Ivan Pinheiro, Jones Manoel e Ana Karen são expulsos do Partidão
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O Partido Comunista Brasileiro mergulhou em mais uma crise. A tormenta escalou ao longo das últimas semanas e descambou na expulsão do ex-secretário-geral Ivan Pinheiro, do historiador Jones Manoel e da professora e médica baiana Ana Karen, além dos militantes Gabriel Lazzari e Gabriel Landi, editor da Lavra Palavra Editorial.

As expulsões vieram a público neste domingo (30). Os militantes alegam que foram perseguidos por críticas ao Comitê Central, que ainda não se manifestou publicamente sobre a decisão. No último dia 17, em nota, o Comitê apontou a existência de “parte de uma pequena militância com pouca inserção de luta real na sociedade e com intenso engajamento nas redes sociais”, acusando-a de violar regras partidárias.

Advogado, Ivan Pinheiro tem 77 anos e compunha a direção nacional do PCB desde 1982. Permaneceu na Secretaria-Geral de 2005 a 2016 e foi candidato a presidente da República em 2010. É reconhecido como um dos quadros mais importantes do processo de reconstrução do partido, após o fim da União Soviética.

Além de historiador, Jones Manoel, 31, é escritor. Nos últimos anos, tornou-se o principal expoente do PCB. Mantém um canal com o seu nome no Youtube, com mais de 270 mil inscritos. Passou a ser mais conhecido do grande público em 2019, após conceder entrevista a Caetano Veloso, transmitida pela Mídia Ninja. No ano passado, foi candidato a governador de Pernambuco e recebeu 33.931 votos.

A médica Ana Karen Oliveira, 33, é natural de Uibaí, na região central da Bahia, e professora da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Também atua como educadora popular e, em 2022, foi candidata a deputada federal pelo PCB-BA.

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A experiência do fascismo na Itália tinha, pelo menos, três características centrais: nacionalismo chauvinista, autoristarismo e antissocialismo. É revelador que o nascimento do Partido Nacional Fascista tenha se dado oito meses após a fundação do Partido Comunista Italiano, criado em 21 de janeiro de 1921. Quando recrudesceu o regime, a partir de 1925, Benito Mussolini o fez com apoio da burguesia industrial, da monarquia italiana e do Vaticano, que só romperam com o Duce nos estertores da Segunda Guerra.

No Ocidente, a experiência italiana serviu de modelo para os regimes destinados a conter a expansão do comunismo, impulsionada pela Revolução Russa de 1917. No Brasil, o Golpe de 1930, além de extinguir a República Velha, mobilizou as oligarquias nacionais contra a ameaça comunista. Nessa época, antes do segundo golpe de Getúlio Vargas, em 1937, os principais adversários ideológicos dos comunistas eram os integralistas, que emularam o discurso nazifascista quando Hitler e Mussolini ainda eram exaltados por fatias expressivas da sociedade brasileira.

O lema Deus, pátria e família, dos integralistas, ganhou eco na Marcha da Família com Deus e pela Liberdade, que antecedeu o golpe responsável pela instauração da ditadura civil-militar, em 1º de abril de 1964. As reformas de base do então presidente João Goulart eram, segundo a propaganda golpista, a encarnação do comunismo no Brasil. Nas eleições de 2018, Jair Bolsonaro (PL) foi eleito presidente da República com sua adaptação do lema integralista: Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Às vésperas de tentar a reeleição, Bolsonaro retoma os ataques aos partidos e movimentos de esquerda, reduzindo o campo político adversário, mais uma vez, à ameaça comunista.

Nesta entrevista ao PIMENTA, o presidente do Sindicato dos Bancários de Ilhéus e ex-candidato a vice-prefeito, Rodrigo Cardoso, 43, resgata parte da história do Partido Comunista do Brasil no sul da Bahia e atribui a Jair Bolsonaro a peculiaridade da representação de um neofascismo antinacionalista. Também interpreta o significado da provável aliança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) e defende a continuidade do projeto liderado pelo PT no governo baiano. Leia.

PIMENTA – Quando nasceu, oficialmente, o comunismo brasileiro?

