Ney Matogrosso é das personalidades mais marcantes da Música Popular Brasileira || Foto Ari Brandi/Divulgação
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Uma das características de Ney Matogrosso é a generosidade. Quando foi ao banco depositar dinheiro acumulado e não conseguiu, retornou e disse aos amigos: “ali tem um saco de dinheiro, quem precisar é só pegar. ”

 

Marival Guedes

Caetano Veloso escreveu na orelha do livro sobre Ney, que a obra é “leitura emocionante. ”  Não encontrei termo mais apropriado. São 512 páginas resultado de quase 200 entrevistas feitas em cinco anos pelo escritor e jornalista Julio Maria.

Conta a expulsão de casa pelo pai, um militar, quando Ney aos 17 anos se defendeu de uma agressão física; o ingresso na aeronáutica; o trabalho num hospital em Brasília; a vida hippie vendendo artesanato e dormindo em casas de amigas (os); seus amores; o sucesso no Secos & Molhados; a carreira solo etc.

No período em que confeccionava e vendia artesanato, também atuava no teatro. A grana era curta e ele passava fome. Um dia desmaiou no palco. Fome.

O teatro era a sua paixão. Certa vez, confessou ao ator Leonardo Villar (25/07/23-03/07/20):  “Eu não quero ser cantor, quero ser ator”. Villar respondeu: “ Não lute contra isso, Ney. Você é cantor”. Nesta mesma linha a amiga carioca Luli (19-06-45-26/09/18) cantora, compositora e multi-instrumentista, o aconselhou de uma forma que soou meio mística: “Não negue o chamamento, Ney”.

E foi Luli quem o apresentou ao Secos & Molhados, período em que o grupo chegou a vender mais discos que Roberto Carlos. Ney rompeu, segundo o biógrafo Julio Maria, porque o líder João Ricardo tentou lhe aplicar um golpe.

Escrevo este texto com a cautela de quem quer evitar o comentado spoiler. Mas contarei resumidamente duas historinhas: A primeira sobre o fato de Ney fazer muito sucesso e sair anonimamente. Um dia ele e um amigo foram a uma loja de discos e perguntaram às vendedoras como estava a vendagem dos Secos.” Vendendo bastante”, respondeu uma moça.

– O que acha do cantor? – perguntou o amigo.

-Eu adoro o que rebola na frente. Será que ele é veado?

Os dois saíram sorrindo.

Uma das características de Ney Matogrosso é a generosidade. Quando foi ao banco depositar dinheiro acumulado e não conseguiu, retornou e disse aos amigos: “ali tem um saco de dinheiro, quem precisar é só pegar. ”

Noutro caso, quando um ex-namorado foi contaminado pela Aids, Ney foi buscá-lo, montou um quarto especial e bancou o caríssimo tratamento. Familiares da vítima choram quando relatam este episódio.

Ele viu vários amigos e ex-amores serem levados pela Aids. Quando fez o teste e deu negativo, não comemorou em respeito à estas pessoas. Mas foi vítima da maldade da Revista Amiga, que colocou em manchete: “A Aids de Ney Matogrosso, Milton e Caetano”. No texto não havia confirmação. Entretanto, o estrago estava feito. Acionou a justiça e ganhou 350 mil dólares.

Ney, multiartista, completou 80 anos no dia primeiro de agosto. Escapou da Aids, da covid e continua cantando e dançando. Magistralmente.

Marival Guedes é jornalista.

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Marival Guedes || marivalguedes@yahoo.com.br

 

 

João Gilberto, principal nome da Bossa Nova, levou esta nova batida e jeito de cantar para o Brasil e vários outros países influenciando decisivamente uma geração de grandes nomes da MPB. Um mestre que deixou um imenso legado.

 

 

Escrevi este texto há cerca de dois meses para o programa Multicultura da rádio Educadora onde fui premiado ao responder uma questão sobre a Bossa Nova. Dentre os brindes, o livro Chega de Saudade: A história e as histórias da Bossa Nova (Ruy Castro).

O livro contribuiu para eu entender melhor João Gilberto, incluindo seus atrasos e “desligamentos”. Desde criança é avoado: esquecia livros, cadernos, canetas e até as sandálias.

Um dia a mãe lhe deu um par de sapatos e o advertiu para ter cuidado. Na rua foi convidado a jogar bola e enterrou os sapatos com medo de perdê-los. No final do jogo não lembrou o local e voltou pra casa descalço.

Quando estava em Porto Alegre decidiu ir à Diamantina (MG) visitar a irmã Dadainha e o cunhado Péricles. Ao chegar, notou que não havia levado o endereço e saiu perguntando onde morava o casal. Ficou impossível. João desembarcou na cidade errada, em Lavras, a quatrocentos quilômetros do seu destino.

Episódio também interessante ocorreu quando já fazia sucesso: depois de um show em Belo Horizonte um músico cego foi visitá-lo no hotel e elogiou o som do violão. João lhe ofereceu o instrumento de presente. O músico recusou, mas João insistiu: “faço questão. Leve como lembrança”.

Detalhe: o violão não era dele e o dono, seu amigo Pacífico Mascarenhas, responsável pela contratação do show, assistia incrédulo àquela cena. Mas não interferiu.

