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PREPOSIÇÃO PERIGOSA E IMPREVISÍVEL

Ousarme Citoaian
A julgar pelo que vejo, a preposição “de” (apesar de sua aparente inocência) é traiçoeira, perigosa, imprevisível: quando menos esperamos, ela se mete onde não é chamada; outras vezes, contamos com sua presença, e ela, caprichosamente, nos dá as costas e escafede-se pelo lado da página. Há dias, respeitável jornal publicou a notícia, claramente contaminada pela inoportuna preposição (que, nestes casos, seria melhor batizada como “penduricalho”): “Em Buenos Aires, o presidente Lula afirmou de que pretende fortalecer o Mercosul”. E aviso aos sem graça que isto nada tem a ver com o preconceituoso “analfabetismo” presidencial, mas a erro do veículo que publicou a nota .

ATRIZ PERDE OPORTUNIDADE DE USAR O “DE”

A relação entre os verbos afirmar, negar, garantir, dizer, destacar, salientar e outros é como a convivência de Geraldo Simões e Fernando Gomes: não comem na mesma mesa, não amarram o burro juntos. Políticos assim são ditos inimigos figadais; no caso dos verbos, os filólogos os chamam transitivos diretos. “Quem afirma, nega, garante, diz, destaca, salienta – afirma, nega etc. alguma coisa” – ensina a gramática. Zero de preposição. Logo, no caso citado, seria sensato guardar o “de” para o momento oportuno. Já uma jovem atriz de tevê que, numa entrevista, disse “Entre as coisas que mais gosto…” perdeu a oportunidade de usar adequadamente nosso simpático “de”.

ERRAR NOME DE PESSOAS É GROSSERIA

A coisa piora quando se trata não apenas da construção da frase, mas de nomes próprios. Nomear erradamente as pessoas, sobretudo em ocasiões solenes, ultrapassa o erro, chega à grosseria. Os políticos acima referidos têm seus nomes frequentemente trocados nos jornais: Fernando é Gomes Oliveira; Geraldo é Simões de Oliveira. E, até onde nos é dado saber, não os une laço de parentesco. Nem preposição. Querem um caso recente? Pois saibam que vários blogs, jornais e emissoras de rádio (não conferi as tevês) noticiaram a morte do jornalista Nelito Nunes de Carvalho. Notícia inverídica: quem morreu (morte que este colunista muito pranteou) foi Nelito Nunes Carvalho.

JORNALISTA FAMOSO TAMBÉM FOI VÍTIMA

Ilustres jornalista brasileiro, o acadêmico Murilo Melo Filho (foto), teve, em Ilhéus, seu nome agredido num artigo de jornal: Murilo de Melo Filho; o professor Dorival de Freitas, que não faz mal a ninguém, volta e meia é “xingado” de Dorival Freitas; em recente debate na tevê, o candidato Plínio de Arruda Sampaio teve o  nome mutilado: Ricardo  Boechat tirou-lhe, impunemente, o “de”; José Haroldo Castro Vieira, lendário dirigente da Ceplac, tem sido dito de Castro (a placa no principal pavilhão da Uesc teve o “de” arrancado à última hora – mas guardou os sinais da correção apressada); por fim, outra placa, ao lado da mencionada, diz que ali é a Universidade Estadual Santa Cruz! Erro de palmatória, já se vê.

JOÃO SALDANHA, OUTRA VEZ, NAS LIVRARIAS

Personagem freqüente na árida literatura do futebol, o jornalista, ativista político e treinador João Alves Jobim Saldanha (1917-1990), está de volta às livrarias. À imensa bibliografia (nos limites da aridez  referida) sobre esse homem que entrou para o folclore nacional junta-se agora Quem derrubou João Saldanha? – livro do jornalista Carlos Ferreira Vilarinho. Antes (sem intenção de citar todas) houve livros de João Máximo (Sobre nuvens de fantasia), Eduardo Manhães (João Sem Medo), Raul Millet Filho (Vida que segue) e André Iki Siqueira (Uma vida em jogo, aqui comentado). E o próprio Saldanha, além de artigos e crônicas, publicou títulos que reforçam seu mito pessoal, entre eles um clássico: Os subterrâneos do futebol.

