Tempo de leitura: 2 minutos

marivalguedesMarival Guedes | marivalguedes@gmail.com

Para driblar a censura, Chico Buarque adotou o pseudônimo Julinho da Adelaide. Com três composições, foi delatado e os censores passaram a exigir documentos. Morreu Julinho.

Designado a solicitar liberação das músicas de um festival em Itabuna, fui à Divisão de Censura de Diversões Públicas da PF em Salvador. O agente proibiu a letra de uma composição e esbravejou: vai ter gente nossa lá, se tocar o festival acaba.

Não se tratava de ameaça, era um aviso. Estávamos em 76, período da cruel ditadura militar. Grupos paramilitares havia invadido o teatro Ruth Escobar e espancado atrizes e atores da peça Roda Viva (Chico Buarque e José Celso Martinez).

Já na gravadora Philips, o Exército quebrou os compactos da música Apesar de você. A canção havia sido liberada, mas Sebastião Nery publicou em sua coluna que seus filhos cantavam como se fosse o Hino Nacional.

O jornalista foi intimado e o censor que liberou punido. Chico, quando interrogado, disse que a composição se refere a uma mulher mandona e autoritária.

Tragicômico era o nível de conhecimento de quem julgava o que população poderia ter acesso. Por exemplo, o livro O vermelho e o negro foi proibido por que o título parecia “coisa de comunista”. A obra é do francês Stendhal, escrita em 1830.

Outra hilária, agentes do Dops invadiram o Teatro Municipal de SP para prender o autor de Electra, o subversivo Sófocles. “Ficou difícil”, o dramaturgo morreu na Grécia há quase 2.500 anos.

Para driblar a censura, Chico Buarque adotou o pseudônimo Julinho da Adelaide. Com três composições, foi delatado e os censores passaram a exigir documentos. Morreu Julinho.

Ainda sobre Chico, no autoexílio na Itália recebeu a visita de Toquinho que compôs uma música e pediu pra ele escrever a letra. Nasceu Samba de Orly. Quando retornou ao Brasil, mostrou a Toquinho na presença de Vinicius.

Só para participar, o poeta pediu pra trocar os versos pede perdão/ pela duração dessa temporada, argumentando que a frase era muito branda para quem passou tanto tempo na Itália. E sugeriu: “Pede perdão/Pela omissão um tanto forçada.”

A censura cortou exatamente estes versos. Quando Toquinho telefonou pra Vinicius, ele respondeu: “a frase eles podem proibir, mas a parceria não.” E o nome do poeta foi mantido na autoria.

Marival Guedes é jornalista e escreve crônicas semanais no Pimenta.

Tempo de leitura: 3 minutos

Armando Nuvem (com os pés no chão e a cabeça no sobrenome)

convite-a-nuvem-3TUDO A MESMA M…

Encontrei um livro bem interessante, recém-lançado, no qual o quase octogenário jornalista Sebastião Nery conta histórias de décadas de atuação no jornalismo.

Nery é de Jaguaquara, mas iniciou sua carreira em Belo Horizonte e depois veio trabalhar no Jornal da Bahia. Quando ACM perseguiu e conseguiu acabar com a publicação, Nery foi para o A Tarde.

Das muitas histórias contadas pelo jornalista, uma é sobre um tio-avô dele, coronel poderoso em Jaquaquara, lá pela década de 30. Certa vez, o homem ficou de birra com a família e resolveu viajar pelo mundo, para espairecer.  Depois de muito tempo sem dar notícias, mandou uma carta para as filhas, afirmando que a raiva tinha passado e contando seu itinerário.

Algo mais ou menos assim:

“Meninas, minha zanga já terminou. Está na hora de voltar. Peguei um vapor na Bahia, passei pelo Rio, saltei em Gênova, vim para Roma. É a Bahia com o Papa. De Roma fui de trem a Paris. É o Rio sem mar. De Paris, para Berlim. É São Paulo com mais fábrica. Como vocês veem, o mundo é todo a mesma merda.

A bênção de seu pai”.

***

ESCRITORES CONTRA

João Ubaldo não quer nem ouvir falar na ponte sobre a Baía de Todos os Santos. Hélio Pólvora também não curte a ideia, por considerá-la cara e imaginar que haja outras ações na fila, que deveriam gozar de maior prioridade.

Quem se serve do transporte precário da caótica TWB diz que João só vai a Itaparica uma vez por ano e não fica por lá mais de uma semana. E Hélio, nem isso. Por isso são contra a ponte.

***

PERNAS-DE-PAU

O time do Capitão bate cabeça e segue na lanterna do campeonato. Ou ele organiza o esquema tático e substitui algumas peças que não se encaixam, ou não vai conseguir reverter a situação, que já começa a se tornar vexatória.

O “baba”tá feio.

***

MENINO TRAQUINO
O administrador da Fazenda andou querendo pular a cerca e invadir a área da Educação. Houve conflito, corre-corre, princípio de debandada, mas a invasão acabou sendo repelida. A ordem agora é aumentar a altura da cerca, para impedir novas invasões.

Já se sabe que o traquino é membro do MST (Movimento do Sempre Tirando).

***

CRISE
Ouviram-se choros convulsivos na manhã deste domingo, na casa do prefeito de Salvador, João Henrique. Dona Maria Luiza tentava consolar, nada. O berreiro começou assim que o homem recebeu o jornal A Tarde e soube da gravação da conversa em que Geddel o define como pessoa inconfiável.

João ficou roxo de raiva. Aliás, parece que a cor era mais pra vermelha.
PT, saudações.

***

OS 100 ANOS DE RUY
O publicitário Ruy Carvalho chega aos 100 anos, com carinha de 50. Está aí um verdadeiro Highlander em terras grapiúnas. Verdadeiro fenômeno!

Digitalizar
Anúncio publicado em nossos jornais