Tempo de leitura: 3 minutos

Como corriqueiramente acontece em Brasília, a CPI d’O Berimbau foi desfeita por não concluir coisa alguma, embora produzisse um relatório altamente consubstanciado dando conta que não poderia indiciar nenhum dos confrades ou visitantes, por absoluta falta de provas.

 

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Após todas as mudanças possíveis e imaginárias, finalmente O Berimbau estaciona para não mais sair do famoso Beco d’O Berimbau, também apelidado de rua Dr. João Sá Rodrigues. E esse ânimo definitivo passou a influenciar na escolha das bebidas e comidas, nos frequentadores assíduos, bem chegados, tolerados e indesejáveis, com direito a figurar no livro de atas escrevinhadas pelo Secretário Plenipotenciário Tolentino (Tolé).

De uma tacada só foram escolhidos os símbolos para reverenciar a festejar o recém-chegado – desde que bem chegado –, e o sino foi um deles, que é tocado incessantemente até que tomasse assento junto aos amigos. Daí para a criação da Confraria d’O Berimbau foi um pulo, bastando lavrar na ata a fundação, a relação dos confrades e as exigências para que pudesse pertencer aos quadros da entidade.

De acordo com a consistência do balançar do sino é conhecido o nível de prestígio do chegante junto aos confrades. Se o toque alegre duradouro, bom sinal; sem grandes folguedos, o chegante não fede nem cheira; se adentrava ao recinto e o sino continuava em seu canto e mudo, vá procurar outra freguesia. E assim o sino passou a configurar entre os bens e propriedades físicas e imateriais da Confraria d’O Berimbau.

Não custa relembrar que o sino da Confraria d’O Berimbau é uma peça de trabalho e estimação, introduzido pelo fundador da entidade, Neném de Argemiro, para dar um procedimento festivo mais adequado ao anunciar aos presentes a chegada dos confrades. Dentre os símbolos da Confraria d’O Berimbau, estão o sino, o trombone e a caneca de esmalte, na qual Neném de Argemiro sorvia preciosos goles das boas cachaças servidas com generosidade.

Com o passar do tempo, volta e meia o sino era retirado furtivamente por um indesejável, quem sabe insatisfeito com o tratamento nada receptivo. Do mesmo jeito em que o sino sumia, semanas depois aparecia, misteriosamente. Só poderia ser um mau feito de algum engraçadinho especializado no sumiço do sino, deixando os confrades sem a tão festiva recepção nas assembleias de sábado.

Cerca de uns dois anos depois, o furtivo larápio mudou o modus operandi ao deixar o sino à vista dos confrades, porém completamente mudo, sem o badalo, retirado com maestria, é bom que se diga. E não houve investigação que conseguisse descobrir o meliante inimigo do badalar do sino, cujo ritual seria imprescindível para dar as boas-vindas aos confrades e os visitantes mais chegados.

Foi preciso o Secretário Plenipotenciário da Confraria d’O Berimbau, Gilbertão Mineiro, decidir instalar uma CPI para apurar o sumiço do badalo do conceituado sino vítima constante de sumiço. Prometendo apurar com rigor, concedeu o prazo de uma semana para que os membros da CPI encarregados das investigações de um dos equipamentos mais importantes da Confraria desse início ao competente inquérito.

De acordo com as primeiras sindicâncias, o badalo do festejado sino teria sido surrupiado por um dos confrades que não tem no toque do sino a festejada celebração no recebimento dos confrades. Pelo sim, pelo não, a comissão de sindicância resolveu ampliar a investigação a novos confrades, notadamente os que se enquadravam na conduta de condição de “inimigos do sino”.

Ouvidos pelos membros da comissão de sindicância no expediente de sábado, os confrades negaram com veemência qualquer ligação com o sumiço do badalo. Também foram ouvidos pessoas consideradas suspeitas que trabalham na área, com a finalidade de saber quem esteve no ambiente, mesmo fora do horário, e sorrateiramente, desviou o badalo.

Diante da inutilidade do poder de investigação dos membros da CPI, foi publicado um edital para adquirir um novo badalo para o famoso símbolo d’O Berimbau, no sentido de conclamar os artesãos canavieirenses a se candidatem a fabricar um badalo para o descomposto sino. Pelo sim, pelo não, o presidente Zé do Gás resolveu instalar uma rede de câmeras para espionar quem seria responsável pelo tresloucado gesto de esconder o badalo.

Como corriqueiramente acontece em Brasília, a CPI d’O Berimbau foi desfeita por não concluir coisa alguma, embora produzisse um relatório altamente consubstanciado dando conta que não poderia indiciar nenhum dos confrades ou visitantes, por absoluta falta de provas. E de acordo com as leis, nem mesmo poderia declinar os nomes dos suspeitos para não incorrerem nos rigores da legislação.

