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Manuela Berbert | manuelaberbert@yahoo.com.br
Uma coisa não se pode negar: além do apelo comercial, no Dia Internacional da Mulher os temas relacionados ao universo feminino ganham foco. Das redes sociais às grandes rodas, o que não faltam são discussões. E nas salas de aula não seria diferente.
Um professor citou o seguinte caso: um cara teria ficado dez anos sem trabalhar, sendo sustentado por todo esse tempo pela esposa, e no divórcio estaria pleiteando uma pensão alimentícia. “É um safado e merece uma surra”, gritei da minha carteira, esquecendo, por um breve momento, que estava ali para aprender a respeitar e empregar as normas brasileiras.
O tema foi motivo de discussão.  Os colegas, talvez para irritarem um pouco as mulheres presentes, falaram em direitos iguais. “Muitas mulheres passam anos casadas, não trabalham, herdam e ainda têm direito a pensão. Por que com o homem seria diferente?” É que ser mulher já dá trabalho, professor!
As responsabilidades mais simples, porém mais importantes, acabam sendo nossas. Casa, marido, filhos, pais e carreira profissional com paciência e dedicação, com um sorriso nos lábios e as unhas bem feitas, para que o marido não a chame de desleixada. Não é fácil e a gente consegue, sem reclamar, encarando como obrigação mesmo. Uma autoexigência que se tornou comum para a grande maioria das mulheres. Ou alguém vai dizer o contrário?
E nessa corrida diária pela “excelência dos serviços prestados”, precisamos ainda ficar atentas à tênue diferença entre ser sensual e ser vulgar. Toda e qualquer extravagância pode arruinar para sempre a reputação de uma fêmea de qualquer idade e classe social.
E já que toquei nesse assunto, devo comentar que achei de muita elegância o programa As Brasileiras com a musa Ivete Sangalo, veiculado na grande data. Com um texto leve e bem humorado, e nenhuma cena de apelação sexual, a Rede Globo passou a mensagem de que para ter audiência, em todos os sentidos, basta ter bom humor e elegância. Será que as mulheres-fruta e panicats entenderam o recado?
Manuela Berbert é jornalista e colunista do Diário Bahia.

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Manuela Berbert | manuelaberbert@yahoo.com.br

Brown amadureceu. E provou isso quando disse à imprensa, antes de partir para Los Angeles, que o prêmio era um grande acontecimento, mas uma festa de outro país.

Percussionista renomado, Carlinhos Brown é conhecido como o Cacique da Bahia. Foi um dos criadores do samba-reggae e em 1989 fez parte da banda de Caetano Veloso, estourando tanto no Brasil quanto no exterior com a música Meia lua inteira. Aventurou-se como compositor, conquistou o Troféu Caymmi, um dos mais importantes da música baiana, e rodou o mundo com João Gilberto, Djavan e João Bosco. Talentosíssimo, porém, bastante polêmico. E isso assustava até os fãs mais fiéis.
Lembro dele à frente da Timbalada, ainda na década de 90, quando projetou a banda nacional e internacionalmente. Elevou a autoestima do Candeal, onde nasceu, e norteou a vida de muitos jovens do bairro, onde ainda desenvolve projetos sociais.
Conheci um jovem timbaleiro em terras sergipanas, onde nos tornamos amigos. Numa ocasião, já em Itabuna, contou-me que o cantor estava em clima de despedida da Timbalada. Quando questionei o seu futuro na banda, respondeu-me que ficaria onde o Cacique determinasse, e toca na banda solo de Carlinhos Brown até hoje.
Confesso que fiquei surpresa com tamanha devoção, já que o cantor que eu conhecia, até então, era exagerado em tudo: ele gritava demais, pulava demais, xingava demais, era alvo de críticas, vaias etc.
Mas foi a partir do Projeto Tribalistas, um trabalho desenvolvido com Marisa Monte e Arnaldo Antunes, em 2002, que Brown começou a amadurecer. Prêmios, milhões de cópias vendidas e um homem mais comedido, num tom de voz mais baixo e frases conectadas entre si.  Acho que de lá para cá ele só cresceu profissionalmente: carreira internacional com base sólida na Europa, shows, produções de discos, de trilhas para espetáculos de dança, filmes, dentre outras produções.
Se a indicação ao Oscar fosse em 1998, ano em que Carlinhos ficou nu em cima de um trio elétrico no Carnaval de Salvador, o Brasil teria ficado tenso, receoso do que ele poderia “aprontar”. Mas Brown amadureceu. E provou isso quando disse à imprensa, antes de partir para Los Angeles, que o prêmio era um grande acontecimento, mas uma festa de outro país, e que a sua realidade era o chão da Bahia. Talvez estivesse prevendo a sabotagem da qual foi vítima no tão sonhado tapete vermelho. Salve Brown!

