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Coordenador da campanha do governador Jaques Wagner para as próximas eleições, o prefeito de Camaçari, Luiz Caetano, responsabilizou “o pessoal que apoia Pinheiro” pelo episódio das pichações que omitiram o nome da candidata ao Senado, Lídice da Mata (PSB). Outra explicação, no mínimo insustentável, foi a de que teria faltado tinta de determinada cor para pintar o nome da socialista.
A explicação de Caetano, dada ao site Bahia Notícias, é um pouco mais convicente, mas é também um tanto preocupante. Revela que, mesmo que este ano o eleitor vote em dois candidatos ao Senado, há uma certa preferência por um deles, o mais próximo da cozinha e, naturalmente, da panelinha.
A exclusão de Lídice gerou ruído desnecessário no grupo político liderado pelo governador Jaques Wagner. Por isso, o idealizador de tal asneira – seja por falta de tinta, juízo ou vergonha na cara –  deveria ser considerado inapto para decidir qualquer coisa na campanha. É esse tipo de olhar para o próprio umbigo que pode destruir todo um projeto político.

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O prefeito de Ilhéus, Newton Lima (PSB), definiu os seus apoios nas eleições deste ano. Num encontro na Terra de Gabriela, ele anunciou que apoiará a reeleição do governador Jaques Wagner, além de Ângela Souza para estadual e Domingos Leonelli federal. Os nomes ao Senado serão Walter Pinheiro (PT) e Lídice da Mata (PSB).
Ele parece ainda não ter definido o nome do candidato a presidente. O vice, Mário Alexandre, é do PSDB de José Serra.
Já em Itabuna, o prefeito Capitão Azevedo (DEM) tem definido claramente apenas o nome à Câmara Federal: vai de Luiz Argôlo, do PP. Mas o democrata estará numa encruzilhada no próximo sábado, 17, quando o presidenciável José Serra fará campanha em Itabuna. O partido de Azevedo apoia o tucano e tem candidato a governador: Paulo Souto.
Há quem sugira uma viagem “de última hora” para o prefeito evitar constrangimentos, caso ainda não tenha definido seus apoios até lá.

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Lídice pode desistir do Senado.

A deputada federal e candidata ao Senado na chapa governista, Lídice da Mata (PSB), começa a sentir os efeitos da esperteza petista. Pichações em Salvador fazem propaganda apenas das candidaturas Dilma presidente, Wagner governador e Pinheiro senador. Lídice foi excluída, conta a coluna Tempo Presente, d´A Tarde.
Quando a candidata exigiu explicações, a coordenação saiu-se com a desculpa de que havia faltado tinta magenta. E não foi apenas a tinta. A candidatura de Pinheiro também tem espaço privilegiado na coordenação da majoritária. Conhecedora da expertise petista, Lídice ameaça abandonar o barco e disputar uma vaga à Câmara.
Não faltaram avisos à parlamentar, que teria uma reeleição tranquila como deputada federal.

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O PSB vinha tentando articular o apoio da deputada estadual evangélica Ângela Sousa (PSC) à candidatura do ex-secretário do Turismo da Bahia, Domingos Leonelli, a federal. A ilheense resistiu e está praticamente fechada em um apoio à reeleição de Geraldo Simões (PT).

Em represália, a turma de Lídice da Mata costura uma estratégia para dificultar o caminho de Ângela. Uma das principais peças será o lançamento do militante Professor Galdino para a Assembleia Legislativa. A missão dele é uma só: entrar pesado nas bases da deputada.

Esta será uma guerra não muito santa…

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Cacique regional do PSB, o secretário de Governo de Ilhéus, Alcides Kruschewsky, é forte defensor do nome de Luís Sena (PCdoB) para a suplência da socialista Lídice da Mata na candidatura ao Senado. Ex-funcionário do Banco do Brasil, assim como Sena, Alcides vê o antigo colega como “um grande lutador”.

