Canavieiras em mais um registro de enchente na Capital do Caranguejo || Foto Walmir Rosário
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Apesar do rigor que o caso requeria, com pose de autoridade e boxeador, Valdemar Broxinha foi logo apresentando a solução: “A doutora tem que chamar o prefeito às falas, pois essa não é a maneira correta de tratar uma autoridade como Vossa Excelência, ainda mais não pagando as contas devidas”.

 

Walmir Rosário

Já diziam os mais antigos que é impossível lutar contra as coisas divinas, ou da natureza, como queiram. E a cada dia os sinais que recebemos ficam mais visíveis, reais. Somente não vê quem não quer. Mas, ousado como sempre fui, acrescento aqui que o tal do homem contribui bastante para acentuar as catástrofes que nos importunam a cada dia que passamos nesta terra.

Não podemos – nem devemos – desconhecer que usamos a ciência para desenvolver nossa vida, embora fechamos os olhos para em temas que não nos interessam, seja pelo alto custo financeiro, ou por puro descaso. O meio ambiente é o mais desprezado e nos atinge em cheio com as chuvas ou a falta delas. Se chove muito pedimos para parar, se a estiagem é prolongada rezamos para chover.

Desde a semana passada que os cientistas do tempo e clima nos alertavam para as fortes chuvas que se abateriam no sul da Bahia, recomendando cuidados especiais aos moradores ribeirinhos e praianos. E pergunto: fazer o quê? Não sair para pescar e evitar os fortes ventos e o mar revolto, ou não enfrentar as estradas para não dar de cara com as barreiras caídas, são simples precauções.

Mas não temos como evitar a força das águas enchendo e transbordando rios, derrubando casas nos morros, causando enormes prejuízos materiais, notadamente junto aos menos abastados financeiramente. Pior, ainda, são os danos morais sofridos por famílias inteiras ao ter que deixar suas casas e se abrigarem – coletivamente – em escolas, estádios de futebol, além de chorar a perda de seus familiares, mortos nos deslizamentos de terra.

Eu, pelo menos, não me sinto consolado com os anúncios dos governantes nas mídias, anunciando verbas a não acabar mais, para a reconstrução de estradas, moradias, construção de novas casas e tudo o mais que puderem prometer. Entra ano e sai ano, pasmem, os recursos não chegam, as obras não são construídas e aos moradores das encostas e baixios só restam rezar aos seus santos padroeiros para continuarem vivos.

Em Canavieiras não é diferente. Se não existem os morros e encostas, sobram rios e riachos em terras planas, muitas delas mais baixas que os cursos d’água e que formam grandes bacias. Quem mora nas redondezas não tem opção e só resta aguardar, pacientemente, as águas baixarem. Muitos deles, de forma inteligente, constroem suas casas no sistema palafita, para se livrarem de prejuízos maiores.

Não pensem os senhores que os prejudicados são apenas os ribeirinhos e moradores das encostas. Com o estrago feito pelas chuvas chega o desabastecimento de víveres, provocando o aumento nos preços, além do corte de outros serviços, a exemplo do fornecimento de energia elétrica, por conseguinte, de água. Pasmem! Quem mora ou morou em Canavieiras sabe muito bem os transtornos causados pela falta da eletricidade.

Neste domingo (23 de abril) à noite, enquanto orava em casa para que São Pedro desse uma trégua, fechando as torneiras celestiais, fomos surpreendidos pela escuridão. Se tínhamos água à vontade, ficamos desprovidos de energia elétrica. Um apagão geral em toda a cidade, nos privando do uso dos avanços da tecnologia, como a internet, o telefone, a televisão e o ar-condicionado. Isso até o dia seguinte.

Situações como essa me remete há muitos anos, quando era bastante comum a falta de energia elétrica em toda a Canavieiras. Por aqui se festejou bastante e até foi decretado feriado quando a Companhia Elétrica Rio de Contas (Cerc) trocou o velho motor pela energia da barragem do Rio de Contas. Foi um avanço e tanto, embora os transtornos continuaram, em escala menor, a bem da verdade. Pelo menos os os dissabores eram levados na gozação.

