Tempo de leitura: < 1 minuto
Trabalhadores rurais foram tomados reféns ontem à noite (Foto Gilvan Martins).
Trabalhadores rurais foram tomados reféns ontem à noite (Foto Gilvan Martins).

O Diretório Estadual do PT decidiu suspender as eleições diretas do partido em Buerarema, no sul da Bahia. A decisão foi tomada devido ao clima de tensão e ameaças contra uma das chapas que disputam o comando do diretório municipal e que é composta por oito índios ou autodeclarados tupinambás.

Nesta tarde, o deputado federal Geraldo Simões disse que a Estadual do partido optou pela suspensão do Processo de Eleição Direta (PED) no município. O clima de tensão aumentou ainda mais ontem, quando supostos tupinambás fizeram reféns 15 produtores e trabalhadores rurais na região do Sururu, como informou em primeira mão o PIMENTA ontem à noite (confira aqui).

Ontem e hoje, produtores circulavam com carro de som convocando a população a impedir o PED do PT. Um dos argumentos era o de que uma das chapas é composta por tupinambás e autodeclarados tupinambás. Na última terça (5), a presidência da Câmara de Vereadores de Buerarema ainda hesitavam em liberar o espaço para a eleição do partido, e cogitou acionar a Polícia Federal e a Força Nacional de Segurança para inibir atos violentos na sede do município.

Tempo de leitura: < 1 minuto
Produtores já fizeram vários protestos contra as ocupações
Produtores já fizeram vários protestos contra as ocupações

Em um “manifesto de solidariedade” aos produtores rurais que tiveram terras ocupadas por índios tupinambás na região de Buerarema, o Grupo de Ação Comunitária de Itabuna (GAC) levanta uma tese de que os indígenas estariam recebendo recursos de governos estrangeiros.

– Há fortes suspeitas de que o dinheiro vem de governos estrangeiros que não produzem algumas de nossas riquezas e que as querem, sendo mais fácil consegui-las nessas mãos pouco hábeis a negociar, como os “índios” e os “sem terra” – diz o texto do GAC, que é também subscrito por outras instituições itabunenses, como CDL, Rotary, Lions e lojas maçônicas.

O texto acusa os tupinambás de utilizar “armamento pesado” nas ocupações e questiona inclusive a origem indígena dos invasores:

– Seriam Tupiniquins (extintos no século XVIII), Pataxós (tentativa de nominá-los a partir da década de 90) ou os Tupinambás de agora, que não estão registrados em nenhuma literatura sobre a sua existência nesta região? – indaga o documento.

O GAC menciona produtores que perderam suas propriedades e defende uma “interferência dura” do Governo Federal para acabar com o conflito na região.

Tempo de leitura: 2 minutos
Bispo Dom Ceslau (ao centro) com lideranças políticas e rurais em café da manhã (Foto Divulgação).
Bispo Dom Ceslau (centro) com lideranças políticas e rurais em café da manhã (Foto Divulgação).
Cardozo terá audiências em Salvador (Foto Agência Brasil).
Cardozo terá audiências em Salvador (Foto Agência Brasil).

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, frustrou expectativas e tratará do conflito entre produtores rurais e índios tupinambás a mais de 400 quilômetros de distância das terras em disputa. A agenda da autoridade federal foi confirmada pela assessoria e também pelo governo baiano. As audiências serão realizadas amanhã (25) somente em Salvador.

Conforme a agenda divulgada, Cardozo se reunirá com o governador Jaques Wagner na parte da manhã desta sexta (25). À tarde, a partir das 14h, Wagner e o ministro da Justiça concedem audiência – em separado – a representantes dos produtores rurais e dos indígenas, às 14h e às 16h. As audiências serão realizadas no Salão Azul da Fundação Luís Eduardo Magalhães (Flem), na capital baiana.

Havia grande expectativa de que o ministro viesse ao sul da Bahia para conhecer, de perto, a realidade e o sofrimento causado pela disputa nos municípios de Buerarema, Ilhéus e Una. Agora, resta a esperança de que o governo federal decida sobre a questão, não empurrando a solução para a Justiça. Do lado dos indígenas, a expectativa é de que seja mantido a portaria de demarcação da Funai.