AO LADO DE EDUARDO GALEANO E MÁRIO FILHO

A Abril.com “escalou” onze livros fundamentais sobre esportes, com Os subterrâneos… em segundo lugar. Eis, para a satisfação de eventual curiosidade, a lista: 1) O negro no futebol brasileiro (Mário Filho), 2) Os subterrâneos do futebol (João Saldanha), 3) Estrela solitária: um brasileiro chamado Garrincha (Ruy Castro), 4) Futebol, ao sol e à sombra (Eduardo Galeano), 5) Michael Jordan: a história de um campeão e o mundo que ele criou (David Halberstam), 6) Como eles roubaram o jogo (David A. Yallop), 7) A Luta (Norman Mailer), 8 ) Fio de Esperança: biografia de Telê Santana (André Ribeiro), 9) Maracanã: meio século de paixão (João Máximo), 10) À sombra das chuteiras imortais (Nelson Rodrigues) e 11) A ginga e o jogo (Armando Nogueira, na foto).

“FOI DERRUBADO PELA DITADURA MILITAR”

Quem derrubou… vai fundo numa questão muito polêmica: o motivo da saída de Saldanha da seleção brasileira. “Foi derrubado pela ditadura militar”, afirma Ferreira Vilarinho (foto), acrescentando que a decisão de derrubá-lo vinha desde que ele classificara o Brasil para a Copa do Mundo.  As razões de governo são transparentes: Saldanha – figura popular e de invejável retrospecto nas eliminatórias – “não servia mais à ditadura”. Aí, veio o assassinato do amigo Marighela pelo Exército (ambos eram do PCB) e Saldanha virou bicho. Na Europa, lhe perguntaram sobre a situação política do Brasil e ele abriu o jogo (novembro de 1969): prisões, tortura e assassinato de presos políticos. Precisava ser demitido com urgência.

O TREINADOR COM O DESTINO TRAÇADO

Saldanha (foto), na visão do autor de Quem derrubou…, “era uma figura nacional, adorado pelo povo e respeitado internacionalmente, mas tinha, desde aquela data, o destino traçado – e sabia disso. Em janeiro de 1970, no México, para acompanhar o sorteio das chaves, ele encontrou Didi (seu jogador no Botafogo, campeão de 1957) e disse que “provavelmente, não duraria muito tempo na seleção”. Em março, dia 3, numa entrevista de rádio em Porto Alegre, sobre o famoso caso Dario-Médici, ele entornou o caldo: “Nem eu escalo ministério nem o presidente escala time. Então, está vendo que nós nos entendemos muito bem”. Apenas 12 dias depois dessa resposta “impertinente” foi demitido (ou, como disse Havelange, “dissolvido”).

NÓ NA LÍNGUA E FALTA DE ORGULHO

O brasileiro sofre de uma espécie de complexo de inferioridade em relação aos americanos e à língua inglesa que, de tão antigo, parece eterno. As siglas dão bem a nota desse servilismo, de tal maneira que, há poucos dias, na Globo – durante a transmissão de um jogo de vôlei, creio – o locutor pronunciou NBA (ene-bê-á) eu   estranhei. O normal, para nossa mídia contaminada por esse complexo, é ene-bi-êi, da mesma forma que se diz éfe-bi-ai para a  agência de investigações FBI (que a sensatez manda pronunciar éfe-bê-i, ou, talvez, fê-bê-i). É claro que gente sem orgulho de suas tradições culturais prefere dar um nó na língua e dizer éfe-bi-ai. É mais chique.

DIANA É UM NOME LINDO DE DEUSA

Essa subserviência atingiu também os nomes próprios, a julgar pelas tantas Daianas e Daiannes (assim, com dois nês) que pululam no noticiário. Temos tais nomes em gente famosa (uma atleta e uma envolvida no crime com o goleiro Bruno) e também as anônimas e sofredoras que engrossam a listagem de pacientes do SUS. A matriz disso, todos sabem, está numa certa princesa Diana, que a mídia mal informada apelidou de Daiana. O público seguiu esse caminho tortuoso, criando estranha inflação de Daianas: estamos em risco iminente de tropeçar nelas, de variados tipos, tamanhos e cores, em qualquer rua de qualquer cidade; quanto à Diana de origem, lindo nome de deusa, não há uma, nem pra remédio.