Veio a Coelba e a energia não resistia a uma pequena chuva por anos a fio. Desde os tempos em que a Cerc imperava as constantes falta de energia elétrica eram creditadas ao humor do chefe local, Valdemar Broxinha, o que não concordo. Penso eu que como Valdemar era implacável com o consumidor inadimplente, todas as culpas pelos apagões recaiam sobre ele, haja vista sua severidade no trato administrativo.

Na Confraria d’O Berimbau, local em que Valdemar Broxinha gozava de largo prestígio, principalmente se chegasse com o violão, era sobejamente comentada as suas peripécias com um influente político mandatário baiano. Os comentários versavam que assim que chegava o avião com a autoridade, ele providenciava um apagão, somente para alimentar os pernilongos com o sangue “azul” do executivo.

De outra feita, ao ser transferido para a vizinha cidade de Itapebi, se encontrava em pleno lazer no clube social, quando foi procurado por um serventuário da justiça, com um chamado urgente. O motivo era simplesmente porque a juíza da comarca se encontrava às escuras, com a energia de sua residência cortada por falta de pagamento. E a culpa não era da magistrada, mas da prefeitura, dona do imóvel, que não pagou a conta da energia.

Apesar do rigor que o caso requeria, com pose de autoridade e boxeador, Valdemar Broxinha foi logo apresentando a solução: “A doutora tem que chamar o prefeito às falas, pois essa não é a maneira correta de tratar uma autoridade como Vossa Excelência, ainda mais não pagando as contas devidas”. E se despediu garantindo que, no dia seguinte, assim que a conta fosse paga,a ligação elétrica seria imediatamente restabelecida.

Valdemar Broxinha sempre foi um homem de palavra. Sofríamos, é verdade, mas era divertido.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Numa análise aprofundada, o retorno das duas instituições líteras, etílicas e mundanas foi por demais proveitoso, com a aprovação da filiação do debutante Miron à Confraria d’O Berimbau, enquanto aguarda a decisão do Clube dos Rolas Murchas. A próxima assembleia promete assanhar os velhinhos.

Walmir Rosário

Finalmente! Agora, sim, comecei a levar fé que o mundo está voltando a ser o mundo de antes, modificado que foi nestes tempos em que a tal da Covid-19 esfacelou tudo de bom que existia neste Brasil de meu Deus e por aí afora. Uma simples convocação feita pelo whatsapp foi prontamente atendida por boa parte dos membros da Confraria d’O Berimbau e do Clube dos Rolas Cansadas.

É certo que não se tratava de uma simples reunião, mas da comemoração do confrade Antônio Alves (que também atende como Tonhão ou Tonhe Elefoa), o que envolve um substancial prato da mais forte culinária. E desta vez foi servido um lauto mocofato, prato de sustança para os que se reúnem para tratar de coisas bastantes sérias numa mesa de bar, sem horário para o fim do encontro.

Como sempre alguns recalcitrantes teimaram em não aparecer, dando como escusas compromissos assumidos anteriormente, hoje em dia uma desculpa indelicada e não levada a sério. Entre os faltosos, o Almirante Nélson, que amarelou, seguido por Valdemar Broxinha, que agora somente comparece aos encontros caso tenha sido anunciado pelo comunicador Mário Tito pelas ondas da Rádio Sociedade da Bahia e mais uns três.

O aniversário – com os tradicionais parabéns pra você –, na verdade, era apenas um pretexto motivador para a presença dos confrades. Dois temas da maior relevância constavam da pauta: o retorno das reuniões semanais às quintas-feiras (Clube dos Rolas Cansadas), de forma itinerante, e aos sábados, no bar Mac Vita, ambiente aberto e ventilado, longe dos perigos dos vírus que circulam por aí.

Mas nem tudo seguiu conforme o planejado, haja vista o comportamento desajustado dos velhinhos após a ingestão de alguns copos de cerveja, tratando de alguns temas extrapauta. A começar pela data do aniversário, que seria no dia 4 de julho, transferido para o dia 5 por Tonhão, por conta da coincidência da independência americana, ficando longe do capitalismo do Tio Sam.