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Manuela Berbert | manuelaberbert@yahoo.com.br

Está faltando prudência e equilíbrio de todos os lados envolvidos, e é o povo quem está sendo penalizado. Greve é um direito do trabalhador sim, mas greve armada é rebelião.

Assistindo às cenas do que aconteceu no Centro Administrativo da Bahia (CAB) na manhã de hoje, segunda-feira, o meu sentimento foi de vergonha: vergonha do que se transformou o direito de reivindicação dos Policiais Militares, vergonha do comportamento de alguns profissionais da imprensa e vergonha da inércia do Governador que, não cedendo, não ‘desmonta o circo’.
Diante dos episódios que afligem a população desde o início da paralisação parcial da Polícia Militar, no último dia 31, clamo por um diálogo construtivo.  Os prejuízos à população e aos setores produtivos são incalculáveis. Em pleno verão, quando deveríamos estar produzindo e recebendo milhares de turistas, estamos assistindo a autoestima do baiano ser devastada a cada matéria divulgada pela imprensa.
Transformaram a Bahia num campo de guerra e estão transmitindo para o mundo. Saques, ocorrências policiais graves e confrontos, em minha opinião, excedem os limites aceitáveis em manifestações. Está faltando prudência e equilíbrio de todos os lados envolvidos, e é o povo quem está sendo penalizado. Greve é um direito do trabalhador sim, mas greve armada é rebelião. Acho que a causa maior dessa luta perdeu as forças à medida que virou baderna. Chega!
Não tenho dúvidas de que houve incapacidade do governo em evitar que se instalasse o caos. O que também não entendo é um partido que se fez em greves desqualificar reivindicações e partir para o ataque, recorrendo à Força Nacional. Passando do ponto ou não, Governador, o senhor está sendo arrogante antes e durante a crise. A sua obrigação institucional e moral é negociar. Se não sabe, pede pra sair!
Manuela Berbert é jornalista e colunista do Diário Bahia.

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Manuela Berbert | manuelaberbert@yahoo.com.br
Eu nunca fiz parte da imprensa marrom. Respeito a decisão de quem optou por isso, mas não me insiro nesse contexto. Vejo uma corrida absurda para quem dá a notícia mais trágica, o maior número de mortos num acidente, e tenho náuseas só de pensar. Prefiro escrever sobre o que me garante prazer e satisfação. A vida é feita de escolhas, e eu fiz a minha.
Ontem, o jornalista Eduardo Anunciação discorreu em sua coluna, no jornal Diário Bahia, sobre as mulheres candidatas à Prefeitura de Itabuna. Aproveitou o tema e cobrou minha posição partidária. Escreveu que indefinição era inaceitável, já que não existe democracia sem povo. Eu tenho “lado” sim, Eduardo. Sempre tive. Repito que a vida é feita de escolhas, e que eu escolhi trabalhar tecnicamente e ficar ao lado de homens e mulheres de bem, íntegros e honestos, até que os mesmos me provem o contrário.
Cito o secretário de Educação de Itabuna, Gustavo Lisboa, como exemplo. Excelente profissional que se mantém no cargo político única e exclusivamente por COMPETÊNCIA TÉCNICA. Atravessando mandatos, agora se prepara para uma nova fase: um curso de doutorado, a realização de um sonho pessoal e profissional, fora da Bahia.
Eu poderia citar aqui o que já foi noticiado em diversos veículos sobre o trabalho de Lisboa, mas prefiro me ater à informação de pouca mídia e muito impacto: o secretário teria conseguido, junto ao prefeito da cidade, co-financiar a compra de mais de 240 bicicletas reforçadas para que alunos da zona rural chegassem com mais rapidez e segurança aos pontos de ônibus, e em seguida aos seus respectivos Colégios. Gustavo é desses que trabalha sem mídia e sem vaidade. Honra a cadeira que senta, apenas. E é desse tipo de gente e de ação que eu gosto de falar.
Eu poderia escrever, também, aquelas frases clichês, lembrando que Itabuna irá perder um excelente profissional, mas ando tão desacreditada nessa politicagem descarada, que prefiro separar o joio do trigo. Registro somente ser uma pena que um homem de caráter se vá, e que alguns duvidosos fiquem.
Manuela Berbert é jornalista e colunista do jornal Diário Bahia.