Na juventude em Juazeiro, introspectivo dentro de casa, só queria tocar e cantar. O pai avaliou que Joãozinho estava “ficando tantã” e um primo-irmão o levou para uma consulta no Hospital das Clínicas, em Salvador, setor psiquiátrico.

Da janela do hospital João, contemplando a paisagem, falou:

“Olha o vento descabelando as árvores”.

Uma psicóloga comentou: “Mas árvores não têm cabelo, João”.

Ouviu a tréplica genial: “E há pessoas que não têm poesia”.

João Gilberto, principal nome da Bossa Nova, levou esta nova batida e jeito de cantar para o Brasil e vários outros países influenciando decisivamente uma geração de grandes nomes da MPB. Um mestre que deixou um imenso legado.

Marival Guedes é jornalista.

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O ex-governador e ex-ministro Waldir Pires faleceu na manhã da última sexta-feira (22), enquanto o Brasil sofria para, ao final, vencer a Costa Rica por 2 a 0. Abaixo, republicamos, pela sua importância histórica, um artigo do jornalista Marival Guedes relatando um dos momentos da vida de Waldir Pires. Era o primeiro ano do mandato de vereador de Salvador. 2013.
Marival, numa das crônicas semanais ao PIMENTA, relatava diálogo que teve com o ex-governador e um dos momentos daquele fervilhante 2013, já na Câmara de Salvador e numa audiência em que o Movimento Passe Livre puxava as discussões na capital baiana.  O corpo de Waldir Pires foi cremado ao final da manhã deste domingo.


DE DISCURSOS E DE RENÚNCIAS

marivalguedesMarival Guedes | marivalguedes@yahoo.com.br

O ex-governador falou mais alguns minutos e encerrou com palavras de estímulo: “Continuem esta luta por uma sociedade livre e justa”. Novamente aplaudido de pé.

Na audiência pública realizada pela Câmara, atendendo solicitação do Movimento Passe Livre (MPL) Salvador, mais de 300 entusiasmados jovens lotavam o Centro de Cultura. Foram 50 oradores, cada um com direito a três minutos, tempo controlado rigidamente pelo presidente do legislativo, Paulo Câmara.
Havia integrantes de vários partidos, outros que se autodenominam independentes e os antipartidários. Vários deste último grupo, bastante raivosos, os mais barulhentos. Muitas vezes as vaias impediam o pronunciamento, sendo necessária a intervenção do coordenador.
Mas quando um orador iniciou seu discurso, o silêncio foi total. Lembrando o que escreveu o compositor maior, naquele momento ouviríamos o barulho de “uma lágrima a cair no chão”. O vereador Waldir Pires (PT) começou elogiando os jovens e lembrou que começou aos 16 anos na luta contra o nazismo, de posição racista.

Waldir Pires hoje é vereador na capital baiana (Foto Paulo Macedo/BocãoN).
Waldir Pires hoje é vereador na capital baiana || Foto Paulo Macedo/BNews).

Falou da interrupção da democracia, com o golpe militar, quando muitos foram vítimas do exílio, torturas e assassinatos. Disse que continua na política (ele está com 86 anos), porque é a única forma de civilização humana de se transformar toda a sociedade.
Comemorando este novo momento, disse: “De repente vocês explodem e me deixam muito feliz”. Quando o coordenador da mesa avisou que o tempo estava se esgotando, a plateia de jovens do MPL se levantou e pediu para deixá-lo continuar. O ex-governador falou mais alguns minutos e encerrou com palavras de estímulo: “Continuem esta luta por uma sociedade livre e justa”. Novamente aplaudido de pé.
A RENÚNCIA
Conheço pessoas que não perdoam Waldir Pires por ter renunciado ao governo do estado em 1989, dois anos após a posse, para ser candidato a vice-presidente da República na chapa de Ulisses Guimarães, passando o cargo para o vice, Nilo Coelho. Certa vez, numa visita que ele fez à TV Cabrália perguntei, ao lado do então superintendente Ramiro Aquino, sobre a renúncia e expus os comentários dos bastidores.
“Professor são três as hipóteses que circulam sobre a renúncia: 1º) Que já havia este acordo com Nilo Coelho. 2º) que o senhor recebeu dinheiro. 3º) Que teve medo de morrer”.
(À época circulou uma informação sobre um atentado à vida dele. Foi encontrado um mapa geográfico no tanque de combustível do avião do estado, momentos antes do seu embarque.)
Waldir respondeu com a serenidade que o caracteriza: “Meu filho, não havia acordo, quem quer dinheiro fica no poder e quem tem medo não enfrenta uma ditadura. Renunciei por que acreditava que o doutor Ulisses ganharia a eleição, pois tínhamos 22 governadores do PMDB.”
CIRCUNSTÂNCIAS
Waldir não tomou decisão de última hora. A escolha para ser o candidato do partido era através do voto em dois turnos. Na convenção nacional do PMDB, além do então governador da Bahia, havia na disputa Ulysses Guimarães Iris Resende e Álvaro Dias. Ulysses e Waldir foram os dois mais votados, com Ulisses na frente. Para evitar o segundo turno, que poderia gerar uma divisão, o partido entrou em consenso e Waldir Pires ficou na vice, prevalecendo a lógica do mais votado. Talvez hoje Waldir argumente, “ eu sou eu e minhas circunstâncias”.
Marival Guedes é jornalista.
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Na semana passada, Itabuna perdeu figuras-símbolo de sua história centenária. Vivaldo Moncorvo, Adonias Oliveira, José Carlos “Bocão”, Benedito Soriano e Léo Briglia, craque do futebol brasileiro que fez chover nos gramados brasileiros. A seguir, um email enviado pelo jornalista e escritor Antonio Lopes ao também jornalista Marival Guedes, autor do texto “Valeu, Léo”, publicado no último sábado (27). Na sequência, encerrando a série de artigos em homenagem a Briglia, trazemos texto do advogado Allah Góes, amigo do ex-jogador. Confira.