Ontem, o PIMENTA conversou com uma das lideranças dos produtores em Buerarema. Presidente da CDL local, Alfredo Falcão disse que estava preocupado com o que poderia acontecer. “As invasões continuam. O caos agora está vindo para a cidade”, disse, lembrando que áreas públicas foram invadidas.

Falcão diz que, há três anos, teve propriedade invadida. A Fazenda Serra da Palmeira foi tomada por autodeclarados tupinambás.

Nos cálculos do comerciante, o prejuízo atinge 22 mil pessoas nas áreas em disputa. São 47 mil hectares disputados por produtores e índios e autodeclarados tupinambás.

O município de Buerarema é o mais atingido economicamente com as incertezas em torno da demarcação de terras. “Houve redução nas vendas em torno de 20% a 30%”, disse Falcão, lamentando que até agora não possa deflagrar campanha natalina no comércio.

REUNIÃO COM O BISPO DOM CESLAU

Na última terça (22), os produtores se reuniram em café da manhã com o bispo da Diocese de Itabuna, Dom Ceslau Stanula. A autoridade religiosa ficou emocionada com relato de um produtor que perdeu propriedade e tem vivido da ajuda de comerciantes. A reunião ocorreu na casa paroquial em Buerarema.

Dom Ceslau disse que não tinha poder de decisão, mas o encontro servia para que a igreja ficasse a par do que está acontecendo na região do conflito.

Tempo de leitura: < 1 minuto
Cardozo ouve produtores e parlamentares e anuncia medidas em audiência.
Cardozo ouve produtores e parlamentares e anuncia medidas em audiência.

A audiência de aproximadamente duas horas de produtores rurais do sul da Bahia e políticos com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, resultou em promessa de mesa de negociação e anúncio de reforço no esquema de segurança na área reivindicada pelos tupinambás. A audiência ocorreu no gabinete do ministro, em Brasília.

Cardozo disse que vai procurar o governador Jaques Wagner para solicitar apoio da estrutura de segurança pública, principalmente da Polícia Civil. O ministro sensibilizou-se com o drama do pequeno agricultor “Messias”. Chorando, ele narrou as dificuldades enfrentadas por ele e outros agricultores e disse não ter passado fome porque tem apoio de comerciantes e políticos. Cardozo prometeu interceder para que o governador baiano assegure auxílio aos produtores desamparados, parte deles acampada em praça pública.

A audiência gerou clima de expectativa no município. Os representantes dos produtores levaram documentos e informações tanto do processo de demarcação quanto das disputas recentes. Cardozo disse que necessitava de “paz” (tempo) para tomada de outras decisões e, também, necessitava ouvir a representação tupinambá.

Os produtores foram representados, além de Messias, por Luiz Uaquim, em reunião que contou com reforço dos deputados federais Félix Mendonça, Josias Gomes e Geraldo Simões, além da senadora Lídice da Mata. Simões defende que o processo de demarcação de terras seja extinto.

Tempo de leitura: 2 minutos
Pelotão da PM tentou em vão liberar o tráfego na BR-101.
Pelotão da PM tentou em vão liberar o tráfego na BR-101.

A BR-101 está interditada há quase quatro horas, no trecho de Buerarema (reveja aqui), e os manifestantes, a maioria produtores rurais, cobra um retorno do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para liberar a rodovia. Os agricultores entendem que o Ministério da Justiça “lavou as mãos” quanto à disputa pelos 47 mil hectares com os índios tupinambás.

Nem mesmo o grande efetivo das polícias rodoviárias Estadual e Federal e da Polícia Militar fez dissuadir os manifestantes. Em agosto, quatro veículos oficiais foram incendiados durante os protestos. “Os produtores querem a garantia de que o ministro fará visita ao município”, disse o vereador Elio Almeida Júnior (PDT) ao PIMENTA.