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Gatos escaldados das urnas e donos de fortunas daqui, eles sabem que Azevedo tem grandes chances de reeleição.

Como se o passado não existisse, hoje a pauta dos blogs, jornais, rádios e esquinas da vida é a aliança dos ex-prefeitos de Itabuna, Fernando Gomes e Geraldo Simões. Não me interessa quem procurou quem, quem está tentando fazer essa aliança, ou coisa parecida. Eu só gostaria de acreditar na existência de uma finalidade digna para esse fato, mas não consigo.
Geraldo não quer arriscar, e prefere empurrar Juçara. Sabendo o quanto é difícil, vai fazer todas as alianças que puder. Já Fernando, que concedeu entrevistas a diversos veículos tempos atrás afirmando que estava encerrando sua carreira, agora ensaia voltar, tramando uma aliança com o seu maior inimigo político. Sinceramente, é preciso respirar fundo para ler esse tipo de notícia, ou escutar esse tipo de conversa.
Gatos escaldados das urnas e donos de fortunas daqui, eles sabem que Azevedo tem grandes chances de reeleição. O homem que conquistou a periferia com seus pulinhos na época da campanha, de casa em casa, fechou os olhos para o Centro da cidade e está reconstruindo bairros mais humildes. Não é o modelo de gestão mais adequado, mas é o que reelege. Nós sabemos disso, e eles também.
O que mais me incomoda é que, com essa aliança contra o capitão, os demais possíveis nomes vão ficando ao vento, se perdendo no tempo. A turma do PCdoB já não está mais tão coesa, Vane do Renascer sumiu da mídia, Leninha Alcântara não sabe para que lado vai, Roberto Minas Aço não emplaca etc. Perdoem-me se esqueci alguém já cotado para as eleições de 2012, mas a realidade é essa: os nomes vão surgindo e sendo engolidos por essa politicagem descarada…
Manuela Berbert é jornalista e articulista da Contudo.

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Defino amor de mãe como sublime e profundo. Aconchego. E acho que amor de pai é cuidado, zelo, confiança.

Eu sempre fico um pouco saudosa nessa semana que antecede o Dia dos Pais. Uma saudade sadia, de um tempo bom que não volta mais, de alguém que se foi muito cedo, especialmente porque eu só tive o prazer de conviver breves 13 anos. O suficiente para entender o sentimento de uma filha diante da falta que a figura de um pai faz.
Terça-feira, chego em casa no finalzinho da tarde e encontro minha mãe perplexa com o que acabara de assistir: um apresentador mostrou, em seu programa, a história de um pai que entregou sua própria filha a traficantes, como pagamento por uma dívida de drogas. Cheguei a questionar se a menina ainda estava viva. Sinceramente, ficaria mais aliviada se minha mãe me respondesse que não.
Defino amor de mãe como sublime e profundo. Aconchego. E acho que amor de pai é cuidado, zelo, confiança. Que me perdoem as feministas, mas a própria figura masculina já impõe isso nas nossas vidas. É da figura do pai que vem, teoricamente, a segurança. E imaginar que uma filha se viu entregue a marginais, para ser estuprada, usada, massacrada, é imaginar cenas de um filme de terror e humilhação que ser humano algum merece, sequer, assistir.
Confesso que, mesmo diante de uma realidade crua e perversa que observo nas mídias, diariamente, jamais ousei imaginar tal infelicidade. Estamos vivendo um tempo lamentável de degradação humana, e não sabemos onde e nem quando iremos parar.
Caberia, neste exato momento, adentrar numa discussão a respeito do crescimento exacerbado do consumo de drogas no país. Caberia também concordar com o apresentador, numa bandeirada a favor da pena de morte por aqui. Mas estou CHOCADA, sem forças para argumentar…

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Manuela Berbert | manuelaberbert@yahoo.com.br

Peguei-me pensando a que ponto nós chegamos, ao observar a população agindo com as próprias mãos.