A FRANÇA TEVE UM REI SANTIFICADO

Reis, rainhas, imperadores e que tais (muito ao nosso gosto de plebeus) têm os nomes traduzidos. Quem foi o rei e a rainha guilhotinados na Revolução Francesa? Todo mundo acertou: Luís XVI e Maria Antonieta. Só um rematado pernóstico os chamaria de Louis XVI e Marie-Antoinette (no retrato clássico de Elisabeth Vigée-Le Brun, dez anos antes da guilhotina). A França é cheia de Luíses reis, e um deles, o número IX, é o São Luís dos católicos. Pelo comportamento da mídia que inventou Daiana, ele seria tratado como Saint Louis, para desespero de D. Mauro Montagnolli, que fala português. Dia desses, ao revisar um texto, topei com um pintor italiano chamado Michelangelo. Mudei, com urgência urgentíssima, o nome para Miguel Ângelo. Comme il fault.

UMA “TRADUÇÃO” SEM GROSSERIAS

O canadense Paul Anka (foto) lançou Diana em 1957 e a canção se tornou uma das mais vendidas do mundo.  A letra, como soe acontecer na canção americana, tem lá suas bobagens. Logo de saída, uma agressão, com “Eu sou jovem e você é velha/ Isto, minha querida, eu já lhe disse” (I’m so young and you’re so old/ This, my darling, I’ve been told), grosseria que o paulista Fred Jorge (1924-1994), autor da versão em português, jamais se permitiria repetir. Valendo-se apenas da melodia, ele trocou essa pedrada na testa por “Não te esqueças, meu amor/ Que quem mais te amou fui eu”. Ficou uma “cantada” bastante aceitável.
</span><strong><span style=”color: #ffffff;”> </span></strong></div> <h3 style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>E FRED JORGE CRIOU CELLY CAMPELLO!</span></h3> <div style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>No auge do sucesso, em 1965, a música teve uma versão no Brasil, gravada por Agnaldo Timóteo. Como costuma ocorrer com as

CONTRA O “MACAQUISMO” BRASILEIRO

O brasileiro Carlos Gonzaga (foto), nascido em Paraisópolis/MG, da geração Jovem Guarda, ajudou no êxito mundial, pois sua gravação de Diana (nunca Daiana!) vendeu feito pipoca nas nações de língua portuguesa e espanhola. Com a ajuda luxuosa de Fred Jorge, reafirmou que os ianques são maus letristas e lançou um grito contra o “macaquismo” hodierno, que chama Diana de Daiana. Clique.
(O.C.)
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ENTERRAMOS O SÍMBOLO DE UMA GERAÇÃO

Ousarme Citoaian
A última edição do UP estava sendo blogada quando Nelito Carvalho era enterrado (e eu, vítima do mecanismo da repetição, quase escrevi “o corpo de Nelito Carvalho”) no cemitério da Santa Casa de Itabuna. “Foi-se uma era, o marco de uma geração” –  recitei para o jornalista Marival Guedes, nós dois ao lado do caixão aberto. Minutos depois, admiti que se Nelito pudesse pular dali, viria, de dedo em riste, me chamar de piegas ou, pior ainda, esgrimir seu adjetivo preferido: imbecil (que ele estenderia aos circunstantes, pelo pecado de me ouvirem). Nelito era assim: pão, pão; queijo, queijo – e mesmo com os amigos seu nível de hipocrisia era zero.

UM HOMEM QUE ERA BOM E NÃO SABIA

Nelito era bom e não sabia, talvez porque seu credo de comunista nunca teve como ponto focal a bondade, mas a justiça. No entanto, que homem bom ele foi! O seu SB – Informações e Negócios (antes, fez o Jornal de Notícias, com Manuel Leal) foi laboratório que projetou muita gente no jornalismo regional. Por ali passaram Paulo Afonso, Jorge Araujo, Kleber Torres, Cyro de Mattos, Mário de Queiroz, Alberto Nunes, Plínio Aguiar, Raimundo Galvão, Marival Guedes, Eduardo Anunciação, Chiquinho Briglia, Pedro Ivo, Antônio Lopes, Helena Mendes, Roberto Junquilho, Manuel Lins e vários e outros. Mesmo que dela retiremos os ingratos, os que chutaram o prato em que comeram, ainda assim a relação está longe de ficar completa.