Vereadores de Buerarema fizeram contato com o articulador de política do campo da secretaria-geral da Presidência da República, Nilton Godoy, para tentar retorno do ministro da Justiça. Godoy informou que faria os contatos, mas não sinalizou se haveria retorno. O PIMENTA buscou contato com o articulador, mas o telefone estava ocupado.

Barricadas com madeira e pneu foram incendiadas para interditar rodovia.
Barricadas com madeira e pneu foram incendiadas para interditar rodovia.

Atualizada às 22h21min – O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, entrou em contato com a comissão federal que negocia com os manifestantes. Cardozo teria espaço na agenda para o dia 10, quando receberia, no máximo, 10 representantes dos produtores. A audiência seria em Brasília. A proposta foi rejeitada pelos agricultores.

Policiais observam barricada e movimentação dos manifestantes.
Policiais observam barricada e movimentação dos manifestantes.

Há pouco, a tropa de elite da PM iniciou movimentação para tentar liberar a pista. Do outro lado, cerca de 3 mil manifestantes reagiram. Os ânimos estão exaltados.

 

Tempo de leitura: < 1 minuto
Poucos deputados compareceram à audiência até agora.
Poucos deputados compareceram à audiência até agora.

A audiência pública na Assembleia Legislativa baiana, para tratar dos conflitos fundiários nos municípios de Buerarema, Ilhéus e Una, começou há quase uma hora e reúne, até o momento, apenas 7 dos 63 deputados estaduais. São eles Ângela Sousa, Augusto Castro, Yulo Oiticica, Timóteo Brito, João Carlos Bacelar, Rosemberg Pinto e Pedro Tavares. Por enquanto, dos deputados federais que tinham se comprometido a partir da audiência, apenas Geraldo Simões compareceu.

O conflito envolve pequenos produtores e índios tupinambás. Os tupinambás reivindicam uma área superior a 47 mil hectares, que abrange os três municípios sul-baianos. Além da baixa presença de deputados estaduais, a audiência não tem representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), Justiça Federal nem do Ministério Público Federal. Na mesa do evento, os produtores são representados por Luiz Uaquim.

De acordo com a assessoria, todos os órgãos foram convidados. Os tupinambás também não enviaram representantes. A audiência conta com aproximadamente 400 pequenos agricultores. A depender do resultado da audiência, eles podem realizar manifestação logo após o compromisso no legislativo estadual, segundo fontes do PIMENTA. O evento começou com 40 minutos de atraso.

Tempo de leitura: 2 minutos

Vereadores com os deputados Augusto, Nilo e Rosemberg (Fotomontagem Pimenta).
Vereadores com os deputados Augusto, Nilo e Rosemberg (Fotomontagem Pimenta).

Conflito em Buerarema deixou rastro (Foto Gilvan Martins).
Carros incendiados em protesto (Foto Gilvan Martins).

Cerca de 300 pequenos produtores rurais dos municípios de Una, Ilhéus e Buerarema vão participar, na próxima segunda-feira, 23, às 9h, de audiência pública na Assembleia Legislativa da Bahia para discutir o conflito com índios tupinambás.

A Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública do legislativo estadual vai ouvir produtores, índios e representantes da Funai, do governo estadual e do Ministério da Justiça. Da audiência, devem participar deputados federais e estaduais.

Ontem, dois vereadores de Buerarema – Gildásio Gonzaga (PCdoB) e Elio Almeida Júnior, conhecido como Elinho (PDT) – passaram o dia na Assembleia Legislativa cuidando de detalhes logísticos da audiência pública. Segundo eles, os deputados Marcelo Nilo, que preside o legislativo, Augusto Castro (PSDB) e Rosemberg Pinto (PT) garantiram condições para a ida dos produtores.

– É importante que nossos deputados, não apenas os sul-baianos, participem desta audiência, pois estamos tratando de uma situação que atinge três municípios e causa prejuízos à economia regional – disse Elinho.

Para Elinho e Gildásio, autoridades ainda não deram a importância devida à questão que já resultou em mortes e exigiu reforço policial na área em disputa. Os tupinambás reivindicam 47 mil hectares de terras situadas em três municípios (Una, Buerarema e Ilhéus).