Noite fria e chuvosa de sábado, 30 de julho, e eu estava tentando escrever alguma coisa sobre o aniversário de Itabuna. Na verdade, já vinha rabiscando desde o início da semana, mas não consegui. Em primeiro lugar, não me senti à vontade para criticar a cidade que vivo justamente nos dias de comemoração pelo seu aniversário. Comparo com alguém que aproveita um evento familiar para “lavar roupa suja” com algum parente, deixando de ser sincero para ser deselegante. Por outro lado, a sua infraestrutura está decadente, e seria hipocrisia vendar os olhos diante de tudo e escrever um texto com votos de felicitações, como já fiz tempos atrás.
Escutei o som de um tiro. Não sei dizer quantos foram, mas o estampido de um tiro é inconfundível. Ao chegar à porta de casa, deparei-me com o fato em si: um ladrão, ao assaltar um estabelecimento comercial próximo, foi contido pela população. Torna-se desnecessário descrever detalhes do assalto ou da forma como o meliante foi pego. Atenho-me, neste momento, ao que me parece ser o grave e considerável problema: somos nós, cidadãos itabunenses e baianos, que estamos cuidando da nossa segurança!
Somos nós que estamos contratando seguranças particulares para as empresas e residências. Somos nós que denunciamos. Somos nós que fiscalizamos. E assim, vivemos acuados, com medo. Peguei-me pensando a que ponto nós chegamos, ao observar a população agindo com as próprias mãos.
É lamentável a atual situação. Estamos desprotegidos, desamparados, abandonados, vulneráveis. Não frequentamos praças e não caminhamos nas avenidas com tranquilidade. São assaltos, agressões e mortes gratuitas. O tema bate recorde nos noticiários e os índices já não nos assustam mais. A segurança pública está gritando, e os governantes fingem não escutar!
Manuela Berbert é jornalista e colunista da Contudo.

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Manuela Berbert | manuelaberbert@yahoo.com.br

Num único e longo dia, fui apresentada por ele a autores até então desconhecidos, a blues até então desconhecidos, a histórias com finais belíssimos, frutos das suas observações e/ou devaneios.

Eu não sei de quem herdei o vício da observação do cotidiano e do comportamento humano, mas consigo citar homens e mulheres com quem aprendi a exercitá-lo. Cleomar Brandi, jornalista baiano radicado em Aracaju, foi um deles.
Sincero, bem humorado e inteligentíssimo, ajudou a formar, na prática, quase todos os profissionais de jornalismo daquelas bandas. Participou da equipe que fundou a única emissora pública do Estado, a TV Aperipê, onde ainda atuava, e de lá para cá passou por diversos veículos de comunicação de Sergipe.
Recém-formada e cheia de sonhos, conheci Cleomar. Voando sobre a sua cadeira de rodas, adquirida aos 22 anos quando amputou as pernas devido a uma paralisia infantil, o único sentimento que eu jamais ousei sentir foi pena. Impossível, diante de um homem independente que, à beira da piscina de uma casa belíssima, me falou da sua história de superação e amor à vida, e da realidade do mercado de trabalho na comunicação. “No final das contas, tudo é politicagem e malandragem. A gente bate num dia e apoia no outro. Infelizmente, a vida tem dessas coisas…”
Conversamos sobre Itabuna, Ilhéus e Ipiaú, sua terra natal.  Num único e longo dia, fui apresentada por ele a autores até então desconhecidos, a blues até então desconhecidos, a histórias com finais belíssimos, frutos das suas observações e/ou devaneios e, por telefone, a nomes famosos do jornalismo e da política sergipana. “A política baiana se expandiu muito, jovem, o que nem sempre é bom. Abriu brecha para qualquer um. Como numa grande família, nem todos os filhos são éticos e têm compromisso. É que os pais não conseguem dar a mesma criação a todos.”
Cleomar foi sepultado segunda-feira, em Aracaju. Iniciou sua carta de despedida com palavras que diziam assim: “um dia, uma noite, um boêmio sempre pede a saideira, e os garçons nunca gostam dessa história. Dessa vez, chegou minha hora, meu último gole. Eu, pessoalmente, não diria que estou indo contrariado. Afinal de contas, soube beber com sede de aprendiz o melhor que havia na taça que a vida me ofertou. Uma taça lavrada, recendendo a conhaque.” No final, convidou os amigos para a última saideira no seu bar preferido e foi prontamente atendido, inclusive pelo Governador do Estado, Marcelo Déda. A conta já estava paga.
Manuela Berbert é jornalista e colunista da Revista Contudo.

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Manuela Berbert | manuelaberbert@yahoo.com.br

A procriação é algo tão perfeito que oferece a ela exatos nove meses para que se adeque, que se acostume e arrume a vida até o grande dia do nascimento.