antônio lopes pimentaAntônio Lopes | abcdlopes@gmail.com

 

Perguntei se ele sofreu com a possibilidade de o Bahia ser derrotado (o jogo foi zero a zero), e ele, contrariando minha expectativa, disse que não. “Afinal de contas, sou Vitória”, explicou, para meu espanto.

 

Oi, Marival! A sua foi a melhor matéria que vi na mídia, a respeito da fera Léo Briglia. As notícias omitiram coisas importantes, como ele ter jogado no América (Rio) e no Colo Colo (Ilhéus). Em geral, falam apenas em Fluminense e Bahia. Também não falaram que ele era um dos líderes do “ingênuo” carnaval da Ponta da Tulha, com um bloco, creio que As muquiranas, na tradicional fórmula de homens vestidos de mulheres.

Eu o conheci, quem diria, no Brasil de Buerarema, e disse, em algum lugar, nunca ter visto alguém que jogasse tanta bola. Pode ter sido uma visão distorcida de menino perna-de-pau? Talvez. Mas digo e provo que, mais tarde, já metido a entender do famoso esporte bretão (cheguei a cometer análises na Rádio Difusora, ao lado dos insuspeitos Orlando Cardoso e Geraldo Borges), vi Pelé e Zico, craques acima de qualquer suspeita, comparei-os com o Léo da minha infância e sequer me bateu a passarinha.

Sobre o América, também não falaram que o time de Orlando Cardoso foi a perdição do craque itabunense. Lá, ele conheceu o técnico Martin Francisco, de quem se fez grande amigo. E esse Martim Francisco (Ribeiro de Andrada, descendente daqueles Andradas famosos de Minas) sabia tudo de bola e de copo. Fome e vontade comer: Léo, chegado aos etílicos, encontrara o “chefe” que pedira a Deus.

MF, chamado de lorde dos gramados brasileiros, professor e cientista do futebol, morreu com apenas 54 anos, vítima de “doenças relacionadas com o álcool”.

Em 1988, A Tarde me escalou para acompanhar a decisão do Campeonato Brasileiro ao lado de Léo, na Ponta da Tulha. Lá fui, com o fotógrafo Zeca, encontrar o ex-jogador numa roda de cerveja e papo descontraído, num dos botecos que frequentava. Expliquei meu objetivo, e ele não se fez de rogado: “Vamos lá”, disse. Encerrou a conversa e nos levou para sua casa. Lembro que, no sagrado recesso do lar do craque, enxugamos duas ou três cervejas.

O resultado, todos sabem: o Bahia empatou, o que era suficiente para sair do Beira-Rio campeão brasileiro. Anotei, durante o jogo, alguns comentários de Léo, mas só depois do apito final “encontrei” minha matéria. Perguntei se ele sofreu com a possibilidade de o Bahia ser derrotado (o jogo foi zero a zero), e ele, contrariando minha expectativa, disse que não. “Afinal de contas, sou Vitória”, explicou, para meu espanto.

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Marival Guedes | marivalguedes@gmail.com

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Cada compositor apresentava um samba. Quando Riachão cantou Cada Macaco no seu galho, os empresários gritaram “é essa a música, malandro. É essa”, conta Riachão sorrindo. A música estourou. Porém, teve um detalhe: o compositor não foi convidado para a festa de lançamento.

 

 

Passando na última sexta pela Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus, avisto um senhor com boina branca, lenço no ombro e sorriso largo sambando ao som de um grupo de choro. Fui conferir. Era Riachão comemorando 94 anos de vida completados no dia seguinte, sábado 14 de novembro.

Clementino Rodrigues nasceu no Garcia, em Salvador. Precocemente compôs seu primeiro samba aos 12 anos e não parou. Tem mais de 500, maioria inspirados no dia a dia da cidade, das pessoas. Crônicas.

Ele conta que quando criança brigava muito. “E aí chegavam os mais velhos para apartar, empregando aquele ditado popular: você é algum riachão que não se possa atravessar?”. Nasceu seu apelido.

Em 2008 foi atingido por uma tragédia. Num acidente automobilístico morreram sua mulher, um filha, um filho, nora e genro. Destroçado, se isolou parecendo que jamais se recuperaria.

Riachão se apresentando na Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus, na sexta (Foto Marival Guedes).
Riachão na Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus, na sexta (Foto Marival Guedes).

Mas, quase um ano depois, conseguiu dar a volta por cima aceitando, após muita insistência da produção, um convite para se apresentar no projeto Bahia de Todos os Sambas, no Sesc Pompeia em São Paulo, ao lado de outros grandes nomes a exemplo Nelson Rufino, Mariene de Castro e Roberto Mendes.