A audiência foi marcada para a próxima segunda-feira para possibilitar a participação, também, de deputados federais, o que ficou acordado entre produtores, Comissão de Direitos Humanos da Alba e parlamentares. “Esperamos e precisamos contar com o máximo de apoio dos nossos deputados baianos”, disse o vereador Gildásio Gonzaga.

Tempo de leitura: 5 minutos

walmirWalmir Rosário | wallaw1111@gmail.com

Nem passava pela cabeça deles perder tudo o que fizeram ao longo dos anos para bandidos travestidos de índios, com o beneplácito governamental. Mas é a vida!

A guerra civil está perto de nós que nem notamos. Ou fazemos questão de não notar. O sentimento de sofrimento e a apreensão por que passa a população dos municípios de Ilhéus, Una e Buerarema não tem chegado aos conterrâneos vizinhos, que assistem, de camarote, a maior ação de banditismo já praticada no Sul da Bahia. Essas invasões e agressões praticadas por pseudos índios aos produtores rurais fariam corar os coronéis do cacau e seus jagunços, transformando-os em anjos de candura e bondade.

A crescente desmoralização do Estado nos traz a necessidade iminente de uma reflexão sobre tão importante tema na vida da sociedade moderna. Gerido por pessoas, o Estado, como uma instituição, deve estar acima do interesse de grupos ou partidos políticos, sob pena de ingressamos no poço sem fundo da anarquia. Mas, infelizmente, esse cuidado não tem sido objeto de preocupação do governo atual, ao contrário, é instado a servir como ferramenta para a consecução dos seus interesses.

Por uma questão de economicidade e de “não chover no molhado”, como diz o ditado popular, não entraremos no mérito de questões várias da apropriação de valores e materiais do patrimônio do Estado, como sobejamente vêm sendo divulgado na mídia. Isto porque já se encontram sob a tutela policial (investigação), Ministério Público (denúncia) e do judiciário (julgamento), como é o caso do Mensalão e de outros casos.

Aqui trataremos, apenas da atrocidade que vem sendo cometida pelos que estão à frente das instituições basilares responsáveis pela sustentação de qualquer país democrático: Executivo, Legislativo e Judiciário. No caso em questão, os agentes do Executivo cometem erros históricos, mascarando situações, elaboram relatórios mentirosos, transformando regiões produtivas em reservas indígenas, para quem não possui referência Tupinambá. Um simples exame de DNA comprovaria. E o Legislativo não está nem aí, sob os olhares complacentes do Judiciário. Uma farsa!

Leia Mais

Tempo de leitura: < 1 minuto
Ministra informa que demarcações estão suspensas (Foto Antonio Cruz/ABr).
Ministra informa que demarcações estão suspensas (Foto Antonio Cruz/ABr).

O deputado Geraldo Simões participou, na noite dessa quarta-feira (11), de reunião com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (foto), que analisou o processo de demarcação de terras indígenas no País e os conflitos na Bahia. A reunião contou com a participação dos ministros da Agricultura, Antônio Andrade, do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, da Justiça, Eduardo Cardozo, e da Advocacia-Geral da União, Luiz Inácio Adams, além de vários parlamentares de todo o Brasil.

De acordo com Geraldo Simões, a ministra Gleisi Hoffmann afirmou que, como havia prometido, os processos de demarcação estão suspensos enquanto se busca uma solução para os problemas, de maneira a garantir a paz. “O Governo vai propor um novo processo para decidir sobre as terras indígenas”, declara.

A proposta, inicialmente, é que a decisão seja tomada em comum, com a participação de diversos órgãos, como o Ministério do Desenvolvimento Agrário, da Agricultura, Meio Ambiente, Cidades, entre outros.

Na próxima semana o Governo Federal vai instalar uma Mesa de Negociações na região Sul da Bahia, especificamente na região de Buerarema, Una e Ilhéus. “Aproveitei a ocasião para explicar como estavam ocorrendo as demarcações e porque elas estão provocando conflitos”, afirma Geraldo.

Informações do Blog O Trombone.