Em mensagem enviada ao Pimenta, o secretário diz que, no sul da Bahia, Sena “é o nome ideal para fortalecer a candidatura de Lídice ao Senado” e diz que o sindicalista e ex-vereador pelo PCdoB em Itabuna sempre foi coerente com seus princípios e “tem uma história reta e clara”.

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Representantes dos diretórios do PT e do PSB em Ilhéus terão uma prosa reservada com o governador Jaques Wagner, que visita o município, em instantes, para entrega de obras no Hospital Geral Luiz Viana Filho. Os vermelhos e as pombinhas querem apresentar mais uns pedidos, reforçando a lista apresentada quando foi selada a união entre os dois partidos, com o aval do Galego.

Além do recapeamento asfáltico de vários bairros e da reforma das centrais de abastecimento do Malhado e da zona sul, pedidos anteriormente, querem o apoio do governo estadual na recuperação das unidades básicas de saúde, encontradas em condições lastimáveis, empréstimo de patrulha mecânica para recuperação das estradas vicinais e sinalização turística.

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Lídice: pressão pela Câmara Federal.

Por meio da sua assessoria, a deputada federal Lídice da Mata afirma que se mantém na disputa por uma das duas vagas baianas ao Senado Federal. Este blog quis saber se era cogitada a desistência da parlamentar na sua tentativa de ser – até onde sabemos – a primeira mulher senadora do Estado.

Além de negar desistência, a deputada menciona o apoio e simpatia do governador Jaques Wagner na disputa.

Internamente, os ‘pessebês’ pensam que a deputada faz má escolha. Para fortalecer o partido na Bahia, imaginam, Lídice deveria disputar a reeleição. O raciocínio tem certa lógica. A ‘xerifona’ do PSB somou algo como 200 mil votos a seu favor na eleição de 2006. A repetir o desempenho em 2010, não só estaria reeleita como ainda aumentaria o número de parlamentares da legenda na Bahia na Câmara Federal, de um para dois ou três.

As chances cresceriam com o PSB saindo sozinho na disputa, sem coligar-se. Pelos cálculos do grupo que a deseja na Câmara Federal, o partido tem hoje 14 nomes com potencial para 20 mil a 30 mil votos. Soma daqui e dali, e o PSB teria os 2, 3 deputados. Será?

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Tchau, dores de coluna; tchau, estresse!

Depois de longos dias afastado do governo, o prefeito Newton Lima voltou ao comando do Palácio Paranaguá nesta quarta-feira, 28. Ontem, aliás, a cadeira de prefeito ficou vaga. O prefeito em exercício (contra a barriguinha) Mário Alexandre, dizem, deixou os seus afazeres para beijar a mão de José Serra em Feira de Santana e Alagoinhas. E Fábio Magal (aqueeeele) nem apareceu no palácio para ocupar a bendita cadeira!

Newton Lima, como se sabe, passou temporada na romântica Veneza, ao lado do secretário Paulo Goulart. Passeou de gôndola, firmou contatos com os italianinhos e participou de uma feira de investidores. Agora, voltemos ao trabalho, né?

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O ex-ministro Ciro Gomes (PSB) participou do programa É Notícia, da Rede TV, e girou a sua metralhadora contra o ex-governador José Serra, pré-candidato do PSDB à presidência da República.

Apesar de considerá-lo um homem preparado, Ciro Gomes afirmou que eleger José Serra é um perigo para o Brasil.

– [José Serra] é um brasileiro bastante preparado, mas tem uma personalidade autoritária, tenebrosa. Com o poder na mão, me parece um perigo para o País.

Ainda no pinga-fogo proposto pelo apresentador Keneddy Alencar, Ciro disse que Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV), pré-candidatas à presidência da República, são duas grandes mulheres.

O programa É Notícia é exibido ao final das noites de domingo na Rede TV. Ciro disse que não desistirá da disputa a presidente.

Sairá da corrida não por desistência, mas na condição de “derrotado”. Derrotado pelo partido, o PSB, que é contra a sua candidatura e apoiará a ex-ministra petista Dilma Rousseff.

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Serra mantém diferença em relação à ex-ministra.

