Bebeto Galvão: "me sinto um player político importante de Ilhéus" || Foto Reprodução/Redes Sociais
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O vice-prefeito Adalberto Galvão, Bebeto, não esconde a vontade de governar Ilhéus, onde iniciou sua vida política, na década de 1980, no movimento sindical. Eleito vereador em 1992, recebeu votação expressiva na cidade para chegar à Câmara dos Deputados em 2014. Candidatou-se a prefeito em 2016, quando foi derrotado pelo prefeito Mário Alexandre, Marão (PSD), a quem se aliou em 2020. Dois anos depois, foi eleito primeiro suplente do Senado. Nas eleições do ano passado, foi entusiasta do ingresso de Soane Galvão nas fileiras de seu partido, o PSB, e da candidatura vitoriosa da primeira-dama a deputada estadual.

Mencionando essa trajetória e a aliança com Marão, o PIMENTA perguntou a Bebeto se ele se considera candidato natural à sucessão do prefeito. Ao responder, o vice fez a ressalva de que estamos longe de 2024 e disse que toda eleição deve ser discutida no ano em que será realizada.

Depois, afirmou que, devido à relevância de Ilhéus para a Bahia, a discussão sobre a disputa local passará, necessariamente, pelo conselho político dos partidos que integram a base do governador Jerônimo Rodrigues (PT). “Ninguém é candidato de si mesmo. Uma candidatura, sobretudo numa cidade do tamanho de Ilhéus, é fruto das circunstâncias políticas, do entendimento das forças políticas e da base a que estou vinculado historicamente, que é a do Governo do Estado”.

Os partidos existem, também, para disputar eleições e isso é legítimo, continuou Bebeto. “Se em 2024 o nome será de Bebeto ou não, aí é outra realidade. Mas, eu me sinto como um player político importante de Ilhéus, com serviços prestados, com trabalho. Não enxergo isso como naturalidade, enxergo como construção, porque aí tem os interesses do PSD, do PCdoB, PSB, PT, Avante, do PV, de todos esses partidos que, na minha opinião, têm legitimidade de apresentar a sua chapa”, concluiu.

O vice-prefeito também falou sobre seu papel na reeleição acachapante de Marão. “A minha participação [na chapa], sem falsa modéstia, foi fundamental para a reeleição de Mário”. Já o pleito de 2024 ainda não foi tema de conversa com o prefeito, assevera o socialista. “Agora, se você me perguntar: você gostaria de ser o prefeito da cidade? Todo mundo gostaria de ser prefeito de Ilhéus, mas entre desejar ser o prefeito e, na eleição, disputar e se tornar prefeito, tem um caminho a percorrer”, cravou Bebeto Galvão.

“NÃO PODEMOS VER O JOVEM NEGRO E POBRE COMO INIMIGO A SER ABATIDO”

Bebeto e Lula durante encontro do presidente com lideranças sindicais em Brasília, nesta quarta (18)

Ainda em 2015, quando era deputado federal, Bebeto apresentou projeto de lei para equiparar injúria racial ao crime de racismo. Após longo processo legislativo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou, no último dia 11, a Lei nº 14.532/2023, que alterou a Lei nº 7.716/1989 (Lei de Crime Racial).

Além de tipificar injúria racial como crime de racismo, a nova legislação prevê pena de reclusão de 2 a 5 anos, e multa. Antes, a pena era de 1 a 3 anos. Uma das consequências práticas da equiparação, segundo Bebeto, é o fim da possibilidade do agressor ser liberado com pagamento de fiança. Quando o crime for praticado por duas ou mais pessoas, caso comum em arenas esportivas e outras espaços com multidões, a pena será aumentada da metade da previsão inicial, ou seja, poderá ser de 3 anos a 7 anos e seis meses.

Na Câmara dos Deputados, Bebeto integrou a Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou a violência contra jovens. Um dos casos apurados ficou conhecido como Chacina do Cabula, ocorrido em fevereiro de 2015, em Salvador, onde 12 jovens negros foram mortos pela Polícia Militar. A corporação alegou que as mortes ocorreram em confronto, versão contestada por moradores da comunidade. Na época, ao comentar o caso, o então governador Rui Costa (PT), atual ministro-chefe da Casa Civil, comparou os policiais em situação de confronto a artilheiros diante do gol. O episódio e a frase costumam ser relembrados em debates sobre a política de segurança pública na Bahia.