Tempo de leitura: < 1 minuto
Diane e Jabes preferem o silêncio, apesar do clima de tensão na área tupinambá (Fotos Tabu Online e A Região).
Diane e Jabes preferem o silêncio (Fotos Tabu Online e A Região).

O confronto entre produtores rurais e índios tupinambás já registrou um produtor baleado e um índio morto. Os dois casos ocorreram na região entre Ilhéus e Una. Registre-se o silêncio dos prefeitos Jabes Ribeiro (Ilhéus) e Diane Rusciolelli (Una) na questão nestes dias tensos.

Quem assiste a certa distância, pode ter a falsa impressão que o conflito restringe-se a Buerarema. Dos mais de 47 mil hectares em disputa, mais de 20% estão em área ilheense, principalmente Olivença. Não se sabe de articulação, de participação dos dois prefeitos no caso. Até mesmo as câmaras municipais dos dois municípios não se movimentam.

Tempo de leitura: < 1 minuto
Força Nacional está há 20 dias na região do conflito (Foto Gilvan Martins).
Força Nacional está há 20 dias na região do conflito (Foto Gilvan Martins).

Homens da Força Nacional de Segurança foram alvos de tiros disparados por índios tupinambás, no último sábado (7), quando guarnições escoltavam famílias que foram à Fazenda São Pedro para retirar os últimos pertences. As duas guarnições tiveram que retornar, segundo fontes ouvidas pelo PIMENTA. O episódio não foi tornado público.

Após as guarnições da Força Nacional serem recebidas à bala na região de Serra das Trempes, a missão retornou a Buerarema e somente conseguiu voltar à fazenda na manhã de domingo (8) para recuperar objetos e móveis dos produtores expulsos. Desta vez, com reforço. O blog não conseguiu falar com o comando da FNS em Buerarema.

A fazenda é a mesma onde o trabalhador rural Adailton Santos, de 50 anos, foi baleado na madrugada da última terça (3) e dias depois mataram um índio pataxó identificado como Edilson Gonçalves dos Santos.

A hipótese mais provável é que ele tenha sido assassinado por um tupinambá. Apesar de ser pataxó, Edilson teria ido se abrigar na Serra das Trempes como auxílio aos tupinambás no conflito. A polícia tem o nome do suspeito do assassinato, um homem que se autodeclarou índio há pouco tempo e é filho de produtor rural. 

Tempo de leitura: < 1 minuto
Conflito deixou Buerarema em situação caótica
Conflito deixou Buerarema em situação caótica

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa da Bahia confirmou, na manhã desta terça-feira, 10, o agendamento de uma sessão especial para o próximo dia 23, com o objetivo de discutir o conflito entre pequenos produtores e grupos que se autodeclaram como pertencentes à etnia tupinambá na região da Serra do Padeiro, em Buerarema.

A intenção de promover a discussão na Assembleia havia sido antecipada no dia 5, quando deputados estiveram em Itabuna e em Buerarema, a fim de colher informações e produzir um relatório sobre o conflito. Porém, na ocasião, os parlamentares ouviram apenas relatos de produtores rurais.

Uma proposta do deputado Yulo Oiticica (PT), também aprovada nesta terça, determinou a formação de uma subcomissão que deverá ir até a Serra do Padeiro para ouvir lideranças ligadas aos índios tupinambás, em data ainda a ser definida, mas antes do dia 23. Segundo Yulo, seria impossível construir um relatório sem ouvir as duas partes envolvidas.,

A subcomissão que ficou encarregada de escutar “o outro lado” é formada pelo próprio Yulo, além dos deputados Rosemberg Pinto (PT), Pedro Tavares (PMDB) e Augusto Castro (PSDB).

Tempo de leitura: < 1 minuto

Wagner confirma fábrica em Itororó (Foto Pimenta).

O governador Jaques Wagner confirmou que irá a Brasília para discutir o conflito entre índios e pequenos produtores rurais no sul da Bahia. A audiência com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deve ocorrer ainda esta semana.

A situação de Buerarema foi destacada hoje (10) no programa Conversa com o Governador, produzido pela Secretaria da Comunicação do Governo da Bahia. Wagner disse estar atento e “em contato direto com o governo federal, esperando que a gente possa ter um desfecho tranquilo, negociado, para que a paz possa reinar na região”.