Um dos seus sucessos tem uma história diferente. Diretores de uma gravadora do Rio queriam um samba de um compositor baiano para marcar o retorno de Gil e Caetano do exílio em Londres. Vieram à Salvador e convidaram vários sambistas. Os amigos não lhe avisaram.

Mas o Sr.Gadelha, pai de Dedé e Sandra, respectivamente à época, mulheres de Caetano e Gil, era chefe numa agência bancária onde Riachão trabalhava de contínuo. Não apenas o avisou como também lhe forneceu o endereço.

Cada compositor apresentava um samba. Quando Riachão cantou Cada Macaco no seu galho, os empresários gritaram “é essa a música, malandro. É essa”, conta Riachão sorrindo. A música estourou.

Porém, teve um detalhe: o compositor não foi convidado para a festa de lançamento. “Acho que eles esqueceram”, lamenta Riachão complementando que assistiu tudo pela tevê e ficou emocionado.

Marival Guedes é jornalista e escreve crônicas aos domingos no Pimenta.

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Uma estudante da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) atravessava a Avenida Amélia Amado quando uma motorista, ao invés de reduzir, aumentou a velocidade do veículo. Não satisfeita, berrou: “sai da frente, negra descarada”.

 

Uma das principais notícias da semana foi a queixa registrada em uma delegacia de polícia do Rio de Janeiro pela atriz Taís Araújo, contra autores(as) de comentários racistas na internet.

Ela disse que presta depoimento porque sabe que o seu caso não é isolado, acontece com milhares de outras pessoas negras no país. Tem razão, ainda são, vergonhosamente, vários os casos.

Há poucos dias uma mulher chamou um vendedor de “macaco” no Shopping Barra, em Salvador. A notícia se espalhou rapidamente no local, várias pessoas foram à porta da loja e ela se escondeu num provador. Foi detida pela PM e vaiada.

Aproveito o mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra para relembrar dois fatos já relatados neste blog. Primeiro é a denúncia do ambientalista e artista itabunense Walmir do Carmo, em Londrina, sobre um médico que o ironizou por ser negro.

Walmir chamou a polícia e ele recebeu voz de prisão. O irmão do criminoso reagiu: “era só o que faltava, meu irmão ser preso por causa de um preto”, vociferou sem sequer atentar para o fato de o comandante da PM ser negro. Foi preso.

Em Itabuna uma estudante da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) atravessava a Avenida Amélia Amado quando uma motorista, ao invés de reduzir, aumentou a velocidade do veículo. Não satisfeita, berrou: “sai da frente, negra descarada”.

A vítima, valente militante de esquerda, saiu em disparada para alcançar a agressora e conseguiu no próximo sinal. Aproximou-se ofegante e desferiu um tapa na cara em sincronia com um desabafo: “descarada é você, cachorra vagabunda”.

Voltando ao caso de Tais Araújo, a internet permite que pessoas se escondam atrás do computador, muitas vezes covardemente com perfis falsos ou pseudônimos, para cometer crimes ou ataques mentirosos e desrespeitosos. Talvez não saibam que podem ser desmascarados. E punidos.

Marival Guedes é jornalista e escreve crônicas aos domingos no Pimenta.

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Após a derrota de Aécio, Geddel Vieira Lima, que já havia perdido a eleição ao senado para Otto Alencar, postou no twitter num final de semana que iria recomeçar a vida. Um internauta gozador sugeriu:

– O Sinebahia (Serviço de Intermediação para o Trabalho) abre na segunda-feira.

 

Os políticos cederam aos encantos das redes sociais e até mesmo os denominados imigrantes digitais (pessoas que nasceram antes das novas tecnologias) já aderiram ao Twitter, Face, Instagram etc.

Vamos às postagens. A ex-candidata à Presidência da República, Luciana Genro (PSOL), em defesa da descriminalização da maconha escreveu no Twitter que “a guerra às drogas atinge os pequenos traficantes. Os grandes não estão nas favelas, mas estão, inclusive, no Congresso.”

O deputado Marcos Feliciano (PSC-SP) questionou de forma intimidatória: “Esta acusação é gravíssima. Pode citar nomes? Com provas irrefutáveis?”.

Luciana treplicou: Acho que o Marco Feliciano esqueceu que um helicóptero da família do senador Zezé Perrela foi apreendido em 2013 com 450 kg de cocaína!

A ex-candidata foi contemplada no twitter também pelo pastor Silas Malafaia, numa frase irônica:
“Acabo de comprovar que Luciana Genro me ama, acaba de me citar no debate da record, minha mulher esta ficando com ciúmes kkkkkkkkkk”.

Quem rebateu foi um fake (perfil falso) de Luciana Genro, com a mesma criatividade da original:
“Se citar você é prova de amor, você deve ser apaixonado por um gay! É só o que você fala.”

Troca de farpas entre Feliciano e perfil fake de Luciana Genro (Reprodução).
Troca de farpas entre Feliciano e perfil fake de Luciana Genro (Reprodução).