Algumas religiões tentam explicar a morte e torná-la menos dolorosa, especialmente para quem fica. Acho extremamente válido e inteligente, inclusive. Admiro quem consegue lidar com tudo isso com muita sabedoria, calma e paz no coração. Eu, sinceramente, não faço parte desse time.

Nós, seres humanos, não sabemos e nem gostamos de perder. Não sabemos aceitar o fim de um relacionamento, mesmo quando temos a plena consciência de que ele está fadado ao insucesso; não sabemos lidar com a falência de uma empresa à qual demos o nosso suor e depositamos as nossas expectativas; não aceitamos, muitas vezes, nos desfazer de roupas e sapatos usados, abarrotando gavetas com coisas velhas. Somos apegados. Acho que essa é a palavra mais adequada. Somos apegados ao que julgamos ser nosso, e dar adeus ao que queremos bem é algo bastante doloroso.

Vejo nas manchetes dos jornais um número cada vez maior de jovens partindo antes da hora. Sim, os jovens estão partindo antes da hora, deixando para trás vidas cheias de sonhos, expectativas e conquistas. Deixando para trás a possibilidade de ficar velhinho e sentar na varanda de casa, de pijama, e contar aos netos tudo o que a vida lhe ensinou. A sensação que tenho, diante dessa loucura que é a morte prematura, é de piedade, de compaixão. Dos jovens que se privam da vida, mas, especialmente, das mães que ficam.

Eu não sou mãe. Mas imagino que a chegada de um filho mude a vida, a rotina e os sentimentos de uma mulher para sempre. Porém, a procriação é algo tão perfeito que oferece a ela exatos nove meses para que se adeque, que se acostume e arrume a vida até o grande dia do nascimento. Na morte prematura, não. Elas são pegas de surpresa, muitas vezes no aconchego dos seus lares, sonhando com o sorriso dele, que não mais verá.

Não diminuo aqui a dor de um pai, de um irmão, de uma esposa ou de um amigo. Mas acredito que o amor de uma mãe é algo maior que ela mesma. O amor de uma mãe é semeado na gestação, na delicadeza do aleitamento, no instinto, no íntimo da mulher. E se o amor de uma mãe é assim, incomensurável, sua dor é algo que me corta o coração só de imaginar…

Manuela Berbert é jornalista e colunista da Contudo.

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Manuela Berbert

Enxergo em Neto uma vontade imensa de tomar as rédeas da Bahia, ainda que essa expressão me ofenda.

Circula na internet uma entrevista do deputado federal baiano Antônio Carlos Magalhães Neto, concedida à Revista Playboy desse mês. Numa linguagem simples e com um tom informal, ele brinca com sua altura e com a beleza das mulheres do governo, mas passa sua principal mensagem: está disposto a incomodar.

As seis páginas publicadas mostram que ele é ainda mais esperto do que pode parecer. Sabe que precisa apagar a imagem familiar de “coronelista” e vale-se de alguns artifícios para tal, como a constante atuação nas redes sociais e a simpatia, que lhe é peculiar. E, numa visão menos regional da coisa, demonstra ter consciência de que fazendo oposição a Dilma e seus aliados, vai ganhando uma visibilidade nacional significante.

Ele acaba ‘puxando a sardinha’ pro seu lado ao comentar que muitos colegas sequer aparecem no Congresso Nacional ou que, quando o fazem, é para negociar cargos etc. Talvez por ser o deputado federal mais bem votado da Bahia, ACM Neto pode não precisar tanto fazer o papel do negociador. Prefere ser uma pedrinha no sapato da Presidente. Aliás, fazendo a linha “super-sincero” na entrevista, acaba deixando nas entrelinhas que se opor a Dilma é mais fácil do que se opor a Lula e confrontar a popularidade do ex-presidente. Ouso escrever que, proporcionalmente, são os dois maiores marqueteiros que consigo enxergar: Lula para o Brasil como um todo, e ACM Neto para o seu estado.

Ainda não conheço uma grande e inesquecível obra dele, até porque essa não é a função concreta do cargo que ocupa. Mas enxergo em Neto, como é chamado, uma vontade imensa de tomar as rédeas da Bahia, ainda que essa expressão me ofenda. Não duvido do que ele anda traçando para o futuro.