Se o sistema de câmeras não funcionar só recorrendo ao FBI.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Tempo de leitura: 3 minutos

Sem querer botar mais lenha na fogueira – que é coisa pra padaria – apenas fiz questão de ressaltar a ostentação histórica da Confraria d’O Berimbau na sociedade etílica, por ser o criador da “Galeota de Ouro”, evento etílico e gastronômico fundado por um grupo de confrades.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

A cada visita técnica realizada pelos confrades é constatada a lentidão na reforma da nova sede da Confraria d’O Berimbau, creditada à pandemia que assola a comunidade internacional, mas com reflexos nem tão negativos em Canavieiras. Para não faltar com a verdade, o prazo máximo dado pelo presidente Zé do Gás para o funcionamento seria o fatídico 31 de março, o que não aconteceu por conta de forças estranhas e ocultas.

Desde 13 de dezembro de 2014, data em que voltou a funcionar em terceira edição, os confrades já foram despejados duas vezes para novos ambientes – no mesmo imóvel – e ainda não podem encomendar os convites da reinauguração por falta de uma data garantida. Culpa das obras, dizem uns, enquanto outros reclamam da letargia do presidente Zé do Gás.

Nos tempos em que era gerido por Neném de Argemiro a Confraria d’O Berimbau gozava de prestígio e tinha um bar inteiro com seus anexos para chamar de seu. Mas como Neném resolveu partir desta pra melhor (?), a vetusta Confraria é obrigada a disputar espaço com uma padaria, que embora do mesmo nome, desfruta de grande influência junto ao proprietário do imóvel. E perdeu para a área industrial da padaria! Um sacrilégio!

Essa notoriedade concedida à atividade panificadora despertou os ciúmes no Secretário Plenipotenciário Gilbertão Mineiro, autor de uma carta aberta aos boêmios canavieirenses repudiando a predominância da padaria sobre refinada instituição etílica. No teor do documento, com toda a propriedade, Gilbertão exortou os confrades à análise da importância de um bar e uma padaria.

Antes mesmo que alguém pedisse a palavra, o portentoso chefe exaltou as propriedades de convivência entre as duas atividades, concluindo que ninguém conhece, mesmo por ouvir dizer, que alguém tivesse feito amizade no ato de comprar pão, biscoitos e bolos. E arrematou uma retórica digna de um sofista de mesa de bar: “Em nossas reuniões sabáticas temos toda uma ritualística, como saudar os confrades com o toque de sino, um ágape de fazer inveja a um monge e degustação de cachaças e cervejas para os cachaceiros que se prezam”.

Dentre as lamentações, Gilbertão alertou os confrades sobre o simples encargo dado a uma padaria, coisa de somenos importância, onde os clientes não fazem “piseiro” e apenas aparecem para comprar pão e outros acessórios. Portanto, no seu entender seria por demais despropositado figurar em local privilegiado. Mas, celeumas à parte, bar e padaria vão ter que conviver com harmonia e independência, como figura na constituição.

Sem querer botar mais lenha na fogueira – que é coisa pra padaria – apenas fiz questão de ressaltar a ostentação histórica da Confraria d’O Berimbau na sociedade etílica, por ser o criador da “Galeota de Ouro”, evento etílico e gastronômico fundado por um grupo de confrades. Até hoje é lembrada a fineza do serviço all inclusive, com variedade de cachaças, cervejas em lata bem gelada e o melhor “churrasquinho de gato” que se tem notícia.

Mas como discursos não levantam paredes, os confrades continuam sem um lugar digno para suas reuniões semanais e o que é pior: sem autorização para funcionar até que a pandemia do Covid-19 resolva deixar os confrades em paz. Enquanto isso, minha recomendação é que até lá ninguém adoeça para que possamos festejar a nova sede com todas as honras e glórias.

Mesmo sem a tão preciosa data de reinauguração, por vias das dúvidas Gilbertão Mineiro já mandou o departamento de marketing criar o convite para submetê-lo à aprovação dos confrades, mesmo sem data impressa. Pouco importa, o que vale mesmo é o fausto cardápio, com torresmos e passarinhas assadas de entrada, uma panela de feijoada e outra de mocofato.

Mesmo sem o estilo de antes, os pratos de sustança – elaborados por um confrade nutricionista – serão mais que suficientes para os confrades se molharem por dentro com os aperitivos quentes e cervejas geladas o quanto bastem para esquecer a rival padaria ao lado.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado e editor do Cia da Notícia.