O governador declarou ainda que o processo de demarcação em Buerarema ainda está sujeito a questionamentos judiciais e sugeriu, como melhor caminho, “fazer uma negociação para a saída dos não-índios, pagando todas as benfeitorias”.

Sobre os produtores, Wagner observou que não se trata de latifundiários. “São várias famílias, com 60, 70, 80 anos que estão na terra, plantando mandioca, cacau, sobrevivendo disso”.

Tempo de leitura: 4 minutos

GONÇALVES DIAS E SEUS ÍNDIOS HEROICOS

1ÍndiosOusarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

Adianto à gentil leitora e ao atento leitor que venho de tempos em que falar bem de índio não me fazia candidato a Judas de Sábado de Aleluia. Por isso decorei vastos trechos de I-Juca Pirama, o longo poema de Gonçalves Dias (1823-1864), com aqueles indígenas heroicos, grandiosos, valentes, que tanto me emocionaram – e, acabo de ver, ainda me emocionam. Pois é que voltei àquela fonte da infância, de onde tirei estas expressões: “caiu prisioneiro nas mãos dos Timbiras”; “as almas dos vencidos Tapuias, ainda choram”; “vaguei pelas terras dos vis Aimorés”; “quero provar-te que um filho dos Tupis vive com honra” – creio ser suficiente.

________________

 Academia de vestido longo e salto alto

A universidade brasileira, ainda elitista, arrogante, de vestido longo e salto alto (ou de fraque e bengala), costuma valer-se de linguagem própria, altissonante e, muitas vezes, vazia e ociosa. É o jargão que a identifica e isola, pois, deliberadamente, não atinge os mortais comuns. É bem o caso desse “índios Tupinambá” que a academia emana em flagrante agressão à lógica da linguagem. Gonçalves Dias há de ser copidescado: “nas mãos dos Timbira”, “vencidos Tapuia”, “terras dos vis Aimoré”, “filho dos Tupi” – e por aí vai esse festival de esnobismo. E a mídia, com seu pendor para a repetição, copia e engole tais sandices sem mastigar.

 ________________

3BueraremaForma clássica, sem rasuras ou emendas

“Meninos, eu vi!”: agora mesmo, à luz do fogaréu em que Buerarema ardeu, grupos de estudiosos da questão indígena em Porto Seguro se pronunciaram, denunciando a reincidência de ações violentas na região. É ótimo que se manifestem, mas dispensável é esse festival de “apoio aos Tupinambá” e “conflitos entre índios Tupinambá e fazendeiros”. Penso que com “índios Tupinambá” se queira dizer “índios (da etnia) Tupinambá, obviamente uma complicação (elipse?) desnecessária. É como escolher a linha curva para ir de um ponto a outro. “Índios Tupinambás” é a forma clássica, nos bons autores, que dispensa qualquer tipo de rasura ou emenda.

| COMENTE! »

UM OFFICE BOY COM O DOM DA UBIQUIDADE

Leio (ah, a universalidade da internet!) que o office boy Eduardo Carlos de Santana Jr., na flor dos seus 27 anos, foi condenado a sete anos e meio de cadeia por participar de assalto a uma loja de material de construção no bairro Vale dos Reis, em Cariacica/ES. Descubro mais: o Eduardo em apreço está foragido, daí a intimação de sentença, publicada no Diário da Justiça, afirmar que o condenado “encontra-se em lugar incerto e não sabido”, por isso sendo intimado por via do Edital. A expressão “lugar incerto e não sabido” é jargão dos cartórios (juridiquês) que atenta contra a saúde da língua portuguesa.
_________________

5ForagidoDesatenção com a gramática e a lógica

A prática, não raras vezes, consegue mudar a teoria (aliás, nada digo de novo, pois é no dia a dia do escrever e, mais ainda, do falar, que a língua se forma e se transforma). Neste caso, o princípio teórico, a lei, fala em citar pessoa em lugar incerto, não sabido ou indeterminado – atendendo à verdade de que o réu não é onipresente, não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Operadores que não leram a regra com atenção vulgarizaram o “incerto e não sabido”, em detrimento da gramática e da lógica: incerto é “indeterminado”; não sabido, “ignorado”. Diga-se, então, “incerto ou não sabido”, sem traumas à norma.