Após a derrota de Aécio, Geddel Vieira Lima, que já havia perdido a eleição ao senado para Otto Alencar, postou no twitter num final de semana que iria recomeçar a vida. Um internauta gozador sugeriu:

O Sinebahia (Serviço de Intermediação para o Trabalho) abre na segunda-feira.

Marcelo Nilo, presidente da Assembleia Legislativa, também entrou na onda, pegou o “gancho” corrupção/hipocrisia, última moda em Brasília, e alfinetou o deputado Antonio Imbassahy”:

– O deputado Imbassahy ainda não se pronunciou sobre a denúncia contra o tucano Anastasia na Lava Jato. Vamos q Vamos.”

Texto inesquecível é o do presidente do DEM, deputado José Carlos Aleluia. Ele afirmou que a culpa pela queda do Bahia e do Vitória para a segunda divisão é do PT.

O presidente do PT/Bahia, Everaldo Anunciação, resumiu: “Tá fora de órbita”.

Marival Guedes é jornalista e escreve crônicas aos domingos no Pimenta.

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Mas a história não teve final feliz para Chico. Tal qual a lua fez com Joelma, a filha fez com o pai: Silvia Buarque é flamenguista.

 

 

O maior duelo na música brasileira, pelo que já li e assisti, foi entre Noel Rosa e Wilson Batista. Este último fez um samba enaltecendo a malandragem e Noel fez outro se contrapondo.

A disputa continuou e Wilson Batista baixou o nível do debate compondo Frankstein da Vila. Uma alusão ao queixo de Noel que era pra dentro, resultado de problemas durante parto.

Ao ouvir num rádio Noel brincou imitando um monstro. É o que mostra cena do filme O Poeta da Vila.

No total foram quatro composições de cada um. Se destacaram duas, ambas de Noel, Palpite infeliz e Feitiço da Vila. A segunda até hoje é cantada em shows e boas rodas de samba:Quem nasce lá na Vila/Nem sequer vacila/Em abraçar o samba/Que faz dançar os galhos/Do arvoredo e faz a lua/Nascer mais cedo.”

Já Paulinho da Viola foi vítima da irritação de Benito Di Paula quando compôs Argumento:

“Tá legal eu aceito o argumento/Mas não me altere o samba tanto assim/Olha que a rapaziada tá sentindo a falta/De um cavaco, um pandeiro ou de um tamborim.”

Benito, que cantava samba tocando piano, respondeu com deselegância ao gentil intelectual com a composição Não me importa nada.

“(…) Você está perdido, se perdeu no tempo
Da cabeça aos pés, tá cheio de vento
Faça alguma coisa, deixa a gente em paz
Olha o campo verde, é todo seu, rapaz! (…)”

Depois de algum tempo, Paulinho da Viola surpreendeu ao afirmar que Argumento não foi feita pra Benito e sequer sabia desta história. Em entrevista ao jornal O Samba, ele conta:

“Essa história estava rolando, mas eu não sabia. Até que um dia fui a um programa de televisão, ao vivo, na Bahia, e o apresentador me fez esta pergunta. Eu fiquei assustado. Ele até me mostrou a letra da música que o Benito fez em resposta. Eu disse que não existia essa história, que era mentira”.

Misturando música e futebol, Ciro Monteiro (o sambista da caixa de fósforos) e Chico Buarque protagonizaram boas histórias. O primeiro, flamenguista roxo; e o segundo, apaixonado pelo Fluminense.

Chico havia prometido uma composição para o sambista. Quando nasceu Silvia Buarque, filha dele e Marieta Severo, Ciro mandou uma camisa do Flamengo para a bebê.

Chico aproveitou e pagou o débito compondo Ilmo Sr. Ciro Monteiro ou Receita Para Virar Casaca De Neném. Com criatividade e bom humor, agradece o “presente de grego” e utilizando duplo sentido, diz que pintou a camisa e “nasceu desse jeito uma outra tricolor”.

Amigo Ciro
Muito te admiro
O meu chapéu te tiro
Muito humildemente
Minha petiz
Agradece a camisa
Que lhe deste à guisa
De gentil presente
Mas caro nego
Um pano rubro-negro
É presente de grego
Não de um bom irmão
Nós separados
Nas arquibancadas
Temos sido tão chegados
Na desolação

Amigo velho
Amei o teu conselho
Amei o teu vermelho
Que é de tanto ardor
Mas quis o verde
Que te quero verde
É bom pra quem vai ter
De ser bom sofredor
Pintei de branco o teu preto
Ficando completo
O jogo da cor
Virei-lhe o listrado do peito
E nasceu desse jeito
Uma outra tricolor

Mas a história não teve final feliz para Chico. Tal qual a lua fez com Joelma, a filha fez com o pai: Silvia Buarque é flamenguista.

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A outra história aconteceu com o próprio autor, quando estava desempregado. Ele conta que recebeu ligação telefônica de Hebe Camargo, “com quem sempre manteve relações afetuosas”.

 

O jornalista Paulo Henrique Amorim deu um show de conhecimento, ironia e criatividade no lançamento do seu novo livro, O Quarto Poder – Uma Outra História

Com maestria, relatou acontecimentos. Alguns estão no livro, escolhi dois, independente do grau de importância em relação aos outros.

