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Vi quase uma dezena de nomes de indígenas conhecidos que puderam rever o Manto Tupinambá, quando choraram e fizeram questão de realçar a ancestralidade em visita à Dinamarca.

 

Luiz Conceição

Não precisa ter olhos amendoados, pele cor de terra roxa, cabelos lisos e ser arredio. O que basta é ter amor ao que lhe é mais sagrado e lutar sempre para preservar a memória, aromas e tudo aquilo que a ancestralidade guarda na alma para sempre.

Quem entende os atributos a que me referi, saberá compreender os acontecimentos doravante nas aldeias de Olivença (Ilhéus) e Serra do Padeiro (Una e Buerarema) para festejar depois de uma intensa luta de gerações para reaverem aquele objeto sagrado de um povo por 334 anos longe de casa.

Decorridos 48 anos de labuta quase diária para viver, pesquisar e contar a história do povo e desse pedaço chão do sul da Bahia em jornais da capital e local, emissoras de rádio e nos tecnológicos blogs, que a inovação humana trouxe nas últimas décadas, vejo surgir notícias que me remetem à origem incerta e esperançosa ou me enchem a alma de alegrias.

Uma destas, nesta tarde, antevéspera do São Pedro – que na simbologia católica cristã retém as chaves do céu. O Museu Nacional da Dinamarca, relata a reportagem, vai devolver ao Brasil o Manto Tupinambá, peça que consagra a ancestralidade dos povos Tupinambás de Olivença que, apesar de viverem no sul da Bahia desde tempos imemoriais, não eram reconhecidos como indígenas pelo Estado brasileiro.

Isto apesar de quase terem quase sido exterminados pelo governador-geral do Brasil, Mem de Sá, no massacre do Cururupe, em 1559, dolorosamente lembrando todos os anos desde 1937, no local onde aconteceu a seis quilômetros de Olivença. E a 12 quilômetros da sede da antiga Capitania de São Jorge dos Ilhéus.

Atualmente, a comunidade deve ter cerca de cinco mil pessoas, mas só foi reconhecida oficialmente pela Funai em 2001 e até hoje luta para ter sua terra de volta com as incompreensões de sempre e ameaças idem.

Fiquei emocionado, sim, com a notícia publicada na revista Piauí sobre a devolução em perfeito estado de conservação do Manto Tupinambá ao Brasil pelo povo e governo dinamarquês.

Certamente, devia fazer coro aos membros das aldeias que foram a Copenhague e se emocionaram ao ver aquela peça de penas vermelhas, cultuada como relíquia, uma das muitas que repousam naquele tempo da cultura e antropologia embora tenham sido obra de indígenas brasileiros.

Ao dar um google pude ler cada uma das reportagens, teses acadêmicas, dissertações, textos virtuosos sobre a luta incessante dessa pobre gente brasileira na busca pelo que lhe é sacrossanto.

Vi quase uma dezena de nomes de indígenas conhecidos que puderam rever o Manto Tupinambá, quando choraram e fizeram questão de realçar a ancestralidade em visita à Dinamarca. E também chorei pelo amigo jornalista, radialista e escritor Waldeny Andrade, que nos deixou há três anos, mas registrou em livro a saga desses povos, Vale a pena ler: Serra do Padeiro: a saga dos Tupinambás, lançado, em 2017, pela Via Litterarum Editora.

Como repórter, aprendi que a emoção é o último recurso para dar vida a um texto que expresse a mais pura verdade factual. Muitas vezes ao longo de tantos anos não contive os olhos d’água que teimavam em desfazer meu aprendizado.

Vejo que continuo a me emocionar ao lembrar-me das histórias que li, ouvi, pesquisei e presenciei no cotidiano de correspondente, repórter ou editor. Mas vejo que tudo valeu a pena e a emoção continua a me dar taquicardia com a felicidade de um povo que cultua a natureza, a terra, as matas, os pássaros, as águas, os peixes, os animais e a vida.

(*) Essa é a grande volta do manto tupinambá, escreveram jornalistas e repórteres das mais diversas mídias sobre o que ouviram das vozes do povo Tupinambá o tanto que têm de carinho e apreço pelas penas vermelhas da simbólica peça que lhes parece reencarnar a vida dos que vieram antes e deixaram sobre a terra luta, cultura e amor naquilo que acreditam.

Luiz Conceição é jornalista.