Numa ocasião recente, hospedado aqui em Itabuna, telefonou para um amigo pedindo que fosse buscá-lo para jantar. O cidadão, que já estava num restaurante conhecido da cidade, prontamente o atendeu. Acontece que, ao retornar com o neto de ACM, encontrou o restaurante já de portas fechadas. Ele disse que já se encontrava naquele recinto e o segurança ficou aguardando a explicação do deputado, que poderia ter explorado a popularidade incontestável que possui.

Político até nos seus momentos de lazer, sorriu e disse que também tinha dado apenas uma saidinha, o que acabou fazendo com que as portas fossem abertas. Permitam-me a brincadeira, mas, independentemente da minha opção partidária, percebo que é preciso muito mais que um homem alto e forte para conter as vontades daquele baixinho…

Manuela Berbert é jornalista e colunista da Contudo.

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Manuela Berbert

E só então, do alto do seu scarpin preto, como uma personagem dos contos de Nelson Rodrigues, gritou: “Socorro! Meu marido morreu!”.

A feminilidade se refere às características e comportamentos associados ou apropriados a mulheres. A alegria, a delicadeza e a sutileza nos gestos, nas atitudes, nas palavras, por exemplo, distinguem as mulheres de sucesso. É uma qualidade positiva que, se usada de maneira correta, abre portas, sejam elas profissionais ou pessoais. Ou alguém vai dizer que não?

Desculpe se desaponto alguns, mas como telespectadora do BBB (sim, eu assisto ao Big Brother Brasil), acho que está faltando glamour e vaidade naquele recinto. Tenho a leve impressão de que as mulheres ali confinadas esqueceram-se das câmeras. Perderam o entusiasmo pela maquiagem, pelos penteados, pelo figurino extravagante e até, em alguns casos, pelo amor próprio.

Gosto de gente, de observar o comportamento alheio e diagnosticar traços da personalidade do ser humano. E esse tipo de programa, assim como a vida em sociedade, é um excelente laboratório.

Feliz é aquela mulher que sabe usufruir dos seus atributos sem tornar-se vulgar. Aquela que sabe ser elegante de minissaia, que sabe olhar nos olhos sem se oferecer e, principalmente, aquela que sabe as medidas exatas do perfume e da maquiagem para cada ocasião.

Nunca vi, por exemplo, a face de tia Dalva em seu tom natural. Cresci com essa curiosidade, já que ela mantém-se vaidosa e maquiada até hoje, no auge dos seus 83 anos. Reza a lenda familiar que, residindo em São Paulo, na companhia do seu segundo marido, teve um momento crítico: numa noite fria de julho, aprontando-se para dormir, percebeu que Dito, como era carinhosamente chamado por ela, sentia-se mal, vindo a enfartar em alguns minutos.

Extremamente vaidosa, tia Dalva deitou o defunto em sua cama e partiu para o banho. Vestiu seu longo preto de cetim, cobriu o pescoço com uma echarpe italiana, maquiou-se, penteou-se, abusou do perfume francês e rumou para o quintal de sua residência, onde um muro de altura mediana a separava dos vizinhos. E só então, do alto do seu scarpin preto, como uma personagem dos contos de Nelson Rodrigues, gritou: “Socorro! Meu marido morreu!”.

Manuela Berbert é jornalista, estudante de Direito e colunista da Contudo.

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Manuela Berbert

Nunca imaginei ter um vizinho ladrão de jornal. Mas, pasmem, acontece nos melhores bairros.

Minha mãe descobriu os prazeres da internet. Passa horas navegando e lendo as notícias do mundo afora. E, claro, como em toda família em que existe jornalista, vem comentar comigo. Essa semana me contou de um caso interessante, que leu num site nacional: uma mulher foi encontrada morta, na Europa, dentro do seu próprio apartamento, quase nove anos depois. Sentiram falta dela, mas não fizeram muita coisa diante de tal desaparecimento.

Fiquei me perguntando: que família seria a dela, que vizinhos ela teria, que vida essa mulher levava. Procurei a matéria e, mesmo lendo a descrição dos mais próximos de que ela seria uma pessoa isolada, fechada, fiquei estarrecida com a situação. Que triste fim!

Lembrei do meu vizinho, um senhor inconveniente que, vez ou outra, bebe e faz gracinhas. Nada que venha a tirar o sono de todos, já que geralmente ele denigre a própria imagem, gritando, falando alto, discutindo com sua sombra. Sequer sei o seu nome, tamanha a minha aproximação com ele. Mas sentiria sua falta.