Quando Brizola se elegeu governador, construiu o sambódromo e decidiu escolher a emissora que faria a cobertura do carnaval por meio de licitação. Boni, diretor da Globo, num vacilo, não participou e a Manchete ganhou a exclusividade.

Roberto Marinho ficou retado com Brizola e com Boni e com o dono da Manchete, Adolpho Bloch. Tentando reduzir os danos, telefonou para Bloch, com o objetivo de propor um pool para a transmissão. Mas não era atendido. Bloch mandava dizer que não estava.

Anos depois, a Manchete “quebrou”. Adolpho Bloch foi à Globo pedir ajuda. Esperou duas horas e, quando atendido, foi logo adiantando:

– Roberto, a Manchete faliu e só você pode me salvar.

– Adolpho, há dez anos estou esperando você retornar aqueles telefonemas. Passar bem.

E Bloch foi conduzido para a saída pela secretária de Roberto Marinho.

A outra história aconteceu com o próprio autor, quando estava desempregado. Ele conta que recebeu ligação telefônica de Hebe Camargo, “com quem sempre manteve relações afetuosas”.

– Paulo Henrique, estou aqui na sala do Silvio. Estou dizendo a ele que você topa vir pra cá. Você toparia?

– Claro Hebe, estou desempregado. A vida é dura.

-Viu Silvio, ele topa! Fala com ele, Silvio.

Silvio pega telefone:

– Olá, Paulo Henrique, eu gosto muito do seu trabalho. Muito mesmo. Mas eu gosto do seu trabalho na televisão dos outros.

Caso semelhante aconteceu no jornal A Tarde na década de 80. Os jornalistas Benedito Simões, Marcos Luedy e Luiz Guilherme Tavares faziam free-lance. Em função da qualidade, o chefe de redação sugeriu a contratação do trio.

O diretor Jorge Calmon, “direitista até a medula”, foi curto e sincero com eles:

– Aqui vocês jamais serão contratados.

Marival Guedes é jornalista e escreve crônicas aos domingos no Pimenta.

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marivalguedesMarival Guedes | marivalguedes@gmail.com

Na verdade, em atos falhos, o senador Aécio Neves, outro inconformado, logo após a convenção tucana declarou que foi “reeleito presidente da República”.

A sugestão do jornalista Ricardo Boechat a Silas Malafaia gerou comentários e paródias nas conversas pessoais e na internet. Nunca antes na história deste país as rolinhas fizeram tanto sucesso. Não sei se o pastor acatou e foi caçar o passarinho. Aproveito pra lembrar outras frases históricas.

Quando Brizola se elegeu governador do Rio de Janeiro, em 1982, o irmão do então presidente-general João Batista Figueiredo, o militar Euclydes Figueiredo, inconformado, disse que o eleito era “um sapo que a gente engole e depois expele”.

Brizola também utilizou o anfíbio, numa comparação, no segundo turno da eleição para presidente em 1989. Ao declarar apoio a Lula, provocou: “Política é a arte de engolir sapo. Não seria fascinante fazer agora a elite brasileira engolir o Lula, este sapo barbudo?”

Com relação à mídia, destaco duas frases, uma bem humorada e criativa, outra raivosa: “Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data.” (Luis Fernando Veríssimo). “A mídia é safada.” (ACM), ao provar do próprio veneno, sobre a cobertura da mídia quando ele fraudou o painel eletrônico do senado.

Voltando à disputa para presidente, a atriz e ex-deputada estadual Ruth Escobar ofereceu jantar ao casal Ruth Cardoso e Fernando Henrique. Na reunião, a anfitriã discursou: “Nesta eleição, temos duas opções, votar em Sartre ou escolher um encanador. ”

Dia seguinte um batalhão de jornalistas foi entrevistar Lula sobre a declaração. “Diga a dona Ruth que uma dona de casa pode viver sem um filósofo, mas não vive sem um encanador”, respondeu o candidato. A atriz pediu desculpas, mas o comentário já estava nos principais veículos.

Recentemente, duas frases fizeram sucesso e, utilizando linguagem dos internautas, viralizaram nas redes sociais. Na verdade, em atos falhos, o senador Aécio Neves, outro inconformado, logo após a convenção tucana declarou que foi “reeleito presidente da República”. Na mesma entrevista, afirmou que o PSDB é o maior partido de oposição ao Brasil.

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Para fraudar, a Proconsult computaria os votos brancos e nulos em favor de Moreira Franco (PDS). A Rede Globo preparava o espírito da população. Havia o argumento de que eleitores de Brizola errariam os votos.

Há 11 anos morreu o ex-governador do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, Leonel Brizola (22-01-1922- 21-06-2004). Exilado pelos golpistas militares em 1964, retornou ao Brasil em 1979 e se candidatou a governador do RJ em 82.

O TRE do Rio contratou a Proconsult, empresa dirigida por ex-integrantes do Serviço Nacional de Informações-SNI, para fazer a apuração. O voto era na cédula e a contagem no mapa, mas a totalização era informatizada.

O eleitor escolhia candidatos a governador, senador, deputado federal, estadual, prefeito e vereador. Com um detalhe, os votos tinham que ser em todos os candidatos de um mesmo partido, voto vinculado.