RODRIGO CARDOSO – No dia 25 de março de 1922, em Niterói, fundado como Partido Comunista do Brasil (PCB). Em 1962, dentro de uma discussão interna do partido, uma ala mudou a sigla para PCdoB e outra mudou o nome para Partido Comunista Brasileiro, mantendo a sigla PCB. A gente pode dizer que, hoje, esses dois partidos são da herança da fundação do PCB de 1922.

Ainda existe disputa por essa herança?

Acho que não. Os dois partidos são herdeiros dessa tradição de luta em defesa do povo brasileiro, dos interesses nacionais, dos direitos sociais e dos direitos dos trabalhadores. Acho que isso não é mais visto como motivo de disputa.

Como o projeto revolucionário aparece no horizonte do PCdoB hoje?

O PCdoB entende que a luta pelo socialismo vive etapa, estrategicamente, defensiva desde o fim da experiência socialista no leste europeu. Apesar disso, já no século XXI, algumas experiências socialistas permanecem pujantes, como na China, que é a segunda economia do mundo e, potencialmente, a médio prazo, se tornará a maior. Outros países seguem firmes na luta pelo socialismo, além dos lutadores nos mais variados países do mundo. O cenário mais recente da crise estrutural do capitalismo, a crise financeira, apresenta a construção de uma alternativa socialista como necessidade para o mundo. No entanto, entendemos que esse é o processo de uma revolução longa, de retomada de iniciativa e de apresentação de um projeto socialista, com a consciência e a convicção de que o mundo, sob o capitalismo, estabelece um futuro muito difícil para as grandes massas e a maioria das nações.

Temos visto muitas comparações do comunismo como nazismo, a exemplo das declarações do youtuber Monark no programa Flow, que defendeu a legalização do partido nazista no Brasil. Como você analisa essa comparação?

Essa comparação só interessa aos fascistas e aos nazistas, tendo em vista que os comunistas foram os principais responsáveis pela derrota do nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial. Há uma contradição direta entre o comunismo e o nazi-fascismo. Quem estava alinhado com as experiências democráticas para derrotar o nazi-fascismo foi o bloco dos partidos e países socialistas. É absurdo estabelecer qualquer paralelo nesse sentido. O comunismo é uma ideologia humanitária, que busca a construção da igualdade, tanto da igualdade entre indivíduos, do ponto de vista dos direitos, quanto da igualdade econômica. O nazismo é a ideologia do racismo, da exclusão, da destruição, da barbárie. Esse é um paralelo falso. Alguns setores que buscam o liberalismo extremo acabam, na prática – e isso ficou muito claro na fala do Monark -, tentando naturalizar o nazismo.

No final da década de 1960, a vereadora Ida Viana Rêgo (MDB) deu apoio, em Ilhéus, à formação de um grupo de resistência armada à ditadura, que tinha militantes do clandestino PCdoB. Você tem informações sobre esse episódio?

A história dos comunistas em Ilhéus vem de Nelson Schaun, que era um intelectual, professor e teve relação com o movimento indígena do Caboclo Marcelino, dos tupinambás de Olivença. Na fase de pré-clandestinidade do período Vargas, Nelson Schaun foi uma das principais referências do Partido Comunista no sul da Bahia. Na ditadura, houve esse movimento clandestino, mas nós, do partido, temos poucas informações documentadas, apesar de termos rumores sobre essa questão. Durante o regime militar, Haroldo Lima era um dos principais dirigentes da Ação Popular, grupo da esquerda católica que acabou se incorporando ao PCdoB. Haroldo esteve na região, nessa tentativa muito embrionária de resistência armada, que não avançou. Posteriormente, na década de 1980, no processo de redemocratização, ainda na clandestinidade, mas funcionando dentro da ala progressista do MDB, os membros do partido vieram para a nossa região. Eram jovens militantes que tinham vínculo com o partido em Salvador. Foi o caso de Davidson Magalhães, de Itabuna, Gustavão, nosso principal dirigente de Ilhéus, doutora Fátima, advogada, doutor Renan. A partir daí, começaram a constituir a organização política do partido, que foi legalizado em 1985 e passou a se estabelecer na luta concreta da nossa região, tendo papel muito importante nos mais variados setores da juventude e dos trabalhadores. Militantes do PCdoB tiveram papel de protagonismo na luta pela estadualização da Uesc.