Saiu uma nova pesquisa sobre a sucessão presidencial. Encomendada pela Associação Comercial de São Paulo ao Ibope, aponta o ex-governador José Serra (PSDB) com 36% e a ex-ministra Dilma Rousseff (PT) com 29%.

O levantamento foi feito de 13 a 18 de abril. Ciro Gomes (PSB) e Marina Silva (PV) aparecem com 8%, cada. Quando o cenário exclui o nome de Ciro Gomes, Serra vai a 40%, Dilma alcança 32% e Marina Silva pontua com 9%.

Na pesquisa divulgada em 17 de março, Serra aparecia com 35% e a principal adversária, Dilma Rousseff, tinha 30% das intenções de voto. Na pesquisa divulgada hoje, o presidente Lula surge com 76% de aprovação popular.

Um dado interessante da pesquisa que ouviu 2.002 eleitores em 140 municípios é que apenas 9% dos eleitores querem mudança total de governo. 35% querem continuidade e 30% optam por continuidade com algumas mudanças. 24% querem mudanças em alguns programas.

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Embora sustente não ter preferência pelo companheiro de chapa na disputa por uma vaga ao Senado, é claríssimo que a deputada federal Lídice da Mata (PSB) sonha em concentrar os votos da esquerda. Para isso, naturalmente, é necessário que a outra vaga na majoritária seja reservada a um político de direita.

Houve até quem cogitasse que o PSB poderia sair da aliança com o PT, caso o escolhido para a outra vaga de candidato ao Senado seja, por exemplo, Walter Pinheiro. Como a semana que passou foi propícia a todo tipo de especulação, cogitou-se que os socialistas se uniriam a Geddel.

Neste sábado (17), o presidente do diretório do PMDB na Bahia, Lúcio Vieira Lima, descartou a possibilidade de acolher Lídice da Mata, caso ela procure esse caminho.

“O tempo do PSB passou”, disse Lúcio, acrescentando que o PPS já deuà chapa de Geddel o perfil de centro-esquerda que ela precisava.

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Na mesma semana em que o Instituto Sensus divulgou pesquisa em que os principais concorrentes ao Palácio do Planalto estão empatados, o Datafolha mostra levantamento com José Serra (PSDB) com 38% das intenções de voto e a ex-ministra Dilma Rousseff (PT) com 28%, vantagem de dez pontos percentuais.

A pesquisa foi divulgada neste sábado pelo jornal Folha de São Paulo. Realizada na quinta e ontem (dias 15 e 16), ela traz um dado diferente dos demais levantamentos:  a “verde” Marina Silva (PV) com 10% e, pela primeira vez, superando o ex-ministro Ciro Gomes (PSB), com 9%.

O Datafolha ouviu 2.600 pessoas e tem margem de erro de dois pontos percentuais. 7% votariam em branco ou nulo e 8% disseram estar indecisos. Na última pesquisa Datafolha, Serra aparecia com 36%, Dilma, 27%, o que confirma estabilidade no quadro sucessório. O bicho já está pegando!

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Edson: entre a cruz e a espada.

Não convidem para a mesma mesa o médico e ex-presidente da Câmara de Itabuna, Edson Dantas, e a deputada federal e presidente do PSB, Lídice da Mata.

No último evento estadual do PSB, em Salvador, Edson levou à capital um vereador de Ubatã, que disse poucas e boas a Lídice, lembrando que a dirigente “pode até ser boa para (o PSB de) Salvador, mas é uma negação para o interior”.

A deputada e xerifona do partido na Bahia entendeu a “homenagem” como um recado indireto do ex-vereador em Itabuna e passou a lhe virar as costas.

Edson é pré-candidato a deputado federal e imagina ter algo como 70 mil votos e sair da disputa de 2010 “eleito da silva sauro”. Amigos mais realistas acreditam que, no dia D, na hora H, Lídice vai trabalhar contra o projeto, agindo em favor de Leonelli.

Há quem defenda que Edson caia fora não apenas da disputa, como também do PSB. O médico resiste às pressões. Até quando, ninguém sabe.