Para Bebeto, o Governo Rui Costa foi extraordinariamente bem em quase todas as áreas, mas não enfrentou como deveria os desafios da segurança, como a qualidade da formação dos policiais. Segundo ele, esse é um problema das polícias militares de todo o país. Por isso, na sua avaliação, são urgentes uma mudança na educação policial e o fim dos autos de resistência. “Não é razoável se permitir identificar que o inimigo interno é o jovem preto. Isso tem agenda no processo de formação das polícias, que é preciso superar. Nós não podemos ver um jovem negro e pobre como inimigo interno a ser abatido”.

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PAU DE ARARA? Estudante do ensino médio em São Paulo,  Elissantro Dias Nazaré da Siqueira é levado preso, algemado, em posição de pau-de-arara por policiais.
PAU DE ARARA? Estudante do ensino médio em São Paulo, Elissantro Dias Nazaré da Siqueira é levado preso, algemado, em posição de pau-de-arara por policiais (Foto Marivaldo Oliveira/Estadão).

Leyberson Pedrosa e Líria Jade | Agência Brasil

As manifestações de alunos contra a proposta de reorganização das escolas estaduais em São Paulo mostraram uma nova força do movimento estudantil secundarista e evidenciaram a violência policial contra os adolescentes. De acordo com Ariel de Castro Alves, advogado e coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), mais de 10 jovens foram apreendidos e agredidos ilegalmente. Na opinião do especialista, alguns deles chegaram a ser torturados.

Para a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do estado, a ação de desbloqueio da avenida aconteceu porque os manifestantes “desrespeitaram a Constituição Federal, deixando de realizar o prévio aviso sobre os locais onde iriam atuar e bloqueando integralmente as grandes vias de acesso, de maneira a impedir o legítimo direito de ir e vir de estudantes e trabalhadores”, afirmou, em nota.

O artigo 178 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) impede que menores de idade acusados de cometer ato infracional sejam transportados em compartimento fechado de veículo policial em condições que atentem contra a dignidade ou impliquem risco à integridade física ou mental do indivíduo sob pena de responsabilidade. Contudo, registros audiovisuais nas mídias sociais e na imprensa mostram diversos adolescentes sendo levados em camburões pela PM e até mesmo sendo algemados.

O estudante Francisco Musatti Braga, de 16 anos, da Escola Técnica de São Paulo ( ETESP), foi apreendido por policiais, levado em uma viatura para a 23ª DP, em Perdizes, sozinho e relata seu tratamento pelas autoridades como “intimidador”. Ele disse que um homem que estava detido na mesma delegacia teve que levar pontos na cabeça por ter sido atingido com um cassetete.

“Tudo aconteceu num momento de confusão quando liberamos uma faixa para passagem de uma ambulância. Quando tentamos fechá-la novamente, a polícia não deixou. Eles foram algemar um menino no chão e eu tentei impedir”, conta. O rapaz afirma que um policial o atacou com um cassetete: “Fui imobilizado com o cassetete e arrastado até uma moto, onde me algemaram. Depois, fui encaminhado para a delegacia e fui intimidado. Dois outros jovens foram presos no mesmo momento e os policiais e o delegado nos ameaçavam”, completa. O jovem teve o apoio de seu pai, que foi à delegacia onde estava apreendido e de outros manifestantes. Para ele, a truculência só reforça o movimento e a união dos manifestantes.

A Súmula 11 do Supremo Tribunal Federal (STF) afirma que o uso de algemas só deve ocorrer em caso de resistência e receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia. O que, na opinião de Alves, passa longe do que aconteceu em São Paulo. “São jovens que não estavam cometendo crimes, mas se manifestando pacificamente em vez de traficar ou fazer atos de violência”, relata.

Segundo Alves, a atitude da polícia militar se configura como um crime com pena de detenção. “O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) afirma que crianças e adolescentes não podem ser submetidos a vexame ou constrangimento”, questiona.

CASOS DE TORTURA

O MNDH pretende recolher todos os casos de abuso policial contra jovens e levar as denúncias em bloco para a Ouvidoria da PM. “Nós vimos a atuação da polícia jogando bombas de gás lacrimogênio, espancando estudantes. Alguns casos podem se configurar, inclusive, práticas de tortura em adolescentes”, denuncia.

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