Quando começa sua história no partido?

Cheguei ao partido no ano 2000. Quando entrei na Uesc, em 1998, já havia o movimento estudantil forte e combativo, com uma história muito bonita dos comunistas na luta pela estadualização da universidade. O camarada Wenceslau Júnior, em especial, era referência muito forte no nosso movimento estudantil. A parti daí, entrei na militância. Fui do Centro Acadêmico de Direito, do Diretório Central dos Estudantes, dos conselhos da universidade. Depois, ingressei no movimento dos trabalhadores, porque já era funcionário do Banco do Brasil e me integrei à luta da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Quais são os desafios da atuação do PCdoB em Ilhéus, na Bahia e no Brasil?

Conquistamos um mandato na Câmara de Ilhéus, do vereador Cláudio Magalhães, primeiro vereador indígena da cidade. Essa vitória foi muito importante, como em Itabuna, o outro polo da nossa região, onde o partido elegeu a servidora e presidente do Sindicato dos Servidores Municipais, Wilmaci Oliveira. A existência dos parlamentares dá esteio muito forte para a militância do partido, que tem o desafio de ser instrumento da luta do povo. No caso da Bahia, temos relações com o Governo do Estado, tendo em vista que o partido faz parte da base, com Davidson [Magalhães] na Secretaria de Trabalho, Emprego e Renda e com participação na Secretaria de Política para as Mulheres, na Bahiagás e outros setores do governo estadual, nesse sentido de atrair políticas públicas que ajudem o desenvolvimento da região e melhorem as condições de vida do nosso povo.

Do ponto de vista político-eleitoral, o desafio é tentar manter esse projeto que tem trazido muitos avanços para a Bahia, que começou com Wagner, segue com Rui Costa e, a partir de agora, será liderado por Jeônimo Rodrigues. E o PCdoB também tem o objetivo de eleger seus parlamentares. Na região, temos como centro da tática política-eleitoral a pré-candidatura de Wenceslau Júnior, ex-vice-prefeito e ex-vereador de Itabuna, a deputado federal. Do ponto de vista nacional, o centro da nossa atuação política é derrotar o bolsonarismo. O Brasil não aguenta mais. O povo brasileiro está sofrendo demais, com perda do poder de compra [do salário mínimo], gasolina nas alturas, inflação disparada, desemprego alto. Um país estagnado, sem projeto, que precisa ser reconstruído. Na nossa visão, nesse momento, isso passa por um papel muito importante da liderança do ex-presidente Lula.

Temos visto dois argumentos sobre a provável aliança de Lula com Geraldo Alckmin, que deverá ser o vice do petista. De um lado, aponta-se acerto devido à necessidade de ampliação da frente democrática contra a reeleição de Bolsonaro. Entretanto, há quem diga se tratar de capitulação à política econômica que o ministro Paulo Guedes representa. Qual é o significado dessa nova parceria?

Está à altura da gravidade do momento político que vivemos. Como falei antes, nós, comunistas, damos muita importância ao enfrentamento do fascismo. E Bolsonaro é um dos principais representantes do mundo de uma corrente neofascista, de uma política de extrema-direita que busca restringir os espaços democráticos. No Brasil, temos a peculiaridade de ser um neofascismo antinacional, que busca ser autoritário e destruir os direitos do povo, mas também entregar o patrimônio nacional, a preço de banana, a grandes interesses econômicos estrangeiros. O fundamental desse governo de Bolsonaro, o que leva à unidade [da oposição], é a ameaça à democracia. Alguns dizem que a democracia é o pior governo que existe, mas o melhor já inventado. A defesa da democracia, que foi conquista histórica do povo brasileiro, leva à necessidade da maior união possível. Não vejo nenhum problema nisso. Tenho convicção de que isso não passa, necessariamente, por concessões do programa econômico. Afinal de contas, Alckmin, enquanto possível candidato a vice-presidente, já foi para o PSB, partido de centro-esquerda, que tem convicções do seu programa e é mais alinhado com o programa de Lula e das esquerdas. Portanto, se entrar nessa aliança, Alckmin entrará comprometido com o programa de governo de reconstrução do Brasil.