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Após afirmar que sairia sozinho na disputa por vagas à Assembleia Legislativa, o PCdoB deu um ‘cavalo de pau’ e conversa com o PSB. Os cururus querem renovar os mandatos de Javier Alfaya e Álvaro Gomes e ampliar a sua presença com a eleição de outros três nomes. Do outro lado, o PSB tem nomes novos na disputa mas o de maior densidade na disputa a deputado estadual é o militar Capitão Tadeu. Os dois partidos são da base aliada de Wagner.

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DEPUTADA “NÃO COADUNA” COM O CRIME

Ousarme Citoaian

Depois do PSB, quanto à truculência com professores em Porto Seguro, chegou a vez da deputada Ângela Sousa (foto) – tendo um assessor acusado de ameaçar de morte um jornalista. A parlamentar publicou nota de esclarecimento e, igual ao PSB, derrapou nas curvas da linguagem. Diz o arrazoado que ela “não coaduna com qualquer tipo de comportamento…” – inventando nova regência verbal: nos dicionários, coadunar (frequentemente pronominal) tem o sentido de somar (juntar, reunir, incorporar, harmonizar, conformar, combinar). Exemplo: “Minhas intenções não se coadunam com as da vizinha do 6º andar”. (frequentemente pronominal) tem o sentido de somar (juntar, reunir, incorporar, harmonizar, conformar, combinar). Exemplo: “Minhas intenções não se coadunam com as da vizinha do 6º andar”.

ESTILO: “VINDE A MIM OS SIMPLES”

Uma qualidade fundamental do estilo é a simplicidade. Quem alimenta o frenesi da escrita impenetrável, da comunicação empolada, corre o risco de ganhar atestado de pedante – além de não tocar o público a quem se dirige. O redator poderia ter empregado o velho, bom e claro concordar (“a deputada não concorda com…”). Ou, simplesmente, nada escrever, pois todos sabem que atos de violência (sejam contra jornalistas ou quem quer que seja) não se coadunam com o temperamento da deputada. Que, para minha satisfação, escreve o nome em língua portuguesa: Ângela (com acento) e Sousa (com “s”), coisa hoje rara entre brasileiros.

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JUIZ DÁ GOLPE NO ELITISMO

Uma sentença do juiz Alexandre Eduardo Scisinio transita na internet, sem que se saiba porque só agora veio a público – pois foi exarada em 2005. Trata-se de ação impetrada por outro juiz de Direito, a requerer, no tribunal, que o porteiro do seu condomínio, em Niterói/RJ, não mais o tratasse de “você” e sim, preferencialmente, por “doutor”. O julgador, dono de perspicácia e sensibilidade social, mostra ser conhecedor, além da Filosofia do Direito, dos fundamentos da língua portuguesa. Mesmo para leigos, é notável a citação de Norberto Bobbio sobre “buscar o fundamento de um direito que se tem ou de um direito que se gostaria de ter”: o requerente tem o desejo de ser tratado por “doutor”, mas, no entender do sentenciante, não é portador desse direito.

É POSSÍVEL FAZER JUSTIÇA

Ao negar a pretensão ao tratamento, o julgador afirma que “´doutor’ não é forma de tratamento, e sim título acadêmico utilizado apenas quando se apresenta tese a uma banca e esta a julga merecedora de doutoramento. Constitui mera tradição referir-se a outras pessoas de ‘doutor’, sem o ser, e fora do meio acadêmico”. O magistrado diz ainda que “o empregado que se refere ao autor por ‘você’, pode estar sendo cortês, posto que ‘você’ não é pronome depreciativo”. E abona sua tese com a linguista Eliana Pitombo Teixeira, para quem “os textos literários que apresentam altas freqüências do pronome ‘você’ [que vem do cerimonioso vossa mercê], devem ser classificados como formais”. Por fim, condena o postulante a pagar custas e honorários de 10% sobre o valor da causa. A justiça se fez.

