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Ailton Silva

Foi simplesmente genial a idéia do CQC de doar um televisor de plasma para uma escola da rede municipal de Barueri e monitorar o seu destino. Na terceira temporada do programa, os meninos do “Custe o Que Custar”, que é veiculado nas noites de segunda-feira pela TV Bandeirantes, decidiram medir o nível de honestidade dos gestores e servidores públicos do município paulista.

No final do ano passado, a turma do CQC instalou GPS e alarme e doou o aparelho para a Secretaria de Educação de Barueri para que o mesmo fosse utilizado por alunos de uma das escolas da rede municipal. A história terminaria por aí, não fosse a desonestidade de funcionários da Escola Tarso de Castro.

O aparelho de última geração foi levado para a casa por uma funcionária e era utilizado como se lhe pertencesse. No quadro “Proteste Já” desta segunda-feira, 22, o CQC mostrou como o televisor era usado pela família de uma servidora pública. O GPS permitiu que o aparelho fosse monitorado 24 horas.

Constatadas as irregularidades, os meninos do CQC, que por sinal é melhor programa de humor da televisão aberta brasileira, foram até a Secretaria Municipal de Educação saber em que escola estava o aparelho. O secretário Celso Furlan (irmão do prefeito), sem saber que o televisor era monitorado, apressou-se em informar que estava sendo utilizado por alunos de uma das escolas da rede municipal.

No local, na verdade, o aparelho ficou por muito pouco tempo. O engraçado foi a funcionária tentado devolver o produto roubado da escola. Coloca o televisor no carro e é perseguida até a escola; descontrolada, tenta voltar e, no final, encurralada, acaba devolvendo o aparelho de onde nunca deveria ser saído.

Mais interessante ainda foram as desculpas apresentadas para tentar justificar o roubo. A diretora da escola alegou que o televisor foi retirado da escola para que os carnais fossem sintonizados. Isso por um período de mais de quatro meses. Sem explicação. As perguntas dos repórteres Rafinha Bastos e Danilo Gentil, apesar de básicas, foram sensacionais, muito bem casadas com imagens.

Hilário também foi a reação do prefeito de Barueri, Rubens Furlan (PMDB), ao ser questionado sobre a ação da servidora pública. Ao invés de ficar indignado com o mau exemplo da funcionária desonesta, partiu para o ataque aos integrantes do CQC, os chamando de babacas, entre outros adjetivos peculiares de um político descontrolado.

Depois, ao perceber a merda que havia falado, decidiu fazer média com o programa. Não tinha mais jeito. Ah! Uma semana antes, o mesmo Rubens Furlan ingressou na justiça e uma juíza proibiu e veiculação do “Proteste Já” alegando falta de “direito de resposta”. Isso mesmo, direito de resposta de uma matéria que nunca havia sido veiculada. O Tribunal de Justiça de São Paulo colocou ponto final na aberração jurídica.

Elaborada com muito bom humor, a matéria mostra que a desonestidade está enraizada em quase todos os escalões da administração pública. Ela atinge do simples servidor ao prefeito, ao deputado, ao governador. Fiquei imaginado como seria a colocação de um chip no dinheiro que é pago pela coleta de lixo, pela reforma da escola e a construção do hospital.

Seria uma festa de políticos flagrados levando os seus 10%. Seria uma farra de liminares impedindo a veiculação das matérias?Talvez, no Brasil, quase tudo é possível.

O certo mesmo é a falta punição para políticos corruptos. Muitos semi-analfabetos, que nunca estudaram nem trabalharam na iniciativa privada, mas são ricos porque se tornaram PhDs na roubalheira.

Eles respondem a dezenas de processos por desvio de dinheiro, mas aí a justiça não funciona. O que justifica um pobre, analfabeto, que não ganhou na loteria, não herdou bens, tornar-se um dos homens mais ricos do Brasil? Viva a idéia genial do CQC! Vamos colocar chip no dinheiro público, vamos investigar e condenar. Tá na hora. Brincadeira, não vai acontecer tão cedo. Olha que sou otimista, viu.

Ailton Silva é jornalista, editor de A Região e do Jornal das Sete, da Morena FM.