Sofia Manzano, professora da Uesb e pré-candidata à presidência da República pelo PCB
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Sofia Manzano pode até vir a ser um traço eleitoral, mas estará certamente construindo o traçado da história, criando passos para a construção de um Governo Popular.

 

Carlos Pereira Neto Siuffo

O analfabetismo político ou o senso comum muito rebaixado levam a criações bizarras.

É muito comum ouvir de pessoas pouco esclarecidas politicamente frases do tipo: “Só voto para ganhar”; “Não perco meu voto”; “Só voto em quem ganha”. A pessoa vota na propaganda mais divulgada, vota na pessoa mais conhecida, como se fosse um jogo de perde ou ganha.

O PCB lançou Sofia Manzano pré-candidata à presidência da República, e vi gente comentar: “Não tem um traço…”. Ora, essas pessoas pensam o processo político-social como um simples jogo de perde e ganha eleitoral. Não enxergam a história. Para essas pessoas, a vida é estática.

Quem viveu o período da ditadura militar lembra como o MDB era nem um traço. Em 1974, ele explode e vence as eleições de ponta a ponta, mesmo com as inúmeras restrições impostas pelas regras ditatoriais.

O PT, quando surgiu, era uma espécie de patinho feio eleitoral, estigmatizado até por parte da esquerda. Nem traço era, mas tinha um acúmulo de lutas políticas-sociais nas costas e acabou elegendo presidente da República. Depois, foi se degenerando. Perdeu as ligações sociais mais profundas. Virou uma máquina institucional e vai carregando os votos das lembranças.

Não é fácil remar contra a corrente. Imaginem ser oposição no nazismo e no fascismo. Mas, havia. No início, eram poucos e persistentes. Hitler meteu uma bala na própria cabeça e Mussolini foi fuzilado pelos partisans e dependurado num posto.

As eleições são fundamentais e importantes, mas a luta política é muito mais larga e profunda e, em verdade, se não houver forte organização popular e muita pressão, as mudanças são cosméticas. Não se iludam com o imediato e com a visão do palmo da mão.

Se fosse tudo estático, não teria havido golpe nem a besta do Bolsonaro seria o presidente ilegítimo, mas eleito.

Sofia Manzano pode até vir a ser um traço eleitoral, mas estará certamente construindo o traçado da história, criando passos para a construção de um Governo Popular.

A luta continua!

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

Grupo também entregou itens de higiene e limpeza a famílias afetadas por enchentes
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A Campanha Nacional SOS Sul da Bahia entregou mais de mil kits emergenciais a pessoas que moram nas cidades  afetadas pelas chuvas de dezembro de 2021, a exemplo de Ilhéus e Itabuna. Além de alimentos, o grupo também entregou materiais de higiene pessoal e de limpeza, toalhas de banho, fraldas descartáveis e outros itens.

O comitê da campanha reúne membros da Associação dos Docentes da Uesc (Adusc), do DCE Livre Carlos Mariguela (Uesc), da Consulta Popular e dos partidos PCB e PSOL.

Em nota enviada ao PIMENTA, o grupo agradeceu as doações e a confiança dos colaboradores e ressaltou a importância de que os meios de suporte às famílias atingidas pelas enchentes do último Natal ultrapassem o atendimento das necessidades imediatas. “Será fundamental atuarmos no sentido de organizarmos as vítimas para mobilizar a população para garantir a reparação das suas perdas”, diz a frase final do texto.

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– Quem bom, embaixador! Essa é uma ótima notícia para a população de Itabuna, que poderá ficar livre dessa terrível doença. Basta utilizar o bagunço como supositório, que estarão imunizados – brincou (mas não necessariamente com essas palavras).

 

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

No segundo mandato de Antônio Olímpio (AO) como prefeito de Ilhéus, o então deputado federal Haroldo Lima (PCdoB) trouxe à região uma comitiva da República Popular da China. O interesse do deputado comunista era ampliar o comércio entre os dois países, notadamente de cacau, à época atravessando uma das suas muitas crises – esta, causada pela vassoura de bruxa.

Àquela época, os técnicos em agropecuária da Ceplac, ideologicamente ligados aos partidos de esquerda – PCB, PCdoB, PT e PSB – convenceram seus dirigentes nacionais que a saída para o cacau era comercializar o cacau com a China. Após os cálculos feitos em várias reuniões, acreditavam que se cada chinês tomasse, diariamente, uma pequena xícara de chocolate, o preço do cacau subiria às nuvens.