|   COMENTE! »

LETRA DE MÚSICA PARA TESE DE MESTRADO

Dizer que Querelas do Brasil, de Aldir Blanc, é trocadilho com Aquarela do Brasil, de Ari Barroso, é verdade, mas muito pouco. Trata-se de letra “grande” demais para ser analisada em coluna de amenidades, tema para ensaio, tese de mestrado, essas coisas da mais alta responsa: o termo, segundo o Priberam, tem significados principais de discussão, debate, contestação; em lugar da aquarela, a querela não é mais exaltação, é desconstrução do modelo ufanista, louvação de outros valores, para mim sendo o maior deles a língua brasileira inculta e bela. Aldir abusa da sonoridade, ressuscita palavras, colhe outras em matrizes índias e negras: “Jererê, sarará, cururu, olerê/ blablablá, bafafá, sururu, olará”.
________________

7Jobim-AçuDos sertões de Guimarães a Jobim-açu

É notável a “louvação” que o poeta faz de grandes nomes das artes brasileiras, muitas vezes fundindo palavras. Lá estão “sertões, Guimarães” (lembrança de Guimarães Rosa e seu ambiente romanesco), “Caandrades” (sobre os Andrade: Drummond, Mário e Oswald), “Marionaíma” (fusão de Mário de Andrade e Macunaíma), “Bachianas” (referência direta às Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos), “Tinhorão” (homenagem ao crítico musical José Ramos Tinhorão). Porém, o mais louvado de todos é Tom Jobim, com acréscimos que sugerem “grandeza”: “Jobim-açu” (açu é “grande”, em tupi), Jobim akarore (akarores são índios gigantes) e Ujobim (alguma coisa como Jobim pai).É o Brasil que o Brazil não conhece, de que fala o refrão.

 _________________

O Brasil que pode socorrer o Brasil

É curiosa a oposição Brasil/Brazil (com grafia e pronúncia distintas), como a confrontar “brasis” diversos: “o Brazil não conhece o Brasil/ o Brasil nunca foi ao Brazil”. Esta dicotomia vai confluir para uma espécie de sub-refrão em que desaparece o Brazil, e o Brasil ressurge a pedir socorro… ao Brasil. O autor parece querer dizer que as soluções dependem de nós mesmos. (Parte da “erudição” mostrada neste texto foi apreendida de um estudo publicado por Jussara DalleLucca, que explica o significado dos estranhos termos empregados por Aldir Blanc). E quase não tive espaço para dizer que Elis Regina, como sempre, está à altura desta forte mensagem política, de 1979, do autor de O bêbado e o equilibrista (1978).

 O.C.

Tempo de leitura: < 1 minuto

Entre os que contestam a real existência de tupinambás no sul da Bahia, convencionou-se chamá-los de “supostos índios”. Por outro lado, os que defendem a causa indígena rebatem, chamando pequenos produtores de “supostos fazendeiros”.

No grupo mais equilibrado, prevalece o entendimento de que existem índios e produtores de verdade, assim como falsificações nas duas trincheiras.

Repórteres que cobrem o conflito em Buerarema já detectaram, por exemplo, figuras “estranhas” nas manifestações de produtores na BR-101.

Entre os mais violentos, há manifestantes que aparentam estar sob efeito de drogas e exibindo aquelas tatuagens que bandidos utilizam para indicar a facção a que pertencem ou a modalidade de crime na qual são especialistas.

Esses são, de fato,  “supostos fazendeiros”, e há suspeita de que vêm sendo contratados e pagos para ultrapassar os limites nos protestos. Leia-se: incendiar carros, promover saques e agredir pessoas. No outro lado do campo de batalha, há também informações sobre muitos não-índios infiltrados e formação de milícias.

Uma certeza que fica no ar: quanto mais “supostos” se envolvem no conflito, mais este se afasta da solução.