Dia desses, aconteceu um fato interessante: meu irmão, ao acordar muito cedo para ir trabalhar, o viu, com um cano de PVC nas mãos, furtando pela grade os nossos jornais, entregues ainda na madrugada. Entendeu porque, muitas vezes, sentia falta dos periódicos. Eu achava que Marcelo, por sair sempre cedo, levava as edições com ele. Ele achava que muitas vezes a entrega era tardia, e que eu lia e ‘dava fim’.

Nunca imaginei ter um vizinho ladrão de jornal. Mas, pasmem, acontece nos melhores bairros. Daria uma crônica interessante, se contada ao mestre Odilon Pinto, já que meu irmão se sentiu constrangido com o episódio e ficou quieto, com vergonha de ser flagrado. Acontece que, ao passar na porta da residência do ‘cabra’, o viu sentado, na companhia do vigia da rua, de jornal em punho, lendo. Parou o carro e disse: “quando terminar de ler, devolva!”

Manuela Berbert é jornalista, estudante de Direito e colunista da Contudo.

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Manuela Berbert

Não, ele não pode estar falando do mesmo Ronaldo que já me deu tantas alegrias, do mesmo Ronaldo que jogou quatro Copas do Mundo e conquistou duas, tornando-se o maior artilheiro de todos os Mundiais, com 15 gols

Confesso que me emocionei ao ver a coletiva de Ronaldo segunda-feira (14), ao meio-dia. Visivelmente abalado, ele não anunciou ali o fim de uma carreira, mas o fim da atividade que mais lhe dá prazer, o futebol. E por mais que tenha começado ainda na juventude, precisar abrir mão do que se gosta, aos 30 e poucos anos, é triste.

Não, eu não fiquei com pena de Ronaldo. Seria até hipocrisia de minha parte, diante da falta de perspectiva que assola milhares de brasileiros, sentir pena de alguém que já conquistou tanta coisa, especialmente financeira. Tenhamos bom senso: ser obrigado a parar vencido pelo próprio corpo, por seus próprios limites, é doloroso.

E ele falou de dor. De uma dor que sente dentro de sua casa, ao realizar tarefas simplórias, como subir degraus de uma escada. Acho que essa dor reflete na alma e no espírito competitivo de um jovem que se acostumou a realizar, a fazer acontecer, a tocar pro gol.

Foram 18 anos de uma carreira excepcional, fora do comum, com diversas glórias e muitas lesões, mas que não tiraram nem um pouco o brilho do que ele conquistou e do que mostrou nos campos de futebol do mundo afora. Dribles, arrancadas, gols, títulos e agora, no final de sua carreira, Ronaldo estava se acostumando a deixar com extrema genialidade seus companheiros na cara do gol.

Aí abro o Diário Bahia de hoje, terça-feira, e dou de cara com o artigo do jornalista Daniel Thame dizendo que, além de ter parado na hora errada, ele há muito tempo era apenas marketing. Chamou o Fenômeno de jogador descartável.

Não, ele não pode estar falando do mesmo Ronaldo que já me deu tantas alegrias, do mesmo Ronaldo que jogou quatro Copas do Mundo e conquistou duas, tornando-se o maior artilheiro de todos os Mundiais, com 15 gols. Ele não pode estar falando do jogador que venceu duas Copa América e uma Copa das Confederações. Foram 12 anos vestindo a amarelinha, Daniel, e ele é o segundo maior artilheiro da história da Seleção, perdendo apenas para Pelé.

Não, eu não vi Pelé jogar. E ontem, assistindo à coletiva, me orgulhei por fazer parte da GERAÇÃO RONALDO. Ao vê-lo se apresentar ali, acompanhado do filho mais velho e de Alex, fruto de um relacionamento de uma noite, lembrei que uma filha de Pelé faleceu de câncer clamando por um abraço do pai. É que eu sou dessas pessoas que precisam admirar o homem como ser humano, antes mesmo de admirá-lo como profissional. E Ronaldo, aqui pra nós, Daniel, até para se despedir foi um FENÔMENO!

Manuela Berbert é jornalista, estudante de Direito e colunista da Contudo.

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[Fernando Gomes] respondeu que o mesmo teria pedido um salário mensal de 20 mil reais para ser CANDIDATO a vice-prefeito, na chapa de Azevedo, em 2008.

Manuela Berbert

Pegue um CD antigo da musa baiana Ivete Sangalo e procure a música Empurra-empurra. Trata-se de uma composição de Alain Tavares e Gilson Babilônia, que, assim como quase todas as canções que ela cantarola por aí, virou sucesso. Escute prestando a devida atenção na letra. (Que me perdoem aqueles que a comparam com as demais cantoras baianas, mas Ivete é inconfundível.)

