz. É comum essa falta de energia elétrica no início do verão e do Ano-Novo, segundo moradores da localidade. A esperança é de que a expansão imobiliária faça a Coelba investir na melhoria dos serviços no município turístico.

Entrevista pelo PIMENTA, professor da UESC, Lúcio Rezende, explica como o Porto do Malhado agravou a erosão marinha na orla norte e sugere o que pode ser feito para conter avanço do mar || Fotos: Facebook/Reprodução e Ed Ferreira
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O oceanógrafo Lucio Figueiredo de Rezende, nesta entrevista ao PIMENTA, alerta para o risco de o São Miguel, bairro do litoral norte de Ilhéus, sumir do mapa, caso nada seja feito para conter a erosão marinha naquela área.

Professor do Departamento de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), Lucio explica como a construção do Porto do Malhado, inaugurado em 1971, interferiu na dinâmica do litoral ilheense, com o acúmulo de areia na Praia da Avenida e os processos erosivos na orla norte. Também sugere o que pode ser feito para impedir que o mar ganhe mais terreno no São Miguel e no bairro vizinho, o São Domingos.

Casas ameaçadas pelo avanço do mar no São Miguel

O docente, que é doutor em Oceanografia Física pela Universidade de Aveiro, de Portugal, defende que a estabilização da linha costeira seja acompanhada pela reurbanização da orla norte.

Os manguezais também podem sofrer com os impactos do avanço da mar na Barra de Taípe e o assoreamento na Baía do Pontal, observa Lucio, chamando a atenção para a importância do mangue como barreira contra a dispersão de poluentes no meio ambiente. Leia.

A Avenida Soares Lopes e sua praia, em fotos de 1957 e 2020 || Acervo de José Nazal

BLOG PIMENTA – Quais foram os principais impactos da construção do Porto do Malhado para as orlas do Centro e da Zona Norte de Ilhéus?

Lucio Figueiredo de Rezende – O impacto mais evidente da construção do Porto do Malhado foi o acúmulo de sedimentos que a gente vê na [Avenida] Soares Lopes. Isso era um processo litorâneo, que levava à distribuição de sedimentos ao longo da orla de Ilhéus. Esse sedimento acabou sendo aprisionado na Soares Lopes. Você vê o engordamento artificial daquela praia da Soares Lopes, que está levando também a um processo de assoreamento da Baía do Pontal, que está bem assoreada. No lado norte, há processos erosivos, principalmente em São Miguel. São Miguel, por suas próprias características, já seria um local erosivo. Entretanto, no passado, nós tínhamos um aporte frequente de sedimentos que equilibrava esses processos erosivos. Agora, depois de anos da construção do porto, você tem o bloqueio da carga sedimentar e processos erosivos intensos em São Miguel.

O espigão do Porto do Malhado, na ponta norte da Praia da Avenida

Esse bloqueio foi feito com o espigão do porto?

É uma consequência da construção do espigão, porque o transporte litorâneo não consegue transpor aquele espigão. Há uma retenção muito grande de carga sedimentar. Tem a ver com a parte de transporte de sedimentos, velocidade de fluxo, etc. Falando de uma maneira simples, é isso: uma incapacidade de transporte. Isso acontece muito. Quando você constrói barreiras no ambiente costeiro, isso gera problemas que vão se manifestar em outras regiões. Se você construir diversos espigões, você vai transferindo esses processos litorâneos para outras regiões. Você tem que tomar cuidado com isso. A zona litorânea é muito sensível, é parte de um sistema dinâmico, cuja resultante pode ser um processo erosivo em outra região.

Os espigões do São Miguel em 2006 || Foto José Nazal

O senhor explicou que os espigões construídos na orla norte poderiam ser um pouco maiores, mas não muito. Por quê?

Você deve agir sempre com parcimônia. Se você colocar espigões muito grandes, embora possa melhorar a deposição local, acaba gerando processos erosivos mais à frente. Por isso é necessário agir com muita parcimônia e responsabilidade no ambiente litorâneo. Eu acho que os espigões, da forma como estão ali, estão bons. Eles seguraram um pouco do transporte sedimentar. O que deveria ter sido feito – e não foi – era uma estabilização da linha de costa. É inconcebível perder ruas inteiras com o avanço do mar. Você estabiliza a linha de costa e dá uma tranquilidade para a população local.

Área estabilizada com pedras na linha costeira do São Miguel, ao lado da Barra de Taípe, perto da Cabana da Sol

A gente viu na Barra de Taípe, perto da Cabana da Sol, uma área bem estabilizada. O ideal seria fazer o mesmo tipo de estabilização, com aquela quantidade de pedras, ao longo da orla de São Domingos e São Miguel?

