Sambista Riachão faleceu na madrugada desta segunda, em Salvador || Foto Divulgação
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O cantor e compositor baiano Clementino Rodrigues, Riachão, dono de grandes sucessos como Vá morar com o diabo e Cada macaco no seu galho, faleceu na madrugada desta segunda-feira (30), em Brotas, Salvador. Ele teria morrido de causas naturais, conforme familiares.

Riachão era nome reverenciado nacionalmente como um dos principais compositores e sambistas do país. Ainda ativo intelectual e fisicamente, deixou este mundo quando dormia em sua residência. Planejava lançar Se Deus quiser eu vou chegar aos 100, numa referência aos anos de estrada.

O músico começou a carreira aos 15 anos e tem em Mundão de Ouro seu último álbum. Ainda na noite de ontem (29), o cantor se queixou de dores abdominais. Medicou-se e foi dormir. Não mais acordou. Deixou-nos.

Riachão foi morar com o Pai!

REPERCUSSÃO

Rosemberg: Bahia perde uma figura ilustre

Além do meio artístico e cultural, a morte de Riachão repercutiu entre políticos. O deputado estadual e líder do Governo na Assembleia Legislativa, Rosemberg Pinto (PT), disse que a “Bahia perde uma figura ilustre, que agora vai fazer samba no céu! Vá em paz, mestre Riachão. Sua contribuição foi fundamental para o samba no Brasil e no mundo”, escreveu no Twitter.

O secretário estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Davidson Magalhães, também lamentou, também por meio do Twitter. “Bahia e samba do Brasil perdem uma das suas vozes mais importantes e vibrantes. Tristeza!!”.

O jornalista e crítico musical Hagamenon Brito usou uma das letras de Riachão para homenagear o compositor: “O teu galho é em qualquer lugar que tenha alegria, ritmo, talento e sabedoria popular. Descanse em paz”. Abaixo, confira Riachão entoando uma de suas maiores composições, Cada macaco no seu galho.

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Marival Guedes | marivalguedes@gmail.com

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Cada compositor apresentava um samba. Quando Riachão cantou Cada Macaco no seu galho, os empresários gritaram “é essa a música, malandro. É essa”, conta Riachão sorrindo. A música estourou. Porém, teve um detalhe: o compositor não foi convidado para a festa de lançamento.

 

 

Passando na última sexta pela Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus, avisto um senhor com boina branca, lenço no ombro e sorriso largo sambando ao som de um grupo de choro. Fui conferir. Era Riachão comemorando 94 anos de vida completados no dia seguinte, sábado 14 de novembro.

Clementino Rodrigues nasceu no Garcia, em Salvador. Precocemente compôs seu primeiro samba aos 12 anos e não parou. Tem mais de 500, maioria inspirados no dia a dia da cidade, das pessoas. Crônicas.

Ele conta que quando criança brigava muito. “E aí chegavam os mais velhos para apartar, empregando aquele ditado popular: você é algum riachão que não se possa atravessar?”. Nasceu seu apelido.

Em 2008 foi atingido por uma tragédia. Num acidente automobilístico morreram sua mulher, um filha, um filho, nora e genro. Destroçado, se isolou parecendo que jamais se recuperaria.

Riachão se apresentando na Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus, na sexta (Foto Marival Guedes).
Riachão na Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus, na sexta (Foto Marival Guedes).

Mas, quase um ano depois, conseguiu dar a volta por cima aceitando, após muita insistência da produção, um convite para se apresentar no projeto Bahia de Todos os Sambas, no Sesc Pompeia em São Paulo, ao lado de outros grandes nomes a exemplo Nelson Rufino, Mariene de Castro e Roberto Mendes.

Um dos seus sucessos tem uma história diferente. Diretores de uma gravadora do Rio queriam um samba de um compositor baiano para marcar o retorno de Gil e Caetano do exílio em Londres. Vieram à Salvador e convidaram vários sambistas. Os amigos não lhe avisaram.

Mas o Sr.Gadelha, pai de Dedé e Sandra, respectivamente à época, mulheres de Caetano e Gil, era chefe numa agência bancária onde Riachão trabalhava de contínuo. Não apenas o avisou como também lhe forneceu o endereço.

Cada compositor apresentava um samba. Quando Riachão cantou Cada Macaco no seu galho, os empresários gritaram “é essa a música, malandro. É essa”, conta Riachão sorrindo. A música estourou.

Porém, teve um detalhe: o compositor não foi convidado para a festa de lançamento. “Acho que eles esqueceram”, lamenta Riachão complementando que assistiu tudo pela tevê e ficou emocionado.

Marival Guedes é jornalista e escreve crônicas aos domingos no Pimenta.