Estava assistindo, no último sábado, à entrevista que o ex-prefeito Fernando Gomes concedia a Joel Filho, Frankvaldo Lima e Gerdan Rosário na TVI, quando me lembrei dessa música.

Questionado sobre a declaração de Dr. Antônio Vieira sobre o rombo que a gestão dele teria deixado na saúde da nossa cidade, “Cuma” respondeu que o mesmo teria pedido um salário mensal de 20 mil reais para ser CANDIDATO a vice-prefeito, na chapa de Azevedo, em 2008. É uma pergunta respondida com outra coisa que sequer foi citada. Um jogo de empurra-empurra que irrita qualquer cidadão de bom senso.

Abro a Revista CONTUDO para ler a entrevista do recém-empossado deputado estadual Augusto Castro, e o que vejo é mais ou menos isso também. Ele senta com o atual prefeito daqui, negocia cargos e emprega os seus, mas não o apoia na sua reeleição a prefeito. Um empurra-empurra de interesses pessoais e partidários que, infelizmente, vai durar até a véspera do circo que será as eleições de 2012.

A política brasileira se tornou isso: um empurra-empurra de interesses e uma dança das cadeiras sem fim. Na tentativa de ver sua imagem menos arranhada, um aponta o defeito do outro. Na tentativa de ser menos corrupto, um aponta o rombo que o outro deixou, e por aí vai. Vale até relembrar o caso de Loiola, que resolveu denunciar uma “quadrilha” na Câmara Municipal na tentativa de se safar.

A impressão que eu tenho é que, como hoje em dia está difícil encontrar quem faça alguma coisa, o povo anda se contentando até com aquela máxima que já foi tão criticada aqui na Bahia: ‘Fulano rouba, mas faz’. Que tristeza…

Manuela Berbert é jornalista, estudante de Direito e colunista da Contudo.

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E o que foi colocado em pauta não foi a inocência dos animais em estarem ali fuçando o lixo, mas a irracionalidade do homem diante da fome.

Manuela Berbert

Lá vem a Rede Globo com mais uma novela clichê no horário nobre. Falar da vida e do cotidiano vende, especialmente porque estamos todos tentando entender os caminhos que escolhemos para seguir, nossas atitudes, nos entender. Mas insensato, segundo o bom e velho Aurélio, é aquele que perde a razão, louco, insano. Aquele que age contrariando o bom senso.

Acho que todo mundo tem o direito de ser insensato com a sua própria vida. E isso inclui romances desastrosos que só nos fazem crescer, inclui um curso universitário com amor e sem futuro, inclui atitudes por impulso com dias ou meses de arrependimento etc. Mas nós não temos o direito de ser insensatos com o outro. Especialmente se o cuidado com o outro for uma obrigação.

Lembro que, ainda estudante universitária nas terras sergipanas, numa daquelas disciplinas práticas do curso de comunicação, produzimos vídeos com temas diversos. Enquanto a grande maioria optou por mostrar Aracaju sob ‘novos’ ângulos ou narrar o cotidiano do sergipano, uma equipe fez um documentário sobre a miséria humana. A miséria humana é algo que choca, especialmente quando mostrada de forma real.

No vídeo, homens, mulheres, crianças e animais apareciam juntos, no lixão da cidade, disputando espaço na busca desvairada por restos de comida. Além das cenas e dos relatos, a equipe comparou o homem, naquele momento, a um bicho. E o que foi colocado em pauta não foi a inocência dos animais em estarem ali fuçando o lixo, mas a irracionalidade do homem diante da fome. Achei uma comparação pesada, que me tirou o sono por dias seguidos, mas entendi.

Acho que é nessa parte da história que nos lembramos dos corações mais insensatos que existem no mundo: os corações daqueles que têm o poder nas mãos, o dever de fazer alguma coisa pelo ser humano, e não fazem. Fecham os olhos diante da miséria, desconhecem as atribuições que lhe cabem e desdenham do povo brasileiro. Não sei como conseguem deitar suas cabeças em travesseiros confortáveis, sabendo que tanta gente geme de dor nas filas dos hospitais ou cata lixo para matar a fome. Esses, sim, são irracionais, levianos e traiçoeiros. Na minha humilde opinião, verdadeiros bichos.

Manuela Berbert é jornalista, estudante de Direito e colunista da Revista Contudo.