Sim, e, de preferência, cuidando com humanismo da região, estabilizando e fazendo, por exemplo, uma faixa litorânea, talvez com ciclovias, enfim, um lugar agradável. Assim você resgata a autoestima da comunidade e não perde área para o mar. O mar está avançando sempre. Todo ano ele avança um pouco. Se nada for feito, vai continuar avançando.

Parte da orla destruída pelo mar no São Domingos; erosão alcançou margem do asfalto da BA-001

Existe mesmo a possibilidade de todo o São Miguel desaparecer?

Sim, o São Miguel está cada vez sofrendo mais processos erosivos. Sim, o mar pode romper aquela barra de São Miguel, se você não fizer nada. Existe a solução de curto prazo: estabilizar a linha de costa. Também é preciso olhar para uma solução de longo prazo para minorar o sedimento aprisionado no Porto do Malhado. Se você faz uma solução de curto prazo, estabilizando a linha de costa, isso vai dar tranquilidade à população litorânea. Nesse tempo, você tenta achar soluções junto com o Governo do Estado, o porto, para recompor um pouco do transporte litorâneo. Você não pode recompor totalmente, porque agora há uma outra dinâmica que depende do acúmulo de sedimentos na Soares Lopes. O primeiro passo é estabilizar a linha de costa. É o que deveria ter sido feito muito tempo atrás. Não é nada tão caro assim. Aproveita o verão para fazer as obras, porque, no inverno, os processos erosivos voltarão.

A Codeba anunciou que vai fazer nova dragagem, o que é importante para aumentar a capacidade de atração de navios para o Porto do Malhado. Isso pode agravar a erosão no norte?

Isso é normal. O que pode ser feito é a análise desse material; se ele não estiver contaminado por metais pesados, poderia ser levado para a praia do norte. Só é possível saber se há contaminação com análises laboratorias. A princípio, não há problema em fazer uma dragagem no porto.

Professor explica sazonalidade do processo erosivo na costa litorânea, que se intensifica no inverno

Por que a erosão ocorre de forma sazonal?

A erosão ocorre ali [na orla norte]. No passado, você tinha um transporte sedimentar que equilibrava esse processo. Existe uma sazonalidade porque, no inverno, as ondas são mais energéticas. Você tem frentes frias e ondas de diversos quadrantes chegando. As ondas são formadas em altas latitudes, não são formações locais. Elas trazem energia de tempestades. No inverno, você tem mais tempestades, por isso as ondas são mais energéticas e fazem com que o transporte sedimentar seja em direção à plataforma. No verão e nos outros períodos do ano, as ondas são menos energéticas e as praias são mais gordas. Há um perfil construtivo das praias, um engordamento. Daqui a pouco, nós teremos processos erosivos e vamos ver todo o drama que se repete, todos os anos, naquela zona de Ilhéus. Há um estoque limitado de areia que transita na praia. Quando você não tem barreiras, ela transita livremente. Quando você faz uma barreira litorânea, muda esse fluxo de sedimentos.

O assoreamento na Baía do Pontal também é um impacto do Porto do Malhado ou já é da nova ponte?

A Baía do Pontal é um estuário, que tem a tendência natural de sofrer assoreamento. Nesse caso, também tem uma influência do engordamento da Praia da Avenida. Os sedimentos litorâneos estão entrando na Baía do Pontal. Ali é um reflexo de tudo isso que aconteceu em decorrência do porto e também do assoreamento natural do estuário. Daqui a pouco nós vamos ter que fazer alguma coisa na Baía do Pontal também, uma dragagem, para mantê-la estabilizada. É uma outra dinâmica, que também se conecta com a do litoral, mas é particular, porque ali você tem um estuário.

O senhor demonstrou preocupação com os impactos desse avanço do mar sobre os manguezais. O que está em risco nesse caso?

Os manguezais são barreiras biogeoquímicas. Eles retêm os poluentes. No manguezal, os poluentes estão complexados na estrutura do mangue, não causam problemas para a biota nem para os seres humanos. Quando você perturba o manguezal, pode tirar um pouco dessa estabilidade. Os manguezais são ambientes muito importantes, que devem ser preservados não só como berçários naturais, mas também como barreiras biogeoquímicas, segurando e estabilizando todas as nossas atividades, todos os poluentes que chegam na zona litorânea. Um ambiente sem mangue vai ser um ambiente muito mais contaminado. Atualizado às 13h16.

Tremor de magnitude 3,5 é registrado ao norte do litoral ilheense || Imagem Arquivo
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Um tremor que alcançou 3,5 de magnitude na escala Richter foi registrado no litoral sul da Bahia, na altura da cidade de Ilhéus, durante a manhã desta quarta-feira (29). O tremor foi identificado por sismólogos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que fazem o monitoramento.

