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cel foto artigoCelina Santos | celinasantos2@gmail.com

Muitas são as razões para que cada brasileiro se sinta representado no ato de protestar – e motivado a engrossar o coro do descontentamento. Obviamente que de forma pacífica, para tornar ainda mais legítima a indignação.

A Copa das Confederações segue com todas as bilionárias pompas exigidas pela Fifa, mas as imagens que ganharam o mundo são outras: o “país do samba e do futebol” mostra que já não cabe simplesmente “quebrar” e “descer até o chão” ou aplaudir os geniais dribles de Neymar. Porque essa é a nação da fantasia.
Na vida real, os brasileiros decidiram – com protestos a se agigantar por todas as regiões – que passou o tempo do show alienado de corpos sensuais sem qualquer tipo de questionamento. O grito de “vem pra rua, vem” revela a necessidade sufocada de subverter a dita ordem, para fazer os governantes verem que não cabemos mais na moldura do “lugar dos sonhos”.
Entre as tantas cenas emblemáticas dos protestos, teve especial notoriedade a de milhares de manifestantes ocupando a marquise do suntuoso Congresso Nacional. Ao tomar aquele espaço, aonde era proibido ir, o grupo parecia provar o quão hipócrita é o discurso da democracia. Afinal, o “povo”, ao menos até então, não exerce qualquer influência antes de serem tomadas as decisões mais relevantes.
Os policiais, que tantos excessos cometeram em nome de um suposto dever, certamente sabem que o efeito moral nada tem a ver com bombas atiradas sobre a multidão. Esse efeito se traduz, sim, em forma de salário digno – coisa que a maioria dos cidadãos não recebe. Manter a ordem é ver atendimento decente nos hospitais e postos – onde hoje costumam faltar até lençóis e esparadrapos.
Respeito aos cidadãos seria ver que o Estado investe para oferecer uma Educação (com E maiúsculo), ao contrário da falta de professores e de material didático suficiente para tais profissionais desenvolverem um trabalho de qualidade.
Moral é ter contrapartida de melhoria no serviço quando o transporte fica mais caro; é ver elevadores de acessibilidade funcionando de verdade, e não como meros enfeites. Mereceria até aplausos constatar que os passageiros não precisam mais se espremer depois de amargar filas enormes à espera dos coletivos.
Motivo para festa seria a liberdade de ir e vir, como apregoa nossa Constituição, sem o pavor diário de perder a vida sob a mira de um revólver. Bonito seria testemunhar uma efetiva punição para aqueles que fazem escoar milhões pelo ralo da corrupção. E não assistir à vergonhosa tentativa de tirar do Ministério Público o direito de investigar e denunciar desvios.

Mas tudo isso, infelizmente, não passa de fantasia. Na realidade, muitas são as razões para que cada brasileiro se sinta representado no ato de protestar – e motivado a engrossar o coro do descontentamento. Obviamente que de forma pacífica, para tornar ainda mais legítima a indignação. Até que enfim, milhares de vozes brasileiras mudaram o script comum em tempos de Copa. E forçam a tomada de atitudes para mudar o cenário alardeado mundo afora.
Os “filhos deste solo” mais protestam do que sambam; mais gritam do que cantam; mais clamam do que festejam. Sobram-nos mazelas e falta-nos acalento! Porque, ao contrário do que diz o belo Hino Nacional, nossa pátria amada está sendo uma mãe nada gentil.
Celina Santos é chefe de redação do Diário Bahia e pós-graduada em Jornalismo e Mídia.

4 respostas

  1. Muito bem amiga alem de todas as verdades, cada letra, palavra ou frase foram escritas com a coeerencia e transparencia de sua profissao, eh isso ai faco minhas as suas palvras. Parabens pelo texto

  2. Zelão, diz: – Essa é a verdade, dita pela nossa juventude!
    “Esse é o grande perigo visto pelos governantes e políticos de todos os matizes e credos: – “Nossa juventude pensa.”
    Dá prazer ver os jovens nas ruas gritando “BASTA!” ou escrevendo, através das redes sociais, textos como esse – um primor de coerência e lógica – próprios de quem está antenado como o seu próprio tempo e lugar na sociedade.
    Caíram por terra os discursos e o pensamento ilógico dos governantes ao acreditarem que o povo brasileiro estava satisfeito e feliz, acreditando em tudo o que a propaganda oficial diz; através da grande mídia, regiamente paga. Está sendo, para eles, um tormento que gera pânico, ao perceberem que a juventude que acreditavam ser; alienada e despolitizada, estava apenas adormecida e, agora despertou, dando uma lição de civismo aos mais velhos, que aos poucos estão saindo da letargia do conformismo e aderindo, nas ruas, ao chamamento dos mais jovens.

  3. “Os filhos de uma mãe nada gentil”
    O seu profícuo artigo,me fez lembar os artigos de J.R.Guzzo,o mesmo está entre os 5 jornalista mais influente do brasil.
    Portanto,seu profícuo artigo,simplesmente perfeito.
    Parabéns!

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