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ATRAVÉS É PARENTE DE ATRAVESSAR

“A polícia chegou aos traficantes através de uma denúncia anônima” (O. C. grifou) – diz um noticiário de tevê, a propósito da prisão por atacado, durante uma festa embalada a drogas ilícitas. É a expressão através de posta fora do lugar, ocorrência muito comum no (mau) texto jornalístico. Em termos de frequência ela, parece-me, só perde para inclusive, que é indefectível nas (des) composições tatibitates que lemos diariamente. “A regra é clara”: emprega-se através de quando se quer dar a noção de atravessar, passar de um lado para outro – é este o sentido “clássico”. Nunca em substituição a por meio de, por, graças a, por intermédio de, devido a (e semelhantes).

MUITOS EXEMPLOS, POUCO ESPAÇO

Nos bons autores, são muitos os exemplos. Aqui, é pouco o espaço. Por isso, apenas duas abonações, bebidas em Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis: “Contemplei (…), ao longe, através de um nevoeiro…” e “A neutralidade (…) nos leva, através dos espaços…”. Simples: na primeira frase, a vista do narrador atravessa o nevoeiro; na segunda, o espaço. No meu campo de experiência (e sofrimento) colho mais um: “Através da vidraça, vejo a vizinha do 6º andar, que passa e não me olha”. Dos (bons) jornais: “O assessor foi nomeado por decreto” – nunca através de decreto. Eu, de novo: “Tentei falar com a vizinha do 6º andar, pelo telefone” – jamais através do telefone (ela, pra variar, não me atendeu!).

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DA ARTE DE BEM ESCREVER

Mais do que criticar, apresentar soluções é preciso. Já que falamos tanto de textos ruins, aqui está uma sugestão de livro de jornalista com texto de primeira qualidade: Tempestade de ritmos – jazz e música popular no século XX, de Ruy Castro (Companhia das Letras/2007). Uma excelente coleção de artigos, em comemoração aos 40 anos de atividade do autor. Está todo mundo lá, em 415 páginas, com fotos: da MPB ao jazz, de Ella Fitzgerald a Benny Goodman, de Roberto Silva (quem lembra?) a Chico Buarque e Moacir Santos, de Tony Bennett a Judy Garland. Não é uma coleção de biografias, mas o resultado de experiências pessoais. Para ler com a alma em festa.

A NOITE ETERNA DE RAY CHARLES

..O capítulo sobre Ray Charles (foto) é tocante. Em 1996, no artigo Para que enxergar quando se é Ray Charles?, Ruy Castro escreveu: “Aos seis anos, quando Ray subia ao alto do morro, ainda podia ver a vegetação se perdendo no infinito. Mas, rapidamente, o horizonte começou a ficar muito próximo. Logo estaria a poucos metros. Os pássaros e outros pequenos animais desapareceram da paisagem. As figuras se transformaram em borrões, depois em vultos difíceis de distinguir e, então, também se evaporaram. Às vésperas dos seus sete anos, o mundo visível de Ray já se dividia em simplesmente dia e noite. Até que o dia também ficou noite”.

DA CURIOSIDADE À DEPENDÊNCIA

“Charles contou em Brother Ray que foi dependente de heroína de 1948 a 1965, dos 18 aos 35 anos. Começou com maconha e logo passou para a seringa. Mas não culpa ninguém. ´Não foi por ser negro, cego ou pobre. Nenhum traficante me obrigou. Não houve nenhum motivo social ou psicológico. Comecei a usar a droga por curiosidade e porque os colegas usavam´, disse ele em sua autobiografia. Mas não foi a curiosidade que o levou a continuar usando – foi a dependência (…). Se nunca se tornou o farrapo humano que outros, como Billie Holiday (foto) e Charlie Parker, se tornaram, foi porque tinha dinheiro para sustentar a dependência”, diz Ruy Castro.