Tese aprovada pelos cardeais vermelhos da esquerda brasileira, a primeira providência era convencer os herdeiros de Mao Tsé-Tung a introduzir esse novo hábito alimentar no cardápio de seus compatriotas. Para tanto, deveriam convidar uma comissão de alto nível para conhecer o Sul da Bahia e provar as qualidades alimentares e afrodisíacas do cacau, que poderia voltar a ser conhecido como frutos de ouro.

Nada mais fácil para camaradas e companheiros arrebanharem as pessoas mais importantes e decisivas numa negociação entre Brasil e China, que prometiam mostrar ao mundo capitalista os bons resultados de uma negociação com dois países com governos ideologicamente próximos, diria até, iguais. Data marcada, a cúpula das instituições políticas e da cacauicultura do Sul da Bahia se engalanaram para receber os chineses.

Entre os “camaradas” da comitiva estavam o embaixador da República Popular da China no Brasil (chefiando a delegação), o Cônsul, funcionários graduados da embaixada, empresários, técnicos e jornalistas. Aqui, cumpriram uma extensa programação, que incluiu visita a três fazendas de cacau, Ceplac, Conselho Nacional dos Produtores de Cacau (CNPC) e as prefeituras de Itabuna e Ilhéus.

Convidado pelo prefeito Antônio Olímpio para um almoço no Hotel Canabrava, a delegação compareceu em peso. Bem falante, o cicerone Haroldo Lima demonstrava todo o seu conhecimento sobre a região cacaueira – local onde permaneceu clandestino nas fazendas de cacau durante a ditadura militar –, encantava os chineses com informações sobre a Mata Atlântica (fauna e flora), além de características sobre a história e a população.

Lá pelas tantas, Haroldo Lima apresentou uma das frutas mais famosas da árvore Artocarpus heterophylla, a jaca, responsável pela alimentação da população rural e os doces que poderiam ser feitos com ela. Entusiasmado com as ricas propriedades da jaca, o embaixador chinês pediu a palavra e discorreu sobre as propriedades medicinais da fruta, conhecida dos chineses, que a plantam no sul do seu país, junto ao cacau.

Prosseguindo, o embaixador chinês revelou um estudo científico realizado pelos chineses para combater a Aids, por possuir em sua composição uma substância de propriedades medicinais, a “jacaína”. A cada frase, o embaixador fazia uma pausa, para que o tradutor fizesse a transcrição para os presentes, quando foi aparteado pelo prefeito então prefeito de Ilhéus, Antônio Olímpio.

– Quem bom, embaixador! Essa é uma ótima notícia para a população de Itabuna, que poderá ficar livre dessa terrível doença. Basta utilizar o bagunço como supositório, que estarão imunizados – brincou (mas não necessariamente com essas palavras).

Os chineses apenas sorriam – como sempre – mas não entendiam o porquê do silêncio sepulcral no ambiente. É que a intervenção de Antônio Olímpio causou um profundo mal-estar entre os presentes de língua portuguesa, inclusive no tradutor, que ficou embasbacado sem saber como verter a frase para o chinês, para desespero do embaixador, que continuava sem saber o que estava acontecendo.

Explicações de pé de ouvido entre uns, troca de olhares entre outros, fortes risadas entre os brasileiros que naturalmente conheciam Antônio Olímpio e sabiam da sua verve humorística. Na verdade, quem conhece Antônio Olímpio sabe que ele perde o amigo, mas não perde a piada, e que nem se lembrava ou importava que ele, nascido em Ferradas, à época distrito e hoje bairro de Itabuna, era um autêntico papa jaca.

Discretos, os chineses não disseram o motivo pelo qual abriram mão de importar milhões de toneladas de cacau prometidas pelos comunistas brasileiros. Se contaram ficou em segredo de Estado.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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marco wense1Marco Wense

O início do processo sucessório é um teatro a céu aberto. No frigir dos ovos, poucos serão candidatos. A maioria é de pré-candidato a candidato a vice-prefeito ou, então, a um cargo no primeiro escalão.