RICO, TEVE A GENEROSIDADE EXPLORADA

Se alguém afirmar que Nelito foi um mecenas ele não resistirá à ofensa: ressurgirá dos mortos para protestar contra a infâmia (de dedo na cara do difamador “imbecil”, é claro). Mas, me dói dizer, ele estaria sendo injusto: quando rico (teve lá sua fase de pobreza intensa, criada pelo romantismo), custeou todo tipo de maluquice que lhe foi apresentada, na exploração de sua generosidade, a todos deu a mão. Este registro é feito na suposição de que muitos “alunos” de Nelito gostariam de fazê-lo, mas não encontram espaço. E com a certeza de que, em vida dele, este texto jamais poderia ser publicado. Ele me chamaria de piegas, no mínimo.

A LÓGICA EM OPOSIÇÃO AO ROMANTISMO

Restou dizer que chamá-lo de “romântico” seria outro motivo para uma fulminante resposta desaforada: comunista confesso, perseguido, mas nunca renunciante da doutrina que abraçou desde cedo, Nelito Carvalho – como é próprio dos marxista – cultivava a lógica, em detrimento do romantismo, e o materialismo em oposição ao idealismo. Creio ser mais justo retirar o termo anterior e afirmar que se ele não foi mais longe como empresário foi devido à sua absoluta falta de habilidade para sobreviver como homem de negócios no mundo capitalista hostil que ele tanto combatia. E, claro, à sua imensa generosidade que muitos exploraram sem nem lhe dizer “obrigado”.

OS GOLEIROS E O CAVALO DE ÁTILA

Talvez a literatura sobre futebol, para me deixar mal, não seja assim tão árida quanto eu disse aqui – e mais árida terá sido minha ignorância. No site do jornalista Flávio Araújo encontro dois livros que eu não conhecia e que falam, especificamente, de… goleiros. São trabalhos que, por certo, merecem ser lidos por quem se interessa pelo famoso esporte bretão. No primeiro, Goleiros – heróis e anti-heróis da camisa 1, do jornalista Paulo Guilherme, descobre-se que aquela posição digna do cavalo de Átila (“Onde goleiro pisa, não nasce grama”, diz o folclore) já foi ocupada por ilustres personagens (ao menos ilustres fora do campo).

O FRANGO AO ALCANCE DE TODOS

Para exemplificar, anotem que a meta foi defendida por figuras como o papa João Paulo II, o escritor francês Albert Camus (autor de A peste), o inglês “sir” Arthur Conan Doyle (criador de Sherlock Holmes), o cantor espanhol Julio Iglesias e o revolucionário argentino Ernesto Che Guevara. Como se vê, o lugar, antes chamado de “debaixo dos três paus”, é um espaço democrático, tendo sido habitado (com os frangos que a inabilidade chama), por tipos faceiros e de filosofias muito diferenciadas. Já o outro livro, de Roberto Muylaert, tira de campo os amadores e fala de um goleiro de verdade, numa história real e muito pouco engraçada.

DÍVIDA QUE ZAGALLO NUNCA PAGARÁ

Em Barbosa – um gol faz cinqüenta anos Muylaert narra o drama do grande goleiro Moacyr Barbosa, sempre estigmatizado por ter levado aquela bola de Gighia na Copa do Mundo de 1950, que deu a vitória aos uruguaios. O evento, já citado nesta coluna, passou à história com o nome de Maracanazo, o dia em que o Brasil estava prontinho para comemorar o primeiro título de campeão mundial e, subitamente, calou-se e caiu no choro convulsivo. Em tempos recentes, o técnico Zagallo proibiu a entrada de Barbosa na concentração do Brasil, alegando que o goleiro era pé-frio. A atitude inqualificável do ex-técnico gerou uma dívida que ele morrerá devendo.

O SILÊNCIO DO POETA SOB A CHUVA

Certa vez, num restaurante,
Dentro do espaço e do tempo,
Eu vi Padilha, o poeta,
Que vinha de estar infeliz
Pois trazia, contraídas,
Palavras, não de beijo, mas de fúria,
Esmagada no silêncio dos seus lábios.

Não quis sentar à mesa nem provar
Uma gota sequer do Johannesberg:
Foi-se embora em silêncio
Sem dizer a que veio, sob a chuva,
Como Pessoa,
Que nada encontrou, jamais,
Vindo de Beja  para o meio de Lisboa..