Para fraudar, a Proconsult computaria os votos brancos e nulos em favor de Moreira Franco (PDS). A Rede Globo preparava o espírito da população. Havia o argumento de que eleitores de Brizola errariam os votos.

O PDT montou um esquema de apuração paralela. A Rádio Jornal do Brasil também. Parecia que havia duas eleições, em função da disparidade dos números anunciados pela Proconsult/ Rede Globo e JB.

No terceiro dia de apuração Miro Teixeira, que também estava na disputa, reconheceu a derrota. Procurado por um advogado do PDT, concordou em enviar telegrama cumprimentando Brizola pela vitória.

No dia 19 com o telegrama em mãos, Brizola concedeu entrevista principalmente para jornalistas estrangeiros afirmando que “só a fraude nos tira a eleição”.

A Globo recuou e solicitou entrevista com o candidato do PDT, que só aceitou falar ao vivo. Depois de muita confusão, Leonel de Moura Brizola foi proclamado governador eleito do Rio de Janeiro.

Outra fraude histórica foi na Bahia, em 1994, na disputa pelo senado. Havia duas vagas e disputavam Antônio Carlos Magalhães, Waldir Pires e Waldeck Ornellas. As pesquisas, às vésperas das eleições, davam como certas as vitórias de ACM e Waldir.

Mas os votos brancos e nulos foram computados para Ornelas, havendo urnas em que ele teve mais votos que ACM. Waldir Pires pediu recontagem, mas o TRE negou.

Além das fraudes, existe também a compra dos votos, a pressão. Numa das formas, o eleitor fingia que depositava a cédula na urna e entregava ao chefe político.

Surgiu até piada sobre esta modalidade. O peão retorna para a fazenda, entrega a cédula para o chefe. No final do dia pergunta: “coroné, eu votei em quem?”. O patrão responde com firmeza: “você sabe que o voto é secreto, rapaz”.

Marival Guedes é jornalista e escreve crônicas semanais no Pimenta.

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marivalguedesMarival Guedes | marivalguedes@gmail.com

Um velho político baiano, contavam os oposicionistas, costumava brindar mulheres com uma boa gorjeta pra elas alardearem qual o tamanho do pênis dele. Superfaturando alguns centímetros, claro.

O tamanho do pênis preocupa grande parte dos homens. Já a maioria das mulheres (uma das pesquisas aponta 58%), não considera o principal item para a relação sexual. Mais importante, afirmam as mulheres, é a qualidade.

O guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards, escreveu no livro Vida, que a namorada de Mick Jagger não se divertia com o pênis minúsculo dele. “Ele tem um par de bolas enorme, mas isso meio que não compensava”, alfinetou.

Questionada sobre a descrição, a ex de Jagger, Marianne Faithfull, disse que não era exatamente isto, mas perto. A obra tem mais de 600 páginas, no entanto, para aumentar a fúria do líder da banda, estas linhas foram as mais comentadas.

Chico Buarque num documentário sobre Vinicius de Moraes conta, entre gargalhadas, o que o poeta dizia sobre esta questão: “Se puder escolher quem quero ser ao reencarnar, quero ser eu mesmo. Com o pau um pouquinho maior.”

Para quem deseja ainda nesta vida aumentar o tamanho, há várias ofertas na internet. O experiente urologista itabunense Júlio Brito garante: não funciona, esqueça. Tudo enganação.

Um velho político baiano, contavam os oposicionistas, costumava brindar mulheres com uma boa gorjeta pra elas alardearem qual o tamanho do pênis dele. Superfaturando alguns centímetros, claro.

Algumas, em vez de fazer a enganosa propaganda, contavam toda a história. Nas rodas de fofocas, os oposicionistas se deleitavam. Nestas conversar os aliados saiam discretamente. Afinal, não é fácil defender o chefe em assunto tão delicado.

Marival Guedes é jornalista e escreve crônicas semanais no Pimenta.

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marivalguedesMarival Guedes | marivalguedes@gmail.com

No programa especial Entre Páginas, um dos melhores da Bahia, coordenado por Mário kertész, o escritor Lira Neto, autor da trilogia Getúlio, conta a primeira decisão/lição política do ex-presidente Vargas.

Quando criança Getúlio, filho do general Vargas, brincando com um amigo dentro de casa, quebrou acidentalmente um quadro de um ídolo do pai. Temendo o castigo fugiram e se esconderam em cima de uma árvore.

Furioso, o general mandou os capangas da fazenda buscarem os garotos. Com o passar das horas, a mãe começou caminhar de um lado para outro demonstrando preocupação. Depois tensão. Da árvore, os garotos acompanham tudo. Ao anoitecer o amigo sugere que é hora de retornar. Getúlio diz: “não, vamos aguardar o desespero.”

Na manhã do dia seguinte vendo o desespero total, ele fala ao amigo: “agora sim, é hora de descer”. Voltam e são recebidos com festa pelos pais e amigos. O general nem se lembrou do quadro quebrado.

Segundo Lira Neto, o próprio Getúlio contava esta história dizendo que foi a sua primeira lição política: “Jamais descer do umbuzeiro antes da hora”.

No dia 24 de agosto de 1954, acuado por grupos de direita liderados por Carlos Lacerda, Getúlio definitivamente decidiu descer de outra árvore, a árvore da vida.