Para facilitar e proporcionar ao eleitor-cidadão-contribuinte um melhor entendimento da sucessão do prefeito Claudevane Leite, vamos distribuir os postulantes em cinco grupos.

Essa didática arrumação, que pode ser alterada a qualquer momento, é o primeiro passo para esclarecer o cada vez mais turvado cenário político-eleitoral.

A indefinição do chefe do Executivo, que continua enigmático em relação ao segundo mandato, se disputa ou não a reeleição, deixa a neblina mais densa.

O início do processo sucessório é um teatro a céu aberto. No frigir dos ovos, poucos serão candidatos. A maioria é de pré-candidato a candidato a vice-prefeito ou, então, a um cargo no primeiro escalão.

O engraçado é que o toma-lá-dá-cá só é vergonhoso, só é repugnante quando parte do eleitor para o candidato. Entre os senhores políticos é tudo normal, faz parte do jogo e da desenfreada luta pelo poder.

Deixando o alcaide de fora, vamos para os grupos: 1) Davidson Magalhães e Roberto José. 2) Fernando Gomes, Geraldo Simões e Azevedo. 3) Carlos Leahy, Antônio Mangabeira e Leninha Duarte. 4) Augusto Castro. 5) PSOL, PCB e o PSTU.

Grupo 1 – Representa os pré-candidatos do Centro Administrativo Firmino Alves. Davidson Magalhães, deputado federal pelo PCdoB, disputa com Roberto José, secretário de Transporte e Trânsito, o apoio de Vane. Uma composição entre eles é tida como improvável. A legenda do prefeito, o PRB, sob a batuta da Igreja Universal, já descartou qualquer possibilidade de apoiar o comunista. Tudo caminha para um inevitável e iminente racha, com a prefeitura virando um barril de pólvora.

Grupo 2 – São os ex-prefeitos querendo ser novamente prefeito. Fernando Gomes atrás do quinto mandato, Geraldo Simões do terceiro e Azevedo do segundo. Em comum o receio de que o discurso da mudança, de que é preciso renovar, possa provocar estragos nas suas pretensões políticas.

Grupo 3 – Leninha Duarte já ensaiou candidatura em outras eleições. O ex-presidente da CDL, Carlos Leahy, trabalhou no então governo Azevedo como secretário de Indústria e Comércio. Quem realmente protagoniza a verdadeira mudança é, sem dúvida, o médico Antônio Mangabeira (PDT).

Grupo 4 – Augusto Castro, até mesmo por ser deputado estadual pelo PSDB, é quem mais encarna o oposicionismo, principalmente ao PT e, por tabela, ao governo do Estado. Como o prefeito de Itabuna é aliado do governador Rui Costa, o tucano faz oposição ao governo municipal. Vale ressaltar que Fernando Gomes e Azevedo podem pertencer a este grupo.

Grupo 5 – São os prefeituráveis de legendas de pouca ou quase nenhuma representatividade no Congresso Nacional.

O traiçoeiro mundo da política pode trazer junções inimagináveis, como uma inusitada aproximação entre Fernando Gomes e Geraldo Simões ou, quem sabe, um civilizado pacto de não-agressão.

Marco Wense é articulista do Diário Bahia.

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CUIDADO COM A LEITURA QUE “CONTAMINA”

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br
1Homem lendo jornalQue não sejam tão puristas e chatos os que se comunicam com a população, mas mantenham um mínimo de cuidado com a linguagem. Fazer isto é respeitar o leitor/ouvinte e (por que não?) ser didático, ensinar: já vimos nesta coluna que o jornalista e advogado Ricardino Batista, de Itabuna, dizia ter aprendido a ler não propriamente na escola, mas tentando decifrar os textos do jornal A Tarde. Hoje, considerando certas coisas que vejo publicadas, tal experiência resultaria em completo desastre. Há de se tomar cuidado para não se “contaminar” com certos escritos que por aí desfilam sua irresponsabilidade, impunemente.

