Tempo de leitura: 6 minutosO comunista Davidson Magalhães não conseguiu se eleger deputado federal, mas avalia que os mais de 65 mil votos obtidos no dia 5 de outubro o credenciam a atuar como liderança no campo da esquerda no Sul da Bahia.
Nesta entrevista concedida ao PIMENTA, o ex-presidente da Bahiagás demonstra otimismo com a possibilidade de assumir uma cadeira na Câmara Federal, após a composição do governo Rui. Por enquanto, afirma que a prioridade é eleger Dilma Rousseff no segundo turno.
Sobre as sinalizações das urnas para Itabuna, onde Rui Costa perdeu, Davidson defende a reorganização das forças de esquerda em nome do “projeto maior”. Numa referência ao deputado federal petista Geraldo Simões, que não se reelegeu, o comunista diz que alguns líderes regionais precisam “calçar as sandálias da humildade”.
Leia abaixo os principais trechos:
PIMENTA – Como você analisa seu desempenho nas eleições?
Davidson Magalhães – Eu considero uma vitória, principalmente no contexto em que ocorreu esse processo eleitoral. Foi uma eleição bastante disputada, na qual houve uma queda de votos muito grande, e mais uma vez a região confirmou uma característica de pulverização de votos. Nós tivemos aqui muitos candidatos de fora sendo votados e isso reduziu muito a possibilidade de uma eleição concentrada. Terminou saindo do sul da Bahia, de novo, um único deputado federal eleito, o que é mais um prejuízo político para a região. Foi reduzido o número de deputados estaduais e não se ampliou o número de federais.
PIMENTA – Chegou-se a se ensaiar na cidade um movimento em defesa do voto regional…
DM – É um prejuízo porque ficam vários segmentos aqui fazendo o discurso do voto para fortalecer a região e na “hora H” esses mesmos segmentos, por interesses menos nobres, terminam contribuindo com a pulverização dos votos. Seguimos como uma região que tem uma pulverização de votos muito acentuada, o que termina por debilitar nossa representatividade política.
PIMENTA – Essa debilidade pode chegar ao ponto de comprometer projetos estruturantes sinalizados para o Sul da Bahia?
DM – Nossas duas principais cidades (Ilhéus e Itabuna) poderiam ter contribuído mais para o fortalecimento desse projeto regional, mas acabaram ficando extremamente prejudicadas. Nós poderíamos ter um desempenho melhor, o que teria como resultante uma maior consistência política, mas isso é algo que precisará ser superado. Como ganhamos o Governo do Estado, ele, que é o responsável por esses grandes investimentos, juntamente com o Governo Federal, deverá tratar desse problema. Inclusive, o sul da Bahia foi uma das regiões onde o governador eleito Rui Costa teve o menor desempenho, e isso exigirá uma atenção especial para permitir a retomada política da região.
PIMENTA – Como você vê essa vitória de Rui Costa no primeiro turno?
DM – Foi um demonstração definitiva do esgotamento do carlismo, que apostava suas penúltimas fichas no Paulo Souto e num desgaste do governo. Fizeram uma avaliação equivocada e mais uma vez perderam a eleição. Já são três eleições seguidas perdidas pelo carlismo e dessa vez o ACM Neto expôs sua condição de líder político e perdeu inclusive em Salvador. Ou seja, nós derrotamos a principal liderança da oposição e fizemos o senador, o que também demonstra um esgotamento do Geddel (Vieira Lima). A lição que nós tiramos é de que há uma avaliação positiva do governo Wagner e de um projeto em curso que está mudando a Bahia.
PIMENTA – Wagner sempre demonstrou acreditar na vitória de Rui…
DM – O governador sempre insistiu nisso nas reuniões com os partidos: vamos ganhar no primeiro turno. E a argumentação dele era muito sólida: “se comparar o que eles fizeram em 30 anos e o que fizemos em oito, nós damos um banho”. O povo soube ver e entender isso quando tivemos a oportunidade de expor os dados na campanha eleitoral. A diferença entre os dois governos de Paulo Souto e os dois de Wagner é abissal.
PIMENTA – Mas o Sul da Bahia e particularmente Itabuna indicaram não pensar da mesma forma.
DM – Em nossa região, é preciso “cair a ficha” para o que está acontecendo. Experimentaremos um desenvolvimento que tende a ser ampliado com a continuidade desse projeto político com Rui Costa. Isso vai permitir à região dar uma virada substancial a partir da implantação do Complexo Multimodal do Porto Sul.
PIMENTA – Já é possível apresentar um panorama de como ficará o tamanho das bases do governo e da oposição na Assembleia?
DM – As assembleias legislativas têm jogado um papel político muito pequeno na história brasileira, por isso eu acho que Rui não terá problema no relacionamento com o legislativo. Ficamos com a maioria da composição da Câmara Federal e acho que ganharemos a eleição presidencial, o que não põe em risco o projeto.
PIMENTA – Qual o tamanho do PCdoB após essas eleições?
DM – Nosso partido ampliou bastante o espaço político que ocupa na região. Em 2010, quando Wenceslau Júnior disputou o mandato de deputado estadual, teve 31.800 votos, e nós saímos agora com mais de 65 mil votos. É um saldo significativo, que indica uma acumulação de força política nesse período. A possibilidade inclusive de assumir o mandato é importante, já que essa lacuna que ficou na representação do sul Precisará ser preenchida. Nos governos estaduais, tradicionalmente, vários deputados são chamados para assumir cargos, tanto no governo federal quanto no estadual, e isso pode abrir um espaço de atuação política nossa na região.Leia Mais