Marival Guedes é jornalista e escreve crônicas semanais no Pimenta.

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Garrincha joga, o Brasil detona os tchecos e é bicampeão. Um mês depois Esteban, é convidado pela CBD, antecessora da CBF, para passar um mês de férias no Brasil, com familiares.

Sempre desconfiei que as grandes decisões do futebol não saem dos pés dos jogadores. Os maiores dribles são dos cartolas que divertem o povo e enchem os bolsos de dinheiro. Sem conhecimento suficiente sobre o assunto, conversei com quem entende: o jornalista Daniel Thame que, além de passar informações pelo celular, me enviou um texto.

Daniel lembra da Copa do Mundo de 1962 no Chile. O Brasil vence a seleção da casa por 4×2 na semifinal e está na decisão contra a Tchecoslováquia. Garrincha é expulso e não poderá jogar. O Brasil, que já não tinha Pelé, ficaria sem o craque que estava carregando o time nas costas. Era o cara do Mundial.

Mas, em plena Guerra Fria, a FIFA não iria permitir que um país comunista ganhasse a Copa. E acontece a mágica: o bandeirinha uruguaio Esteban Marinho, que viu a agressão que gerou a expulsão de Garrincha, volta repentinamente para casa. Na verdade, foge sem dar o testemunho para o juiz escrever a súmula com a expulsão.

Garricha joga, o Brasil detona os tchecos e é bicampeão. Um mês depois Esteban, é convidado pela CBD, antecessora da CBF, para passar um mês de férias no Brasil, com familiares.

Copa do Mundo de 1994, Estados Unidos. Entressafra no futebol e sem craques para chamar a atenção, num país onde o futebol nunca foi preferência nacional, Maradona, semiaposentado, mergulhado no drama da dependência de cocaína, mas ainda um nome estelar, entra em cena blindado pela FIFA.

Era pra ser apenas uma estrela, mas resolveu jogar seu futebol genial e transformou a limitada Argentina em favorito. Isso não estava no script, como também não estava no script o fato de Maradona ter dito, bem ao seu estilo, que a FIFA era dirigida por um bando de ladrões.

O método para alijar Maradona da Copa foi digno da Máfia: um nebuloso caso de doping que tirou El Dies da Copa e destroçou a Argentina. Brasil campeão numa insossa disputa de pênaltis com a Itália.

Final da Copa do Mundo de 1998, França, ou o dia em que o Brasil chorou. Horas antes do jogo, contra a seleção francesa, Ronaldo Fenômeno, tem uma convulsão e vai parar no hospital. Os alto-falantes do Stade de France anunciam a escalação do Brasil com Edmundo substituindo a estrela.

Meia hora antes do jogo, Ronaldo aparece e diz que vai jogar. Zagalo cede. Em campo, Ronaldo é um fantasma dele mesmo e o time não sabe o que fazer: joga ou se preocupa com seu atacante? Não joga. A França passeia, vence por 3×0 e é campeã do Mundo. O que de fato aconteceu com Ronaldo, porque ele insistiu em jogar e porque Zagalo cedeu? Mistério que a ´omertá` ainda não permitiu vir à luz.

Daniel Thame recomenda as seguintes leituras: Como eles roubaram o jogo, de David Yallop; O jogo sujo da FIFA e O Jogo cada vez mais sujo da FIFA, de Andrew Jennings.

Marival Guedes escreve crônicas às sextas, no Pimenta.

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marivalguedesMarival Guedes | marivalguedes@gmail.com

Ao ser ouvido na CPI, disse que sua riqueza foi fruto de ter ganhado 200 vezes na loteria. Questionado sobre o exagero de tantos acertos, respondeu: Deus me ajudou.

A CPI do escândalo dos Anões do Orçamento foi instalada em 93, mas o esquema começou em plena ditadura militar, em 1972. Não havia denúncias naquele período por causa da censura ou por conveniência dos veículos de comunicação.

A transação era feita por um grupo de parlamentares que fraudava o Orçamento da União beneficiando políticos e empreiteiras. O termo anão não se referia à estatura física. Relacionava-se a pouca expressividade dos envolvidos, membros do chamado “baixo clero”.

Foi mais um escândalo de corrupção nestes 500 anos. Mas, neste caso, uma diferença entrou para o anedotário político quando o articulador do esquema, deputado João Alves, justificou como conseguiu ficar milionário.

Ao ser ouvido na CPI, disse que sua riqueza foi fruto de ter ganhado repetidamente na loteria, 200 vezes. Questionado sobre o exagero de tantos acertos, respondeu: Deus me ajudou.

Neste mesmo ano, 93, eu era editor do programa Cabrália Bom Dia, na TV Cabrália, em Itabuna, e marcamos uma entrevista com Lula, que acabara de perder para Collor. Participaram o jornalista Luiz Conceição e Gecie Campos.

Acompanhava Lula, o assessor de comunicação Ricardo Kotscho. Não tínhamos muita intimidade, mas éramos companheiros de congressos de jornalistas. Num intervalo, ele sugere uma pergunta sobre os anões. Lula interrompe:

– Ele não pode perguntar não, Ricardo, porque o patrão dele também está envolvido.

Marival Guedes é jornalista e escreve no Pimenta às sextas.