Jerônimo, de cocar amarelo, na campanha de 2022 || Foto Suami Carvalho/PIB
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A aprovação do marco temporal pela Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (30), é vista como derrota histórica dos povos indígenas de todo o País, porque restringe a demarcação de territórios tradicionais aos casos em que já eram ocupados por esses povos até 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal. Agora, a matéria segue para o Senado.

Na campanha eleitoral de 2022, o então candidato Jerônimo Rodrigues (PT) investiu no discurso de que seria o primeiro professor e também o primeiro indígena a governar a Bahia. No entanto, até o momento, o governador não fez, nas suas movimentadas redes sociais, nenhuma menção ao avanço do marco temporal (Projeto de Lei PL 490/07) no Congresso.

A reportagem entrou em contato com a Governadoria para obter opinião do governador e aguarda retorno. Atualizado às 9h52min.

Biofábrica e Bahiagás executam projeto que beneficia comunidade no sul da Bahia
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O plantio de 7 mil mudas nativas da mata atlântica concluiu a fase de implantação do Projeto Replantar, resultado de convênio da Bahiagás com o Instituto Biofábrica. As mudas foram plantadas na área da Aldeia Igalha, do povo Tupinambá de Olivença. A ação englobou, ainda, a construção de viveiro telado para multiplicação de mudas.

Segundo os gestores, o projeto agora avança para a fase de Educação Ambiental, com a participação da comunidade Tupinambá, estudantes e ONGs ligadas à proteção dos povos indígenas regionais. As mudas foram plantadas estrategicamente às margens do rio Tororomba para garantir a recomposição da mata ciliar com árvores nativas da Mata Atlântica, a maioria ameaçada de extinção.

Com capacidade de produzir 7 mil mudas em sacola, o viveiro foi instalado sob a supervisão dos técnicos da Biofábrica e suporte de moradores da comunidade. O equipamento é parte da estratégia de sustentabilidade do projeto, que prevê a coleta de sementes e a multiplicação de mudas das essências florestais e frutíferas para a recomposição de toda a floresta da área da terra indígena.

Mudas são plantadas às margens de rio em Ilhéus
De acordo com o diretor-presidente da Biofábrica, Valdemir dos Santos, a implantação do viveiro se deu com limpeza e nivelamento do terreno, construção da estrutura metálica e sistema de irrigação, que envolveu a construção de base para reservatório de água, instalação de tanque, instalação de sistema de captação e aquisição de bomba. “A ideia é que a comunidade Tupinambá tenha autonomia para a produção das mudas a partir do fim do projeto.

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O ministro Alexandre de Moraes, do STF
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O Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu o julgamento da tese do marco temporal para a demarcação de terras indígenas, nesta quarta-feira (15), após pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes. A votação está empatada em 1 a 1. O ministro Edson Fachin, relator do processo, votou contra a tese, que recebeu voto favorável do ministro Nunes Marques.

Se o marco temporal se consolidar no Supremo, os povos originários não poderão mais reivindicar a demarcação de territórios dos quais tenham sido expulsos antes de 1988. Por isso, movimentos indígenas de todo o país iniciaram jornada de protestos contra a tese, que é defendida por ruralistas e pelo presidente Jair Bolsonaro.

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Antropólogo lança livro em Ilhéus neste sábado (9)

O antropólogo e fotógrafo Rogério Ferrari lança, no próximo sábado (9), a partir das 14h, no Centro Cultural de Olivença, em Ilhéus, o livro Parentes. Este é o volume mais recente da obra que Ferrari vem compondo no âmbito do projeto Existências-Resistência.

O livro é resultado do percurso do fotógrafo por diferentes regiões do estado para retratar a diversidade e a resistência dos povos indígenas na Bahia. A obra é composta por 64 imagens em preto e branco que mostram as nações Pataxó, Pataxó Hã Hã Hãe, Tupinambá, Pankaru, Pankararé, Tuxá, Atikun, Kaimbé, Tumbalalá, Kiriri, Kantaturé, Tuxi, Kariri-Xocó e Truká.

O evento conta com o apoio comunidade Tupinambá de Olivença. Durante o lançamento da obra, haverá uma roda de conversa  como o tema “A luta dos povos indígenas na Bahia”, com a participação de Ferrari, Laís e Katu Tupinambá.

O evento é promovido no âmbito da Pró-Reitoria de Sustentabilidade e Integração Social (PROSIS) e Diretoria de Integração Social e Sustentabilidade e Coordenação de Extensão da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Os participantes terão direito a certificado.