Já a segunda discussão animou os confrades, pelo pagamento de uma dívida. Calma, eu explico. É que no dia 24 de março de 2018, o conceituado Grupo RM, como se intitula (embora maldosos digam que representa Rolas Murchas) veio a Canavieiras exclusivamente para se encontrar com as coirmãs e estabelecer laços de amizade e troca de informações institucionais.

Em Canavieiras, a representação de alto nível, capitaneada pelo presidente Cal e os membros Zé Leite, o saudoso Gileno Alves, Coronel Jamil e Zé Nílton, isso em veículo próprio conduzidos pelo motorista abstêmio Paulo Taquari. Por aqui fizeram uma tournée pelo centro histórico, praia, Igreja de São Boaventura, Bar Laranjeiras, finalizando na Confraria d’O Berimbau.

Recebidos pelos confrades das duas instituições líteras, etílicas e mundanas, trocaram juras de amizade e juraram solenemente manter contatos recíprocos entre as duas sedes: Ilhéus e Canavieiras. Na sede d’O Berimbau a conversa rolou solta até quase o fim da tarde e sessão de fotos, devidamente acompanhadas das melhores cachaças, cerveja bem gelada e comida de sustança.

Como disse que existe a dívida, conto também os motivos que até hoje o motivo da inadimplência, o que tem deixado alguns confrades avexados. E todas as culpas recaem no planejamento (ou falta dele) da viagem a Ilhéus, por conta de Tyrone Perrucho e Demostinho. Os 110 quilômetros que separam as duas cidades não recomendam viagem dirigindo os próprios carros, por questões de absoluta segurança.

A solução foi contratar uma van ou micro-ônibus para a viagem. Aí foi que apareceram os insolúveis problemas: As vans de sete lugares não comportavam os poucos confrades, já os micro-ônibus eram grande demais para fazer a viagem com tão poucos passageiros. Até nos dispusemos a avaliar a proposta do confrade Tedesco, de que nos deslocássemos a Ilhéus de num barco de pesca, ideia abortada pelos frágeis estômagos dos confrades.

Sem encontrar solução, não conseguimos aportar na Barrakitika, sede dos encontros de sábado do Grupo RM. Para que não seja considerada incompetência, já recorremos ao adjutório do Secretário Plenipotenciário d’O Berimbau, Gilbertão, que virá de Santa Cruz Cabrália para definir o compromisso de tal monta. A viagem urge e pelo emocional dos confrades, desse ano não passa.

Numa análise aprofundada, o retorno das duas instituições líteras, etílicas e mundanas foi por demais proveitoso, com a aprovação da filiação do debutante Miron à Confraria d’O Berimbau, enquanto aguarda a decisão do Clube dos Rolas Murchas. A próxima assembleia promete assanhar os velhinhos.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Um amigo meu, cabra bem-sabido, já vendeu uma descoberta sua para uma governadora e um prefeito e descolou uma grana legal com o distanciamento dos carros no estacionamento. O prefeito gostou tanto que mandou interditar uma rua inteira.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Confesso que estou ainda muito confuso, mas não posso me queixar de tudo nesses dias quarentena, embora já passamos cerca de 60 dias engaiolados em casa – com exceção dos teimosos fujões – “debaixo de ordens”, como diz meu amigo Valdemar Broxinha. Às vezes chego a pensar que não “ando bem das bolas” ouvindo os poderosos da política e da imprensa afirmarem que preciso continuar no isolamento social.

Aqui pra nós, acredito que eles querem apenas me confundir. Sempre aprendi que quarentena é um período de 40 dias, mas esses dias Alberto Fiscal me disse que tem uma lei nova, feita pelo demitido Mandetta, estabelecendo que quarentena é pelo período que ele quiser. E essa tal de lei 13.979/20, que teima mandar na gente, também diz que o isolamento depende do tempo que coronavírus cismar de infectar.