O coordenador do Laboratório de Sismologia (LabSis) da UFRN, Aderson Nascimento, que acompanha a incidência dos fenômenos, explica que o tremor pode ter sido sentido por moradores da região.

“Foi a cerca de 75 km ao nordeste de Ilhéus. É possível que algumas pessoas de manhã bem cedo tenham sido, principalmente se tiver em um prédio mais alto, mas não é garantia, porque a distância é bem no limite do que se espera em termo de percepção das pessoas. Apesar de ser pequeno o suficiente para não ser percebido pela maioria das pessoas, ele foi bem detectado na nossa rede sismográfica, que a gente opera no Nordeste do Brasil”, disse Aderson.

O coordenador do LabSis disse ainda que os terremotos podem ser sentidos no Brasil por causa da pressão das placas tectônicas, já que o país está no interior de uma delas.

“O Brasil, apesar de estar no interior de uma placa tectônica, não contém nenhuma área menos resistente [aos tremores]. Quando se começa a pressionar o continente, que o Brasil está sob pressão de leste para oeste, às vezes as falhas geológicas que estão nessas placas são reativadas. A explicação geral é de que eles acontecem como acontecem no interior da Bahia, no interior do Nordeste todo. São áreas que estão mais suscetíveis às pressões tectônicas e chegam ao ponto em que elas se rompem e essa energia que estava acumulada ela é liberada na forma de cismo e as pessoas percebem quando estão na superfície da terra, percebem as vibrações”, detalhou.

Aderson Nascimento disse ainda que, apesar de poder ser sentido, um tremor de escala 3,5 não provoca nenhum tipo de alteração no mar, como foi o caso desse terremoto na costa de Ilhéus. As informações são da TV Bahia.

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Manchas de óleo foram detectadas nesta manhã na zona norte de Ilhéus

Uma quantidade ainda não mensurada de manchas de óleo foi encontrada nesta sexta-feira (25) no litoral norte de Ilhéus, no sul da Bahia. O registro ocorreu quase uma semana após os primeiros vestígios do material serem identificados ao sul do município, em praias de Olivença e no Cururupe. As manchas foram localizadas por volta das 5h da manhã próximo à região da Juerana, no quilômetro 7,5 da BA-001, trecho da rodovia entre Ilhéus e Itacaré (confira foto abaixo).

Homens removem manchas de óleo no litoral norte ilheense || Foto José Nazal

De acordo com o vice-prefeito de Ilhéus, José Nazal, a Marinha já foi comunicada nesta manhã e equipe se deslocava para a região. Equipes do município também foram acionadas, assim como do Corpo de Bombeiros e do Ibama.

Até ontem (24), o sul da Bahia registrava apenas pequenos vestígios de óleo em Ilhéus, Uruçuca e Itacaré. Mais ao norte, em Morro de São Paulo, município de Cairu, foram registradas grandes manchas de petróleo.

Área onde foram detectadas as manchas de petróleo no litoral norte || Foto José Nazal

Ontem à noite, a Prefeitura de Ilhéus emitiu alerta à comunidade e orientação para não ter contato com o material tóxico. Os telefones informados pelo município para esclarecer dúvidas e fornecer orientações foram os do Corpo de Bombeiros (Telefone 193) e da Defesa Civil do Município – (73) 98178-2255.

MANCHAS OU VESTÍGIOS EM PRAIAS DE 15 MUNICÍPIOS

Segundo levantamento da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), 15 municípios já foram impactados por manchas ou vestígios do material tóxico, dos quais seis decretaram situação de emergência. Jandaíra, Conde, Entre Rios, Esplanada, Camaçari e Lauro de Freitas estão em situação de emergência. Os demais são Mata de São João, Salvador, Itaparica, Vera Cruz, Cairú, Uruçuca, Ilhéus, Maraú e Itacaré.

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Homens da Rondesp e Polícia Ambiental participam da desocupação (Foto Marcelo Bacelar).
Homens da Rondesp e Polícia Ambiental participam da desocupação (Foto Marcelo Bacelar).
Pelotões da Polícia Militar cumprem mandado de reintegração de posse no litoral norte de Ilhéus, nesta manhã de terça (22), após liminar concedida pela Comarca Local da Justiça. Aproximadamente 150 homens da Rondesp Sul e Polícia Ambiental, com reforço de órgãos como o Inema, participam da desocupação.

São 538 barracos e casas construídos ou em construção na área compreendida entre Joia do Atlântico e Ponta da Tulha, às margens da BA-001 (Ilhéus-Itacaré), onde também ocorre onda de queimadas de considerável faixa de terra da Mata Atlântica.