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Vereador quer “encontrarem” soluções
 
Penso no bom Ricardino ao ler nota da assessoria do vereador ilheense Rafael Benevides, um atentado violento ao pudor do texto. Diz que o edil tem ouvido os “reclames” da população, “à cada dia” melhora seu desempenho, e (com outros poderes) procura “encontrarem” soluções para “às várias” necessidades do município. Por fim, a cereja do bolo da incompetência: há “problemas em que a todos preocupam de que, deverasmente, macula à imagem do município”, mas ele vai “enveredar” esforços para resolvê-los. Chuta-se a gramática, viola-se a concordância, constrange-se a regência. Pressionado por tão desmesurada insensatez, calo-me.
 
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SALDANHA, A CONVENIÊNCIA E A ALIENAÇÃO

3SaldanhaNestes bicudos tempos de questionável futebol internacional no Brasil, enquanto multidões incendeiam as ruas (às vezes literalmente), me vem à lembrança a perfeita associação de futebol e política, que foi o jornalista João Saldanha (julho, 1917 – julho, 1990). Em meio ao alheamento da crônica esportiva (parte por conveniência dos veículos, parte por alienação mesmo), Saldanha, politizado, militante do PCB, saberia dar seu recado sobre o esporte sem esquecer o clamor das ruas, que, certamente, estaria apoiando. Tem sido difícil aguentar os comentários ufanistas, quando o povo sofre e protesta contra tudo e contra todos.
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Os ônibus são para prestar serviço”O João sem Medo sempre encontrava o viés político, como neste trecho de crônica publicada no extinto JB, em 1988: “Os ônibus são para prestar serviço e não para dar lucros fantásticos, como o que estes indivíduos, seus proprietários, abocanham. Eles dizem abertamente: ´Com mais de oito cadáveres já estou no lucro´. E os cadáveres somos nós. Corrompem o poder público, andam por onde querem, violentam o trânsito, e os seus prepostos são os que fixam os preços e itinerários. Ninguém sofre mais do que o pobre coitado que se atreve a ir a um jogo noturno. Fica horas sentado num meio-fio à mercê da intempérie e do assaltante”.
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JOVENS, BONS MODOS E “ESQUISITICES”

5RestauranteCometi, há dias, um gesto de gentileza com uma (não muito) jovem senhora e ela, correspondendo, disse que eu era “das antigas”. Acreditem, isto foi um elogio, que me fez pensar se os bons modos são coisa de velhos, vedada aos jovens. Penso que dizer “obrigado”, “desculpe”, “por favor” e outras esquisitices deveria fazer parte da educação básica de todos – mas parece que esta é uma típica ideia de ancião. As adolescentes são, em geral, lindas, mas algumas delas deveriam ficar de boca fechada. Ser jovem, para muita gente, significa dizer palavrões, desdenhar dos “coroas”, empurrar, em vez de pedir licença. Talvez seja a este meu pensar que chamam “choque de gerações”.
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A rapidez do mundo muda os conceitos
Pois até o conceito de “choque de gerações” já não é mais o mesmo. Se antes esse “antagonismo” se dava entre pessoas de 40 anos e de 20, por exemplo, agora as de 18 já “encaram” as de 25 como se estas fossem figuras fugidas do museu. É a rapidez com que o mundo gira, a poder de chips, parafusos, teclas e botões. Há meio século, “coroa” era quem tinha 60 anos, enquanto hoje já ganha este epíteto quem passa dos 30. Mas, nem pensem, não é meu caso: já tenho outonos bastantes para ser chamado de coroa, pé-na-cova, sobrevivente – ou o que mais queiram inventar para caracterizar um tipo “das antigas”. Digo que gostei do que a gentil senhora me disse. “Das antigas” é estranho, mas, para o caso, serve.