Li tanto a lei que já sei de cor e salteado, mas não consegui enxergar em lugar alguns que  o Aurélio [o dicionário] tivesse sido revogado. Quem sabe nossos ministros do STF tenham dado uma canetada e inserido os costumes e tradições no nosso direito? Mas vamos ao que nos interessa, que é distinguir o joio do trigo, saber onde está a verdade: realmente estamos em quarentena e isolamento?

Nem um nem outro, pelo que observo. Em quarentena, impossível, pois não carrego comigo nenhuma presunção de contaminação, o que me deixa feliz estar acima de qualquer suspeita. Muito menos isolado, pois não convivo com nenhuma pessoa portadora do vírus. Sem esperar, o jornalista inativo Tyrone Perrucho me faz um alerta: “Ouvi o ministro falar que estamos em isolamento social” argumentou.

Grande coisa! Não vai ser um ministro qualquer que vai mandar nos meus relacionamentos sociais, já não bastam o prefeito de Canavieiras me proibir de sair da cidade, enquanto os de Ilhéus e Itabuna dizem que serei desconvidado em suas cidades. Nunca imaginei ser persona non grata nessas plagas da Nação Grapiúna, ainda mais quando estou respaldado pelo direito de ir e vir garantido por Ulysses Guimarães em nossa Carta Magna.

Pelo sim pelo não, preferi não empreender aventuras tais, dado o meu estado de quase senilidade, já quase sem forças para trocar uns bons catiripapos com esses prefeitos que confundem limites de municípios com fronteiras entre países. Daí, então, que resolvi me aquietar em casa e passar a utilizar os recursos tecnológicos que disponho para me conectar ao mundo.

Portais, blogs, facebook, twitter, whatsapp, instagram, e-mails e o telefone passaram a ser minha praia e desde que acordo já estou conectado com o mundo. Duvido até que o Google, que sempre foi metido a sabe-tudo esteja afiado como eu. Desde cedo já dou um passeio geral em tudo que é informação, classificando as melhores para repartir com os amigos de isolamento social.

Nesses dias já aprendi que se não tivermos cuidado poderemos ter outra pandemia ainda pior, que é reeleger os prefeitos, atuais por falta de candidatos. Numa pesquisa realizada por Tyrone fiquei sabendo que os egípcios foram os primeiros a colocar prostitutas sob o mesmo teto e que coube aos gregos, cinco séculos antes de Cristo, se tornarem pioneiros na fundação de bordeis, com preços e procedimentos regulamentados pelo governo.

Já gravei todas as passagens da vida da deputada Joyce, dos governadores João Dória, Wilson Witzel, dos ministros do STF, sem falar em Rodrigo Maia e Alcolumbre, Ronaldo Caiado e Rui Costa. Há, se fosse nos meus tempos de menino me candidataria ao Programa o Céu é o Limite, para responder sobre a vida de qualquer um deles. Num piscar de olhos tomaria aquele um milhão de Jota Silvestre.

Pelos meus cálculos, estou pronto para ser aprovado com distinção e louvor em qualquer doutorado ou pós-doutorado de medicina, mais precisamente na especialidade de infectologia, de tando conhecimento acumulado nesses dias. Em geografia já me falaram que sou PhD, pois sei explicar sem recorrer a livros ou ao Google os países acometidos pelo Covid-19, bem como conheço a China na palma de minha mão.

Com todo esse conhecimento adquirido nesses tempos de pandemia só me falta atualizar minha agenda de contatos para tratar diretamente com ministros, governadores e prefeitos. Um amigo meu, cabra bem-sabido, já vendeu uma descoberta sua para uma governadora e um prefeito e descolou uma grana legal com o distanciamento dos carros no estacionamento. O prefeito gostou tanto que mandou interditar uma rua inteira.

Se não me der sono antes da meia-noite, amanhã levantarei todo o imbróglio da deputada Joice Hasselman e seu ex-assessor, o pedreiro da Juju, e as gravações telefônicas de Sérgio Moro desde que deixou o ministério. Mas antes preciso de uma orientação de especialista sobre os feriados que estamos perdendo em casa e serão repostos depois da epidemia.

Essa vida e isolamento social me cansa.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.