QUARTETO CHEIRA A FERNANDO PESSOA

Carlos Roberto Santos Araujo, autor de “Telmo Padilha II”, nasceu em Ibirapitanga (1952), mas “estourou” em São Paulo: ganhou lá o Concurso Governador do Estado, com a coletânea de poemas. Foi juiz de Direito em Itabuna e hoje é desembargador do Tribunal de Justiça da Bahia. Publicou os seguintes livros de poesia:  Nave submersa (1986), Lira destemperada (2003), Sonetos da luz matinal (2004) e Viola ferida (2008). Cultor de variadas forma de expressão poética (em particular, o soneto)  CRSA, em Soneto da noite escura, lembra outro grande nome da poesia em língua portuguesa: “A chuva toca piano/ Nos tímpanos da tarde nua,/ Dedilha com dedos lânguidos/ O teclado das lentas ruas”. Fernando Pessoa bem que poderia assinar este quarteto.

O DUPLO ALFABETO DOS BRASILEIROS

A coluna não emite regras de português (apenas sugestões e preferências) e não é o que o professor Odilon Pinto chamaria “Pronto-Socorro gramatical” (aliás, muita gente ficaria espantada com meu desconhecimento de gramática). Mesmo assim, volta e meia nos vêm consultas sobre determinadas questões. Exemplo: recentemente nos sugeriram “explicar”  o porquê de as pessoas  pronunciarem o nome de famoso político baiano (isola: toc! toc! toc!) como a-cê-eme e não a-cê-mê (do jeito nordestino). E antes que alguém ache isso natural, vamos lembrar que quem fala a-cê-eme fala também  a-fê-i (para Ação Fraternal de Itabuna) e não a-efe-i. Haveria contradição nesse comportamento?

O “FÊ-GUÊ-LÊ-MÊ” SUMIU DOS DICIONÁRIOS

Salvo melhor juízo, não existe aqui nenhuma incoerência. A pronúncia do “fê-guê-lê-mê”  é legitimada  pelo Aurélio,  o Michaelis a identifica como  regional (Nordeste), enquanto o Priberam (Portugal) sequer a menciona. No caso da AFI (a-fê-i) trata-se de consagração pelo uso, e dizer-se a-efe-i soaria absolutamente pernóstico, além de quase ofensivo às gerações de alunas que passaram pela escola de Dona Amélia Amado. Em Ilhéus, o Instituto Municipal de Educação (I. M. E.) é tratado como i-mê-é, igualmente por tradição de uso: por certo, chamar de i-eme-é o venerando “Ginásio Eusínio Lavigne”, de tanta história, não o identificaria perante os seus mestres e ex-alunos.

A IDENTIDADE NORDESTINA ESTÁ EM PERIGO

Acima da escolha de eme ou , está a questão da cultura nordestina, que vem sendo minada pela “globalização da linguagem” (fenômeno que chamo assim por falta de nome mais adequado), num  processo em que a mídia eletrônica é fundamental.  A antena parabólica liga o brasileiro do interior a um mundo que não é o dele, integrando-o, via novelas e telejornalismo, a uma “realidade de ficção” (se é que posso assim me expressar). Parece que já nos falta coragem para defender os valores regionais, enquanto sobra vergonha do nosso sotaque – e assim se esvai nossa identidade de povo nordestino. A propósito do citado dirigente, chamá-lo a-cê-eme ou a-ce-mê daria no mesmo mané luiz.
</span><strong><span style=”color: #ffffff;”> </span></strong></div> <h3 style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>E FRED JORGE CRIOU CELLY CAMPELLO!</span></h3> <div style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>No auge do sucesso, em 1965, a música teve uma versão no Brasil, gravada por Agnaldo Timóteo. Como costuma ocorrer com as

DO NORDESTE PARA O MERCADO NACIONAL

Zé Dantas, médico, poeta e folclorista pernambucano (Carnaíba, 1921 – Rio, 1962) ajudou muito a “nacionalizar” a música popular nordestina em geral. Fez mais de 50 composições (a grande maioria com Luiz Gonzaga), sendo que pelo menos uma dúzia delas é de clássicos que todo mundo conhece: Vozes da seca, Cintura fina, A volta da asa branca, Xote das meninasRiacho do navio, Sabiá, A dança da moda, Farinhada, Imbalança, Vem morena, Forró de Mané Vito, Letra I. Dantas (na foto, com Luiz Gonzaga), que não quis seu nome nas primeiras letras que foram gravadas – para que o pai não lhe cortasse a mesada de estudante, fez também a letra de ABC do sertão, ilustrativa do que queríamos dizer. Clique, veja e ouça.
(O.C.)