A MÃO DIREITA QUE “TOCAVA” A ORQUESTRA

7Count BasieSe acaso existiu algum chefe de orquestra modesto terá sido Count Basie (1904-1984), na foto, com Frank Sinatra. Poucos merecem tanto a denominação de bandleader: sem gritar nos ensaios, sem gesticular exageradamente nos shows, discreto, ele “se esconde” atrás do piano e dali lidera seus músicos. Não faz grandes solos, apenas “ponteia”, dá sinais, abre caminho para o grupo. “Basie não toca o piano, toca a orquestra”, resumiu um crítico de quem já não me lembra o nome, talvez seja Bruno Schiozzi. Não é à toa que Basie era tido como exclusivamente “mão direita”: sem floreios harmônicos da mão esquerda, ele não permitia excessos a seu piano, mais para reger do que para tocar.
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Sem piano, não havia família “chique”
O piano teve grande influência na cultura do Brasil antigo. Pois saibam todos que a mesma coisa se deu nos Estados Unidos. Nos anos vinte, lá como aqui, toda família “chique” tinha piano. A house is not a home without a piano (“uma casa sem piano não é um lar”), diziam os americanos ligados a costumes europeus. Ao escolher o piano como seu instrumento de jazz, Basie se submeteu à formação clássica, até encontrar o próprio caminho: “amputou” a mão esquerda, e simplificou tudo. Aqui, um raro momento de solo do maestro, quando ele “provoca” o baixo de Cleveland Eaton e o trombone de Booty Wood, em Booty´s blues. O show, de 1981, foi no lendário Carnegie Hall.
 
 

O.C.

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A previsão de marqueteiros experientes aponta que somente a campanha eletrônica (rádio e televisão) em Itabuna custará –  não menos que – R$ 1 milhão em 2012.

O montante, claro, é o necessário para cobrir despesas de candidatos que possuem maior tempo no horário eleitoral na televisão e no rádio e exigem maior estrutura (contratação de produtora, estúdio, logística, produtores, cinegrafistas, repórteres, apresentadores…).

Mas se o leitor-eleitor acredita em Papai Noel… Em Itabuna, a previsão de gastos em toda a campanha dá exatos R$ 5.425.000.00. Não é pouca grana, mas a realidade aponta para gastos ainda (e bem) maiores.

Vane do Renascer (PRB) fez previsão de gastos de R$ 2 milhões em sua campanha. Juçara Feitosa (PT) pretende gastar a mesma quantia. Já o prefeito Capitão Azevedo (DEM), que terá praticamente metade do horário eleitoral na TV e no rádio, informou previsão de gastos de R$ 900 mil.

Zem Costa (PSOL) definiu em R$ 500 mil o teto de gastos. Zé Roberto (PSTU) prevê R$ 15 mil e Pedro Eliodório (PCB) deverá gastar R$ 10 mil.

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O sogro de Dilermano, que não era comunista e nada sabia da sabotagem, ia passando na hora e foi agredido pelos “galinhas verdes”

Marival Guedes | marivalguedes@yahoo.com.br
Nas eleições de 1955 o líder integralista Plínio Salgado se candidatou a presidente da República pelo PRP (Partido da Representação Popular). Em Itabuna havia muitas lideranças deste grupo, fato que o estimulou a fazer um comício nesta cidade.
Mas o PCB (Partido Comunista Brasileiro) também estava fortalecido, tendo inclusive nos seus quadros pessoas de destaque no município. Uma das lideranças, Dilermano Pinto, que gerenciava a farmácia do sogro, resolveu sabotar o comício. Convocou os militantes menos famosos, moradores dos bairros, e pediu que se infiltrassem no grupo de direita para uma atividade clandestina. Fez suspense e depois contou o que deveria ser feito.
O evento foi no cine Itabuna. Quando Plínio Salgado começou a falar, um cheiro forte invadiu o local. As pessoas lacrimejavam e tossiam. Algumas chegaram a desmaiar e em poucos minutos o local foi esvaziado.
O farmacêutico havia distribuído ampolas contendo gás tóxico. Os militantes do partidão jogaram estas armas no chão do cinema e se retiraram. Pisadas, pelos próprios integralistas, as ampolas estouravam. O candidato também deixou imediatamente o local, indo fazer um comício improvisado na praça Adami, sem som nem palanque.
O sogro de Dilermano, que não era comunista e nada sabia da sabotagem, ia passando na hora e foi agredido pelos “galinhas verdes” – assim eram chamados os integralistas. Revoltado, foi à delegacia e prestou queixa.
Plinio Salgado ficou em quarto e último lugar com apenas 8% dos votos. Juscelino Kubitschek obteve 36%, derrotando também Juarez Távora e Adhemar de Barros. A oposição tentou impedir a posse alegando que Juscelino não conseguiu os 50% mais um voto. No entanto, a Constituição determinava que seria eleito o mais votado.
Marival Guedes é jornalista e escreve sempre às sextas-feiras.