BALADA DE 3 MILHÕES DE CÓPIAS

Ray Charles gravou a balada I can´t stop loving you (Don Gibson) em 1962, tendo vendido coisa de 3 milhões de cópias. Elvis Presley (foto), suponho que em 1972, fez com I can´t stop aquilo que ele fazia com tudo que gravava: mexer no arranjo e transformar qualquer coisa em rock pesado, fosse O sole mio ou o catálogo telefônico da Tailândia.
Aqui, a versão original de Ray Charles.

SÓ PRIVILEGIADOS TÊM OUVIDOS

Rosa Passos é “filha” de João Gilberto (foto). Ouviu o bruxo de Juazeiro desde a adolescência, quando estudava piano, imitou-lhe os acordes, seguiu-lhe os passos (ops!). Nascida em Salvador, ela sobreviveu a axés, pagodes e outras invenções contagiantes, deixou de lado o piano, pegou o violão e saiu por aí. Hoje, é nome do maior respeito na Europa e, eventualmente, se apresenta no Brasil. Tenho dela o CD Amorosa, homenagem a João Gilberto: quatro das doze faixas desse disco foram gravadas por João no LP Amoroso, de 1977 (Wave, Bésame mucho, Retrato em branco e preto e ´S wonderful). Ao mestre, com carinho, a faixa 9 (Essa é pro João), em que a fã se desnuda:

“João Gilberto, amigo, eu só queria/Lhe agradecer pela lição/
Desses seus acordes dissonantes/Desse seu cantar com perfeição/
E até o apagar da velha chama/Eu quero sempre ouvir o mesmo som/
Só privilegiados têm ouvidos/Mas muitos poucos deles têm seu dom”.

DUETO COM HENRI SALVADOR

Desconhecida em sua terra, Rosa Passos (foto) tem muito respeito internacional. Gravou com Ron Carter, Paquito D´Rivera e outros desse nível, além do recentemente falecido chansonnier Henri Salvador. O velho HS faz com ela, em Amorosa, um dueto fantástico em Que reste-t-il de nos amours. A cantora lançou o primeiro álbum em 1978 (Recriação), com músicas de sua autoria e Fernando de Oliveira. Depois vieram Curare (91), Festa (93), Pano pra manga (96), além de três discos especiais, exclusivamente com canções de Caymmi, Ari Barroso e Tom Jobim. Um jornalista a chamou de “João Gilberto de saias” e ela não gostou. Claro: é fã de João, mas se chama Rosa Passos. Às vezes parece uma combinação felicíssima de João Gilberto e Elis Regina – mas está longe do pasticho, como certas cantoras do tipo papel carbono que andam por aí.

BOLERO QUASE DERRUBA COLLOR

Em Amorosa, Rosa canta Bésame mucho, um tema romântico reconhecido em 1999 como “a canção mais cantada e gravada do idioma espanhol”. A mexicana Consuelo Velasquez (foto) fez Bésame no longínquo 1940. Meio século depois (em 1990), a paixão da economista Zélia “Confiscadora de Poupança” Cardoso de Melo e do jurista Bernardo Cabral (ministros de Collor) foi embalada por esta música. Nada mau para um bolero mexicano – pois quase nos faz o favor de antecipar a derrubada do governo da República. Veja agora a interpretação majestosa de Rosa Passos (com um comovente a capela de 25 segundos). Minha parte eu dedico à vizinha do 6º andar.

(O.C.)

Pouco sei de futebol (prefiro basquete e o xadrez), mas a discussão, sob o prisma da língua portuguesa, me fascina. Entendo que o Brasil é, de maneira indiscutível, bicampeão mundial, pois venceu as Copas de 1958 e 1962. Ao voltar a ganhar em 1970 (com a melhor seleção etc. etc.), tornou-se campeão pela terceira vez – e isto é diferente de ser tricampeão. Acontece que a mídia, por ignorância ou interesse, às vezes assume aquele comportamento atribuído a Goebells (ministro das Comunicações de Hitler): bate na mentira até que ela se transforme em verdade. O rito é mais ou menos este: lança-se a invenção, as ruas a adotam e ela adentra os compêndios, já travestida de verdade. A língua é viva, certo. Mas não precisa ser burra.